Botanico escreveu:Para nos prevenirmos contra os pseudo-sábios, é só adotarmos as mesmas medidas que adotaríamos se fôssemos lidar com encarnados. Eu sou consultor de quatro periódicos científicos. Recebo trabalhos de colegas, aos quais tenho de dar um parecer. Posso decidir, COM BASE EM CRITÉRIOS TÉCNICOS, se o trabalho está bom ou ruim. Até me passada uma lista sobre quais os pontos eu devo considerar para fazer o meu julgamento.
Ayyavazhi escreveu:Mas... foi exatamente isso que eu defendi. Você É um cientista e isso o habilita a analisar e dar pareceres sobre trabalhos de outros colegas. Um leigo não poderia fazer isso.
Sim, sim. Só que aqui temos uma situação diferente: NÃO HÁ CORPO EDITORIAL no Espiritismo. Ou seja, antes de se publicar um livro ou artigo, ele não é passado por uma equipe de revisores para atestar se coisa válida ou sacanagem de pseudo-sábio, ou se é só uma opinião burra de um espírita "xarope" qualquer. Conversando com um editor, ele me falou de um autor que queria que fizesse uma nova edição do livro dele, pois a editora anterior não queria. Esse editor viu o livro e chamou o autor para uma conversa:
_ Seu livro não é obra inédita: é só uma compilação de vários parágrafos das diversas obras que você cita no final. Uma coisa assim não faz sentido editar.
Mas o autor, um cara pra lá de "xarope" segundo ele, insistia. Então ele o fez assinar um termo registrado em cartório onde se dizia que o trabalho da editora limitava-se apenas a fazer o trabalho gráfico e de edição, sendo que o conteúdo da obra era de EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO AUTOR. Ou seja, se algum dos autores dos textos que ele colocou lá resolvesse processá-lo, era só o autor que vai se ferrar.
Edgar Armond, que foi uma boa pessoa em sentido moral, deixou-se fascinar pelo médium Hercílio Maes, que psicografava o espírito Ramatis (o tal que descreveu toda uma civilização em Marte e falou que no fim do século passado o eixo da Terra estaria verticalizado...). Começou a introduzir na Federação Espírita do Estado de São Paulo coisas sugeridas por esse espírito e a divulgar obras dele. Fez isso pois presidia a FEESP naquela ocasião. Mas houve forte reação e Armond preferiu afastar-se sem ruptura e fundou outro grupo, a Aliança Espírita Evangélica, onde continuou dando trela ao Maes e aí juntou os ramatisianos neste grupo. E continuam editando as pataquadas. Há alguma lei que proíba um fascinado de fazer besteira? Acho que não. Tem um site que já foi visto por aqui, Obras Psicografadas, onde critiquei Ramatis e um desesperado babacão, que se apresenta como Carlos Magno, fez uma típica defesa de quem não tem qualquer argumento algum.
Mas como tenho dito: o Espiritismo não tem mensagem de salvação. Ou seja, vai se dar muito melhor um ramatisiano babaca que faz coisas boas do que um kardequiano que sacaneia aos outros.
Ué? Tem sido sempre assim que a Humanidade aprendeu as coisas desde a creche até a universidade e está indo pelo seu caminho. Está sugerindo que tal situação comprometeria o Espiritismo? Em que?
Ayyavazhi escreveu:É verdade. Tem sido assim desde sempre com o conhecimento humano, mas esse conhecimento é uma conquista gradativa, que se confirma ou se recusa de acordo com critérios rigorosos de verificação. No espiritismo, o aprendizado é um pacote pronto que é entregue ao homem e é nisso que eu não acredito. Por diversos motivos.
De que pacote pronto está falando, meu caro? Certo, há coisas que são HISTÓRICAS. Os livros de Kardec são obras de Kardec, feitas no século XIX, as quais não se pode alterar, mesmo que reconhecidamente tragam coisas que hoje não são mais aceitas por uma razão ou outra. O que se pode fazer é, numa leitura em grupo, é alertar:
_ Isso aqui era válido no século XIX, mas hoje o conceito é outro.
Infelizmente nem sempre instrutores espíritas são versados em Ciências e aí certas coisas se deixam passar, a menos que entre os aprendizes alguém sabia do erro e conteste.
Ayyavazhi escreveu:No mais, existem sinais de vida entre o absolutamente certo e o absolutamente errado. Não estou tratando essas questões como absurdas, apenas como imprecisas. Você já praticou tiro ao alvo? Existem atiradores que acertam o alvo, sem acertar a “mosca”. O grande problema que vejo nessas discussões é o posicionamento quase extremista que as partes assumem. Ninguém poderá mostrar a um homem aquilo que ele não quer ver e pouco importa se somos ateus ou religiosos, estamos remando em barcos bem parecidos.
