O fim da miséria.

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O fim da miséria.

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O fim da miséria
.
Por Jeffrey D. Sachs


A economia está tirando grande parte da humanidade da pobreza, mas são necessárias medidas especiais para ajudar aqueles em situação de desespero.
A pobreza extrema pode se tornar coisa do passado em poucas décadas se os países afluentes aplicarem uma pequena porcentagem de sua riqueza para ajudar 1,1 bilhão de pessoas a superar a condição de miséria. À direita, um vilarejo em Gana, abastecido com água de uma única cisterna


Quase todas as pessoas que viveram ao longo da história foram tremendamente pobres. A fome, a morte no parto, doenças infecciosas e inúmeros outros riscos constituíam a norma na maior parte dos séculos. O triste destino da humanidade passou a mudar com a Revolução Industrial, que começou em torno de 1750. Novos conhecimentos científicos e inovações tecnológicas permitiram que uma proporção crescente da população global rompesse os grilhões da pobreza extrema.

Dois séculos e meio depois, mais de 5 bilhões das 6,5 bilhões de pessoas conseguem satisfazer as necessidades básicas, podendo-se portanto dizer que escaparam das condições precárias que permeavam outrora a vida diária. Contudo, um de cada seis habitantes deste planeta ainda luta diariamente para satisfazer algumas ou todas as suas necessidades críticas, como nutrição adequada, água não contaminada, abrigo seguro e saneamento, bem como acesso aos cuidados de saúde. Essas pessoas vivem com 1 dólar por dia ou menos, sendo ignoradas pelos serviços públicos na saúde, educação e infra-estrutura. Cada dia, mais de 20 mil morrem por falta de comida, água potável, remédios ou outras necessidades essenciais.

Pela primeira vez na história, a prosperidade econômica global, proporcionada pelo progresso científico e tecnológico contínuo e pela acumulação auto-reforçadora de riqueza, trouxe ao mundo a perspectiva da total eliminação da pobreza extrema. Essa possibilidade pode parecer fantasiosa para alguns, mas o progresso econômico substancial da China, Índia e outras regiões de baixa renda da Ásia nos últimos 25 anos demonstra ser ela realista. Além disso, a estabilização da população mundial, prevista para perto de meados deste século, ajudará a abrandar as pressões sobre o clima, ecossistemas e recursos naturais da Terra - pressões que poderiam anular os ganhos econômicos.

Mas embora o crescimento econômico tenha mostrado uma capacidade notável de tirar grandes números de pessoas da pobreza extrema, o progresso não é automático nem inevitável. Forças do mercado e o livre comércio não bastam. Muitas regiões estão dominadas pela armadilha da pobreza: faltam os recursos financeiros para fazer os investimentos necessários em infra-estrutura, educação, sistemas de saúde e outras necessidades vitais. No entanto, o fim de tal pobreza é factível se um esforço global conjunto for realizado, como as nações do mundo prometeram ao adotar as Metas de Desenvolvimento do Milênio, em uma cúpula da ONU em 2000. Um núcleo dedicado de agências de desenvolvimento, instituições financeiras internacionais, organizações não-governamentais e comunidades no mundo em desenvolvimento já constitui uma rede global de expertise e boa vontade para ajudar a atingir esse objetivo.

Em janeiro último, eu e meus colegas do Projeto do Milênio da ONU publicamos um plano para reduzir pela metade a taxa de pobreza extrema até 2015 (em comparação com 1990) e para alcançar outras metas quantitativas em redução da fome, doenças e degradação ambiental. Em meu livro, The end of poverty (O fim da pobreza), argumento que um programa de investimentos públicos em grande escala e direcionado poderia eliminar esse problema até 2025, assim como a varíola foi erradicada. Essa hipótese é controvertida, de modo que fico satisfeito com a oportunidade de esclarecer seus argumentos principais e várias preocupações que foram levantadas a respeito.

