“Um dia o Brasil vai saber os segredos”

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Aranha
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“Um dia o Brasil vai saber os segredos”

Mensagem por Aranha »

Rodrigo Rangel
Época num. 0539
13/9/2008


Os discos rígidos apreendidos na casa de Daniel Dantas têm material explosivo, afirma o delegado

O delegado da polícia federal Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, resolveu partir para a guerra contra aqueles que o acusam de irregularidade. Para ele, os episódios que põem a operação em xeque – como a suspeita de que ele grampeou o ministro Gilmar Mendes, do STF – são parte de um plano para desacreditar a investigação. Na quinta-feira, Protógenes posou para um ensaio fotográfico usando algemas, ao lado de um promotor e um juiz federal. “É assim que nós estamos agora, e tudo isso por causa de uma operação que investigou um banqueiro com ligações estreitas com o poder”, afirmou.

ÉPOCA – Afinal, o senhor fez grampo clandestino ou não?
Protógenes Queiroz –
De maneira nenhuma. Isso é uma grande mentira, lançada levianamente, envolvendo o nome de pessoas importantes no cenário da República e de dois órgãos importantes, que são a Abin e a Polícia Federal. O objetivo daquela informação, engenhosamente montada, foi tirar o foco dos investigados e centrar nos investigadores.

ÉPOCA – Com base em que o senhor afirma isso?
Queiroz –
Cadê o áudio? Como se lança uma conversa entre duas pessoas importantes da República – o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres – e não se apresenta o áudio? Não se pode deixar de lado a figura central de uma investigação que abalou as estruturas do país. Está se discutindo todo o arcabouço legislativo do Brasil por causa de uma investigação contra um banqueiro. Não um simples banqueiro, mas um poderoso banqueiro com ligações extremamente estreitas com pessoas do topo do aparato estatal. Isso foi demonstrado durante a investigação. Não posso entrar no mérito, porque a investigação ainda está sob sigilo.

ÉPOCA – O senhor se refere a quem quando fala em “topo do aparato estatal”?
Queiroz –
Eu me refiro às cúpulas do sistema. Ao topo do aparato estatal.

ÉPOCA – O Poder Executivo ou não só?
Queiroz –
Eu diria em termos de Estado. Não classificaria se é Executivo, Legislativo e Judiciário, mas a desenvoltura com que aparecem fatos para obstar as investigações tem um resultado prático. E aí são reveladas as pessoas que estão comprometidas com esse sistema.

ÉPOCA – Mas a investigação que o senhor fez é alvo de pelo menos quatro procedimentos para apurar possíveis desvios.
Queiroz –
Há que apurar os ilícitos, e não tentar produzir provas para o bandido. Com todo o respeito pelos encarregados dessas investigações, a defesa está esperando o resultado para pedir a anulação da operação. Isso é deprimente. Para mim, quem protege bandido, bandido é.

ÉPOCA – Quem acompanha o caso tem a impressão de que há um jogo de ameaças nessa história. Isso está acontecendo?
Queiroz –
Tudo o que foi colhido na Operação Satiagraha está nos autos.

ÉPOCA – E qual o potencial desse material?
Queiroz –
No material apreendido, considero da maior importância os discos rígidos da residência do investigado Daniel Dantas, porque ali pode haver segredos que podem marcar a história do Brasil.

ÉPOCA – São os discos que estavam na tal parede falsa?
Queiroz –
Positivo. Eu reputo ser esse o material mais importante da operação.

ÉPOCA – E o que há nesses discos?
Queiroz –
O conteúdo está sendo analisado pela equipe que assumiu a investigação e espero que, um dia, o Brasil conheça esse material.

ÉPOCA – O senhor considera natural recorrer à ajuda dos serviços secretos das Forças Armadas?
Queiroz –
Não vejo problema. Esses órgãos fazem parte do Sistema Brasileiro de Inteligência. A cooperação é prevista em lei.


