Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Apo »

Não pouparei o povo, não. Nem rico e nem pobres. Eles é que votam em quem votam e eles é que reclamam depois. Embora estejam arfantes porque deus salvou o filho deles ( escolhido e capacitado ), embora tenha deixado morrer cruelmente o filho do vizinho.

Quanto à falta de gente, de infraestrutura, disto e daquilo...mas por que diabos há tanta babação quando tudo está bem e choro, velas e culpas quando a merda acontece pela enésima vez? Por que este povo e estes governos SEMPRE têm desculpas para tudo? Uma hora é culpa da Natureza, outra é do governante antecessor, outra é da buricracia, outra é da geografia da cidade, outra é da falta de leis, outra é da impunidade, outra é falta de dinheiro, depois é falta de tempo para avisar, além da falta de tempo de sair do lugar ( se fossem avisados). É um tal de culpar alguma coisa que não jeito, coisa que TERIA jeito SE...Daí é a coisa mais linda, porque nestas horas é que se vê como a humanidade é boa, criativa e solidária ( ARGH!!!!). Ao mesmo tempo, tudo é a vontade de deus, é provação e missão, é milagre divino! Ô coisa cansativa! SANATÓRIO GERAL!!!!

Ademais, temos que convir que remover uma família de 4 pessoas de uma casa e acomodar noutro lugar é mais rápido, menos complexo e menos estressante do que arrancar 15, 20 amontoados num barraco, mais um monte de atrolho que esta gente gosta de comprar e enfiar até dentro do chuveiro, mais cachorro, galinha, coelho, periquito e a PQP.

O que eu mais gostei de ver foi gente que ocupa um cômodo - dos 3 que tem em casa - para o altar dos santinhos, crucifixos nas paredes despencadas, igrejas sendo lavadas freneticamente pelos fiéis ( o padre ninguém viu, óbvio, se mandou porque ele tem bastante espaço para fugas ocasionais), uma legítima prova da confusão mental humana em meio ao relaxamento de governos que só querem se dar bem.

Quanto aos ricos que perderam famílias inteiras em hotéis ou suas próprias casas...estes eu até acho que, se tivessem sido avisados pelos órgãos de segurança e defesa competentes ( se o fossem, claro), teriam saído a tempo, como fizeram os australianos, por exemplo. Lá, as pessoas foram avisadas da emergência e só (?) morreram 19 seres humanos.


Mas a Copa e as "Olimpíada" vem aí! E o Ronaldinho Gaúcho é do Mengão! EEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!
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Fernando Silva
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Fernando Silva »

Apo escreveu:Uma hora é culpa da Natureza, outra é do governante antecessor, outra é da buricracia, outra é da geografia da cidade, outra é da falta de leis, outra é da impunidade, outra é falta de dinheiro, depois é falta de tempo para avisar, além da falta de tempo de sair do lugar ( se fossem avisados).

Cidades como Teresópolis e Nova Friburgo têm mais de um século de existência. Foram construídas no lugar certo e nunca tiveram grandes problemas até que sua economia melhorou (fábricas, hotéis e pousadas, confecções etc.) e atraiu o povão, que começou a se instalar nas encostas rio acima, desmatando tudo.

Já há décadas que desabamentos matam gente nessas favelas a cada chuva mais forte. O que aconteceu agora é que o desmatamento assoreou os rios e deixou as encostas tão sem proteção que a chuva arrastou tudo e destruiu as cidades mais abaixo.

Nada que já não estivesse previsto há anos nos relatórios técnicos - devidamente ignorados pelos políticos, que ganharam votos protegendo os "coitadinhos" e impedindo que fossem removidos.

Pois é, de uma forma ou de outra, acabaram "removidos". E o pior é que prejudicaram ou mataram quem não tinha culpa.

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Fernando Silva
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Fernando Silva »

Anna escreveu:Vocês (Jonny), estão sendo simplistas com um problema que tem mais de uma variável. Veja que em momento algum eu falei APENAS de tirar as pessoas do lugar, mas sim remover os que estão em locais de risco, e eles que não venham com esse papinho que já sabiam de todas as áreas problemáticas, e haviam avisado a todos os moradores. MENTIRA! Dou minha cara a tapa que a prefeitura dessas cidades avisou a TODOS, mapeou, e estava ciente do problema como deve ser.