Além da Inércia Econômica
Nos últimos anos, os economistas aprenderam muita coisa sobre como os países se desenvolvem e quais barreiras podem obstruir o caminho. Uma nova espécie de economia do desenvolvimento vem emergindo, mais fundamentada na ciência: uma "economia clínica" semelhante à medicina moderna. Os atuais profissionais médicos compreendem que as doenças resultam da interação de um amplo conjunto de fatores e distúrbios: patógenos, nutrição, meio ambiente, envelhecimento, genética individual e da população e estilo de vida. Eles também sabem que uma chave para o tratamento apropriado é a capacidade de fazer diagnósticos individualizados da origem da doença. De forma semelhante, os economistas do desenvolvimento precisam de uma melhor capacidade de diagnóstico para reconhecer que as patologias econômicas têm uma ampla variedade de causas, inclusive muitas fora do alcance da prática econômica tradicional.

A opinião pública dos países afluentes costuma atribuir a pobreza extrema a falhas dos próprios países pobres - ou pelo menos de seus governos. A raça era outrora considerada um fator decisivo. Depois foi a cultura: desvios e tabus religiosos, divisão em castas, falta de espírito empreendedor, desigualdade entre os sexos. Tais teorias vêm perdendo força, à medida que sociedades com uma variedade crescente de religiões e culturas têm alcançado uma prosperidade relativa. Além disso, certos aspectos supostamente imutáveis da cultura (como opções de fertilidade e os papéis dos sexos e castas) na verdade mudam, muitas vezes profundamente, à medida que as sociedades se tornam urbanas e economicamente desenvolvidas.

Recentemente, os comentaristas têm se concentrado no "mau governo", muitas vezes um eufemismo para corrupção. Eles argumentam que a pobreza persiste porque os governos deixam de abrir seus mercados, fornecer serviços públicos e combater a corrupção. Se esses regimes arrumassem a casa, tais países floresceriam. Os programas de ajuda para o desenvolvimento se tornaram, em grande parte, uma série de palestras sobre a boa governança.

A disponibilidade de dados comparativos entre os países e em séries temporais agora permite aos especialistas análises bem mais sistemáticas. Embora o debate continue, dados indicam que não é só a governança que afeta o crescimento econômico. De acordo com pesquisas da Transparência Internacional, muitos países asiáticos em rápido crescimento são percebidos pelos líderes empresariais como mais corruptos que países africanos de crescimento lento.

A geografia - incluindo recursos naturais, clima, topografia e proximidade das rotas comerciais e grandes mercados - é pelo menos tão importante quanto a boa governança. Em 1776, Adam Smith já argumentava que altos custos de transporte inibiam o desenvolvimento nas áreas do interior da África e da Ásia. Outros aspectos geográficos, como o alto índice de doenças nos trópicos, também interferem. Um estudo recente de meu colega da Universidade Columbia, Xavier Sala-i-Martin, demonstrou mais uma vez que os países tropicais assolados pela malária têm experimentado um crescimento menor que aqueles livres da doença. A boa notícia é que os fatores geográficos moldam, mas não decidem, o destino econômico de um país. A tecnologia pode neutralizá-los: a seca pode ser combatida com sistemas de irrigação, o isolamento, com estradas e telefones celulares, as doenças, com prevenção e terapia.

A outra grande idéia é que, embora o mecanismo mais poderoso de redução da pobreza extrema seja encorajar o crescimento econômico geral, uma maré ascendente não eleva necessariamente todos os barcos. A renda média pode aumentar, mas se ela for distribuída desigualmente, os pobres poderão pouco se beneficiar, e os bolsões de pobreza extrema persistirão (especialmente em regiões geograficamente desprovidas). Além disso, o crescimento não é um simples fenômeno de livre mercado. Ele requer serviços públicos básicos: infra-estrutura, saúde, educação e inovação científica e tecnológica. Desse modo, muitas das recomendações das últimas duas décadas emanadas de Washington - de que os governos dos países de baixa renda deveriam reduzir os gastos públicos para abrir espaço ao setor privado - erram o alvo. O gasto governamental, direcionado a investimentos em áreas críticas, é em si um incentivo vital ao crescimento, especialmente se seus efeitos atingirem a população mais pobre.

Armadilha da Pobreza
Então, o que essas idéias informam sobre os mais afligidos pela pobreza hoje, os africanos? Há 50 anos, a África tropical era tão rica quanto a Ásia tropical e subtropical. Enquanto a Ásia progrediu, a África estagnou. Certos fatores geográficos tiveram papel crucial.

