Johann Hari em sua coluna na GQ Magazine, reproduzida em seu blog:
E agora, irmãos, dêem-se as mãos e agradeçam, porque eu venho trazendo Boas Novas. A Grã-Bretanha é hoje o país mais irreligioso da terra. Esta ilha desprendeu-se da superstição mais rápido e completamente do que qualquer outro lugar. Cerca de 63 por cento de nós somos não-crentes, de acordo com um levantamento do ICM, enquanto 82 por cento dizem que a religião é uma causa de desunião perniciosa. (…)
Como isso pôde acontecer? Por séculos, a religião esteve isolada de críticas na Grã-Bretanha. Primeiro seus oponentes eram queimados, depois presos, depois marginalizados. Mas uma vez que surgiu um mercado livre de ideias, uma vez que as pessoas puderam finalmente ouvir tanto os argumentos religiosos quanto as críticas racionalistas que se faziam deles, os religiosos perderam o povo britânico. Sua causa era fraca demais, sua oposição ao divórcio, ao aborto e aos gays, cruel demais, a evidência para suas alegações, não existente. Quando eles tiveram que contar com a persuasão ao invés de com a intimidação, a história da Cristandade Britânica chegou ao fim. (…)
Agora que apenas seis por cento do povo britânico freqüentam regularmente um culto religioso, é apenas natural que devemos eliminar as enormes quantidades de dinheiro dos impostos eo poder do Estado que são automaticamente atribuídos aos religiosos exercem sobre o resto de nós. É um necessário processo de construção de um Estado secular, onde todos os cidadãos são livres para fazer as suas próprias decisões. No entanto, a oposição a essa mudança sensível é cada vez mais desequilibrada. A Igreja da Inglaterra, perplexa com a escolha do povo britânico de deixar seus bancos, só tem uma explicação: os cristãos estão sendo "perseguidos" e "intimidados" por um movimento motivado pela "cristofobia". George Carey, o ex-arcebispo de Canterbury, diz que os cristãos agora são "cidadãos de segunda classe", e é apenas "um pequeno passo" para "uma barreira religiosa em qualquer emprego pelos cristãos".
Sério? Vamos lista algumas das formas em que os cristãos e outros grupos religiosos, tem recebidos privilégios especiais a cada dia. Comece com o sistema educacional. Cada escola na Grã-Bretanha é obrigada por lei a fazer seus alunos engajar todos os dias em "um ato de adoração coletiva de um total ou principalmente natureza crstã". Sim: a Grã-Bretanha ainda é uma nação com oração forçada. O controle religioso tem em mãos um total de 36 por cento das nossas escolas financiadas pelo Estado, para doutrinar as crianças em sua fé.
Estas escolas religiosas, pagos por você e por mim, estão desfigurando a Bretanha. Sei que uma razão pela qual eu cresci sem preconceitos de alguns dos meus parentes mais velhos foi porque fui para a escola com as crianças de cada grupos étnicos e religiosos concebíveis, e pude ver que eles eram exatamente como eu. Uma criança de cinco anos vai fazer amizade com qualquer um, e ela vai ser muito menos propensa a acreditar em difamações contra os amigos para o resto de suas vidas. Mas, na Grã-Bretanha de hoje, essa mistura está acontecendo cada vez menos. Cada vez mais, os filhos dos cristãos são enviadas de um lado, os judeus para o outro, os muçulmanos para o outro ainda, e eles nunca ver uns aos outros, excepto a partir da janela dos carros de seus pais. Após os motins raciais no Bradford, Oldham e Burnley, em 2001, as investigações oficiais descobriram que as escolas confessionais foram uma das principais causas.
Então, por que mantê-las? Seus defensores dizem que essas escolas têm melhor desempenho em provas - e, à primeira vista, parece ser verdade. Em média, eles tiram notas mais elevadas. Mas olhe de novo. Uma série de estudos, inclusive pelo conservador Civitas, fez explodir um buraco na alegação. Eles provaram que as escolas confessionais sistematicamente ocultam as crianças que serão mais difíceis de ensinar: as crianças de famílias pobres e crianças menos brilhantes. Uma vez que você olha para o quanto uma escola melhora a alunos que realmente admite, a única medida real de sucesso de uma escola, torna as escolas confessionais menos bem do que outras escolas - que não é surpreendente dado que perdem tanto tempo ensinando-os coisas absurdas como nascimentos de Virgens e Arca de Noé. O povo britânico instintivamente sabe de tudo isso: 64 por cento quer que cada escola estadual seja neutra quando se trata de religião.
