Os intestinos do Brasil.

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Bob Fernandes


Os intestinos do Brasil.

A Polícia Federal trabalhou duramente para que Daniel Dantas fosse preso. A Polícia Federal não queria, de forma alguma, que Daniel Dantas fosse preso. A Polícia Federal fez tudo para que Daniel Dantas fosse preso. A Polícia Federal fez tudo para que Daniel Dantas não fosse preso.

Veja também:
» Opine aqui sobre a prisão de Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta
» BrOi: emissários de Dantas tentam chegar a Dilma
» Celso Pitta recebia dinheiro vivo de Naji Nahas
» Inferno de Dantas - Um Raio X do Opportunity Fund
» Dantas-Nahas: Para entender a organização
» Advogado: José Dirceu não tem relação com Daniel Dantas

A Polícia Federal trabalhou contra a Polícia Federal.

Esse é mais um capítulo do mergulho nos intestinos do Brasil. Estão presos o banqueiro do Opportunity, o megaespeculador Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e outros 17 dos 21 que tiveram a prisão decretada. É quarta-feira, 9 de julho.

Nas telas, ondas, bits e páginas, a futebolização de sempre: aplausos entusiasmados, críticas ferozes à ação da polícia. O que ainda não chegou à tona é a verdadeira história dessa gigantesca ação policial, da encarniçada batalha que se travou nos setores de Inteligência e da Polícia.

O que se narra aqui são cenas, é o contorno dessa batalha, mas antes é preciso lembrar que este é apenas mais um capítulo.

Crucial, decisivo para que se entenda o todo, o que se movia, se move - e se moverá -, mas apenas mais um capítulo no enredo da maior disputa da história do capitalismo brasileiro, disputa essa que carrega em si o esteio, a sustentação do poder. Do Grande Poder.

O delegado Protógenes Queiroz comandou as investigações no último ano. Antes dele, ao tentar seguir a pista da organização comandada por Dantas, outros delegados fraquejaram. Ou desistiram, ou...

Protógenes foi conduzido ao comando da investigação sigilosa pelo então diretor geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, hoje chefe da Agência Brasileira de Inteligência, Abin. Paulo Lacerda queria e autorizou a operação até deixar a direção da PF.

Um dia, convidado pelo presidente Lula, Lacerda foi para a Abin. Em seu lugar assumiu Luiz Fernando Corrêa, que chefiava a Força Nacional de Segurança Pública. Luiz assumiu com fama de amigo de José Dirceu.

Se era ou se não era, se suas relações vinham apenas da proximidade no trabalho de segurança da PF ao candidato Lula em eleição anterior, é uma outra questão, mas o fato é que Luiz Fernando chegou ao cargo com essa fama: amigo de José Dirceu.

Logo ao assumir, o diretor da PF quis mais informações sobre que investigação seria aquela relativa aos negócios e métodos de Daniel Dantas. Normal. Parte das suas atribuições de comando.

O delegado Protógenes, por seu lado, ofereceu explicações genéricas, mas guardou o que era secreto, segredo de justiça.

Normal. Manhas de um tira brilhante, esperto, do policial que prendeu Paulo Maluf, o contrabandista Law Kin Chong, que pôs na marca do pênalti o Corinthians da MSI, Kia Joorabichian e Dualib, que investiga para a FIFA as lavanderias do futebol mundo afora.

Normal, em meio aos rumores sobre vazamentos na investigação e, pior, propinas. Subornos em favor de Dantas.

Na diretoria de Inteligência, um aliado do diretor geral na busca de informações amplas sobre o núcleo das investigações: o delegado Daniel Lorenz.

Protógenes Queiróz é duro na queda. Primeiros embates, e a operação Satiagraha perde estrutura. O comando esvazia parte da logística; retira agentes e peritos, encolhe a sala, asfixia as investigações....o corriqueiro nos jogos de guerra.

O jogo é maior, muito maior. As pedras se movem. Ao diretor da Polícia Federal chega o recado. Suave, mas direto: as investigações devem prosseguir.

Fim do ano. Mídia afora, o festival de plantações, versões. A batalha, que é política, comercial, policial, segue seu leito também nas telas, ondas, bits e páginas. Véspera do Natal. Estranhíssima entrevista do diretor geral.

Luiz Fernando Corrêa escolhe o encarte semanal "Brasília" do jornal mineiro Hoje em Dia para mandar um recado em forma de entrevista. Manchete:

-Cada geração tem um papel a cumprir. Cumpriu, sai fora!

Até o vidro fumê do edifício sede da PF em Brasília captou a mensagem e os destinatários: Paulo Lacerda e antigos delegados que comandaram a Polícia durante 4 anos e 8 meses do governo Lula.



Para não haver dúvidas, a capa do tablóide berrou:

-PF dividida.

Véspera do Natal, peru, nozes, vinhos, poucos civis devem ter lido. Mas a polícia inteira leu. Comentou, discutiu. E mesmo o mais desatento agente sacou que a barca do delegado Protógenes Queiroz, fosse qual fosse, não era uma boa aos olhos da direção.

Parênteses. Daniel Dantas e os seus comemoravam, vibravam a cada boa notícia. Sim, o que não faltou nesse enredo foi notícia. Capas e capas.

O carnaval se foi. E um fato: a repórter quer falar com o delegado Queiroz. Quer informações sobre uma investigação que envolveria Daniel Dantas e o Opportunity. Apreensão, no início de abril - e isso são fatos. Objetivos. Conhecidos desde então: a repórter vai publicar o que tem se não for recebida.

A situação se agrava. Por ordem do comando, o delegado Protógenes Queiroz perde quase toda a logística. Fato registrado, inclusive, em imagens: a sala sendo esvaziada, a tralha tecnológica removida.

Queiroz começa a fingir que a operação faz água. Cede, aceita conversar com a repórter; Andréa Michael, da Folha de S.Paulo. Mas faz uma exigência aos superiores: quer a presença do diretor geral, Luiz Fernando Corrêa, e de Lorenz, o diretor de Inteligência.

