Pedro Reis escreveu:Botânico,
Não há menor dúvida de que essa é uma descrição impressionante.
Se você percebeu, eu não tentei dar nenhuma explicação sobre como as irmãs Fox poderiam ter feito as coisas que você disse que aconteceram naquela casa. Na verdade até concordei que provavelmente não seria possível apenas estalando juntas. Talvez os relatos não fossem confiáveis, talvez tivessem sido aumentados com o tempo, mas eu não sei como aquelas coisas aconteciam ou se aconteciam exatamente como hoje chegam até nós, porém eu poderia basear a minha convicção de não haver um fantasma no fato de ninguém ser capaz de obter deste a informação sobre o local onde estaria o seu corpo e também por esse fantasma ser o espírito de um homem que jamais existiu.
Mas eu evitei dar uma explicação qualquer para os fenômenos apenas para ter uma. Portanto também não farei isso neste caso, não vou chutar qualquer coisa, só para ter uma "explicação" e dar tudo como resolvido, até porque não saber como algo acontece não é prova de que não seja possível que aconteça.
Há uma carta interessante de Alfred R. Wallace publicada na Nature, na edição de 6 de dezembro de 1877, defendendo Crookes de um de seus detratores, que segue uma linha de argumentação bastante parecida com a sua. Willian Carpenter havia afirmado que tudo não passava de simples truque, encorajado provavelmente por notícias que chegavam da América dando conta que alguns mágicos, pegando carona na fama que Crookes concedeu a Eva Fay, estavam apresentando números semelhantes ao que Eva Fay teria feito na casa de Crookes. Parecidos mas não idênticos, então Wallace cobra de Carpenter que ele prove a fraude repetindo tudo nas mesmas condições descritas nos relatórios de Crookes.
Eu acho que, sendo cientistas, ambos erram. Um não pode garantir o uso de artifício sem descrever o artifício, e o outro não pode concluir por ignorância.
Fazendo uma pesquisa superficial e pouco confiável na internet o que a gente encontra é muita informação contraditória sobre Eva Fay mas algumas coisas podemos saber com certa segurança. Entre estas algumas colocam a mediunidade de Fay pelo menos em suspeita.
Por exemplo, o primeiro marido dessa senhora já havia sido desmascarado pelos próprios espíritas. O mais
importante é isso, ele não foi desmascarado por céticos do espiritismo mas espíritas já o haviam denunciado como impostor. No entanto ela trabalhava com o marido apresentando números de mediunidade.
Bem, São Pedro, você está QUASE chegando onde quero. Em posts anteriores, você invocou lógica, bom-senso, etc. Pois é exatamente isso que NÃO VEJO nos críticos do Espiritismo. A habilidade ilusionista parece ser o seu ponto de apoio. Os médiuns seriam farsantes habilidosos e graças a essa habilidade, enganariam aos cientistas que tentassem investigá-los. Como nós espíritas somos parte interessada nessa história, procuramos fazer o que os céticos NÃO QUEREM FAZER. Investigar a coisa e fazer os cruzamentos lógicos.
Certo, ilusionistas podem fazer truques parecidos com fenômenos mediúnicos... Contudo, o ilusionista só consegue fazer isso se ELE estiver no controle. A partir do momento em que o controle passa para o cientista que investiga a coisa, vai chegar um momento em que o ilusionista não terá como fazer o truque ou será pego no flagra.
Quer duas outras estórias? Pois bem, houve um grupo de ilusionistas que incluíram nos seus espetáculos uns truques que eram a mais completa avacalhação contra o Espiritismo. George Sexton, ilusionista e também espírita, achou aquilo um desaforo e chiou com os seus colegas, que simplesmente deram uma "banana" para ele. Então ele fez o seguinte: convocou o público, expôs as suas queixas e passou a fazer umas demonstrações que mostravam as diferenças entre o que era mediunidade e o que eram os truques ilusionistas, sendo esses então revelados a forma de como eram feitos. Isso é um desastre para os mágicos, pois a graça de um truque está justamente em não saber como ele é feito. Por que chiaram tanto horrores contra o Mister M? E olha que ele se defendia dizendo estar revelando apenas truques velhos, desdes que você lê em qualquer livro de mágicas. O espetáculo foi sensacional e Sexton prometia revelar mais, só que aí os seus colegas, alarmados, fizeram um acordo e pararam com as gozações contra o Espiritismo.