FONTE:Clipping Planejamento

Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker

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Fernando Silva
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Re: “Um dia o Brasil vai saber os segredos”

Mensagem por Fernando Silva »

Talvez seja por isto que alguém gravou uma conversa banal de um juiz e divulgou: para criar um escândalo e impedir novos grampos. E também para que os grampos já feitos não sejam usados nos tribunais.

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Botanico
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Re: “Um dia o Brasil vai saber os segredos”

Mensagem por Botanico »

Fernando Silva escreveu:Talvez seja por isto que alguém gravou uma conversa banal de um juiz e divulgou: para criar um escândalo e impedir novos grampos. E também para que os grampos já feitos não sejam usados nos tribunais.


Lembra-me o falecido repórter Ferreira Neto, que dizia de seu colega Roberto Marinho (dono da Globo):
_ É a pessoa mais coerente do Mundo. O Sr Roberto Marinho está SEMPRE com o governo. O governo muda, Roberto Marinho não muda: ele continua sempre com o governo.

O Dantas deve ter estudado na mesma escola do Marinho: ele faz laços (ou armadilhas?) com TODO o pessoal do governo e dos governos. Assim então se algum do PSDB achou algo cabeludo contra um petista, não poderá dizer ou fazer nada, pois imediatamente já chega algum para dizer: _ Fica quieto, pois senão vão denunciar a falcatrua feita pelo nosso colega tal.

É como o meu irmão policial diz: _ É uma árvore onde todos os macacos estão segurando o rabo de outro macaco. Se puxar demais um, cai a árvore inteira por isso...

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O ENCOSTO
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Re: “Um dia o Brasil vai saber os segredos”

Mensagem por O ENCOSTO »

Eu acho que o Luis Carlos Querido conhece o conteudo desses discos rigidos só que ele não pode abrir o bico.
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

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SickBoy
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Re: “Um dia o Brasil vai saber os segredos”

Mensagem por SickBoy »

Protógenes vai à guerra - parte 1

O delegado acusa o comando da Polícia Federal de vigiá-lo durante as investigações contra Daniel Dantas. E se prepara para reagir às acusações de que avançou o sinal na Operação Satiagraha
Rodrigo Rangel, de Brasília
Anderson Schneider

ELE FALOU
Imagem
O delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, da Polícia Federal

O delegado Protógenes Queiroz, afastado do comando da Operação Satiagraha, é agora um homem solitário. Os aliados de antes, como o também delegado Paulo Lacerda, foram apeados do poder. E ele, Protógenes, já não tem mais a retaguarda da poderosa Diretoria de Inteligência Policial, o bunker da Polícia Federal que nos últimos anos funcionou como fábrica de provas contra toda espécie de criminosos no país.

Protógenes integrava o primeiro time da DIP. Por suas mãos passaram alguns dos casos mais rumorosos da crônica policial brasileira, como os que levaram para a cadeia o contrabandista Law Kin Chong e o ex-prefeito paulistano Paulo Maluf. No entanto, depois da Satiagraha, a operação que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, o delegado viu sua vida virar pelo avesso.

Primeiro o inquérito saiu de suas mãos, com direito a manifestação até do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, Protógenes se vê sob a acusação de ter montado um aparelho paralelo na operação para grampear clandestinamente altas autoridades da República. O inferno de Dantas, o banqueiro-alvo da Satiagraha, acabou por se transformar no inferno de Protógenes.

O delegado promete reagir. E o início desta reação tem como alvo o atual comando da Polícia Federal. Ele não fala em nomes. Mas fica evidente: o destinatário dos tiros é o atual diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. Em entrevista a ÉPOCA, Protógenes afirma que, após reduzir sensivelmente o número de policiais encarregados da investigação, a direção da polícia passou a vigiar os policiais que permaneceram no caso.

“Foi realizada vigilância sobre os membros da equipe. Inclusive algumas pessoas (que faziam o monitoramento) foram identificadas visualmente”, diz o delegado. “Naquele momento o que mais me indignava é que eu precisava de pessoas para trabalhar na missão e via um número identificado de policiais fazendo vigilância. Em troca de quê, qual o objetivo, recebendo ordem de quem, fazer aquilo para quê?”, indaga o delegado. “Tem que saber quem são essas pessoas, a serviço de quem estavam e quem mandou que elas nos vigiassem.”