O principal é a existência do Himalaia, que produz o clima das monções do sul da Ásia e vastos sistemas fluviais. Terras cultiváveis supridas de água serviram de pontos de partida para a superação da pobreza pela Ásia nas últimas cinco décadas. A Revolução Verde das décadas de 1960 e 1970 introduziu cereais de alto rendimento, irrigação e fertilizantes, que acabaram com o ciclo de fome, doenças e desespero. Ela também liberou uma boa parte da mão-de-obra para procurar empregos nas cidades. A urbanização, por sua vez, incentivou o crescimento, fornecendo local para a indústria e a inovação e estimulando mais investimentos em uma força de trabalho qualificada e saudável. Os habitantes urbanos reduziram as taxas de fertilidade e, assim, puderam gastar mais em saúde, nutrição e na educação dos filhos. Os meninos das cidades freqüentaram a escola numa proporção maior que seus primos do campo. E com o surgimento de sistemas de infra-estrutura urbana e saúde pública, as populações das cidades se tornaram menos propensas às doenças que seus colegas do campo, onde as pessoas normalmente não dispõem de água potável segura, saneamento, profissionais de saúde e proteção contra doenças transmitidas por vetores, como a malária.

Os africanos não viveram uma revolução verde. Faltam à África tropical as abundantes planícies aluviais que facilitam a irrigação de grande escala e baixo custo encontrada na Ásia. Além disso, a chuva é altamente instável, e os agricultores pobres não têm condições de adquirir fertilizantes. A pesquisa inicial da Revolução Verde envolveu culturas - especialmente arroz e trigo - pouco cultivadas na África (embora variedades de alto rendimento adequadas a esse continente já tenham sido desenvolvidas, ainda não foram suficientemente disseminadas). Na verdade, a produção de alimentos vem caindo na África, a ingestão calórica por pessoa é a menor do mundo e a força de trabalho está presa à agricultura de subsistência.

Além dos problemas agrícolas, a África é assolada por terríveis doenças tropicais. A malária se aproveita do clima e dos mosquitos endêmicos. E os altos custos do transporte isolam a África economicamente. No leste da África, por exemplo, chove mais no interior do continente, fazendo com que a maioria das pessoas viva longe dos portos e das rotas de comércio internacional.

Uma situação idêntica persiste em outras partes do mundo, marcadamente os Andes, os planaltos da América Central e os países no interior da Ásia Central. Economicamente isolados, não atraem investimentos externos (exceto para extração de petróleo, gás e pedras preciosas). Os investidores tendem a ser desestimulados pelos altos custos do transporte no interior. As áreas rurais, portanto, permanecem presas num ciclo vicioso de pobreza, fome, doença e analfabetismo. Regiões pobres carecem de poupança interna adequada para os investimentos necessários, porque a maioria das famílias ganha o estritamente necessário à sobrevivência. As poucas pessoas de alta renda, que conseguem acumular poupança, depositam seu dinheiro no exterior, e não no próprio país. Esta evasão de divisas inclui não apenas o capital financeiro, mas também o capital humano, na forma de trabalhadores qualificados: médicos, cientistas e engenheiros, que muitas vezes deixam seu país em busca de oportunidades econômicas melhores no exterior. Com freqüência, os países mais pobres são, perversamente, exportadores de capital líquido.

Dinheiro Bem Aplicado
A tecnologia para superar essas desvantagens e dar partida no desenvolvimento econômico existe. A malária pode ser controlada com mosquiteiros, pesticida borrifado nas casas e remédios melhores. Áreas castigadas pela seca na África, com solos pobres em nutrientes, podem se beneficiar muito da irrigação gota a gota e do maior uso de fertilizantes. Países sem acesso ao mar podem ser interligados por redes de rodovias, aeroportos e cabos de fibra óptica. Mas todos esses projetos custam dinheiro, é claro.

Muitos países grandes, como a China, possuem regiões prósperas que podem ajudar a sustentar as áreas mais atrasadas. O litoral leste da China, por exemplo, está financiando maciços investimentos públicos no oeste do país. A maioria das nações em desenvolvimento bem-sucedidas, especialmente as menores, já recebeu alguma ajuda externa em épocas difíceis. As inovações científicas básicas por trás da Revolução Verde foram financiadas pela Fundação Rockefeller, e a disseminação dessas tecnologias na Ásia foi financiada pelos EUA, instituições de desenvolvimento internacionais e outros doadores.