O Instituto de Metapsíquica fez uma série de estudos com o médium Guzik e no final publicaram um relatório assinado por 34 pesquisadores. Pois o mágico Dickson veio a público dizer que eles haviam sido risivelmente empulhados e que ele podia fazer mais e melhor do que o médium. Oh! Falou um perito. E veio a imprensa dizendo que sim, o mágico repetira tudo às mil maravilhas, o Instituto embuchava, os pesquisadores se calavam e aí então Gustave Geley pegou a luva e fez um desafio: o Instituto apostava com o mágico a quantia de 10.000 francos se ele fosse mesmo capaz de repetir tudo o que o médium fizera nas exatas mesmas condições de fiscalização a que fora submetido o médium. Eram estas: chegando ao Instituto, o mágico seria despido, examinado e vestiria um pijama sem bolsos fornecido pelo instituto. Só então entraria na sala de sessões, que seria trancada e a porta seria lacrada com selos assinados por todos os presentes. Então o mágico se sentaria à mesa e seria seguro pelas mãos e pés. E assim teria de reproduzir tudo o que o médium fizera: fenômenos luminosos à distância, amplos deslocamentos de uma cadeira colocada atrás dele, toques na cabeça e rostos dos pesquisadores.
Bem, o resultado é que o mágico nem deu as caras. O desafio foi estendido a Houdini e também a Herédia, jesuíta mexicano que fazia toda uma série de truques para mostrar as sacanagens espíritas. Ninguém aceitou o repto.
Quanto à questão de lógica, eu não consigo entender porque é que cientistas como Crookes, Richet, etc ia ficar ANOS perdendo tempo com essa coisa que não apenas não lhes trazia crédito, como inclusive os desprestigiava entre seus colegas. Crookes, ao final de 3 anos de estudos, acabou largando a coisa antes que a imagem dele ficasse ainda pior. A sua dedicação é algo que não dá para entender. E olha que ele NUNCA aceitou o Espiritismo. Não foi por fé ou crença que ele entrou nessa, só pode ter sido porque viu de fato algo não explicável. Teria você uma explicação melhor.
Vou fazer aqui uma afirmação muito arriscada, pois não sou perito no assunto e posso sim estar falando uma grande besteira, mas aí vai: tanto quanto eu saiba, não me lembro de ter visto os céticos com uma ampla lista dos farsantes que eles desmascararam pelo bem da sociedade. Você estranhou o marido da Fay ter sido desmascarado por espíritas? Mas saiba que foi assim mesmo que as coisas se deram: os farsantes que se faziam passar por médiuns foram desmascarados POR ESPÍRITAS E METAPSIQUISTAS. Tanto porque esse pessoal aí eram os maiores interessados em acabar com essa raça. Cada farsante era apresentado pela comunidade cética como a prova provada de que o Espiritismo e a mediunidade não passavam de balelas. Mas os céticos mesmo nunca moveram um dedo para fazer o que espíritas e metapsiquistas fizeram. No máximo falam do alto de suas cátedras, lançando uma dúvida genérica a todos os casos. Dos céticos antigos, não tenho medo de fazer a afirmação que fiz.
Dos modernos, também não acho que a coisa seja diferente. Randi não desmascarou Geller (não o pegou no flagra). No máximo mostrou que poderia ter feito truques como ele fazia. Por acaso você tem a lista dos numerosos farsantes desmascarados pelos céticos que eles os pegaram no flagra e como e quando fizeram isso? Eu gostaria de ver essa lista.
Pedro Reis escreveu:Também é verdadeiro que o filho e a nora seguiram a mesma carreira da mãe e do pai e reviveram alguns números famosos de Eva Fay. Mas o que eu menos compreendo é como vocês, espíritas, podem considerar uma legítima médium uma pessoa que vivia dessa forma, se apresentando em teatros, se promovendo através do sensacionalismo e supostamente utilizando os espíritos como meio de vida. Seria possível que espíritos, caso existam, se sujeitem a este papel?
De todas as coisas, para mim, esta talvez seja a maior das evidências de fraude. Explorar os espíritos
é um comportamento incompatível com alguém que creia na existência deles, e eu também não posso imaginar uma boa razão pela qual os espiritos se deixariam usar para propósitos tão mundanos. Se pararmos pra pensar direitinho espetáculos como estes seriam interessantes como apresentações de ilusionismo, mas como manifestações da doutrina espírita seriam deprimentes. Um achincalhe ao próprio Espiritismo.
