user f.k.a. Cabeção escreveu:Existem dois fatores que essas pessoas que esbravejam que os pobres se reproduzem demais não consideram:
1. Mobilidade Social. Não é porque alguém nasce filho de pobre que fica pobre. Se a economia cresce em um ambiente de livre iniciativa e geração de oportunidades, muita gente sai da miséria para a classe média espontâneamente.
A mobilidade social é superestimada e, na medida em que realmente existe, um tanto artificial. Sem um certo "espaço para respirar", disponibilidade de tempo, atenção e trocas culturais, uma criança simplesmente não pode ser criada da mesma forma que se tivesse menos irmãos e pais e parentes de melhor nível sócio-econômico.
Ela pode até ganhar muito dinheiro (o que obviamente não é muito provável, mas pode acontecer). Mas nunca será tão bem estruturada quanto se já tivesse nascido em condições favoráveis.
user f.k.a. Cabeção escreveu:2. Custo de oportunidade. Uma pobre sem instrução que tenha um filho, em termos de custo de oportunidade, é quase nada. Uma casa terá uma faxineira a menos. Uma médica ou administradora de empresas que precisa dar um tempo para procriar, e acaba ficando defasada e virando dona de casa é um custo brutal. Ainda que seu filho venha a ter mais chances no futuro que o filho da pobre, a mãe acabou sendo desperdiçada. Ou então ela pode ser pseudo-aproveitada, com programas de incentivo a maternidade que na verdade causam um grande custo a todas as mulheres que não planejam ter filhos tão cedo.
Não vejo sentido nisso que você está dizendo, e aliás a premissa parece contrariar a do seu item anterior. Naquele você enfatiza a possibilidade mobilidade social, neste pressupõe que ela não será particularmente necessária ou desejada. Lamento dizer, mas a mobilidade social é muito desejada e necessária, e nem por isso fácil ou indolor.
Não se pode razoavelmente esperar que as pessoas fiquem de uma forma geral satisfeitas em passar a vida toda "vendo vitrine" de uns poucos privilegiados. Os desníveis sócio-econômicos já estão bem além do razoável, e não podemos de forma alguma pensar em mantê-los ou aumentá-los no futuro.
user f.k.a. Cabeção escreveu:No entanto, elas costumam estar cobertas de razão no que diz respeito ao assistencialismo patológico subsidiando a proliferação de indigentes. Ao invés de defenderem programas de esterilização e controle populacional, seria mais racional cortar toda essa panacéia de subsídios que permitem esse tipo de conduta irresponsável.
O crescimento da população não costuma acontecer conforme critérios racionais. Cortar subsídios não teria muito efeito a curto prazo, a não ser o de aumentar o desespero e a criminalidade.
Res Cogitans escreveu:Na Europa tem um certo perfil preocupante porque as pessoas que têm mais filhos são menos instruídas, mais conservadoras, mais religiosas, mais radicais...
"Na Europa"? Aqui não?
Alguns países estão incentivando as pessoas a terem filhos, afinal esperar somente dos imigrantes leva a uma mudança muito grande do perfil da sociedade como o exemplo do crescimento islâmico na Europa.
Tem certa lógica. Pelo menos em sociedades suficientemente estáveis.
Apo escreveu:Luis Dantas escreveu:Diante destas constatações, Apo, o que você recomendaria em termos práticos?
Tenho meus palpites, mas gostaria de saber os seus.
(...)
Gostaria de saber as suas recomendações.
A grosso modo, são variações de "procure ter uma margem de manobra para lidar com a imprevisibilidade do futuro" e "não deixe que as esperanças te tornem iludido".
Especificamente, eu recomendo que se deixe de lado a insistência em ter filhos, mas ao mesmo tempo se dê mais importância à criação dos mesmos. Acho que se deve desmistificar tanto o aborto quanto a adoção e começar a pensar seriamente em rever os critérios e hábitos da criação de filhos. Pessoalmente acho um tanto fantasioso pensar que os filhos são responsabilidade exclusiva dos pais biológicos, ou mesmo principalmente deles. Como você bem lembra, só depois do fato saberemos quem realmente dá conta ou não, e até que grau e de qual forma. Não se pode esperar que a sociedade continue viável se não passarmos a ser mais realistas quanto à variedade de estímulos e referências sociais de que as crianças e adolescentes precisam.
Na minha cabeça, fatalmente acabaremos por precisar criar crianças e adolescentes de uma forma mais comunitária, em que a distinção entre escola e família será bem menor e a atribuição de responsabilidades será mais dinâmica e mais realista. O contato afetivo entre pais e filhos biológicos continuará sendo frequente e necessário, mas a criação, que na prática já não é tão automática assim, passará a ser reconhecida como algo importante demais para ser largada ao acaso, à tradição obsoleta e/ou a caprichos familiares específicos.