Jogo do bicho se moderniza e aposta já é informatizada em Santa Maria, no Rio Grande do Sul
14/10/2009

PORTO ALEGRE - Parece estar chegando ao fim a era dos blocos de papel barato, canetas e pochetes. O jogo do bicho, uma das contravenções mais populares do país, está mudando de cara. Na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o jogo ganhou ares mais modernos. Numa lotérica da Rua Venâncio Aires, as apostas foram informatizadas. Ao fazer uma fezinha, o cliente recebe, em vez de um bilhete escrito a mão, um papel parecido com o de um comprovante de extrato de cartão de crédito. Os números escolhidos saem impressos no tíquete.
No começo do mês, uma equipe do jornal Diário de Santa Maria, da rede RBS, foi até o local para conferir como o esquema funciona. Para a reportagem, a equipe fez uma aposta, com o conhecimento do Ministério Público Estadual. Observando a fachada, é fácil confundir o local com uma lotérica comum. Mas basta entrar na casa de jogos para perceber a diferença.
- Oi, tudo bem? Vocês fazem jogo do bicho aqui? - perguntou a repórter.
A resposta da atendente foi afirmativa. Depois de mais um pouco de conversa com a funcionária, a jornalista descobriu que a lotérica não oferece nenhum outro serviço além das apostas ilegais.
- Vocês recebem pagamento de contas? - perguntou.
- Não. Aqui é só bicho. Pagamento de contas só na outra agência, lá no centro - esclareceu a funcionária.
Antes de fazer a aposta e comprovar que o jogo está informatizado, a reportagem descobriu que a tecnologia evoluiu, mas a velha maneira de escolher os números segue a mesma. Há quem tenha os seus algarismos e combinações preferidos. Outros tentam interpretar sonhos. Para estes, a atendente oferece um livro com as explicações dos sonhos com animais, segundo as "leis" do jogo do bicho.
- A senhora sonhou com vaca de uma cor só ou malhada? E a cobra? Estava fugindo ou perseguindo? De acordo com o sonho, o número muda - explicou a moça, de olho no livro.
Sonho interpretado e números escolhidos, a funcionária, então, passa a mão em um equipamento semelhante a um leitor do cartão de crédito e digita a aposta na máquina. As opções para tentar a sorte também são várias: seco (apenas o número), invertido, primeiro ao quinto e primeiro ao sexto.
- Primeiro ao sexto? - perguntou a jornalista, surpresa com a novidade.
Esta, conforme a funcionária, é mais uma chance de ganhar oferecida pelos bicheiros da cidade. O valor a pagar em cada modalidade é o que o cliente escolher. Quanto mais dinheiro apostado em cada opção, maior o prêmio, se o cliente tirar a sorte grande na aposta.
Procurado pelo Diário de Santa Maria, o dono da lotérica, que se identificou apenas como Ênio, negou-se a falar sobre o sistema informatizado.
- O jogo do bicho é uma coisa que existe há mais de cem anos e vai continuar existindo. O que mais eu posso te dizer? - disse.
O Diário de Santa Maria não ganhou nenhum dinheiro com a aposta feita
http://oglobo.globo.com/cidades/mat/200 ... 047662.asp