Em muitos casos, sabia, só que não dá votos remover favela.

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/ ... -morreram/
Governo de Sérgio Cabral foi alertado em 2008 sobre risco de desastre em região onde 547 já morreram

Um estudo encomendado pelo próprio Estado do Rio de Janeiro já alertava, desde novembro de 2008, sobre o risco de uma tragédia na região serrana fluminense -como a que ocorreu na última segunda-feira e que já deixou ao menos 547 mortos. A situação mais grave, segundo o relatório, era exatamente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, os municípios mais devastados pelas chuvas e que registram o maior número de mortes. Essas cidades tiveram, historicamente, o maior número de deslizamentos de terra. O estudo apontou a necessidade do mapeamento de áreas de risco e sugeriu medidas como a recuperação da vegetação, principalmente em Nova Friburgo, que tem maior extensão de florestas.


http://www.alvinhopatriota.com.br/?p=29457
Reportagem publicada na edição deste sábado mostra que um estudo encomendado pelo próprio Estado do Rio de Janeiro já alertava, desde novembro de 2008, sobre o risco de uma tragédia na região serrana fluminense.

A situação mais grave, segundo o relatório, era exatamente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, os municípios mais devastados pelas chuvas e que registram o maior número de mortes. Essas cidades tiveram, historicamente, o maior número de deslizamentos de terra.

O estudo apontou a necessidade do mapeamento de áreas de risco e sugeriu medidas como a recuperação da vegetação, principalmente em Nova Friburgo, que tem maior extensão de florestas. O secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc, disse que o mapeamento de áreas de risco foi feito, faltando “apenas” a retirada dos moradores, e que os parques florestais da região também foram ampliados.

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Acauan
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Acauan »

Fernando Silva escreveu:Nada que já não estivesse previsto há anos nos relatórios técnicos - devidamente ignorados pelos políticos, ....


Como se precisasse relatório técnico para prever o futuro de um troço destes:

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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Apo »

Já mostrei os números anteriores sobre desastres deste tipo na região serrana do Rio.
Além do mais, houve aviso bem claro emitido pelo instituto de meteorologia do Rio e o governo ( a prefeitura, creio eu) agora disse que não ia dar mesmo tempo de avisar todo mundo. HUMPF!
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Apo »

Acauan escreveu:
Fernando Silva escreveu:Nada que já não estivesse previsto há anos nos relatórios técnicos - devidamente ignorados pelos políticos, ....


Como se precisasse relatório técnico para prever o futuro de um troço destes:

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Mas quem acredita que o sudeste é desenvolvido, acredita também que aí nesta vista panorâmica não há problema ou risco algum.. E em SP, porque continuam virando sapo ano após ano? Já definiram que vai continuar tendo enchente e não há o que fazer. Então, tá. Dinheiro é só dinheiro, quando não serve pra nada.
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Anna
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Anna »

Fernando Silva escreveu:
Anna escreveu:Vocês (Jonny), estão sendo simplistas com um problema que tem mais de uma variável. Veja que em momento algum eu falei APENAS de tirar as pessoas do lugar, mas sim remover os que estão em locais de risco, e eles que não venham com esse papinho que já sabiam de todas as áreas problemáticas, e haviam avisado a todos os moradores. MENTIRA! Dou minha cara a tapa que a prefeitura dessas cidades avisou a TODOS, mapeou, e estava ciente do problema como deve ser.

Em muitos casos, sabia, só que não dá votos remover favela.

