Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
sexta-feira, 26 de março de 2010
Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Toda vez que o assunto "educação" chega até mim é difícil não reparar que um ponto crucial jamais é discutido: quase tudo de que um professor precisa para obter a anuência dos alunos é ter prestígio diante deles. Simples assim. Não há método pedagógico nem tecnologia que supere o prestígio, o respeito que o professor deve inspirar naturalmente, combinando uma aparência de autoconfiança (preferencialmente excessiva) com a devoção maravilhada por aquilo de que está falando, seja literatura ou geometria. O professor deve comunicar ao aluno: “Eu sei do que estou falando, adoro falar disso, isso é mais importante do que você, você deveria agradecer aos céus pela graça de ter aula comigo, e não terei o menor problema para reprovar você.” Uma vez que os alunos pensem assim, o professor terá prestígio o suficiente para mandá-los ler a Ilíada toda em versos ou estudar física quântica. Os aprovados vão cogitar seguir uma carreira na área daquela matéria. Os reprovados sentirão o orgulho daqueles que foram aleijados na batalha, e falarão das notas baixas como de cicatrizes adquiridas com honra.
T. S. Eliot disse (não consigo mais achar a referência, mas li isso num livro) que “as pessoas querem inventar um sistema tão perfeito que ninguém mais vai precisar ser bom.” Podemos adaptar isso para a esfera da educação. Não há pedagogia tão perfeita que dispense o professor de resolver seus próprios problemas pessoais e conquistar o respeito do aluno. Conquistar, sim. Porque vivemos num sistema de educação obrigatória, em que meu corpo tem de estar presente numa sala de aula, mas minha alma quase nunca está, e já desenvolvi a perfeita arte de estudar o mínimo necessário para obter a nota mínima e passar. Nada mais ridículo do que um professor que diz logo no primeiro dia de aula que os alunos terão de demonstrar interesse. Dá vontade de dizer: “Por quê? Isso é só uma burocracia, eu só quero uma nota, não queria saber dessa matéria e agora que você veio com essa estratégia de um coitado que ganhou um poderzinho é que eu passei a odiá-la mais ainda. Deus me livre de ficar parecido com você.”
Se o aluno não tem interesse prévio pelo assunto, a única maneira de fazer ele ao menos ter respeito é agregar prestígio àquilo que se vai ensinar, e gente coitadinha não agrega prestígio a nada. Em suma, os professores tem de ser modelos, gente admirável. Afinal, é gente que fica horas num tablado falando para platéias que muitas vezes nem queriam estar ali. Creio não enunciar nada chocante e terrível quando digo que é melhor olhar para gente bonita, confiante e apaixonada do que para gente feia, insegura e fria que fica choramingando por atenção, gagueja e, francamente, só não parece odiar estar ali ainda mais do que os alunos porque os anos já ensinaram a disfarçar melhor. Por isso, professor, a dura verdade é que você não pode ter uma aparência ridícula, não pode ser tosco, e muito menos pode dispensar a certeza absoluta de que aquilo que você tem a dizer é a coisa mais importante jamais dita por um ser humano. Não há outra pedagogia. Não há ensino escolar nos moldes atuais sem que o professor transfira seu prestígio pessoal para a matéria.
Agora, vejam por favor que não estou falando de professores que fazem brincadeirinhas e agem como apresentadores de programas de auditório. Esses podem conquistar a atenção, mas não o respeito; são tão modelos quanto o Sergio Mallandro é modelo. Podem inculcar parte do conteúdo, mas dificilmente inculcarão o amor por esse conteúdo. Pedagogia não é macacada.
Postado por Pedro Sette-Câmara às 00:59
http://www.pedrosette.com/2010/03/nao-h ... essor.html
Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Toda vez que o assunto "educação" chega até mim é difícil não reparar que um ponto crucial jamais é discutido: quase tudo de que um professor precisa para obter a anuência dos alunos é ter prestígio diante deles. Simples assim. Não há método pedagógico nem tecnologia que supere o prestígio, o respeito que o professor deve inspirar naturalmente, combinando uma aparência de autoconfiança (preferencialmente excessiva) com a devoção maravilhada por aquilo de que está falando, seja literatura ou geometria. O professor deve comunicar ao aluno: “Eu sei do que estou falando, adoro falar disso, isso é mais importante do que você, você deveria agradecer aos céus pela graça de ter aula comigo, e não terei o menor problema para reprovar você.” Uma vez que os alunos pensem assim, o professor terá prestígio o suficiente para mandá-los ler a Ilíada toda em versos ou estudar física quântica. Os aprovados vão cogitar seguir uma carreira na área daquela matéria. Os reprovados sentirão o orgulho daqueles que foram aleijados na batalha, e falarão das notas baixas como de cicatrizes adquiridas com honra.
