Acauan escreveu:O presidente Silva é a melhor prova da espetacular onda de mobilidade social criada pela indústria capitalista na região do ABC nos anos sessenta e setenta.Herf escreveu:Acauan escreveu:Nasci, cresci e vivo no ABC paulista, onde vi toda uma geração de operários criar e educar seus filhos sem apelar para nada mais grave do que horas extras quando disponíveis,
Todos conhecem a história do menino nordestino pobre, filho de mãe nascida analfabeta – na descrição do próprio, que migrou para São Bernardo do Campo onde se tornou operário.
Pouco se fala, e o protagonista ainda menos, que aquele operário antes dos trinta anos de idade possuía casa própria, automóvel e padrão de vida razoavelmente confortável, adquiridos com seu salário de trabalhador da indústria.
Como ele, uma geração de operários emergiu para a base da classe média impulsionada pela abundância de oportunidades oferecida pela concentração industrial da região.
Foi desta emergente classe média operária que nasceu o movimento sindical metalúrgico e o Partido dos Trabalhadores, com a parceria intelectual da esquerda uspiana e a proteção institucional das comunidades eclesiais de base da igreja católica, enfiadas até o talo na teologia da libertação.
Nos discursos inflamados, o dirigente sindical Lula denunciava o quanto o sistema que o tirou da miséria era perverso e como o sangue da classe operária era sugado por indústrias que ofereciam salário no topo do mercado, oportunidades de especialização e carreira profissional, assistência médica, transporte e alimentação gratuitos e de qualidade, clubes esportivos e recreativos com excelente infra-estrutura disponibilizados aos trabalhadores a preço de banana etc, etc, etc...
As ondas de greves e as pressões sindicais tiveram o efeito benéfico de forçar a modernização das relações de trabalho nas indústrias de pequeno porte, dentre as quais tantas ainda tinham um pé no século XIX, mas também provocaram aumento do custo da mão de obra e um clima de constante agitação que motivaram fuga em massa de empresas do ABC para o interior de São Paulo e outros estados da federação, onde governos e prefeituras ávidas pela riqueza que os sindicalistas locais odiavam ofereciam mil incentivos para capturar um naco do capital retirante.
Esteve em vias de se repetir no ABC a decadência que arrasou Detroit por motivos análogos. No fim dos anos oitenta, enfileiravam-se os galpões industriais vazios, intercalados por um ou outro ocupado pela Organização Universal de Edir Macedo ou outra função igualmente pouco produtiva.
As revoluções comunistas invariavelmente devoram seus filhos.
A prosperidade capitalista, por vezes, produz seus algozes.
As ligações entre os dois sistemas são íntimas. Não estão em hemisférios opostos - como utopizam e demonizam, mas uma gerando e alimentando a outra, sempre em sentido único: o capital. O disparate é que o discurso de esquerda culpa o capitalismo de ser detentor daquilo que eles almejam, apenas enquanto almejam. Já no caminho de conseguir seu intento, o crítico feroz se metamorfoseia. De larva medonha e revoltada, em borboleta livre, mas sofrendo de estranha amanésia.
Toda vez que deseja alavancar-se através de favorecimentos, usa de novo o discurso da igualdade, arrematando mais apoio dos que ainda estão adormecidos pelo sonho. Geralmente seu objetivo é atingido e o discurso é abandonado.
Não há abundância que não cause corridas ambiciosas via individualismo pois assim é a natureza humana. A coletividade é apenas usada e usurpada. Um cinismo sem tamanho.