Protógenes é cuidadoso nas palavras. Teme ser alvo de mais represálias. Primeiro, ele hesita em atribuir tal vigilância à PF. Depois, aos poucos, vai avançando. E termina por fazer uma acusação ainda mais grave: diz que as informações levantadas pelos agentes encarregados de fazer a vigilância acabavam indo para as mãos do principal investigado do caso, o banqueiro Daniel Dantas.

“Essa vigilância era confirmada com o que nós coletávamos na investigação. Nos dias em que eu me deslocava de Brasília para o Rio, do Rio para São Paulo, de São Paulo para o Rio ou de São Paulo para Brasília, nós tínhamos dados que (mostravam que) os investigados sabiam antecipadamente, até mesmo em tempo online, que eu estava me deslocando.”

Protógenes diz que todas as dificuldades começaram a aparecer depois que o delegado Corrêa assumiu a direção da PF, em substituição a Paulo Lacerda. “Reduziram drasticamente o número de agentes”, diz. Antes, o núcleo duro da equipe tinha 18 policiais. “Depois, nós éramos apenas quatro.” O Ministério Público Federal em São Paulo abriu procedimento para apurar a denúncia do delegado. Dois agentes que participaram do monitoramento, com carros da PF e tudo, já teriam sido identificados.

Na polícia, o delegado está numa espécie de período sabático. Mas, à exceção das leituras de sempre (agora ele relê um amarelado exemplar de “Princípios da Filosofia do Direito”, de Hegel), tem usado o tempo para se defender das acusações. Protógenes afirma que, por conta dos alvos de alto nível em que esbarrou ao longo da Satiagraha, acabou passando da posição de investigador à de investigado. “Tudo isso por causa de uma operação que investigou um banqueiro com ligações estreitas com o poder”, disse o delegado, que nega peremptoriamente qualquer ligação com escutas clandestinas. Ele diz que a reação à operação está diretamente relacionada ao potencial explosivo do caso.

Sem titubear, Protógenes aponta para os discos rígidos de computador apreendidos numa parede falsa do apartamento de Dantas como o principal produto da operação (leia entrevista publicada na edição de ÉPOCA desta semana). Diz que os discos escondem “alguns segredos que podem marcar a história do Brasil”. “Não posso falar mais porque o caso está sob segredo de justiça, mas espero que um dia o Brasil conheça o teor desse material.”

Mesmo fora da investigação, o delegado não apenas desconfia, mas afirma ter certeza de que está sendo vigiado. Só conversa em telefones seguros. Nos três aparelhos celulares que carrega, fala apenas o trivial. Não aceita que lhe paguem nem um refrigerante. A amigos, costuma dizer que foi assim que se livrou de uma acusação de Hugo Chicaroni, o professor universitário que acabou preso ao tentar subornar um dos delegados da Satiagraha. Em depoimento, após ser preso, Chicaroni afirmou que era tão amigo de Protógenes que até pagava suas contas. O delegado abriu a carteira e mostrou um punhado de comprovantes de pagamento com seu próprio cartão de crédito.

Dentre esses comprovantes havia um especial. Era do dia em que Protógenes e Chicaroni se encontraram numa pizzaria de Brasília. Foi um dos primeiros movimentos do professor universitário na tentativa de oferecer suborno aos delegados da Satiagraha. No primeiro sinal de que Chicaroni o acusaria de promiscuidade, o delegado tratou logo de mostrar que não aceitara as benesses do professor.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/E ... UERRA.html

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SickBoy
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Re: “Um dia o Brasil vai saber os segredos”

Mensagem por SickBoy »

Protógenes vai à guerra - Parte 2

O delegado acusa o comando da Polícia Federal de vigiá-lo durante as investigações contra Daniel Dantas. E se prepara para reagir às acusações de que avançou o sinal na Operação Satiagraha
Rodrigo Rangel, de Brasília


Baiano de nascimento, mas criado no Rio de Janeiro, Protógenes ganhou esse nome porque seu pai, ex-militar do Exército, resolveu homenagear o almirante Protógenes Guimarães, ministro da Marinha no primeiro governo de Getúlio Vargas e governador do Rio entre 1935 e 1937. Aos 49 anos, pai de três filhos de três casamentos diferentes, o delegado mais polêmico do momento é cristão – e demonstra ser bastante ligado à família. Um dos celulares que o acompanham 24 horas por dia serve apenas para falar com a mulher. O aparelho tem um toque diferente, daqueles bem escandalosos.