T. S. Eliot disse (não consigo mais achar a referência, mas li isso num livro) que “as pessoas querem inventar um sistema tão perfeito que ninguém mais vai precisar ser bom.” Podemos adaptar isso para a esfera da educação. Não há pedagogia tão perfeita que dispense o professor de resolver seus próprios problemas pessoais e conquistar o respeito do aluno. Conquistar, sim. Porque vivemos num sistema de educação obrigatória, em que meu corpo tem de estar presente numa sala de aula, mas minha alma quase nunca está, e já desenvolvi a perfeita arte de estudar o mínimo necessário para obter a nota mínima e passar. Nada mais ridículo do que um professor que diz logo no primeiro dia de aula que os alunos terão de demonstrar interesse. Dá vontade de dizer: “Por quê? Isso é só uma burocracia, eu só quero uma nota, não queria saber dessa matéria e agora que você veio com essa estratégia de um coitado que ganhou um poderzinho é que eu passei a odiá-la mais ainda. Deus me livre de ficar parecido com você.”
Se o aluno não tem interesse prévio pelo assunto, a única maneira de fazer ele ao menos ter respeito é agregar prestígio àquilo que se vai ensinar, e gente coitadinha não agrega prestígio a nada. Em suma, os professores tem de ser modelos, gente admirável. Afinal, é gente que fica horas num tablado falando para platéias que muitas vezes nem queriam estar ali. Creio não enunciar nada chocante e terrível quando digo que é melhor olhar para gente bonita, confiante e apaixonada do que para gente feia, insegura e fria que fica choramingando por atenção, gagueja e, francamente, só não parece odiar estar ali ainda mais do que os alunos porque os anos já ensinaram a disfarçar melhor. Por isso, professor, a dura verdade é que você não pode ter uma aparência ridícula, não pode ser tosco, e muito menos pode dispensar a certeza absoluta de que aquilo que você tem a dizer é a coisa mais importante jamais dita por um ser humano. Não há outra pedagogia. Não há ensino escolar nos moldes atuais sem que o professor transfira seu prestígio pessoal para a matéria.
Agora, vejam por favor que não estou falando de professores que fazem brincadeirinhas e agem como apresentadores de programas de auditório. Esses podem conquistar a atenção, mas não o respeito; são tão modelos quanto o Sergio Mallandro é modelo. Podem inculcar parte do conteúdo, mas dificilmente inculcarão o amor por esse conteúdo. Pedagogia não é macacada.
Postado por Pedro Sette-Câmara às 00:59
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Re: Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Visão tosca, penso eu. E tendenciosa.
Não sei prestígio é o mesmo que reconhecimento...O prestígio pode advir de um aluno que encontra num professor uma postura laissez faire ou mais cobrador daquilo que o aluno sabe mais. Prestígio pode vir e acabar mediante resultados discrepantes, mesmo de caráter pessoal ou parcial.
O reconhecimento advém de trabalho e troca, de demonstrações de ambas as partes, mesmo que dê um bocado de trabalho. Geralmente surge com o tempo e permanece como modelo para a vida.
Pedagogia é método. Ter prestígio apenas não é muito eficiente. É um instrumento eficaz em algumas situações.
Em compensação, muitos professores sem carisma ou prestígio pessoal podem ser excelentes transmissores de conhecimento ( ou esta coisa de "facilitador", como alguns querem em algumas escolas pedagógicas mais liberais).
A diversidade metodológica se acentua na diversidade de personalidades. Tanto para o sucesso, como para o fracasso.
Não sei prestígio é o mesmo que reconhecimento...O prestígio pode advir de um aluno que encontra num professor uma postura laissez faire ou mais cobrador daquilo que o aluno sabe mais. Prestígio pode vir e acabar mediante resultados discrepantes, mesmo de caráter pessoal ou parcial.
O reconhecimento advém de trabalho e troca, de demonstrações de ambas as partes, mesmo que dê um bocado de trabalho. Geralmente surge com o tempo e permanece como modelo para a vida.
Pedagogia é método. Ter prestígio apenas não é muito eficiente. É um instrumento eficaz em algumas situações.
Em compensação, muitos professores sem carisma ou prestígio pessoal podem ser excelentes transmissores de conhecimento ( ou esta coisa de "facilitador", como alguns querem em algumas escolas pedagógicas mais liberais).
