O homem elefante e a Dignidade

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Fenrir
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O homem elefante e a Dignidade

Mensagem por Fenrir »

Sou meio viciado em wikipedia e um dia desses me deparei com o artigo do homem elefante, ou melhor Joseph Merrick:

en.wikipedia.org/wiki/Joseph_Merrick

O simples fato de ter se deixado fotografar e ter tido uma vida social, até onde sua condição permitia
( bem entendido ) já mostra sua força de espirito e dignidade.

Ele nao tenha elefantíase e sim uma doenca bizarra e muito rara chamada "Proteus Syndrome" (há controversias), que provoca crescimento assimétrico de ossos, pele e tecidos... reparem só na foto e no esqueleto dele...
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Apo
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Re: O homem elefante e a Dignidade

Mensagem por Apo »

É Síndrome de Proteus, sim.

Mas, Fenrir. Já pensei muito sobre dignidade e limites. Não posso concordar que alguém com problemas sérios quanto à imagem ( auto-imagem e aquela que é percebida pelos demais da espécie ou grupo ) deva merecer algum julgamento pela forma como enfrenta - ou não - suas "deformidades" (que podem ser físicas, intelectuais ou emocionais, passageiras ou permanentes...).

O que é dignidade? Enfrentamento de determinadas situações catastróficas à sua condição pode demandar um pouco de distanciamento e recolhimento, desde que se preserve o que julgamos melhor para nós. Não é se expor, necessariamente. Em nome de quê? Com que objetivo? Nem sempre tal exposição é benéfica. Acho que a dignidade está na escolha do que nos dá equilíbrio. Muitas vezes fazer de conta que tudo é normal ( não sendo, sem ser hipócrita ) é um caminho auto-destrutivo e mutilador. Para quê? Obrigar o mundo a nos aceitar? Porque dizem teorias psicológicas que diferentes tem que ser iguais? Quem garante que é mais saudável mesmo?

As pessoas têm limites e direitos. Um deles é de decidir o que quer para si, sem se preocupar com valores ditados ou tidos como virtudes.

Não há como negar que o mundo é cruel, leia-se natureza humana, genética e sociologicamente.
Algumas escolas psicológicas defendem que devemos expor e nos expor para que o tabu deixe de ser um tabu. Mas querer que alguém faça parte de algo que pode uma catástrofe pessoal em nome de um teoria não comprovável, é apenas pressionar indivíduos pela busca de algo que pode nunca ser possível.
Outras escolas acham por bem que sejamos mais prudentes frente aos fatos: sair de cena e tentar conviver com a diferença de outra forma, menos expositiva.

Acho que dignidade é o direito de decidir o que fazer com sua própria existência. Se resguardar é uma delas, deixar-se enlouquecer ou até se suicidar. Não estamos na pele do outro para saber ou julgar.
O que acho é que, dentro do que ele optou ( se optou genuinamente, sem sentimentos de auto-flagelo público ), o fez certo. Simplesmente pela liberdade de opção.
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Fenrir
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Re: O homem elefante e a Dignidade

Mensagem por Fenrir »

Pensando bem, acho que esta certa.

Mas veja, suponha que ele tivesse escolhido outro caminho e tivesse suicidado bem antes de chegar aos 27 anos.

Concordo que ele teria total liberdade para tanto.
No entanto, questão é que, caso tivesse feito isto, duvido muito que seria tivesse sido livre, digo pessoal.
Seria mais o caso de ter sido imposta pelos outros, quer explicitamente, quer não, que conscientemente, quer não. E aí a liberdade de decisão dele foi pro espaço... por causa do obio viés da situação!

Por isso, eu pus "acho". Esta contraditório (minha "fala", nao a sua)!

Um suícídio, seja no caso de Merrick ou de outro, só seria um ato de total liberdade se fosse feito de forma serena, sem nenhuma pressão, ou melhor independentemente de qualquer pressão, d3e qualquer natureza... tenho sérias dúvidas quanto a esta situação ser possível.

Mesmo que tivesse se recolhido e sumido do mapa, teria tido liberdade de fato? Ou foi impelido a fazer tal coisa? Ao passo que o oposto (continuar em sociedade), infinitamente mais penoso, demanda bem mais esforço. Não dá para se decidir por esta via, sem uma boa dose de força de vontade. Não é aí que a liberdade esta?
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Apo
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Re: O homem elefante e a Dignidade

Mensagem por Apo »

Fenrir escreveu:Pensando bem, acho que esta certa.

Mas veja, suponha que ele tivesse escolhido outro caminho e tivesse suicidado bem antes de chegar aos 27 anos.

Concordo que ele teria total liberdade para tanto.
No entanto, questão é que, caso tivesse feito isto, duvido muito que seria tivesse sido livre, digo pessoal.
Seria mais o caso de ter sido imposta pelos outros, quer explicitamente, quer não, que conscientemente, quer não. E aí a liberdade de decisão dele foi pro espaço... por causa do obio viés da situação!

Por isso, eu pus "acho". Esta contraditório!


Parece contraditório porque sempre colocamos a premissa da vida a qualquer custo como escolha óbvia. E não é. Tem gente que nasceu ( todos nós nascemos sem ter tido direito algum a tal escolha) e vive mal, apenas para satisfazer a imposição pela manutenção da vida. Por dentro, está morto. Por fora, tem que fingir que está vivo. Para quê, afinal?
Liberdade de decisão é justamente escolher entre permanecer ou cair fora, dadas as circunstâncias. Nada mais. Não há mais demandas do que a escolha, desde que não o matem ou não o trancafiem contra a sua vontade. Dignidade é soberania, inclusive na hora da dor e de como suportá-la...ou não.
Se olhar assim, verá que é coerente.

Um suícídio, seja no caso de Merrick ou de outro, só seria um ato de total liberdade se fosse feito de forma serena, sem nenhuma pressão, ou melhor independentemente de qualquer pressão, d3e qualquer natureza... tenho sérias dúvidas quanto a esta situação ser possível.


Nem sempre a reclusão ou abdicar do que se é através da eliminação da existência é um ato livre por ser sereno. Pode ser doloroso e complexo. A liberdade está na expressão máxima da escolha, seja ela de forma for. Se houver pressão para o ato, tipo um suicídio coletivo por alguma seita maluca, mentira ou intimidação, não houve liberdade. Liberdade é quando, a despeito ou por causa das circunstâncias, o sujeito opta por ficar ou sair. Tal escolha pode não ser definitiva ( a menos no caso da morte, claro). Um recluso, pode escolher, em outro momento, rever seus conceitos e modificar a escolha.
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Trancado