A ONU listou os investimentos necessários para ajudar as atuais regiões pobres a cobrir necessidades básicas em saúde, educação, água, saneamento, alimentos, estradas etc. Calculamos o custo do auxílio e estimamos quanto poderia ser financiado pelas próprias famílias pobres e instituições internas. O resto é a "lacuna de financiamento" que doadores externos precisam preencher.

Para a África tropical, o investimento total chega a US$ 110 por pessoa por ano. Lá, a renda média hoje é de US $350 anuais, todos gastos apenas para sobrevivência. O custo pleno do investimento total está claramente além da possibilidade de financiamento interno desses países. Dos US$ 110, talvez US$ 40 pudessem ser financiados internamente, de modo que US$ 70 per capita seriam necessários na forma de ajuda internacional.

Somando tudo, a necessidade total de ajuda ao redor do globo é de cerca de US$ 160 bilhões ao ano, o dobro dos US$ 80 bilhões do orçamento atual de ajuda dos países ricos. Esta cifra representa cerca de 0,5 % do Produto Interno Bruto (PIB) combinado das nações doa-doras afluentes.

Ela não inclui outros projetos humanitários, como a reconstrução do Iraque pós-guerra ou a ajuda às vítimas do tsunami no oceano Índico. Para atender também a essas necessidades, uma cifra razoável seria 0,7 % do PIB, aquela que países doadores há muito prometem sem cumprir.

Outros organismos, inclusive o FMI, o Banco Mundial e o governo britânico, chegaram mais ou menos à mesma conclusão.
Acreditamos que esses investimentos permitiriam reduzir a pobreza pela metade nos países em maior apuro, até 2015 e, caso prossigam, a eliminá-la totalmente até 2025. Não se trataria de "esmolas" dos ricos aos pobres, mas de algo bem mais importante e durável. Famílias vivendo mais acima do limite de sobrevivência poderiam poupar para o futuro; elas poderiam aderir ao círculo virtuo-so de rendas crescentes, poupança e influxos tecnológicos. Estaríamos ensinando bilhões de pessoas a pescar, em vez de dar o peixe.

Se as nações ricas deixarem de fazer esses investimentos, receberão pedidos de ajuda de emergência praticamente para sempre. Elas enfrentarão a fome, epidemias, conflitos regionais e a disseminação de refúgios terroristas. E não apenas os países pobres, mas também elas próprias estarão sendo condenadas à instabilidade política crônica, emergências humanitárias e riscos à segurança.

O debate está agora passando do diagnóstico básico da pobreza extrema e dos cálculos das necessidades financeiras para a questão prática de como prestar melhor o auxílio. Muitos acreditam que as tentativas de ajuda falharam no passado e que é preciso cuidado para evitar a repetição dos erros. Algumas preocupações são fundamentadas, mas outras são alimentadas por mal-entendidos.

Quando as pesquisas de opinião pública perguntam aos americanos quanta ajuda eles acham que os EUA fornecem, estes superestimam muito o montante - em até 30 vezes. Acreditando que tanto dinheiro foi doado e tão pouco foi aproveitado, o público conclui que esses programas "falharam". A realidade é bem diferente. A ajuda oficial americana à África Subsaariana vem oscilando entre US$ 2 bilhões e US$ 4 bilhões ao ano, ou cerca de US$ 3 a US$ 6 para cada africano. A maior parte da ajuda tem sido na forma de "cooperação técnica" (que vai para os bolsos de consultores), alimentos de emergência para vítimas da fome e cancelamento de dívidas vencidas. Pouco dessa ajuda tem vindo de uma forma que possa ser investida em sistemas capazes de melhorar a saúde, nutrição, produção de alimentos e transporte. Devíamos dar à ajuda externa uma chance antes de decidirmos se funciona ou não.

Um segundo engano comum diz respeito ao grau em que a corrupção tende a dilapidar o dinheiro doado. Parte da ajuda externa já foi mesmo parar em bancos suíços. Isto aconteceu quando os recursos foram cedidos por razões geopolíticas, e não de desenvolvimento. Um bom exemplo foi o apoio americano ao regime corrupto de Mobutu Sese Seko, do Zaire (atual República Democrática do Congo), na época da Guerra Fria. Quando a ajuda é voltada ao desenvolvimento, os resultados têm sido altamente favoráveis, variando da Revolução Verde à erradicação da varíola.