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/ ... -morreram/
Governo de Sérgio Cabral foi alertado em 2008 sobre risco de desastre em região onde 547 já morreram

Um estudo encomendado pelo próprio Estado do Rio de Janeiro já alertava, desde novembro de 2008, sobre o risco de uma tragédia na região serrana fluminense -como a que ocorreu na última segunda-feira e que já deixou ao menos 547 mortos. A situação mais grave, segundo o relatório, era exatamente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, os municípios mais devastados pelas chuvas e que registram o maior número de mortes. Essas cidades tiveram, historicamente, o maior número de deslizamentos de terra. O estudo apontou a necessidade do mapeamento de áreas de risco e sugeriu medidas como a recuperação da vegetação, principalmente em Nova Friburgo, que tem maior extensão de florestas.


http://www.alvinhopatriota.com.br/?p=29457
Reportagem publicada na edição deste sábado mostra que um estudo encomendado pelo próprio Estado do Rio de Janeiro já alertava, desde novembro de 2008, sobre o risco de uma tragédia na região serrana fluminense.

A situação mais grave, segundo o relatório, era exatamente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, os municípios mais devastados pelas chuvas e que registram o maior número de mortes. Essas cidades tiveram, historicamente, o maior número de deslizamentos de terra.

O estudo apontou a necessidade do mapeamento de áreas de risco e sugeriu medidas como a recuperação da vegetação, principalmente em Nova Friburgo, que tem maior extensão de florestas. O secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc, disse que o mapeamento de áreas de risco foi feito, faltando “apenas” a retirada dos moradores, e que os parques florestais da região também foram ampliados.


Escrevi uma resposta adicionando várias coisas, inclusive relatos de como se dá o processo dos laudos. Fiquei ns 20 minutos escrevendo, deu pau nesse site e eu perdi tudo na hora que estava postando. Se eu tiver saco e tempo outra hora escrevo tudo de novo. :emoticon21:
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Johnny
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Johnny »

Que chato Anna. Bem, estão todos concetradíssimos no RJ mas como a APO disse, e SP? Todos sabem que as áreas que inundam todo verão continuarão a inundar cada vez mais. Lá no sul, SC por exemplo, é uma questão de tempo para ocorrer uma nova catástrofe com moradores próximos ao rio. Mas e então? Vão desalojar todo mundo e mudá-los para áreas de menos risco? Haja terreno!
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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Aranha
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Aranha »


- Alguém ganhou votos e dinheiro alojando gente e grilando essas áreas, agora pessoas ganham dinheiro e votos mantendo essas pessoas lá e turbinando uma valorização imobiliária.

- Sem esquecer também os abestados que ganharam lote de graça pensando que estavam fazendo bom negócio.

- Agora os votos foram pro cemitério, os lucros pro ralo e o lote de graça foi pro rio levando a casa, os móveis, os filhos, etc.

- Os políticos e grileiros que enriqueceram vão sair dessa na boa, vão procurar outros terrenos para repetir o golpe, os abestados que ganharam lote de graça e que sobreviveram vão cair nas mãos dos mesmos em outro lugar, e assim o ciclo vai se repetindo.

Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
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Fernando Silva
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Fernando Silva »

Johnny escreveu:Que chato Anna. Bem, estão todos concetradíssimos no RJ mas como a APO disse, e SP? Todos sabem que as áreas que inundam todo verão continuarão a inundar cada vez mais. Lá no sul, SC por exemplo, é uma questão de tempo para ocorrer uma nova catástrofe com moradores próximos ao rio. Mas e então? Vão desalojar todo mundo e mudá-los para áreas de menos risco? Haja terreno!

1. Pelo que escutei hoje, em vez de dificultar o desmatamento ao longo dos rios, o governo recentemente o facilitou ainda mais.

2. Sim, desalojar todo mundo, se preciso à força, e mandar para outros lugares. Ou deixar que morram.

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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Fernando Silva »

Aranha escreveu:
- Alguém ganhou votos e dinheiro alojando gente e grilando essas áreas, agora pessoas ganham dinheiro e votos mantendo essas pessoas lá e turbinando uma valorização imobiliária.

- Sem esquecer também os abestados que ganharam lote de graça pensando que estavam fazendo bom negócio.

- Agora os votos foram pro cemitério, os lucros pro ralo e o lote de graça foi pro rio levando a casa, os móveis, os filhos, etc.