Óbvio ululante, meu caro. Quem é o dono da certeza neste mundo? Favor apresentar-me a pessoa, pois há muitas dúvidas que gostaria de tirar com tal privilegiado. Agora quanto a partes tomarem posições extremistas... Vá se acostumando. Vai ver muito disso por aqui.
Bem, então mostre-me a literatura na DE que confirma que o processo é como você sugere. Até agora penso que está IMAGINANDO que a coisa seja assim, mas é o que efetivamente ocorre?
Ayyavazhi escreveu:Não estou exatamente imaginando. Esse processo é descrito por vocês, espíritas, e salvo por um ou outro engano, como no caso do animismo, não vejo necessidade de imaginar além do que nos é revelado nesses debates.
Esses debates por aqui, em vista das ocupações diárias dos participantes e do nível de interesse deles, só dão pinceladas sobre o assunto. Deveria buscar mais informações nos livros e outras publicações.
Portanto, não vemos problemas quanto aos espíritos terem suas opiniões, mesmo que muito absurdas (leia o Ramatis), os médiuns terem as suas e os ouvintes interpretarem o que bem entenderem. Ao contrário das religiões respeitáveis do Dantas, NÓS NÃO TEMOS MENSAGEM DE SALVAÇÃO. Não podemos impor o Espiritismo a ninguém e ameaçar de ir para o inferno caso não seja aceito.
Ayyavazhi escreveu:Todos nós temos opinião. Aqui e lá. Essas opiniões às vezes se mostram certas, outras nem tanto, mas todas são necessárias. Aprendemos quando acertamos e aprendemos quando erramos. O que eu defendo é que no alicerce de uma religião não deveríamos encontrar opiniões. Pense no quanto isso poderia ser perigoso. Aliás, a história tem nos mostrado essa verdade.
"Alicerces" de religiões são em geral escritos sagrados que teriam sido supostamente recebidos por confiáveis profetas que tinham o privilégio de falar com o(s) Divino(s). Se houve época em que tais escritos jamais eram discutidos e sim aceitos pelo seu valor de face, hoje em muitas sociedades a coisa mudou. Assim, por exemplo, a Bíblia diz que Deus criou o Universo em seis dias há 6.000 anos. Há os que creem nisso numa boa e há aqueles que acham que não seria bem assim... Mas vão ficar os crentes na infabilidade bíblica batendo cabeças com os crentes não tão absoluta infabilidade.
Nós espíritas temos aqui o que Kardec codificou... Com a ressalva já colocada de que não são obras vindas da mente divina e sim de espíritos falíveis e que, portanto, a dúvida contra elas não é pecado.
Entendeu a diferença?
Ayyavazhi escreveu:Não acho que o espiritismo ofereça qualquer perigo. Sei que alguns ateus pensam diferente, mas, até agora, não vi nada que mostrasse isso. No entanto, eu consideraria um grande desperdício de tempo se acreditasse em algo, baseado apenas em confiança, e depois descobrisse que preciso ajustar o curso pois estava navegando em círculos, por exemplo. Meu desejo de aprender, e o que já aprendi até agora, não me permitem esse descuido. Mas, claro, tenho plena consciência de que esse é um posicionamento estritamente pessoal.
Ainda estou esperando que o Dantas me apresente as nefastas consequências do que o Espiritismo causa na mente das pessoas, as quais ele mencionou, mas não as apresentou nesse mesmo tópico.
Quanto à confiança, meu caro, em matéria de religião você não tem alternativa. Ou confia no que dizem os livros sagrados, nos sacerdotes ou na sua intuição. Mas não vai escapar da confiança.
Quer ser mais "macho" e dizer o que pensa e parar com tantas desculpas? Não posso falar por todos, mas usualmente os espíritas tendem a não ser tão melindrosos. Nunca se justifique: os amigos não precisam e os inimigos não acreditam.
Ayyavazhi escreveu:Que bom que você não é melindroso, mas, sinceramente, eu não entendi qual ponto você quer que eu esclareça. Apensar da minha habitual cautela (mesmo que você não precise), penso que fui direto o suficiente.
Suponho que você está procurando certezas. Se é isso, lamento, não vai encontrá-las. No máximo, em matéria de religião, o que terá são proclamações enfáticas de certezas nas religiões maximistas.