Tarcísio escreveu:NadaSei escreveu:Como já tenho dito, o debate está sempre limitado ao espantalho crente.
Espantalho ou generalização grosseira?
As duas coisas, começa em uma e termina na outra.
É que eu não me referi apenas ao texto, mas ao que ocorre normalmente nesse tipo de debate.
A principio pegam tolices de crentes de um dos lados, generalizam de forma grosseira e colocam como se aquilo fosse tudo o que pertence ao outro lado, então refutam a tolice como se estivessem refutando todo o grupo atacado, não importando se o que refuta não está relacionado ao que foi dito pela pessoa.
Tarcísio escreveu:Enxergo a do espantalho e do declive de forma diferente da generalização. Por exemplo nesse caso ele afirma não haver valores e a institucionalização de um individualismo sem precendentes.
Se você afirma ser um espantalho esse é apenas um arquétipo sem grandes raízes estabelecido apenas com a finalidade de servir de Judas para algum evento inexplicado ou parcialmente inexplicado.
Se você compreender por generalização esse é um pensamento de raízes sólidas, mas que transpôs alguns obstáculos e discussões a fim de se estabelecer.
Entendendo por generalização, ele está ceto em dizer que existe um individualismo sem precendentes e que os valores de outrora desmancharam. O que acha?
Vamos então falar do texto em si.
Pois é, o texto passa também pelo declive escorregadio para levar a velha idéia do ateísmo imoral, onde tudo é permitido por mais abominável que seja.
Faz isso no final, começa tratando da descrença em Deus e dizendo que isso leva a um niilismo que, combinado a um individualismo, leva a um mundo sem valores e propicio a pratica de quaisquer atos.
O problema do texto não é só a velha visão do ateísmo imoral que, ao que parece, pretende reforçar, mas também a idéia de perda de referencias e de individualismo sem precedentes.
As coisas mudam e o fazem muito lentamente.
Não sou europeu e não entendo muito das realidades sociais diversas naquele continente, mas não entendo a perda de referencias da forma como exposta, como sendo algo realista, nem enxergo esse individualismo "único" como proposto por ele. Não pelas referencias que tenho daqueles lados.
Quando os valores mudam, também mudam as referencias. Sempre nos baseamos em algo, não só uma fonte externa como a religião ou uma filosofia, mas uma fonte interna como a razão apoiada em questionamento dessas fontes de conhecimento.
Do pouco que sei daquele continente, tenho visto são pessoas mais bem educadas e iniciativas como a do capitalismo justo, onde indivíduos aceitam pagar mais por um produto, desde que o mesmo não seja fruto da exploração de produtores e trabalhadores. Vejo são iniciativas em pró de um desenvolvimento sustentável com preocupação sócio-ambiental real na exigência de empresas, produtos e habitações "verdes" e na escolha de governante preocupados com isso.
O individualismo não é necessariamente uma coisa ruim, quando sabemos que dependemos do todo para nossa própria sobrevivência.
Individualismo burro, assim como coletivismo burro, são sim problemas, mas não parece ser isso o que está ocorrendo.
Sociedades urbanas tendem a ser menos sociáveis em certos pontos mesmo, é como comparar São Paulo a cidades pequenas no interior. O individualismo é algo que vem crescendo já ha algum tempo e tem aspectos bem positivos.
Isso também tem benefícios, desde menos fofoca e preconceito, a maior diversidade de pensamento e comportamento.
Só não se pode deixar de notar que, apesar da força do individualismo crescente, também cresce o coletivismo em nossa compreensão de que somos parte de um todo, isso se vê nas causas ambientais e sociais.
Se estamos aprendendo a importância do individuo ao mesmo passo em que percebemos a importância do meio coletivo em que estamos presos, estamos no caminho certo e aprendendo sobre a importância das duas coisas.
É preciso então perceber que as duas coisas estão crescendo juntas, o que é muito bom.
Dizer pela descrença em Deus que estamos perdendo valores e referencias é bobagem, estamos é aprendendo a pensar e a escolher valores e/ou criar versões melhoradas desses valores com base em algo mais além da inércia da tradição. Sem Deus e sem uma referencias fruto de tradição, a pessoa é obrigada a buscar valores que delimitem sua conduta e que satisfaçam suas aspirações.
Os valores de outrora não estão simplesmente se desmanchando, estão mudando e/ou sendo trocados por outros valores "teste" que levam a um aprendizado.
O que vemos não se limita a uma perda de valores e referencias, mas sim uma multiplicação de pensamentos e referencias que convivem em meio aos antigos valores tradicionais que antes eram quase absolutos.
Surgem coisas novas, ganham força coisas velhas antes ofuscadas pela tradição e perde força a inércia da tradição.
Gente burra existe em todo lugar e, talvez isso represente algum tipo de perigo e problema na mente de gente sem muito discernimento, mas os valores tradicionais sofrem do mesmo problema e já demonstraram o tipo de tragédia que pode ocorrer quando essas mesmas pessoas sem discernimento se baseiam nos valores tradicionais.
Estamos mudando sim, tanto lá quanto cá, mas diria que lá a coisa corre muito melhor em diversos pontos.