- Os políticos e grileiros que enriqueceram vão sair dessa na boa, vão procurar outros terrenos para repetir o golpe, os abestados que ganharam lote de graça e que sobreviveram vão cair nas mãos dos mesmos em outro lugar, e assim o ciclo vai se repetindo.

Abraços,

O pior é que as pessoas rio abaixo, que não têm culpa por esse desmatamento e ocupação, também sofrem as consequências. Estou dividido entre ter raiva e pena dessa gente.

Aquela região é (era?) um paraíso: muito verde, noites frias mesmo no auge do verão, cheiro de mato etc.
Não é à toa que D.Pedro fez lá seu palácio de verão.
Passei boas temporadas da minha infância por lá, em casa de parentes.

Tudo destruído por causa desses imbecis.

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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Anna »

Fernando Silva escreveu:
Johnny escreveu:Que chato Anna. Bem, estão todos concetradíssimos no RJ mas como a APO disse, e SP? Todos sabem que as áreas que inundam todo verão continuarão a inundar cada vez mais. Lá no sul, SC por exemplo, é uma questão de tempo para ocorrer uma nova catástrofe com moradores próximos ao rio. Mas e então? Vão desalojar todo mundo e mudá-los para áreas de menos risco? Haja terreno!

1. Pelo que escutei hoje, em vez de dificultar o desmatamento ao longo dos rios, o governo recentemente o facilitou ainda mais.


Isso mesmo. O governo é conivente e irresponsável com praticamente todas as questões que envolvem ambiente.


2. Sim, desalojar todo mundo, se preciso à força, e mandar para outros lugares. Ou deixar que morram.

Cara, desalojar e mais, impedir ocupação desordenada nessa josta de país! Qualquer cidade é isso, se alastra totalmente insana e sem planejamento, imunda, cheia de quebradas. Mas que coisa!
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Anna »

Chuvas no Rio de Janeiro. O que podemos aprender com isso? Entrevista com João Whitaker

Publicado em janeiro 31, 2011 por HC
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Mais de 800 pessoas mortas e outras tantas desaparecidas. Este é o saldo de mais uma tragédia em decorrência das chuvas extremas de verão. Um evento que vem se tornando uma rotina nos últimos anos, dado os casos de Blumenau, Niterói, Angra dos Reis e Campos dos Jordão. Todas estas cidades poderiam ter nos deixado uma lição, mas não foi isso que aconteceu. “Esta tragédia foi anunciada, pois acontece esse tipo de evento todos os anos em diversos lugares com as mesmas características. O que não é anunciado é onde elas vão ocorrer”, explica o urbanista João Whitaker na entrevista que concedeu à IHU On-Line por telefone. “É possível realizar ações de revegetação, de contenção, obras de drenagem, que permitam a ocupação em áreas de encostas. O problema no Brasil é que a urbanização desses locais ocorre sem uma política eficaz de controle da ocupação do território. No Brasil a política de expansão urbana se dá marcada por liberalidades”, apontou.

João Sette Whitaker Ferreira é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É mestre em Ciência Política e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela USP. É vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil e professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e da USP. É autor de O mito da cidade global: o papel da ideologia na produção do espaço urbano (Petrópolis: Vozes, 2007).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Podemos dizer que essa tragédia na região serrana do Rio de Janeiro era anunciada?

João Whitaker – Sim, podemos dizer isso. Na verdade, esta tragédia foi anunciada, pois acontece esse tipo de evento todos os anos em diversos lugares com as mesmas características. O que não é anunciado é o local em que vão ocorrer. Mas que as tragédias ocorrem não é novidade. Nos últimos anos tivemos desastres naturais como esse em Niterói, Campos do Jordão, Blumenau…

IHU On-Line – Quais as principais características da região atingida pelas chuvas? Essa é uma área de Mata Atlântica, certo? Como esse bioma influenciou para a decorrência da tragédia?

