Nova Visão do FMI sobre Alta dos Juros
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Nova Visão do FMI sobre Alta dos Juros
Hora de voltar ao FMI
LEONARDO ATTUCH
Isto é Dinheiro num. 0550
12/04/2008
Agora que o Fundo virou heterodoxo e prega até a queda dos juros no Brasil, chegou a hora de atravessar o labirinto que leva a Washington em busca de conselhos - e não de dinheiro
PRECISAR, NÃO PRECISA. As reservas internacionais andam perto de US$ 200 bilhões, a balança comercial ainda roda no azul e o Brasil segue um regime de câmbio flutuante que torna remota a possibilidade de uma nova crise externa. Apesar de tudo isso, a equipe econômica – em especial a parte ligada ao Banco Central – não faria mal se decidisse visitar o Fundo Monetário Internacional, em Washington. Nem que fosse só para pedir conselhos, em vez de dinheiro. Na semana passada, ao divulgar suas previsões para a economia mundial, num relatório conhecido como World Economic Outlook, o FMI dedicou alguns trechos ao Brasil. Eis o ponto mais relevante: “A valorização contínua das moedas de alguns países, incluindo o real, pode significar um canal de vulnerabilidade, caso haja picos de volatilidade no futuro.” O trabalho, assinado por Simon Johnson, economista-chefe do Fundo, atribuiu essa valorização da moeda aos exageros da política monetária. Os juros brasileiros de 11,25% ao ano, recordistas globais, favoreceriam operações de arbitragem conhecidas no mercado como carry trade. São elas que permitem a um investidor tomar dinheiro em países estáveis, com taxas próximas a 3% ao ano, e aplicar no Brasil com retorno quatro vezes maior – e sem risco. Foi dessa maneira que o financista Warren Buffett, homem mais rico do mundo, revelou ter lucrado mais de US$ 100 milhões no ano passado.
O novo relatório, que elevou a previsão de crescimento do Brasil de 4,5% para 4,8% em 2008, é também um sintoma da guinada ideológica do FMI iniciada desde que o socialista francês Dominique Strauss-Kahn chegou ao poder na instituição. Aos poucos, o Fundo vem abandonando o receituário ortodoxo, do qual o Brasil ainda é o melhor aluno, e tem adotado um discurso mais aberto. “Todos os gênios do Banco Central sempre disseram que a taxa de juros não tinha nada a ver com a valorização do real”, disse à DINHEIRO o economista Delfim Netto. “Será que agora, com esse relatório do FMI, vão mudar de opinião?” No ano passado, o Brasil atraiu cerca de US$ 63,4 bilhões em recursos externos – boa parte em capital especulativo – e o real ganhou 20% em relação ao dólar. Só não se valorizou mais do que a moeda da Turquia – curiosamente, um país que disputa com o Brasil a liderança dos juros altos.
Apesar do alarme disparado pelo FMI, nada indica que o Banco Central tenha escutado. Com a próxima reunião do Comitê de Política Monetária marcada para a quarta-feira 16, as apostas apontam para uma pequena alta da taxa Selic. E a razão principal seria o recrudescimento da inflação. Com a divulgação do IPCA de março na semana passada, a taxa acumulada em doze meses chegou a 4,7% – acima da meta de 4,5%. “O Banco Central não pode dar um aviso e depois voltar atrás”, avalia o economista Ilan Goldfajn, que foi diretor do BC e comanda a Ciano, uma gestora de recursos.
Desta vez, porém, as pressões sobre o Copom são mais intensas e até mesmo o presidente Lula tem enviado recados ao Banco Central. Na quinta-feira 10, ao chegar à Holanda, para uma viagem oficial, Lula falou sobre a inflação, que tem aumentado não só no Brasil, mas no mundo todo, em rasão da alta dos alimentos e das matérias- primas. “Feijão e leite representam, numa inflação de 4,5%, 0,7 ponto. Se não fosse o feijão e o leite, teríamos a inflação a 3,8%. Ou seja, são dois produtos que temos condições de produzir em maior escala”, disse o presidente. A mensagem é clara. Juros mais altos no Brasil não teriam nenhum efeito sobre os preços das commodities agrícolas, que hoje contaminam os índices. Serviriam apenas para onerar a dívida pública e facilitar a vida daqueles que, como diz o FMI, ganham fortunas sem fazer esforço no Brasil.
Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker
Ben Parker
Re: Nova Visão do FMI sobre Alta dos Juros
Economia é uma área ideologicamente diversa mesmo.
As publicações pop geram um senso comum X ou Y, que passam longe do debate economicista real. No próprio RV, quando o Huxley tentou trazer à tona vários debates, entre eles um onde Hayek admitia determinadas flutuações na economia e até uma política keynesiana de influência no mercado, foi sumariamente ignorado.
As publicações pop geram um senso comum X ou Y, que passam longe do debate economicista real. No próprio RV, quando o Huxley tentou trazer à tona vários debates, entre eles um onde Hayek admitia determinadas flutuações na economia e até uma política keynesiana de influência no mercado, foi sumariamente ignorado.
Re: Nova Visão do FMI sobre Alta dos Juros
Fogo cerrado contra o BC
Postado por Carlos Alberto Sardenberg em 14 de Abril de 2008 às 18:41
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não consegue se segurar. Na teoria, ele não deve se meter nas decisões do Banco Central, que tem autonomia prática para definir a taxa básica de juros. Mantega sabe disso. “Não sou eu quem vai dizer o que o BC deveria fazer. O BC sabe o que vai fazer” – disse o ministro nesta segunda-feira (14), em Nova York, a propósito da reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) que começa amanhã.