Corrêa não vai, manda alguém da comunicação social. Lorenz, presente. Na conversa, o delegado Queiroz contorna, tergiversa, despista, e guarda tudo o que disse e o que não disse.

Sábado, 26 de Abril. Anunciado o acordo das teles, vem aí a BrOi. No caderno "Dinheiro", da Folha, em quase meia página a repórter Andréa Michael relata os contornos de uma operação a caminho, destinada a prender Daniel Dantas.

Domingo, 27 de Abril. A operação está morta. Protógenes Queiroz faz dois movimentos. Primeiro, na véspera, a ligação para Lorenz, que está no Chile. Cobra a conta da conversa com a repórter, quando apenas despistou. A conversa, de parte a parte, não é boa.

Segundo movimento: Queiroz, para efeito externo, dá a operação como morta. Para efeito interno, os fatos incendeiam agentes, peritos e delegados envolvidos numa operação cada vez mais secreta.

Segue a semana. Queiroz é comunicado. Não há, não haverá mais logística alguma. Caso encerrado. Caso que o diretor geral e o diretor de Inteligência seguem a desconhecer em seu teor. O delegado está solto no espaço.

Uma outra rede conecta-se, subterrânea, solidária. O outro lado da polícia trabalha, secretamente, pela Satiagraha, a "firmeza na verdade" de Gandhi.

Notas em colunas, sites. Chutes, bravatas, cascatas, desinformação. A operação é adiada. Uma, duas, três vezes.

O delegado Protógenes Queiroz é monitorado, vigiado. Pela Polícia Federal. E sua equipe contra-ataca: vigia, monitora, flagra e registra, os movimentos dos monitoradores da própria PF.

Daniel Dantas e os seus estão tensos. Em dúvida: acabou, ou não acabou? Na dúvida, encaminham ao Supremo Tribunal Federal um pedido de habeas corpus preventivo, para Dantas e a irmã, Verônica.

Daniel Dantas morde a isca. Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom e o amigo Hugo Chicaroni são os intermediários. A oferta é feita ao delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves.

Na churrascaria El Tranvia, bairro de Santa Cecília, São Paulo, o ensaio para o acordo final: US$ 1 milhão.

Como sinal, duas parcelas, uma de 50 e outra de 80, e pagamento em outras duas de US$ 500 mil. Encontros e acordos fechados em 18 e 26 de junho. Para livrar a cara dos Dantas.

Há algo no ar. Frases soltas.

Gilmar Mendes é o presidente do STF. No meio da semana, pós-São João, desponta nas telas, um tempão nos telejornais, nas manchetes do dia seguinte. Refere-se a informações vazadas por policiais, uma "coisa de gângsters" e ao "terrorismo lamentável".

A fala ecoa. Cada um entende como quer. Críticas gerais às interceptações telefônicas (mesmo às autorizadas judicialmente).

Julho chegou. Fim de semana. Notas, boatos... Daniel Dantas está em Nova Iorque... Daniel Dantas aguarda o habeas corpus para voltar ao Brasil...

Sete de Julho. O delegado geral, Luiz Fernando Corrêa, que até a véspera nada sabia sobre a verdadeira extensão de Satiagraha, quer agora saber de tudo. De tudo, não saberá. Extrema tensão. Como há um mês, no Rio de Janeiro.

Agentes da equipe de Queiroz seguiam gente dos Dantas, pelas ruas do Rio. A polícia foi chamada, quase um confronto até o esclarecimento "somos da PF" e o despiste numa operação banal qualquer. Mas a queixa subiu.

Chegou ao diretor geral da PF, a Heráclito Fortes (DEM-PI) no senado e ao advogado geral da União, José Antonio Toffoli, adentrou o Supremo Tribunal.

Seis da manhã, 8 de julho. Avenida Viera Souto, Ipanema, Rio de Janeiro. Daniel Dantas está preso.

Furacão na mídia, por todo o dia. À noite nos telejornais e no dia seguinte, este 9 de julho, a repercussão.

Gilmar Mendes, o presidente do STF, ataca a "espetacularização das prisões, incompatível com o Estado de Direito", critica duramente o pedido de prisão, negado, contra a repórter da Folha de S. Paulo:

-...isso faz inveja ao regime soviético...

Frases soltas no ar.

Miriam Leitão, a comentarista econômica, também está no ar. Na rádio CBN, Miriam conversa com Carlos Alberto Sardenberg.

Meio dia e quarenta. Miriam diz não ter entendido direito porque Daniel Dantas foi preso. Afinal, constata, as acusações são inconsistentes, "coisas do passado", e é preciso que a Polícia Federal explique melhor por que fez essa operação "com tamanho estardalhaço..."

Miriam se vai. Sardenberg chama os comerciais, não percebe que o microfone está aberto, e deixa escapar:

-...ela tava estranha, não?

Frases soltas no ar.

Daniel Dantas está preso. Esse, o policial, é mais um capítulo da operação que chegou aos intestinos do Brasil.

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Re: Os intestinos do Brasil.

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POBRE BRASIL.
E A DIARRÉIA SEGUE SOLTA.
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Inferno de Dantas - Um Raio X do Opportunity Fund

Entender o Opportunity Fund passa por entender o que foi apelidado de Anexo IV. Mais precisamente Anexo IV da Resolução 1.289 do Conselho Monetário Nacional, editada em de 20 de março de 1987. As regras deste Anexo IV valeram ao longo dos anos 90.

Época em que o país quebrou monopólios, vendeu empresas estatais e em que foram criadas algumas das melhores oportunidades de negócio da história recente do capitalismo brasileiro.

As regras do Anexo IV valeram, precisamente, até 26 de janeiro de 2000. É fácil entender o mecanismo: investimentos feitos no Brasil por meio do Anexo IV não pagavam imposto de renda. Não pagavam a alíquota de 20% de imposto de renda. Mas, em troca, o investidor tinha que seguir algumas regras:

* A primeira, e mais importante: não podia ser residente no Brasil.

* Não podia adquirir ou vender, fora da bolsa de valores, ações de empresas negociadas na bolsa.