João Whitaker – O que nós temos aí é um misto de situações. Não é propriamente uma responsabilidade das características geográficas e geológicas da região. A tragédia é muito mais resultado do mau gerenciamento da ocupação do território. A rigor, não existe, com algumas exceções, o impedimento técnico para que você tenha uma ocupação de encostas. A questão é que a ocupação das encostas precisa ser feita de maneira controlada, regulada, fiscalizada, acompanhada e, vamos dizer, promovida como parte da política de urbanização de um determinado município. Se um município, por exemplo, tem características turísticas, e é um município montanhoso, com encostas, e que, portanto, pode ter hotéis, pousadas, restaurantes ou assentamentos habitacionais em áreas íngremes, deve possuir, então, uma situação política de controle do território com ações que garantam essas construções com segurança.

Há estudos feitos pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP, de São Paulo, sobre isso. É possível realizar ações de revegetação, de contenção, obras de drenagem, que permitam a ocupação em áreas de encostas. O problema no Brasil é que a urbanização desses locais ocorre sem uma política eficaz de controle da ocupação do território. No Brasil a política de expansão urbana se dá marcada por liberalidades: a primeira é a liberalidade irresponsável, que ocorre quando o Estado abandona. Quando as pessoas não têm alternativas de moradias, nem lhes são oferecidas pelas políticas de habitação ou pelo mercado (que não trabalha para baixa renda), a população mais pobre vai ocupando áreas que, muitas vezes, são indevidas para ocupação, porque não fazem parte de uma política de urbanização.

O morador que vai fazer a sua “autoconstrução” na periferia brasileira não tem obrigação de ser um geotécnico ou um engenheiro. Ele está construindo aquilo como uma solução perante a falta de alternativas, com o saber que ele tem. Essa é uma irresponsabilidade do Estado, de não controlar, não legislar, não fiscalizar, não prevenir as áreas de ocupação informal dos mais pobres, que é o grupo que sofre mais drasticamente os resultados dessas tragédias no momento em que nós temos uma chuva acima do esperado.
“O morador que vai fazer a sua ‘autoconstrução’ na periferia brasileira não tem obrigação de ser um geotécnico ou um engenheiro”

A segunda irresponsabilidade é para com os setores mais ricos das cidades, onde é feito planejamento. Então, no outro extremo, portanto, existe a liberalidade para com o mercado imobiliário e com o setor da construção civil. As cidades do estado do Rio de Janeiro têm uma mistura desses dois casos: por um lado, há ocupações informais em encostas e locais indevidos por falta de políticas de controle de território, do abandono absoluto em relação à população de baixa renda; e, por outro lado, no setor formal há uma liberalidade cuja regulamentação não é rigorosa o suficiente, portanto, ela não é tecnicamente suficientemente bem feita para garantir segurança em situações de ocorrência de chuvas acima da média.

IHU On-Line – E como pensar a reconstrução das cidades depois desses eventos?

João Whitaker – O que é tradicional no Brasil é que isso é reconstruído nos mesmos padrões que foram aqueles geradores destas catástrofes. Existem duas ações que precisam ser adotadas urgentemente pelo conjunto dos municípios brasileiros, e, sobretudo pelo conjunto de municípios que tem situações de risco acentuadas. A primeira ação visa à reconstrução com a participação absoluta do Estado do ponto de vista técnico para fazer as obras e captar recursos do governo federal e dos governos estaduais. Assim, é possível fazer as obras urbanas de contenção e de adaptação do meio físico para poder aceitar os assentamentos sejam eles hotéis, casas de pequeno e grande porte, para pessoas de alta ou baixa renda, que a cidade pretende ter em encostas.

A segunda ação imediata foi de fiscalização. Esta foi realizada por alguns municípios no ano passado, depois das tragédias em Niterói, e agora eles estão colhendo os frutos porque não foram vítimas de grandes tragédias. Nesse sentido, posso citar Belo Horizonte e São Bernardo do Campo. Esta é uma ação política constante, regular, ao longo do ano, de fiscalização, levantamento, cadastramento, hierarquização das áreas de risco. Isso fez com que políticas diferenciadas fossem aplicadas, como obras de contenção e de drenagem que solucionem o risco (seja ele baixo, moderado ou alto). É preciso, portanto, fiscalizar de forma permanente, pois sabemos que as pessoas ocuparam novas áreas depois que são remanejadas de áreas de risco. É preciso fiscalizar sempre.

