China: - A força e a fragilidade da nova superpotência.
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China: - A força e a fragilidade da nova superpotência.
Fareed Zakaria
Época num. 0520
5/5/2008
A ascensão da China pode ser pacífica ou criar um conflito global. É hora de o mundo formular uma política de longo prazo para lidar com os chineses
Para os americanos, 2008 é um ano eleitoral importante. Mas, para boa parte do mundo, provavelmente, 2008 será visto como o ano em que a China chegou ao centro do palco internacional, com as Olimpíadas como a mais aguardada festa de debutante do país. O superanunciado advento da China como potência global não é mais uma previsão, e sim uma realidade. Seja qual for o assunto, a China tornou-se o segundo país mais importante do planeta. Consideremos o que já aconteceu no ano que passou. Em 2007, a China contribuiu mais que os Estados Unidos para o crescimento global – é a primeira vez que um outro país faz isso desde a década de 1930. Ela também se tornou o maior consumidor do mundo, passando à frente dos EUA no consumo de quatro dos cinco principais produtos básicos alimentícios, energéticos e industriais. E, há alguns meses, ela superou os EUA em emissões de CO2, tornando-se o maior emissor do mundo. Quer se trate do aquecimento global, de Darfur ou da Coréia do Norte, a China se converteu no novo fator X, sem o qual não existe possibilidade de solução duradoura.
Os chineses, entretanto, não se enxergam exatamente assim. Susan Shirk, autora de um livro recente sobre o país, The Fragile Superpower (A Superpotência Frágil), conta uma história reveladora. Sempre que menciona o título do livro nos EUA, os americanos lhe dizem: “Frágil? A China não parece frágil”. Na China, porém, os chineses reagem com: “Superpotência? A China não é uma superpotência”.
Na realidade, ela é as duas coisas, e sua fragilidade está diretamente relacionada a sua extraordinária ascensão. Lawrence Summers (economista, historiador e ex-diretor da Universidade Harvard) observou recentemente que, durante a Revolução Industrial, o padrão de vida do europeu médio subia cerca de 50% ao longo de sua vida (que, na época, durava por volta de 40 anos). Na Ásia, ele calcula, principalmente na China, que o padrão de vida da pessoa média vai subir 10.000% ao longo de sua vida! A escala e a velocidade do crescimento chinês são estarrecedoras e totalmente sem precedentes na História – e estão gerando transformações igualmente estarrecedoras. Em duas décadas, a China passou pelo mesmo grau de industrialização, urbanização e transformação social que a Europa realizou em dois séculos.
Recordemos como era a China há meros 30 anos. Era um país devastado, um dos mais pobres do mundo e um Estado totalitário. Ela acabava de emergir da Revolução Cultural de Mao Tsé-tung, que destruíra universidades, escolas e fábricas, tudo em nome da revitalização da revolução. De lá para cá, cerca de 400 milhões de pessoas deixaram de ser pobres na China, o que equivale a mais ou menos 75% da redução da pobreza obtida em todo o mundo ao longo do século passado. O país construiu novas cidades, novas rodovias e portos, e planeja-se para o futuro com minúcias impressionantes.
Pequim vem conseguindo, até agora, equilibrar crescimento econômico e estabilidade social num ambiente altamente fluido. Quando se levam em conta os desafios que enfrentam, os líderes políticos chineses se destacam pela habilidade em governar. O regime continua a ser uma ditadura que exerce o monopólio do poder. Mas ele ampliou a liberdade pessoal de seus cidadãos de uma maneira que seria reconhecida por John Locke ou Thomas Jefferson. Hoje, cada vez mais, os chineses podem trabalhar, viajar, possuir bens e praticar suas religiões como melhor lhes parecer. Isso não é o suficiente, mas tampouco é algo insignificante.
Se esse movimento em progressão – econômico e político – vai ou não continuar, é uma questão crucial para a China. Essa é uma pergunta que está sendo formulada não apenas no Ocidente, mas também na própria China, e por motivos práticos. O principal problema do regime não é seu mal incurável, mas perder o controle em seu próprio país. O crescimento conferiu poder a municípios e regiões a tal ponto que a descentralização é hoje a realidade que define a vida chinesa. A tributação do governo chinês é mais baixa que na maioria dos países, um indicativo crucial da debilidade de Pequim. Em relação a quase todas as questões importantes (a desaceleração do crédito, o freio às emissões de gases causadores do efeito estufa), o governo central lança éditos que são ignorados pelas províncias. À medida que a China ascende na cadeia de valor, a disparidade entre ricos e pobres cresce de maneira dramática. Grandes setores da economia e da sociedade simplesmente estão fora do controle do Partido Comunista. O PC se converteu numa tecnocracia de elite que paira acima do 1,3 bilhão de pessoas que lidera.