* Adquirir ações negociadas fora de bolsa

* Adquirir o controle de empresas

O Anexo IV era, portanto, uma forma de trazer dinheiro para o país. Trazer investimentos, sem que os investidores precisassem pagar impostos.

Os investimentos feitos via Anexo IV eram, em geral, realizados por meio de fundos de investimento. Fundos de investimento como o Opportunity Fund.

Estes fundos de investimento são, em geral, baseados em paraísos fiscais, onde é possível ter o benefício não só de pagar menos ou nenhum imposto, como ter o benefício do anonimato. Nestes paraísos fiscais, tudo se faz para proteger a identidade dos investidores.

O Opportunity Fund foi criado no paraíso fiscal das Ilhas Cayman em 1996. Pouco do que se conhece sobre este fundo está no Private Placement Memorandum, uma espécie de manual de instruções dado aos investidores. Na versão de 1998 deste documento, constam entre os diretores responsáveis, três nomes: Daniel Dantas, Pérsio Arida e Verônica Dantas. Eles é que eram os responsáveis por administrar o fundo, zelar por ele e dizer onde o dinheiro seria investido.

Daniel Dantas e sua irmã Verônica dispensam apresentações.

Pérsio Arida foi presidente do BNDES entre setembro de 1993 e janeiro de 1995. Em seguida, assumiu a presidência do Banco Central, onde ficou até junho de 1995. Dez meses depois, associa-se a Daniel Dantas no Opportunity.

No período em que esteve no BNDES, Arida ajudou a montar o programa de desestatização, ao lado de sua ex-mulher, Elena Landau, que foi diretora de privatização do BNDES (quando era casada com Arida). Landau também deixou o BNDES e foi trabalhar como consultora do Opportunity.

Outro personagem que está diretamente ligado à história do Opportunity Fund e que passou pelo BNDES, mais especificamente pelo conselho da BNDESPar (braço de participações do BNDES) foi Luiz Leonardo Cantidiano, que esteve no banco estatal entre 1996 e 1998.

Em outubro de 1996, Cantidiano foi advogado do Opportunity Fund, fundo recém-criado nas Ilhas Cayman. Cantidiano representava o fundo junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mais tarde, em 2002, Leonardo Cantidiano virou presidente da CVM, órgão responsável por fiscalizar o mercado de capitais. Voltaremos a este ponto mais adiante.

O que importa aqui é que o grupo Opportunity e seu Opportunity Fund montaram um time de estrelas para participar da privatização do Sistema Telebrás. E que tinham uma combinação perfeita de origem, meio e destino: Cayman, Anexo IV, empresas privatizadas, respectivamente.

Assim, o Opportunity Fund foi o principal veículo com que o Opportunity investiu e controlou as empresas adquiridas pelos consórcios liderados e que arremataram várias empresas no leilão da Telebrás.

Some-se a isso o fato de que foi Dantas quem conseguiu do governo brasileiro o mandato para administrar os bilionários recursos dos fundos de pensão nas privatizações (cerca de US$ 1 bilhão, à época). Mandato que, de forma semelhante, também tinha do Citibank, para administrar outro US$ 1 bilhão em investimentos do banco norte-americano.

Não se sabe ao certo o tamanho do Opportunity Fund. Fala-se em um fundo de US$ 200 milhões, mas que chegou a mais de US$ 700 milhões. Fala-se também em um total de 2 mil cotistas, isso nos tempos áureos do fundo, em 1999. Mas o Opportunity Fund não publica balanço, e Cayman não facilita no acesso às informações, honrando o título de Paraíso Fiscal.

Nem Cayman, nem Daniel Dantas. O banqueiro, dono do grupo Opportunity, teria dito em depoimento à CVM em 2002, segundo divulgado pelo jornal Correio Braziliense à época:

- Só aceito falar sobre detalhes (do Opportunity Fund) se, e somente se, a CVM se comprometer por escrito a manter sigilo absoluto sobre tudo o que for dito, mantendo, inclusive, a imprensa fora do assunto.

Tanto segredo se justifica. Dantas precisava manter o principal patrimônio do Opportunity Fund: o sigilo sobre seus cotistas.

O depoimento foi dado quando a autarquia começou a investigar o fundo. Esta investigação começou em 2001, depois que o ex-funcionário e arqui-inimigo de Daniel Dantas, Luiz Roberto Demarco, denunciou ao jornal O Globo, e depois à revista Carta Capital, que o Opportunity Fund tinha cotistas residentes no Brasil. O que era proibido pelo Anexo IV.

Qual a prova que Demarco tinha de tal afirmação? A sua própria participação como cotista no fundo. Ao se associar a Dantas, em 1998, recebeu metade de seu bônus de US$ 1 milhão no Opportunity Fund.

A CVM abriu a investigação e, entre 2001 e 2002, mandou diversas cartas às autoridades de Cayman, tentando conseguir a lista de cotistas do fundo. Era o jeito mais fácil de comprovar as irregularidades em relação às regras do Anexo IV. Ou pelo menos, em relação à principal das regras: a vedação à presença de residentes no Brasil.

Obviamente, o paraíso fiscal não cooperou, mas a CVM chegou a uma lista de 24 possíveis cotistas residentes no Brasil. Acreditava haver muitos outros.

Em um dado momento, uma listagem apócrifa chegou a circular na Internet. Para saber se ela era verdadeira, apenas procurando os cotistas. Muitos confirmaram os dados, sob a condição de anonimato. Outros negaram. Outros disseram que haviam investido com o Opportunity, sem saber se no Opportunity Fund ou em algum outro fundo.

Depois disso alguns nomes notórios apareceram, com confirmação. O principal foi o do ex-senador Luiz Estevão. O ex-senador admitiu que uma de suas empresas tinha cotas do Opportunity Fund.

Em junho de 2002, assumiu a presidência da CVM Luiz Leonardo Cantidiano.

Aqueles meses de 2002 foram um pouco conturbados. Sabe-se que Dantas, pressionado pelos fundos de pensão, foi ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Jantaram juntos, em uma noite de maio, no Palácio da Alvorada. Em seguida, a Previ, maior fundo de pensão do Brasil, sofria uma violenta intervenção federal, o que afastou seus principais diretores da linha de frente da guerra contra Dantas.