IHU On-Line – Há dez anos existe o Estatuto da Cidade que, entre várias funções, regula a ocupação do solo. Ele está sendo cumprido pelos municípios?

João Whitaker – Não, você tocou em uma questão muito importante. Nós temos o Estatuto da Cidade completando dez anos e ele, na prática, quase não foi aplicado. Eu diria, inclusive, que de uma maneira intensa, integrada, sistêmica e completa ele não foi aplicado em nenhum município no Brasil. Alguns municípios aplicaram um ou outro instrumento, mas são instrumentos que têm muita força política, são de enfrentamento à lógica do mercado imobiliário. Vou dar dois exemplos: a cidade de São Paulo, apesar de ser a maior do Brasil, a terceira maior do mundo, ser o pulmão econômico do país e de ela ter 40% da sua população morando em situação imprópria, o estatuto ainda não foi regulamentado. O IPTU progressivo poderia combater áreas vazias em áreas centrais, lotes vazios com infraestrutura em área central.

Segundo exemplo: muitos dos instrumentos que visam regulamentar, combater, criar alternativas de moradias deveriam ser feitos para serem eficazes de maneira integrada. Nós temos que ser honestos e constatar que o Estatuto da Cidade hoje tem um saldo extremamente negativo para o Brasil, porque ele mostra que o país ainda não tem uma conscientização sobre o urbano, sobre a questão das cidades. Também sobre a questão da democracia urbana como elemento necessário para que nosso próprio futuro urbano tenha sido assimilado pela população.

IHU On-Line – O que essa tragédia pode nos ensinar?

João Whitaker – Infelizmente ela não vem ensinando nada, porque, se ela ensinasse, nós já teríamos aprendido com Niterói no ano passado, com o desastre em Campos do Jordão e assim por diante. É verdade que nós temos, a partir destes desastres, algumas melhorias. Alguns municípios passaram a adotar uma atitude diferente e políticas de combate à situação de risco iminente, então foi um avanço. Agora, nós temos os deputados querendo aprovar uma lei que criminalize os governantes que tenham em seus municípios situações deste tipo ocorrendo. Pouco a pouco, então, nós vamos avançando. Porém, ainda é em um ritmo muito lento e insuficiente.

IHU On-Line – Há solução para essa questão das moradias em encostas de morros e rios? Modificar o modelo de ocupação das cidades brasileiras ainda é possível?

João Whitaker – Sim. Nas médias e pequenas cidades ainda é totalmente possível mudar o modelo de ocupação. Porque nós temos nessas regiões um grande potencial de crescimento, com muitos terrenos vagos em áreas centrais, assim como muita capacidade de urbanização. Infelizmente, as cidades pequenas e médias do Brasil reproduzem o padrão de urbanização, de uso do solo, de descaso com os córregos, dando prioridade aos automóveis, que é o padrão das grandes cidades.
“Nas médias e pequenas cidades ainda é totalmente possível mudar o modelo de ocupação”

Esse é o grande problema. Precisamos mudar essa lógica, mas é claro que falar em mudanças em uma cidade como São Paulo ou Rio de Janeiro é um pouco mais difícil. Porém, cidades menores como Campinas, Belo Horizonte e Fortaleza ainda têm total capacidade de aplicar o Plano Diretor e de recuperar sua urbanização de forma mais democrática e mais justa do ponto de vista social e menos impactante ao meio ambiente.

IHU On-Line – Diante de programas de incentivo a financiamento de moradias, como o Minha Casa, Minha Vida, quais são os desafios que o Brasil precisa enfrentar: produzir casas ou planejar cidades?

João Whitaker – Na verdade, nós precisamos planejar as cidades e o que precisa ficar muito claro é que a prerrogativa da política de ocupação de território é municipal. Portanto, são os municípios que devem definir onde estarão essas casas, de que maneiras elas vão enfrentar os interesses dominantes que mantêm terrenos vazios, a especulação imobiliária, o poder econômico do mercado da construção civil, de tal forma a construir cidades que sejam de fato sustentáveis. Então, precisamos, evidentemente, do financiamento federal que já vem ocorrendo. No entanto, a maneira como se dá essa interface entre o governo federal, a política de financiamento, os municípios e o mercado é uma interface que precisa ser trabalhada de maneira mais efetiva. O grande desafio é este.