A diversidade metodológica se acentua na diversidade de personalidades. Tanto para o sucesso, como para o fracasso.
Re: Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Herf escreveu:sexta-feira, 26 de março de 2010
Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Postado por Pedro Sette-Câmara às 00:59
http://www.pedrosette.com/2010/03/nao-h ... essor.html
Tendo a concordar com Pedro Sette Câmara na maioria das vezes, inclusive nesta.
E diria mais.
A educação no Brasil virou um lixo não é por causa de salário de professor ou escolas em más condições.
Na minha cidade as escolas são muito bem mantidas pela prefeitura - inclusive as estaduais - que paga um complemento de salário para os professores do estado, igualando-os ao que recebem os da rede municipal.
E mesmo assim o ensino público aqui é uma merda.
O problema é que um bando de pedagogos cabeça de vento ou, muito pior, mal intencionados ideologicamente, decidiram abolir as responsabilidades individuais do processo ensino-aprendizado.
Basta falar em avaliação de professores por critérios como nível de aprendizado dos alunos e produtividade acadêmica e o mundo docente cai em cima do autor da proposta, colocando-se no papel de injustiçados oprimidos e rogando mil e uma pragas contra quem ousa negar que educação é uma construção coletiva.
Construção coletiva, claro, é desculpa prá vagabundo não fazer picas e botar a culpa do resultado no sistema, nos contextos, na realidade social ou em alguma outra abstração besta que tire o dele da reta e o desobrigue de fazer o mínimo, aprender a disciplina que leciona, aprender a dar aula e trabalhar.
E aluno vagabundo tem que tomar pau, dadas as oportunidades razoáveis para que se recupere.
O resto é viadagem intelectual disfarçada de pedagogia.
Nós, Índios.
Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
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Re: Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
O único lugar onde existe algum compromisso com a pesquisa sobre a eficácia de métodos educacionais é o Instituto Alfa e Beto, mesmo assim estão longe de aplicar o estado da arte no assunto.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
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Re: Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Outra idiotice que andam aplicando por aí é a alfabetização fonética, ou seja, primeiro as crianças aprendem a escrever foneticamente (ou seja, tudo errado) e só depois aprendem como realmente se escreve.
Elas têm que aprender para depois desaprender. E este método é bom porque ... não sei.
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Re: Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Fernando Silva escreveu:Outra idiotice que andam aplicando por aí é a alfabetização fonética, ou seja, primeiro as crianças aprendem a escrever foneticamente (ou seja, tudo errado) e só depois aprendem como realmente se escreve.
Elas têm que aprender para depois desaprender. E este método é bom porque ... não sei.
Cara não sei de qual "alfabetização fonética" você está falando. A alfabetização fonética que conheço, tudo bem existem várias..., é a que você e eu aprendemos. Na qual aprendemos primeiro as sílabas correspondentes a um fonema e depois juntamos para formar uma palavra...o método que rivaliza com este é o construtivista que NÃO separa as palavras em sílabas. Tudo que li até hoje mostra que a alfabetização eficiente é a do chamado método fônico.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
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Re: Não há pedagogia além de o professor ser um modelo
Res Cogitans escreveu:Cara não sei de qual "alfabetização fonética" você está falando.
Um colega de trabalho, com filhas pequenas, disse que elas aprendem a escrever caza em vez de casa, por exemplo, para só mais tarde aprender a grafia correta.
Entretanto, o que eu encontrei na Internet foi:
Aplicado à alfabetização, o construtivismo rejeita livros didáticos. Nada de aprender sílabas usando frases como “I-vo viu a u-va”. Na versão brasileira da alfabetização construtivista, a criança vai tendo contato com palavras e imagens, tentando associar a palavra inteira ao contexto. Esse método é o contrário do fonético, onde o caminho é aprender o código: primeiro o som das letras, depois das sílabas e como elas formam palavras, que ganham sentido na frase.
O Brasil é dos únicos países no mundo a adotar a alfabetização construtivista. Para os críticos desse método, ela tem ajudado a produzir altos índices de analfabetismo funcional – quando a pessoa sabe ler, mas não consegue interpretar o texto. “Ninguém aprende a ler e a escrever se não aprender relações entre fonemas”, afirma Magda Soares, professora de educação da UFMG.
http://super.abril.com.br/superarquivo/ ... 4620.shtml
Talvez ele tenha entendido errado ou talvez a escola delas é que esteja inventando moda.