Lembremos que a CVM chegou a levantar, nas fases iniciais do inquérito que investigou o Opportunity Fund, a suspeita sobre 24 cotistas que seriam residentes no Brasil. Eles foram ouvidos pela autarquia. Durante os depoimentos, um fato em comum: a presença dos advogados do Opportunity acompanhando as testemunhas. Fato, segundo a CVM, legal.

O inquérito que investigava o Opportunity Fund começara a perder o fôlego.

Mas perdia fôlego porque não havia o que investigar ou perdia fôlego porque não havia esforço em investigar? Ou será que o inquérito era apenas uma briga entre sócios, como disse o presidente da autarquia à Folha de S. Paulo de 6 de dezembro de 2002?

O comando da autarquia muda em 12 de março de 2004. Sai Cantidiano, entra Marcelo Trindade.

Em meados de 2004 começaram a surgir, no âmbito da CPI do Banestado, os primeiros indícios de que o Opportunity Fund poderia ter recebido pelo menos US$ 20 milhões de recursos provenientes enviados pela ponte Banestado/MTB Bank (em Nova York).

As investigações sobre o Opportunity Fund, contudo, foram encerradas pela CVM em meados de 2004.

A CVM avaliou que não era necessário, naquele momento, verificar se Opportunity Fund havia recebido transferências suspeitas via Banestado ou MTB. Aquilo poderia ficar para outra investigação.

O caso Opportunity Fund, conhecido como Inquérito 08/2001, foi a julgamento, com a condenação de alguns executivos do Opportunity a multas que, somadas, chegaram a R$ 500 mil. Daniel Dantas não estava entre eles. Verônica Dantas foi a mais graduada dentro da cadeia de comando do Opportunity a ser condenada. Em segundo lugar entre os "graduados" estava Dório Ferman, presidente do Banco Opportunity S/A.

A condenação se deu não pela presença de cotistas residentes no Brasil. O único sobre o qual a CVM constatou provas irrefutáveis foi o próprio denunciante, Demarco. A condenação se deu pelo esforço de venda das cotas do fundo no Brasil.

O inquérito acabou, portanto, sem saber quantos nem quais cotistas residentes no Brasil existiam dentro do Opportunity Fund. Este dado permaneceu obscuro até a Operação Satigraha da Polícia Federal, deflagrada agora.

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Re: Os intestinos do Brasil.

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A contagem regressiva para a liberação de Dantas e a desmoralização do STF

Meus leitores sabem do interesse – leigo, mas intenso – que dedico às questões do direito (preciso, inclusive, achar o tempo para criar uma tag que identifique as dezenas de posts que o blog já fez sobre o assunto). Não me lembro, na história recente, de uma desmoralização tão pública do Supremo Tribunal Federal como a que o Ministro Gilmar Mendes protagonizou nas últimas 24 horas. Seguindo-se à prisão do criminoso Daniel Dantas e de vários associados seus ontem pela manhã, veio à tona uma declaração anterior do banqueiro. Hugo Sérgio Chicaroni, contratado por Dantas para se aproximar dos delegados que investigam o Opportunity, disse ao delegado da PF a quem ele tentava subornar que a preocupação de Dantas seria só com o processo na primeira instância, uma vez que no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF) ele resolveria tudo com facilidade. A declaração foi gravada legalmente pela Polícia Federal.

Eis que poucas horas depois da prisão preventiva dos criminosos, o Ministro Gilmar Mendes -– que, pela própria declaração de Dantas sobre o STF, deveria ter mais cuidado -– vem a público criticar a “espetacularização” das prisões. Qual espetacularização?, pergunto eu. Foi a própria esposa de Celso Pitta quem confirmou que a chegada dos policiais federais à sua casa foi tranqüila; que eles em nenhum momento foram mal-educados ou agressivos; que Pitta saiu sem algemas; que a operação transcorreu na mais absoluta calma. Quem deu uma aula de direito foi o juiz federal Fausto de Sanctis, que escreveu: Não se trata de medida midiática, mas absolutamente indispensável para uma apuração séria e criteriosa, buscando a eficácia das investigações. Ponto.

É verdade que a Polícia Federal cometeu o erro de pedir a prisão de Andréa Michael, jornalista da Folha de São Paulo que anunciou há dois meses a existência dessas investigações. Se houve vazamento, cabe à corporação investigar internamente. A Constituição assegura ao jornalista o sigilo de fonte. A justiça, corretamente, negou o pedido. Mas “espetacularização”? Não vejo nenhuma.

O trabalho republicano da Polícia Federal cria nervosismo em certas comarcas e produz as afinidades eletivas mais insólitas. Quem são as duas vozes que acompanham o Ministro Gilmar Mendes -- que já atacou a Polícia Federal com termos impróprios para um magistrado -- na crítica à “espetacularização” da PF? Reinaldo Azevedo e José Dirceu. Visivelmente nervoso, soltando impropérios e insultos em letras maiúsculas, o colunista da Veja afirma que qualquer um de nós pode estar sujeito a isso sem que nossos advogados nem mesmo saibam do que estamos sendo acusados. Ora, Reinaldinho, Dantas sabe do que é acusado. Vamos à lista? Formação de quadrilha, gestão fraudulenta, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, espionagem. Em seu blog (no momento fora do ar), José Dirceu condena o “espetáculo” da PF. Mendes, Azevedo, Dirceu. Não é curiosa a convergência? Eu me alistaria para jogar na zaga de qualquer equipe que enfrente essa linha de atacantes.

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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Fedidovisk »

spink, só tenho a agradecer.

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Re: Os intestinos do Brasil.

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Operação Satiagraha: o ranking do nervosismo

Eu, que sou um mero crítico literário atleticano, não tenho todos os elementos para fazer esse ranking. Mas o Biscoito Fino e a Massa gostaria de dar sua contribuição à medição do nervosismo de certas figuras da política e do jornalismo brasileiros à raiz da operação Satiagraha, da Polícia Federal. Apresento o meu top 8 da preocupação pindorâmica, em ordem alfabética, e convoco meus eruditos e bem informados leitores a que organizem o ranking como bem lhes aprouver. Ou que acrescentem outros nomes, evidentemente.