Os direitos especiais para os religiosos não param no portão da escola. Eles recebem automaticamente 26 bispos eleitos na Câmara dos Lordes. As emissoras públicas são obrigadas por lei a dar-lhes grandes quantidades de dinheiro e tempo em tela de propaganda religiosa. Judeus e muçulmanos estão autorizados a ignorar as leis sobre crueldade contra os animais e se engajar na prática bárbara de cortar a garganta de animais vivos, sem importuná-los a fim de criar carne kosher e halal.
E parece que, em casos cruciais, figuras religiosas são praticamente isentas da lei. Há agora provas irrefutáveis de que Joseph Ratzinger, o Papa, esteve envolvido por mais de vinte anos em uma conspiração internacional criminal para encobrir o estupro de crianças por padres na sua Igreja. (Confira a edição fantástica do Panorama da BBC, "Crimes Sexuais e o Vaticano", para a prova.) Mas quando ele viera Grã-Bretanha em setembro, nossos políticos ficarão em seus pés, ao invés de discar o 999.
Dado todo esse privilégio imerecido, como podem os cristãos afirmarem que estão de fato sendo "perseguidos"? Aqui estão os casos que eles oferecem como "prova". Uma enfermeira chamada Shirley Chaplin foi para o trabalho usando um crucifixo no pescoço. O hospital disse-lhe que eles estavam preocupados com os idosos e doentes confusos que ela atende poderiam agarrá-lo, assim disseram que ela poderia prender o crucifixo ao seu uniforme, em vez de como ela gostava. É isso aí. Essa é a sua causa célebre. Ah, e uma mulher chamada Teresa Davies, que trabalhou em um cartório, mas se recusou a realizar uniões civis para casais homossexuais, então... Ela foi transferida para trabalhar na recepção.
Em resposta, Carey e os cristãos da demanda CofE estão autorizados a quebrar a lei obrigando-os a tratar os gays igualmentes também na prestação de serviços ao público em geral - e que qualquer caso em que um cristão se sentir discriminado deve ser julgado por um tribunal especial "sensíveis aos cristãos". Se começamos a permitir que as pessoas religiosas de quebrar as leis anti-discriminação, onde iríamos parar? Até 1975, a Igreja Mórmon disse que os negros não tinham alma. (Eles só mudaram de idéia no dia a Suprema Corte decidiu que isso era ilegal, e Deus sorrateiramente apareceu ao seu líder pela manhã e anunciou que os negros tinham alma afinal de contas.) Nós vamos registrar um mórmon se recusar a casar com pessoas negras? Seria "Mormonfobia" se opor?
Quando Lord Chefe da Justiça, que é um cristão, declarou a isenção exigida por Carey seria "irracional, separatista e arbitrária", ele lançou uma birra extraordinária e afirmou que os cristãos podem começar a se envolver em "distúrbios civis". Quando eu vi Carey fazer essas ameaças na televisão, com a cara vermelha e raivosa, que me fez pensar de uma criança desagradável no playground que tinha espancando as crianças gays e cuspido nas meninas durante anos e finalmente disse para parar - só para iniciar berrando que ele é o único que está sendo perseguido.
Como suas Igrejas empoeiradas desmoronando porque ninguém quer ir até lá, os poucos cristãos restantes na Grã-Bretanha só se tornará mais irados e incompreensivos. Deixe-os. Não podemos parar esta brincadeira histérica que nos impede de transformar nosso país em uma democracia secular, onde todos tem os mesmos direitos, e ninguém terá direitos especiais só porque eles afirmam que as suas ideias vêm de um ser sobrenatural invisível. Agora, se vocês me dão licença, eu tenho um Cordeiro Santo de Deus para cortar em kebabs - é o nosso novo prato nacional. Amém, e aleluia.
Este artigo foi publicado na revista GQ, onde eu escrevo uma coluna mensal. Para obter estes artigos um mês de antecedência deste site, você pode se inscrever para a GQ.
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