A reforma política é parte da solução para esse problema. A China precisa de uma forma de governo mais aberta, responsável e suscetível; uma que possa exercer controle sobre uma sociedade que se tornou mais caótica e poderosa. O aspecto dessa reforma é uma questão em aberto, e ela está sendo debatida nos mais altos escalões do regime. Na edição mais recente da Foreign Affairs, o banqueiro de investimentos e sinólogo John Thornton mostra como Pequim está dando passos hesitantes, porém claros, em direção a uma melhor gestão das leis e da responsabilidade governamental. A visão da China sobre suas próprias fraquezas faz com que paire uma sombra sobre sua política externa. Ela é singular como potência mundial, sendo a primeira na história moderna a ser ao mesmo tempo rica (em termos agregados) e pobre (em termos per capita). Ela ainda se vê como um país em desenvolvimento, com centenas de milhões de camponeses sob sua responsabilidade. E quanto aos vários temas sobre os quais é pressionada, como aquecimento global e direitos humanos, considera-os como problema dos países ricos. (Quando se trata de pressionar regimes em direção a uma abertura maior, Pequim também se preocupa com as implicações que isso terá para sua própria estrutura não-democrática.) Mas tudo isso está mudando. Da Coréia do Norte até Darfur e o Irã, a China vem aos poucos demonstrando que quer ser uma participante responsável no sistema internacional.
Alguns acadêmicos e intelectuais políticos (e alguns generais no Pentágono) olham para a ascensão da China e enxergam as sementes de um conflito inevitável entre as grandes potências. Talvez até uma guerra. Olhem para a História, eles dizem. Quando surge uma nova potência, ela inevitavelmente perturba o equilíbrio de poder, desequilibra a ordem internacional e busca um lugar próprio ao sol. Isso a leva a chocar-se com a grande potência estabelecida de sua época (neste momento seriam os Estados Unidos). Logo, o conflito sino-americano seria inevitável.
Porém, algumas grandes potências são como a Alemanha nazista, e outras como a Alemanha e o Japão atuais. Os EUA ascenderam na hierarquia global e substituíram a Grã-Bretanha como país número um, sem que houvesse uma guerra entre as duas nações. Competição e conflitos entre a China e os EUA, especialmente no campo econômico, são inevitáveis. Mas se eles vão se acirrar e ganhar um tom agressivo dependerá, em grande medida, das escolhas políticas que serão feitas em Washington e Pequim nos próximos dez anos.
Em outro ensaio publicado pela Foreign Affairs, John Ikenberry, da Universidade Princeton, destaca um ponto de importância crucial: que a ordem mundial atual é extremamente propícia à ascensão pacífica da China. Essa ordem, ele argumenta, é integrada, baseada em regras e dotada de alicerces largos e profundos – e haverá muitos benefícios econômicos e grandiosos para a China se ela operar dentro desse sistema. Enquanto isso, as armas nucleares fazem com que arriscar uma guerra entre grandes potências, hoje, seria correr o risco de suicídio. “A ordem ocidental de hoje, em suma, é algo difícil de derrubar e fácil de aderir”, escreve Ikenberry.
Os chineses dão muitos sinais de que compreendem essas condições. Seu chefe estrategista, Zheng Bijian, cunhou o termo “ascensão pacífica” para descrever justamente um esforço desse tipo por parte de Pequim para ingressar na ordem existente, em lugar de derrubá-la. O governo chinês vem procurando informar seu público sobre essas questões. Lançou, no ano passado, um documentário em 12 partes, A Ascensão de Grandes Nações, cuja lição fundamental é que são os mercados, e não o império, que determinam o sucesso de uma grande potência global no longo prazo.
Embora as condições para a paz e a cooperação estejam presentes, existem também muitos fatores que apontam na direção contrária. À medida que cresce a força da China, crescem também seu orgulho e nacionalismo. Eles serão expostos em toda sua plenitude nas Olimpíadas. A classe dos mandarins de Pequim está convencida de que os EUA nutrem desígnios negativos contra seu país. Enquanto isso, Washington, do alto de uma ordem unipolar, está desacostumada à idéia de compartilhar o poder ou de ceder aos interesses de outra grande potência. Questões explosivas como direitos humanos, Taiwan ou algum incidente imprevisto poderiam provocar uma espiral negativa em uma atmosfera de desconfiança, com as bases domésticas, em ambos os lados, ansiosas para fazer uma demonstração de força. 2008 é o ano da China. Também deveria ser o ano em que as potências mundiais formulassem uma política chinesa séria e de longo prazo.
Da Newsweek. Tradução de Clara Allain
Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker
Ben Parker
Re: China: - A força e a fragilidade da nova superpotência.
Não gosto de comunistas, sendo potência ou não...
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