Eduardo Azeredo: segundo os que acompanham o Senado, era visivelmente o parlamentar mais alterado. Coitado, justamente na semana em que ele tentava criar impressões digitais para rastrear todos os usuários da internet, encontram suas impressões digitais no maior bandido de Pindorama. Nervosismo estilo Lazaroni.

Reinaldo Azevedo: logo depois de decretada a prisão de Dantas, Reinaldinho entrou em verdadeiro surto psicótico. Insistiu que a prisão de Dantas demonstrava que vivíamos num perigoso totalitarismo bolchevique. Fantasiou que estávamos a um passo de adentrar uma ditadura na qual agentes da Polícia Federal invadiriam sua casa e estuprariam suas filhas com grossos tomos de Lênin. Nervosismo estilo Zagallo.

Fernando Henrique Cardoso: o príncipe sociólogo tem bons motivos para julgar-se a salvo, mas nossas fontes não deixaram de notar que FHC não quer nem saber de remexer histórias acerca de um certo encontro em que tratou com Daniel Dantas do tema da diretoria da Previ. Ou das relações de Pérsio Arida, que o serviu no BNDES e no Banco Central, com Dantas. Nervosismo impassível, estilo Ademir da Guia.

José Dirceu: quase 36 horas de silêncio absoluto sobre a prisão de Dantas num blog basicamente dedicado a comentar as manchetes dos jornais do dia. Para piorar, acham suas digitais nas tentativas de sabotagem à operação do Dr. Protógenes. Quando falou, foi para condenar a “espetacularização” da PF, encontrando finalmente suas afinidades eletivas com Reinaldinho da Veja. Nervosismo estilo Roberto Dinamite.

Guilherme Fiúza: escreveu um inacreditável post em que apresentava a filmagem de um ex-prefeito e bandido em sua casa, no momento da prisão, de pijama de mangas compridas, como uma elaborada tortura chinesa jamais vista em Pindorama. Nervosismo hiperbólico, estilo Dadá Maravilha.

Miriam Leitão: escreveu um inacreditável post em que se perguntava por que, afinal de contas, remexer essas coisas tão velhas como as falcatruas de Dantas. Contrapôs a operação Satiagraha às boas notícias veiculadas no exterior sobre o Brasil, como se combate à corrupção fosse sinônimo de corrupção. Fingiu não entender que o mensalão não é a origem de Dantas, mas exatamente o contrário. Nervosismo pretensamente burro, estilo Dunga.

Marinhos, Kamel e Globo: esses não têm com que se preocupar, já o sabem há tempos. Mandam em Pindorama. Para quem viu o Jornal Nacional de ontem, é impossível não concordar com Paulo Henrique Amorim. A Globo já rifou Dantas. Nervosismo zero, estilo Vicente Feola.

Gilmar Mendes: presidente da Suprema Corte do país, passou pela inacreditável humilhação de ver um bandido dizer que, no seu tribunal, ele tem “facilidades”. Ao invés de dar o habeas corpus em 24 horas, preferiu fazê-lo em 36, para não dar muito na cara. Nervosismo dissimulado, estilo Parreira.

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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Fenrir »

PNC do Dantas, PNC do Brasil tambem
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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Apo »

Fenrir escreveu:PNC do Dantas, PNC do Brasil tambem


É. Eu ia complementar. Mas seria muito grosseiro para uma dama.
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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Aranha »

Apo escreveu:
Fenrir escreveu:PNC do Dantas, PNC do Brasil tambem


É. Eu ia complementar. Mas seria muito grosseiro para uma dama.


- Nos PTistas de novo !?!?!?!?

- Aí não tem c* que aguente...

Beijos,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker

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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Apo »

Abmael escreveu:
Apo escreveu:
Fenrir escreveu:PNC do Dantas, PNC do Brasil tambem


É. Eu ia complementar. Mas seria muito grosseiro para uma dama.


- Nos PTistas de novo !?!?!?!?

- Aí não tem c* que aguente...

Beijos,


Isto está implícito. Mas eu ia mais além. Deixa assim... :emoticon25:
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Ben Carson
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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Ben Carson »

Abmael escreveu:
Apo escreveu:
Fenrir escreveu:PNC do Dantas, PNC do Brasil tambem


É. Eu ia complementar. Mas seria muito grosseiro para uma dama.


- Nos PTistas de novo !?!?!?!?

- Aí não tem c* que aguente...

Beijos,


:emoticon22: :emoticon22: :emoticon22: :emoticon22:
Todo mundo ri...

Mas só o TRIcolor é tri!


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Re: Os intestinos do Brasil.

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spink
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Re: Os intestinos do Brasil.

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Bob Fernandes


Os intestinos do Brasil.

Daniel Dantas:

-Eu quero suspender o tamanho do drama, tá?...no foco de dramatização do evento...drama dropping...

Danielle Silbergleid, diretora jurídica do Opportunity, sobre o cenário e personagens do drama:

-Desses mortos (NR: Celso Daniel e Toninho, ex-prefeitos de Santo André e Campinas ...) foram seis ou sete, tá tendo uma divergência aqui..

Daniel:

- ...quero saber o de Santo André...é como se dissesse pra ele o seguinte: olha, no rastro desse negócio de dinheiro de campanha já tem tantos mortos, tá?

Presidente Lula, 24 de outubro de 2006, a 5 dias da reeleição:

- ...bem, o que tiver que ser, será. E, por mais que tentem, não conseguirão me atingir... e quem tiver que ser preso, será.

Lula, Março de 2007, 10h da manhã, sala reservada no aeroporto de Congonhas, São Paulo:

- ...não, não sei como anda investigação, nem quero saber, mas se tiver que prender, vai prender qualquer um..

Interlocutor:

- Mas, presidente, e se isso chegar no governo, na sua gente?

Lula:

- A mim não interessa em quem vai chegar. Se chegar, se provas existirem, e não fofocas, se a justiça mandar, vai ser preso. Qualquer um vai ser preso, não importa quem.