Apesar de estar em meio a um furacão, Protógenes se mostra um homem multitarefas. Arruma tempo até para pagar as contas de casa. E o faz com atenção. A ponto de perceber que o plano de saúde está lhe cobrando em dobro a fatura do mês. O delegado reclama. E logo segue para o banco, tendo à mão meia dúzia de boletos, um deles das Casas Bahia.
O delegado é de hábitos simples. Anda bem vestido, com gravatas vistosas. Mas não faz questão de luxo. Nos hotéis onde se hospeda, sua única preocupação é com a privacidade. Semana passada, em rápida viagem a Goiânia para receber uma homenagem, ele se ausentou por algumas horas do hotel. Ao retornar, não hesitou em pedir para trocar de quarto. A explicação para o pedido: enquanto estava fora, alguém poderia ter entrado e instalado uma escuta. No quarto novo, escolhido de supetão, não haveria esse risco.

Na véspera, outra cena do delegado que desconfia de tudo. Era noite. Num restaurante do Setor Marista de Goiânia, ele se senta para jantar. O salão está vazio e, à exceção da mesa onde está sentado, um casal chega e ocupa justamente a mesa ao lado. Logo, começa a disparar flashes em direção à mesa do delegado. Protógenes desconfia. Eleva a voz. Quer que o casal perceba que ele está incomodado. A estratégia funciona. Coincidência ou não, o casal logo pede a conta e sai, apressado.

Sem as prerrogativas dos tempos em que presidia o inquérito da Satiagraha, ao delegado agora resta a expectativa pelo resultado das quatro investigações abertas pelo Ministério Público e pela própria Polícia Federal para apurar supostos desvios em sua operação. “Isso tudo vai ser esclarecido”, afirma.

Enquanto isso, Prótogenes colhe apoios pela internet, em seu blog pessoal, e começa a assumir um ativismo diferente daquele de antes: planeja viajar pelo país em atos contra a corrupção. O primeiro deles foi justamente o da semana passada, em Goiânia. O delegado foi aplaudido de pé por uma platéia formada, em sua maioria, por estudantes de direito. É uma cena do Protógenes solitário, que agora não anda mais cercado por seu staff. Ainda possui aliados, mas a crise os obrigou à discrição.

Para esta quarta-feira (17), há mais um evento na agenda. Desta vez, em Porto Alegre. Na capital gaúcha, Protógenes participará de debate sobre corrupção a convite da deputada federal Luciana Genro, do PSOL. Falará sobre as dificuldades que enfrentou na Satiagraha e, inevitavelmente, sobre seu afastamento da investigação. Por ironia, discursará a convite da filha do ministro da Justiça, Tarso Genro, a quem a Polícia Federal está subordinada.

O delegado tem discurso pronto para as críticas. Além de negar que tenha feito ou encomendado escutas ilegais, diz não haver nenhuma ilegalidade na participação de agentes da Agência Brasileira de Investigação (Abin) na Operação Satiagraha. “A Abin faz parte do Sistema Brasileiro de Inteligência, o Sisbin, e a troca de informações pelos órgãos que integram esse sistema é normal”, diz.

A mesma explicação o delegado dá para a participação dos serviços secretos das Forças Armadas, revelada por ÉPOCA. O que nem Protógenes sabe dizer é até onde foram os agentes secretos nos quais depositou sua confiança. Há quem admita a possibilidade desses agentes, sabe-se lá movidos por quais interesses, terem implantado uma bomba-relógio dentro da investigação mais importante da vida do delegado. O clima, agora, é de desconfiança geral.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/E ... UERRA.html

Trancado