Herf escreveu:Ok, minha opinião é a de que não há motivo para pensar que com serviços de saúde as coisas ocorrerão de forma diferente da de outros serviços. Se há demanda por saúde, haverá quem a ofereça. Da mesma forma, como a reportagem tenta mostrar, esse tipo de sistema é insustentável a longo prazo, assim como seria insustentável um serviço de "alimentação gratuita de qualidade" a todos. No momento em que você não está gastando o seu próprio dinheiro para adquirir um produto ou serviço a demanda por ele cresce indefinidamente.
Mas o principal, a meu ver (e aqui você provavelmente me chamará de "darwinista social"), é que é errada essa idéia de que a simples necessidade alheia é motivo para usar da coerção contra uma pessoa. É errado também elevar problemas de saúde individuais à condição de problemas de saúde pública, isto é, questões que fogem ao controle do indivíduo (epidemias, por exemplo), justificando a ação do estado. Mas talvez se pudesse adotar um sistema de vouchers como forma de transição, até que a abolição total do sistema público seja compensada por um sistema privado sólido (o mesmo valendo para a educação).
Vc examinou minha alternativa? Pois na minha o privado continua a existir e a responder por demanda. E não é insustentável, estudos mostram da Organização mundial de saúde que é mais barato o Estado cuidar (especialmente onde existe liberdade para o privado), pois os benefícios secundários são incalculáveis e é por isso que o NHS existe na Inglaterra desde segunda guerra mundial, e não ruiu. Até Margareth Thatcher disse "Saúde está segura nas mãos do NHS".
Vc tb não respondeu a minha questão e quem tem doença crônica que não é epidemia, como câncer, e não pode pagar, deixa-se morrer? A maioria de óbitos nos EUA é por doenças desse tipo e do coração. Combinadas superam tudo. E são doenças tratáveis. Levam, como já demonstrei a falências em números incríveis, inclusive de gente que paga plano de saúde (maioria de quem vai a falência). Pior, quem já tem a doença não é aceito pelos planos, e se for pobre simplesmente vai morrer sem nenhum cuidado. Os que são de classe média estão indo para o Canadá e outros países. Vai para os EUA se tratar quem tem dinheiro. Mas os pobres dos EUA e classe média vão para os lugares onde saúde é universal.
Um sistema totalmente privado seria a pior coisa possível de acontecer, se fosse negado o serviço, vc estaria com sua vida, sob o poder, de uma empresa, que muitas vezes iria avaliar, que sua morte, diante de um tratamento caríssimo, é mais lucrativa. Detalhe, o que estou dizendo é obvio, já foi detectado pelo estudo feito em Harvard ( que postei), pela Organização Mundial da Saúde.
Mais ainda, um monopólio do privado levaria a cartéis que controlaria preços. Já a presença de um serviço "gratuito" forçaria os privados a abaixar os preços e elevar qualidade, para poder competir. Sendo que o público poderia se destinar a atender todos no que fosse mais urgente, e naquilo que o privado patentemente não faz. Porém limitar os abusos da demanda, fazendo por exemplo a pessoa que podem pagar, apenas essas, como é na Inglaterra, a pagar por certos serviços. O preço seria baixo, como é o de medicamentos na Inglaterra, porém seria um contra incentivo para abusos, seu principal argumento, que é totalmente contornável, por isso sendo um argumento insuficiente. Já a inviabilidade a permanência por mais de meio século, em toda Europa ocidental, é prova patente que é viável.
Porém o que estou argumentando é que não apenas o sistema deles é viável, algo auto-evidente, mas que pode ser aprimorado. Reduzindo a demanda através de incentivos e contra incentivos, algo já feito na Inglaterra, e na França. Na França vc tem que pagar inicialmente, se pode pagar, por certos serviços, se for evidente a necessidade dele, vc é reembolsado, caso contrario não. E por ai vai, existem inúmeros mecanismos de contra incentivar abusos.
E o sistema que é misto, que o Estado não subsídio os privados, e que ao competir com ele oferecendo a todos, especialmente aos que não podem pagar, força, pela competição a melhoria geral, e evita a formação de cartéis, que iriam inflar preços de forma conjunta, caso não houvesse a participação do Estado, algo que acontece quando esse está ausente.
Herf escreveu:
Subsidiar pessoas/empresas que não produzem/produzem mal apenas as incentiva a continuarem não produzindo ou produzindo coisas não demandadas. Não tem o menor cabimento afirmar que isso é diferente se a empresa for pequena ou mesmo se estamos falando de indivíduos. Pessoas reagem a incentivos sempre. Subsidiar a necessidade e a incompetência só gera mais necessidade e mais incompetência.
Somente voltando a isso. Não estava sugerindo subsidiar pessoas ou empresas que não produzem ou produzem mal, sua premissa não corresponde ao que estava descrevendo. O que sugeri foi que em tempos de crise, se empresas pequenas são bem sucedidas, e empregam muita gente, e o Estado quer minimizar desemprego, são essas, e não as grandes que devem ajudar, até pq já existem estudos que ai teriam maior impacto.
Porém essa nem é minha idéia central, já que rejeito ajuda a privados. Seria apenas, se tem que haver, que pelo menos seja assim visando todo um setor, dando por exemplo isenção fiscal para os setores que empreguem mais, porém não é o "ideal". O ideal é incentivar as pessoas exigindo um contra parte o que destrói o "mal produzem". Se elas fizerem sua parte, recebem incentivos, para estimular qualificação do trabalhador e ai poderem competir ao mesmo tempo que não vão sofrer os maiores impactos das crises. Ou seja, garantir que quem quer trabalhar, e está fazendo o possível para se aprimorar, tenha oportunidade para tanto. Alias, eu restringiria a atuação do Estado a isso, e algumas leis de proteção ambiental(pois empresas não vão fazer isso se for lucrativo não fazer), sou contra órgãos reguladores centrais como Banco Central, FMI, a interferência forte na economia pró-grande negocio, não apenas rompe com livre concorrência como é danosa, aumenta inflação, endivida Estados.
É uma ilusão pensar que sou a favor de Estado grande e muito intervencionista, ou de Estado pequeno, sou a favor de um Estado altamente democratizado, interferir onde deve, incentivando e contribuindo, para ampliar as oportunidades dos cidadãos, garantindo os direitos sociais, e as funções primordiais do Estado. E altamente democratizado, e visando os objetivos que defini, pode e deve, significar mudanças na estrutura política e econômica.
Porém, eu bem sei, que a probabilidade disso acontecer, lamentavelmente, é pequena.