Interlocutor:

- Presidente, vão tentar interromper a investigação...

Lula:

- Se os crimes existem, e não sei como está nem se está a investigação, não é assunto meu, eles serão presos...

Veja também:
» Opine aqui sobre a operação da Polícia Federal
» Leia a íntegra dos diálogos

O que estava, sempre esteve por trás dos movimentos de Daniel Dantas e os seus. O que, quem, era seu alvo.

Este é o capítulo, derradeiro, desse drama, mas também comédia, daqui para sempre conhecido como o caso Dantas/Satiagraha.

Se tratará aqui da batalha pelo controle no Estado. Do Estado. De seus principais atores, dos grandes dutos de dinheiro.

Na reprodução de conversas legalmente interceptadas (leia aqui a íntegra), uma tomografia do cérebro, e das intenções de Daniel Dantas.

Os diálogos mostram quem é ele, como ator político, e de até onde pretendia e era, é, capaz de chegar.

Nas entrelinhas do que ele diz, combina, não é difícil adivinhar quem eram, quem são, tantos dos coadjuvantes.

Aqueles, aquelas que ecoavam e ecoam, reverberam Daniel Dantas & negócios.

A olhar-se apenas do viés econômico-financeiro, o que se vê na aparência é a maior batalha societária da história do capitalismo à brasileira.

Os primeiros tiros, ainda surdos, se deram nos bastidores - da economia e também da política - da privatização do Sistema Telebrás.

Dentre os protagonistas visíveis um dos maiores, senão o maior banco do mundo à época das primeiras escaramuças, o Citibank, sócio do fundo CVC/ Opportunity.

No palco também a maior empresa, italiana, a Pirelli, controladora da Brasil Telecom. E os mais poderosos fundos de pensão do Brasil: Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica)... sentados em algo como R$ 100 bilhões.

Os subterrâneos dessa "aranha" de empresas e personagens - desvelados pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal - escondem ainda um labirinto.

Nos diálogos que se seguem, o fio de Ariadne, aquele que permitiu a Teseu entrar, entender, e voltar do labirinto.

Em 13 de novembro de 2007, via VOIP, um diálogo de contornos hitchcockianos entre Daniel Dantas e a diretora jurídica do Opportunity, Danielle Silbergleid Ninio.

Quem acompanha de perto as refregas judiciais do banqueiro com o Citibank às vésperas da fusão BrOi, identifica um debate sobre as minúcias do processo.

Instruções. Malícias. Não passariam de estratégias banais de defesa se do rol de conversas não emergissem dois nomes.

Um deles, o do ex-prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, seqüestrado e morto na noite de 18 de janeiro de 2002, em São Paulo. O outro, o de Lula, o presidente do Brasil.

Dantas busca - reprodução de suas próprias palavras -, "incruar" o processo judicial com temperos político-partidários.

Ele mesmo pede:

- Eu quero suspender o tamanho do drama, tá?...no foco de dramatização do evento...drama dropping...

Danielle, a jurídica, puxa os mortos:

- Desses mortos (NR: Celso Daniel, Toninho, ex-prefeitos de Santo André e Campinas...) foram seis ou sete, tá tendo uma divergência aqui...

Daniel, apenas ri.

Danielle emenda:

- ...eu acho que a divergência não é significativa (mais risos).

Daniel, o homem do cérebro privilegiado, recomenda:

- O melhor é dizer que são sete (NR: os mortos), e aí ele tem que dizer que são seis...

Daniel e Danielle riem.

Leitores, radiouvintes, telespectadores e internautas certamente já leram, viram e ouviram o ecoar da tese, por anos e anos a fio.

Daniel Dantas propõe a tese, para ser exposta nos seus processos e, dali, saltar para os ecos Brasil afora:

- ...quero saber o de Santo André...é como se dissesse pra ele o seguinte: olha, no rastro desse negócio de dinheiro de campanha já tem tantos mortos, tá?

Daniele sugere ao escalado para o papel de vítima, Daniel Dantas, num futuro depoimento:

- ...você não precisa contar os detalhes, mas se você não tinha medo de ser morto...

Responde a vítima:

- ...não, isso eu vou falar, isso eu vou falar...(...) mas eu lhe digo, uma coisa é não ter medo de ser, e a outra coisa é ter um na Itália...("Ininteligível", anota o perito da PF)...Brasil...é diferente.

No Brasil, realmente, é diferente. Recomenda a jurídica, ainda dia 13, às 10h54 minutos, e 13 segundos:

- Oi! é só pra te dar uma informação que no caso do Celso Daniel é que tem essas dos itens seis ou sete... é que tem mais um caso eu não sei se você lembra... que é do prefeito de Campinas... aquele Toninho do PT, aí...

Por mais de uma vez, ao referir-se a relatórios, Dantas revela uma ligação que sempre negou. Com a empresa de investigação e espionagem Kroll:

"Daniel Dantas: Tá, deixa eu te falar o seguinte, eu queria que você desse uma olhada no relatório da KROLL tá?

Danielle: Tá...

Daniel Dantas: E olhasse pontos que... porque eu quero in... incruar esse assunto da KROLL dentro da... do processo, entendeu?

Danielle: Uhum...

Daniel Dantas: Então eu queria que você procurasse pontos tipo... por exemplo... no relatório da KROLL fala que a Telefônica Itália pagou ao prefeito de SANTO ANDRÉ tá...

Danielle: Uhum...

Daniel Dantas: E o prefeito de SANTO ANDRÉ foi morto...

Danielle: Uhum..."

Hummmm.

Descobre-se, na gramparia da Satiagraha, onde era a caverna, e quem era o minotauro.

Conversam, no dia 15 de novembro de 2007, Daniel e a irmã, Verônica, e a jurídica Daniele. Humberto Braz presente. O assunto é enfiar Lula na história:

- ...e aí, vamos dizer, o discurso do presidente da República é um indício, mas pode não ter acontecido antes, mas eu acho que aconteceu, e quanto mais indícios eu tiver, melhor...

Parênteses. Em outros tempos e locais, em conversas com um "companheiro de esquerda", Daniel refere-se a Lula como "o barba". E ao companheiro envia garrafas de vinho.