Mas imediatamente, Mantega se meteu na história. Disse que “tirando alimentos (que é um problema mundial) a inflação no Brasil está bem comportada”. Acrescentou que não se trata de uma inflação estrutural, mas episódica, de modo que não entende “por que se discute a elevação de juros neste momento”.
Assim, chocou-se de frente com o Copom, que na ata reunião de fevereiro havia cogitado uma alta na taxa básica de juros para combater uma inflação que, na opinião do BC, é resultante do aquecimento e do consumo excessivo na economia brasileira (e não apenas um problema de alimentos).
Outra autoridade do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, secretário de Acompanhamento Econômico, bateu na mesma tecla do ministro. Disse que o atual crescimento brasileiro é sustentável e “não inflacionário”.
Finalmente, economistas do Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, um órgão de estudos do governo federal, fizeram algo inédito: divulgaram nesta segunda um estudo para “provar” ao BC que não há necessidade de elevar os juros.
Certamente não é função do Ipea entrar em luta com o BC. Claro que o instituto pode e deve apresentar sua visão de macroeconomia, mas não faz sentido politizar o tema e abrir fogo como fizeram.
O pessoal do Ipea simplesmente abriu o jogo e disse que o BC de Henrique Meirelles tem uma visão errada da economia, que é orotodoxo, pró-banqueiros e não gosta do crescimento econômico. Mais ainda: economistas do instituto disseram que, sim, há um conflito dentro do governo Lula entre o desenvolvimentismo de Mantega e a ortodoxia de Meirelles, que o Ipea está ao lado de Mantega e que é preciso fazer o confronto.
É um péssimo modo de colocar o debate. O objetivo de todos deve ser encontrar a melhor combinação para o país crescer o máximo possível sem inflação. Quando o BC eleva os juros hoje é com o objetivo de calibrar crescimento e inflação – ou seja, conter a inflação agora para que ela não acelere demais e aborte o crescimento mais à frente.
Pode-se discordar do método e do momento, como fazem muitos economistas fora do governo. Mas dizer que o BC eleva os juros porque não gosta do crescimento e porque prefere transferir renda para os banqueiros é uma conversa de palanque.
A explicitação de um tal conflito enfraquece a política econômica em geral, retira credibilidade. E sabe o que acontece quando um BC perde credibilidade? Sobem a inflação e os juros.
Fonte: http://colunas.g1.com.br/sardenberg/
Postado por Carlos Alberto Sardenberg em 14 de Abril de 2008 às 18:41
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não consegue se segurar. Na teoria, ele não deve se meter nas decisões do Banco Central, que tem autonomia prática para definir a taxa básica de juros. Mantega sabe disso. “Não sou eu quem vai dizer o que o BC deveria fazer. O BC sabe o que vai fazer” – disse o ministro nesta segunda-feira (14), em Nova York, a propósito da reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) que começa amanhã.
Mas imediatamente, Mantega se meteu na história. Disse que “tirando alimentos (que é um problema mundial) a inflação no Brasil está bem comportada”. Acrescentou que não se trata de uma inflação estrutural, mas episódica, de modo que não entende “por que se discute a elevação de juros neste momento”.
Assim, chocou-se de frente com o Copom, que na ata reunião de fevereiro havia cogitado uma alta na taxa básica de juros para combater uma inflação que, na opinião do BC, é resultante do aquecimento e do consumo excessivo na economia brasileira (e não apenas um problema de alimentos).
Outra autoridade do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, secretário de Acompanhamento Econômico, bateu na mesma tecla do ministro. Disse que o atual crescimento brasileiro é sustentável e “não inflacionário”.
Finalmente, economistas do Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, um órgão de estudos do governo federal, fizeram algo inédito: divulgaram nesta segunda um estudo para “provar” ao BC que não há necessidade de elevar os juros.
Certamente não é função do Ipea entrar em luta com o BC. Claro que o instituto pode e deve apresentar sua visão de macroeconomia, mas não faz sentido politizar o tema e abrir fogo como fizeram.
O pessoal do Ipea simplesmente abriu o jogo e disse que o BC de Henrique Meirelles tem uma visão errada da economia, que é orotodoxo, pró-banqueiros e não gosta do crescimento econômico. Mais ainda: economistas do instituto disseram que, sim, há um conflito dentro do governo Lula entre o desenvolvimentismo de Mantega e a ortodoxia de Meirelles, que o Ipea está ao lado de Mantega e que é preciso fazer o confronto.
É um péssimo modo de colocar o debate. O objetivo de todos deve ser encontrar a melhor combinação para o país crescer o máximo possível sem inflação. Quando o BC eleva os juros hoje é com o objetivo de calibrar crescimento e inflação – ou seja, conter a inflação agora para que ela não acelere demais e aborte o crescimento mais à frente.
Pode-se discordar do método e do momento, como fazem muitos economistas fora do governo. Mas dizer que o BC eleva os juros porque não gosta do crescimento e porque prefere transferir renda para os banqueiros é uma conversa de palanque.
A explicitação de um tal conflito enfraquece a política econômica em geral, retira credibilidade. E sabe o que acontece quando um BC perde credibilidade? Sobem a inflação e os juros.
Fonte: http://colunas.g1.com.br/sardenberg/