É claro, eu estou certo que se os espíritas defendem a legitimidade dos poderes mediúnicos dessa mulher
então já devem ter cunhado tb algum tipo de justificativa, mas é muito difícil aceitar este tipo de
coisa como exemplo de prática religiosa séria. Ganhar dinheiro fazendo um circo com os espíritos, com
empresário e tudo, não pode ser a melhor maneira de divulgar uma religião, esse comportamento é muito
mais compatível com o de charlatães.
Pois se conhecesse melhor o Espiritismo, não estranharia. Começa pelo seguinte: mediunidade NÃO É COISA que se obtém por se associar a uma religião. O Espiritismo não é dono dela. Não podemos fazer médiuns: eles já nascem feitos. Não vou entrar aqui no mérito da discussão de como a mediunidade funciona, mas apenas salientar que ela NÃO DEPENDE DA MORAL DO MÉDIUM. Muito que bem, então, Fay e vários outros (como as Fox) fizeram dela meios de vida. A época em que viveram foi uma exceção, pois entendemos que o mundo espiritual (que é tão heterogêneo como o nosso) viu aí a possibilidade de se fazer conhecido, ainda que de forma tortuosa. Por isso então, vários médiuns interesseiros tiveram sucesso nesta época. Sob um rigorosa investigação científica, em geral seus poderes não falhavam... mas quando faziam seus espetáculos pagos, nem sempre a coisa funcionava. E aí apelavam para fraudes estupidamente grosseiras que até uma criança descobriria.
Veja aí que se fossem mesmo ilusionistas como você acredita, a coisa não tem a menor lógica: como é que sob rigoroso escrutínio científico os seus poderes não falham e os cientistas não conseguem descobrir seus truques e lá numa reunião de amigos que pedem ao médium para fazer um show, aí ele é pego tentando fazer um truquezinho infantil com um lenço ou varinha?
Também, meu caro, há muitas "confissões" de fraudes que nunca ocorreram. Claro, os céticos, o Quevedo e os apologistas cristãos jamais duvidam delas. Um Sr (ou Sra) Marsault (o sexo varia conforme a fonte) teria vindo a público para dizer que Eva Carriére e seu pai lhe confessaram farsas ruinosas. Ambos desmentiram isso. Philippe Davis (ou David ou Davids) o nome também varia conforme a fonte, escreveu um livro e nele relatou que um médium que jamais foi pego em fraudes (Douglas Home) lhe teria confessado jamais crer em espíritos e que todos são enganados por espertalhões. Já falei o Jules Bois e Francis Anderson, que se disseram amantes da Florence Cook e que ela lhes teria confessado os truques bobos e infantis com os quais enganou a Crookes.
Talvez isso explique as contradições que encontrou na história da Eva Fay...
Pedro Reis escreveu:O que mais me causa estranheza, que mais me choca é isso, porém muitos outros indícios, na minha opinião, apontam mais para ilusionismo que mediunidade. Os números apresentados, por exemplo, eram sempre os mesmos e exibidos da mesma forma, como se tivessem sido ensaiados até a perfeição. E, convenhamos, quem tem o auxílio dos espíritos à sua disposição não precisaria ficar tão restrito.
O grande problema nisso tudo é a verificação. Sem possibilidade de verificação todo o possível
rigor utilizado por Crookes acaba sendo inútil, o que exemplifica a importância da reprodutibilidade
em ciência. "Será que o Crookes não foi cúmplice da bela loira?" Não é uma impossibilidade e as pessoas
sempre irão discutir o que realmente aconteceu, assim como sempre irão discutir as causas da 1ª Guerra
Mundial.
É aqui que eu falo da INFELIZ DESCOINCIDÊNCIA: por que é que quando esses médiuns estavam disponíveis, NENHUM DOS CRÍTICOS DE CROOKES quis fazer o que você sugeriu acima? Importância da reprodutibilidade? Mas eu já disse: tais experimentos foram reproduzidos por mais de 200 cientistas ao longo de 80 anos, com diferentes médiuns, em diferentes países, juntos ou independentes e chegaram a resultados parecidos... Faltou o que mais? Os céticos não me dizem e eu também não sei. Acho que faltou a augusta presença deles, mas então porque na época nenhum dos críticos quis tirar a coisa a limpo? Talvez porque só proclamar a besteira da cátedra já era o bastante: não precisavam se dar ao trabalho de sujar as mãos.