A 15 de novembro, com Danielle, combina:

"Danielle: Oi! oh não sei se é suficiente mas eu olhando aqui o timeline (cronograma-inglês) eu me toquei o seguinte... o LULA ele foi eleito em outubro de dois mil e dois, toma posse em janeiro, em novembro de dois mil e dois você sela o documento que você é informado que vinha uma...

Daniel: (Ininteligível)... já vou usar, mas eu queria mais elementos...

Danielle: Tá bom então... beijo.

Daniel: Tá..."

A Daniel Dantas, segundo seu próprio roteiro, cabe um papel: o de vítima.

Vítima de uma orquestração do governo, e de Lula, e é essa, será, a estratégia nos processos que enfrenta. Nos Estados Unidos, na Itália. E no Brasil.

"Estratégia Presidencial"

O que Daniel Dantas não sabia, e agora Terra Magazine revela, é que seu alvo, Lula, sabia.

Em Maio de 2003, cinco meses depois de iniciado seu governo, o presidente Lula chamou o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e ordenou:

- Esse negócio de Opportunity, esse Daniel Dantas, você cuida desse problema pra mim?

Lula, a um amigo, perguntou:

-Como é que pode um cara com um porcento controlar um negócio de bilhões, mandar nos fundos de pensão?

O presidente recordava-se de um único encontro com o banqueiro, e da impressão que dele guardou:

-É um escroque.

Ministro-chefe da Casa Civil, Dirceu teria, pelo menos, dois encontros com Daniel Dantas.

Isso antes de deixar o governo. Depois...

O primeiro, dias depois da determinação de Lula, na primeira quinzena de Maio daquele 2003. O segundo, pouco depois.

O próprio Dantas relatou os encontros na CPI dos Correios e à justiça de Nova York.

Informou, nas ocasiões, ter sido avisado por Dirceu que os fundos de pensão estavam interessados em tomar dele, Dantas, o controle da Brasil Telecom.

Segundo Dantas, José Dirceu teria dito ainda que quem resolveria o assunto seria Cássio Casseb, então presidente do Banco do Brasil - e um dos principais espionados no caso Kroll.

Dantas revelou à CPI ter havido uma segunda conversa com Dirceu, para reportar ao ministro o encontro com Casseb. As palavras ditas foram:

- Expliquei para ele (Dirceu) o que tinha acontecido (na reunião com Casseb) e ele (Dirceu) me disse que o governo não tinha que tomar partido nessa disputa e que se porventura eu detectasse que o governo estava intervindo a favor de outro que eu teria liberdade de lhe comunicar.

José Dirceu, à época, contou a pelo menos dois interlocutores, em uma conversa em seu gabinete, que o governo "não prejudicaria nem beneficiaria" Daniel Dantas, apenas "seguiria a lei".

Lula seria informado dos fatos três anos e cinco meses depois daquela determinação a seu ministro. Na terça feira, 24 de outubro de 2006.

A cinco dias do segundo turno e de sua reeleição para a presidência da República, Lula foi informado.

Não em toda a inteireza, mas de maneira superficial, o presidente da República saberia da dimensão, da grandeza do que se movia.

A menos de 120 horas de sua reeleição, Lula começava a conhecer aos menos os contornos do que contra ele se movia há meses.

Movia-se, quase sempre, realimentado pelos ecos.

Uns, inocentes. Outros, pautados.

Lula entendeu, enfim, o que se movia já há meses, há mais de um ano para ser exato. Entendeu em toda a dimensão, todo o barulho, e decidiu:

-...bem, o que tiver que ser, será. E, por mais quer tentem, não conseguirão me atingir... E quem tiver que ser preso, será.

Lula, 10h da manhã de um dia em março de 2007, sala reservada no aeroporto de Congonhas, São Paulo:

-... não, não sei como anda investigação, nem quero saber, mas se tiver que prender, vai prender qualquer um...

Interlocutor:

- Mas, presidente, e se isso chegar no governo, na sua gente?

Lula:

- A mim não interessa em quem vai chegar. Se chegar, se provas existirem, e não fofocas, se a justiça mandar, vai ser preso. Qualquer um vai ser preso, não importa quem.

Interlocutor:

- Presidente, vão tentar interromper a investigação...

Lula:

- Se os crimes existem, e não sei como esta nem se está a investigação, não é assunto meu, eles serão presos...

O presidente Lula soube ali apenas de ligeiros contornos da operação que Dantas e os seus chamavam entre si de "Estratégia presidencial".

A estratégia era, foi desde sempre, ajudar a bombardear Lula, derrubá-lo se possível, impedir sua reeleição se tanto não se conseguisse.

Lula soube então, da estreita vinculação entre os movimentos dos estrategistas e importante porção do que ecoava para atingi-lo.

Quem nele mirava para salvar-se, agora, depois de curta temporada interrompida pelo Supremo, experimenta a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.

Aguarde-se o contra-ataque.

http://terramagazine.terra.com.br/inter ... 78,00.html
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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spink
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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por spink »

É oficial: Protógenes Queiroz e o Juiz Fausto de Sanctis viraram réus. O inacreditável aconteceu. Uma operação policial que revirou os intestinos da maior quadrilha do capitalismo brasileiro se transformou numa novela sobre como Protógenes usa o subjuntivo (Johnson estava errado; o último refúgio do canalha não é o patriotismo: é a gramática); sobre se houve vazamento ou não; sobre se deveria haver filmagem ou não; sobre se De Sanctis desrespeitou o STF ou não; sobre se Dantas pode ser algemado ou não. Revirem as manchetes dos jornais. Procurem informações sobre o conteúdo do que as investigações revelam sobre Dantas, a privatização das teles e seus bilionários negócios. Não há.

Protógenes vai fazer um “curso” e De Sanctis vai tirar férias. A conclusão é inevitável: o lado de lá, a corja, venceu. Em parte, pela covardia do governo Lula, que incrivelmente escala um Ministro da Justiça para dizer que o afastamento de Protógenes era um ato de “rotina”. Calculou errado, por medo da avalanche da mídia, que só quer saber da parte em que a maracutaia respinga no PT. Quando se deram conta de que a opinião popular já não se pauta pela mídia -- coisa que o governo Lula deveria ter aprendido com sua própria vitória em outubro de 2006 –- tentaram voltar atrás e era tarde demais.