(Ecodebate, 31/01/2011) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

http://www.ecodebate.com.br/2011/01/31/ ... -whitaker/
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Apo »

A-do-ro estes papinhos pós desgraças que " o que podemos aprender com isto", " o que podemos tirar de construtivo deste acidente", "o que estes episódios podem nos ensinar", " o que estes fatos podem contribuir para melhorarmos" nhénhénhénhénhé!!!! Como se fosse algo raríssimo e que fomos todos pegos de surpresa, pobres vítimas desavisadas à mercê da vontade do além! Até parece que aprendem, mudam, pensam e agem! Quanta balela!

Que nojo tudo isto! Ainda mais quando se vê gente ignorante ( mas recalcitrante sempre!) e gente bem informada a declamar o mesmo discurso roto e absolutamente INÚTIL!

Já falei mil vezes e vou falar de novo: NÃO ME ACHAM O SACO! EXPLODAM TODOS!
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Apo »

Aliás, a questão é uma só: em paiseco e povo de terceiro mundo ninguém aprende coisa alguma e quando aprende esquece rapidinho. Muito mais importante do que ser sério é ser esperto e ter grana!!! Especialmente no sudeste superdesenvolvido com PIB altíssimo, IDH altíssimo etc etc etc
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Tranca »

30 Estados norte-americanos estão há dias sendo atingidos por intensas nevascas.

12 pessoas morreram.

1 Estado Brasileiro foi vítima de horas de chuva torrencial no início de janeiro.

Até ontem, foram contados 786 mortos e ainda há desaparecidos.

A nevasca que atinge a América do Norte é a mais intensa em décadas.

A chuva que atingiu o Rio de Janeiro foi a mais forte em décadas.

Neva todo ano.

Chove todo ano.

Os norte-americanos contam com medidas de prevenção e sua defesa civil funciona e é bem organizada.

Contabiliza-se, assim, poucos mortos num cenário de destruição.

No Brasil a defesa civil é... bem, deixa para lá. A defesa civil no Brasil ainda não conseguiu ser... sucessivos governantes ignoraram que ela devia ter um papel de relevo no país, porque também ignoraram - no sentido de que não estavam nem aí - que assim como todos, a pátria amada, terra adorada também está sujeita a catástrofes naturais.

Perdemos a conta dos nossos mortos.
Palavras de um visionário:

"Seria uma ressurreição satânica retirarmos Lula e Brizola - esse casamento do analfabetismo econômico com o obsoletismo ideológico - do lixo da história para o palco do poder."

Roberto Campos

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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Fernando Silva »

Tranca escreveu:30 Estados norte-americanos estão há dias sendo atingidos por intensas nevascas.

12 pessoas morreram.

Lembro aos que vão dizer que neve é diferente de chuva que a Austrália ficou em baixo d'água recentemente, numa enchente nunca vista antes, e quase não morreu ninguém.

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Tranca
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Tranca »

Fernando Silva escreveu:
Tranca escreveu:30 Estados norte-americanos estão há dias sendo atingidos por intensas nevascas.

12 pessoas morreram.

Lembro aos que vão dizer que neve é diferente de chuva que a Austrália ficou em baixo d'água recentemente, numa enchente nunca vista antes, e quase não morreu ninguém.


Exato.
Palavras de um visionário:

"Seria uma ressurreição satânica retirarmos Lula e Brizola - esse casamento do analfabetismo econômico com o obsoletismo ideológico - do lixo da história para o palco do poder."

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Apo
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Re: Enchentes no Rio: Dilma acusa FHC por mortes

Mensagem por Apo »

Depois de passado o furacão mais potente registrado na Austrália....1 morto.

O argumento ( a desculpa) de que o Brasil ainda é um país muito jovem e que está aprendendo vale menos que merda.
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Trancado