Contudo, Pedro, em quem eu devo confiar? No Crookes & Cia Bela que FIZERAM OS TRABALHOS DE EXPERIMENTAÇÃO ou nos seus críticos, que só falaram à distância e fora isso, NADA FIZERAM?
Pedro Reis escreveu:Faço esta comparação com a História porque em ciências sociais, de um modo geral, também é impossível usar o método científico, sua aplicação não é universal. Eu não gosto da forma como foram conduzidos os experimentos, a curiosidade de cientista deveria ter levado Crookes a não se contentar em criar meios para que fenômenos não pudessem ser mimetizados por truques de palco, mas antes ele deveria querer observar o fenômeno, registra-lo, estuda-lo, entende-lo. (Se possível quantifica-lo associado a algum tipo de grandeza) E pra isso obviamente ele deveria querer VER o fenômeno. Saber o quê retirou livros de uma estante, quando e como. É difícil compreender essa compulsão dos espíritos em se exibirem, até mesmo em teatros, para o ganho financeiro de algumas personalidades controversas, ao mesmo tempo em que têm todo este pudor em não serem vistos.
Bem, não sei se vai gostar do que vou dizer, mas durante esse experimento de Crookes, Sergeant Cox ENTROU na biblioteca assim que viu aquela forma materializada na porta. E lá dentro ele viu DUAS entidades: a médium e a forma materializada. Por razões não muito claras, ele diz que a forma materializada segurava as manivelas e a médium estava livre e em transe (certo seria o contrário). Dentro dela ficou aceso apenas um bico de gás em ponto mínimo. Você fala em quantificação? Bem, Crookes fez uns experimentos quantitativos com Douglas Home e também pesou a forma materializada e a médium Florence Cook, notando que ela chegava a perder metade do seu peso e a fantasma tinha pesos variáveis.
Uma outra coisa, Pedro: os fenômenos mediúnicos SÃO O QUE SÃO e não o que os espíritas e críticos gostariam que fosse. Vou entender que aquelas fotografias que postou e que achou provenientes de testemunhas idôneas foi só uma gozação. Eu até hoje não sei que fotografia de fantasma convenceria aos céticos. Penso que nenhuma e portanto, após o falecimento dos médiuns de qualidade (mediúnica, não necessariamente moral), vendo que nada convencia esse pessoal científico, então penso que o mundo espiritual achou que o melhor era cuidar do que era do nosso interesse. Assim então ficamos nós sossegados nos centros, cuidando da nossa vida e deixando os céticos chorarem lá fora por que não lhes damos mais atenção.
Pedro Reis escreveu:Mas ainda que o Crookes pudesse ter visto tudo, e que suas testemunhas tivessem a mesma oportunidade, o caso continuaria sendo controverso e discutido até hoje. "Teria Crookes visto mesmo? Não seria ele cúmplice de uma bela loira?", alguns acreditariam, outros não. Não mudaria nada porque esse experimento infelizmente não pode ser feito dentro das regras do jogo da ciência.
Essa é a crítica comum aos céticos: se não se pode avacalhar o experimento (diz aí o que ficou faltando no jogo da ciência, por favor), avacalha-se o pesquisador.
Pedro Reis escreveu:Essa é a diferença para o caso citado do cientista coreano. Ninguém discute que ele realmente fraudou uma pesquisa assim como ninguém discute os seus trabalhos sérios e válidos. Ninguém discute porque tanto um caso como o outro são passíveis de verficação, bastando repetir os procedimentos publicados. E isso, entre outras coisas, é o que distingue a Ciência de outros métodos de obter conhecimento, é o que a torna mais confiável e universal.
Mas Botânico, de fato o relatório de Crookes é impressionante e eu não teria a menor possibilidade de dar
uma explicação honesta para o que foi descrito. Mas eu pus abaixo alguns links para vídeos interessantes.
Se tiver curiosidade dê uma olhadinha e depois me diga se você também teria alguma explicação honesta para qualquer uma das coisas que você viu.
Bem, verei esses links outra ora, mas se for do que estou pensando, devo lhe dizer que para mim nada me dizem, pois não passaram por um escrutínio semelhante. Quanto ao Crookes quer ver o artigo inteiro que foi escrito sobre este caso e sobre outros médiuns que ele pesquisou? Talvez aí você possa fazer um juízo mais abalizado. É só me mandar seu e-mail por mensagem particular e eu lhe mando o anexo.