Nélio Machado, o advogado de Dantas, agora pauta a Folha de São Paulo. É inaudito: as frases do advogado de um criminoso sobre o Presidente da República ganham primeira página nos jornais. Deve ser inédito na história da imprensa brasileira. Até manchete com ameaças de Nélio Machado ao PT foram publicadas. Aliás, é boa coisa que meu caríssimo e admirado Mário Magalhães tenha abandonado a função de ombudsman do jornal antes do estouro deste escândalo. Porque a lama da Folha neste episódio ultrapassa os limites do ombudsmanizável.

Sim, estou estuprando a língua portuguesa, em homenagem aos cães de guarda que enfiam vírgulas entre sujeito e predicado e escrevem matérias zombando do “português truncado” de Protógenes.

Sou de família de advogados. A minha paixão pelo Direito é antiga, apesar de eu ter escolhido Letras. Fucem por aí: juízes federais, procuradores da república etc. O que mais tem é Avelar. Nunca li um relatório policial em que o português não fosse “truncado”. Jamais me incomodou. Agora, de repente, o uso do subjuntivo num relatório policial que desvenda a maior quadrilha do capitalismo brasileiro virou tema de comoção na mídia nacional. E o conteúdo do relatório sumiu. Ninguém diz nada.

As gravações reveladas nesta semana demonstram claramente duas coisas: as de Dantas mostram um bandido que quer chegar a Lula, quer atingir Lula (maior êxito aqui, menor êxito acolá). As gravações da PF mostram um grande brasileiro – Protógenes Queiroz – seguindo à risca, rigorosamente, uma tarefa na qual ele sabe que está cercado de inimigos por todos os lados. Mesmo assim, o governo Lula não teve a coragem de dizer: Truco! Querem colocar todas as cartas na mesa? Querem revelar tudo? Vamos fritar toda a bandidagem, de todos os partidos, mesmo sabendo que a mídia escolherá a fritura que mais lhe convém? O governo Lula não apostou no discernimento da população brasileira neste episódio. Quando se deu conta disso, Inês já era morta.

http://www.idelberavelar.com/archives/2 ... idagem.php
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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por spink »

Wálter Fanganiello Maierovitch
Especial para Terra Magazine


Daniel Dantas continua a apostar no seu poder de influência e no diversionismo, ou seja, no deslocamento do foco a respeito do principal, que são os crimes a ele imputados.

Na sua estratégia, virou prioridade afastar o juiz Fausto De Sanctis e o delegado Protógenes de Queiroz. Mais ainda, reclamar no Supremo Tribunal Federal (STF) do descumprimento da decisão da ministra Ellen Gracie, que impediu a investigação criminal sobre o contido nos discos-rígidos do Opportunity-Fund, apreendidos na Operação Chacal, em 2004.

Veja também:
» Opine aqui sobre a crise na Polícia Federal

Por meio de instrumento processual, afastar por parcialidade o delegado Protógenes não era possível.

A lei processual penal, no seu artigo 107, estabelece que "não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito".

Assim sendo, Dantas teve de usar a mão do gato.

O presidente Lula entrou como gato ao avalizar o afastamento de delegado.

Quando Lula percebeu o jogo e sentiu a desaprovação popular, voltou atrás e, na tentativa de mostrar que o seu governo não coonesta com a criminalidade organizada, mandou revelar o conteúdo da gravação da "reunião", por convocação, entre o delegado Protógenes e os seus superiores hierárquicos.

O foco, no momento, virou a ambigüidade do presidente Lula e a montagem, ou melhor, a edição desvirtuada, do real conteúdo da gravação sobre a reunião ocorrida na segunda feira passada (14 de julho) entre o delegado federal Protógenes e os seus superiores hierárquicos. Reunião para pressão hierarquica, voltada ao afastamento de Protógenes.

Enquanto a opinião pública debate sobre a edição da fita, Dantas, com Protógenes já com substitutos escalados, dá passos largos na tentativa de afastar o juiz Fausto De Sanctis do processo.

Com a argüição da suspeição já protocolada, prevista na lei processual penal, quer Dantas demonstrar ter De Sanctis, por pronunciamentos, despachos e decisões, perdido a isenção necessária para, com imparcialidade, julgar o processo.

Pano Rápido e Olho Vivo. Com o foco desviado e os nomes dos substitutos de Protógenos já anunciados, Dantas espera sucesso nas duas novas frentes, ou seja, afastar o juiz e manter a blindagem dos dados.

A reclamação por descumprimento de decisões do Supremo Tribunal é remédio previsto no seu Regimento Interno. Já foi apresentada por Dantas e não se sabe, ainda, se o ministro Gilmar, no plantão vai apreciá-la, ou encaminhar à ministra Gracie, afinal, quem pariu deverá embalar.

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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por spink »

Consoada

Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

http://www.triplov.com/poesia/manuel_ba ... orinha.htm
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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por spink »

O comissário Tarso Genro e os çábios do Planalto conseguiram o impossível. Levaram para dentro do governo a crise do banqueiro da privataria tucana.
Algo parecido como mandar o bombardeiro Enola Gay sobrevoar Hiroshima para depois jogar a bomba Daniel Dantas em Nova York.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil ... 200811.htm
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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Tulio »

Faça um bem ao Brasil mande um petralha pra prisão ou pra puta que pariu. :emoticon2:
TULIO

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Re: Os intestinos do Brasil.

Mensagem por Apo »

Tulio escreveu:Faça um bem ao Brasil mande um petralha pra prisão ou pra puta que pariu. :emoticon2:


Visto que não encontro endosso legal para tal ( portanto eles não irão para lugar algum que eu deseje), mandar ou não só me faz sentir mais ódio. Do tipo autodestrutivo. Vou mais é cuidar de mim ( enquanto ainda é tempo ).
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Trancado