O pacote de ajuda que defendemos seria direcionado aos países com um grau razoável de boa governança e transparência operacional. Na África, podem ser Etiópia, Gana, Mali, Moçambique, Senegal e Tanzânia. O dinheiro não seria meramente entregue a eles, mas fornecido de acordo com um plano detalhado e monitorado.Novas rodadas de financiamento só seriam liberadas à medida que o trabalho fosse efetivamente realizado.

Grande parte dos recursos seriam fornecidos diretamente a aldeias e cidades, para evitar a apropriação pelos governos. Os programas seriam monitorados de perto.

A sociedade ocidental tende a pensar na ajuda externa como um dinheiro jogado fora. Mas, se fornecido de forma apropriada, é um investimento que um dia trará retornos enormes, à semelhança da ajuda americana à Europa ocidental e leste da Ásia após a Segunda Guerra Mundial. Ao prosperarem, os atuais países pobres não dependerão mais da eterna caridade. Eles contribuirão para o avanço internacional da ciência, tecnologia e comércio. Eles escaparão da instabilidade política, que os deixa vulneráveis à violência, tráfico de drogas, guerra civil e até à tomada do poder por terroristas. A segurança dos países ricos também aumentará. Como escreveu o secretário-geral da ONU, Kofi Annan: "Não haverá desenvolvimento sem segurança, e não haverá segurança sem desenvolvimento".



Para conhecer mais

Institutions matter, but not for everything. Jeffrey D. Sachs, em IMF Finance and Development, vol. 40, no 2, págs. 38-41, junho de 2003. http://www.sachs.earth.columbia.edu
Determinants of long-term growth: a bayesian averaging of classical estimates (Bace) approach. Xavier Sala-i-Martin, G. Doppelhofer e R. Miller em American Economic Review, vol. 94, no 4, págs. 813-835, 2004.
Ending Africa's poverty trap. Jeffrey D. Sachs, J. W. McArthur, G. Schmidt--Traub, M. Kruk, C. Bahadur, M. Faye e G. McCord, em Brookings Papers on Economic Activity, vol. 1, págs. 117-216, 2004. http://www.sachs.earth.columbia.edu
The development challenge. Jeffrey D. Sachs, em Foreign Affairs, vol. 84, no 2, págs. 78-90, março/abril de 2005. http://www.sachs.earth.columbia.edu
The end of poverty: economic possibilities for our time. Jeffrey D. Sachs. Penguin Press, 2005. http://www.earth.columbia.edu/endofpoverty
Investing in development: a practical plan to achieve the millennium development goals. United Nations Millennium Project, Nova York, 2005. http://www.unmillenniumproject.org








Encruzilhada pobreza

O Problema:
Embora a maior parte da humanidade tenha conseguido se libertar da pobreza extrema e endêmica desde o início da Revolução Industrial, cerca de 1,1 bilhão dos atuais 6,5 bilhões de habitantes globais são miseráveis em um mundo de abundância.

Essas pessoas, que sobrevivem com menos de 1 dólar por dia, têm pouco acesso a nutrição adequada, água potável e abrigo, bem como saneamento básico e cuidados de saúde. O que podemos fazer para tirar da pobreza extrema essa enorme fatia da população?

O Plano:
Dobrar o auxílio financeiro de países afluentes contra a pobreza para cerca de US$160 bilhões anuais traria uma melhora significativa para o apuro em que se encontra um sexto dos humanos. Esse valor constituiria cerca de 0,5% do PIB dos países ricos. Como esses investimentos não incluem outros tipos de ajuda, como gastos com grandes projetos de infra-estrutura, combate à mudança climática ou reconstrução pós-conflito, doadores deveriam se comprometer com a velha meta de 0,7% do PIB em 2015.

Essas doações, frequëntemente fornecidas a grupos locais, precisam ser monitoradas de perto e auditadas para garantir que sejam direcionadas de maneira correta aos realmente necessitados.

Perguntas Freqüentes

Globalização, Pobreza e Ajuda Externa

Cidadãos de países industrializados costumam ter dúvidas sobre onde e como são gastas as doações de seus governos (oriundas do dinheiro dos impostos) para ajudar os pobres de nações estrangeiras. Eis algumas respostas breves:

A globalização está tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres?
Em geral, a resposta é "não". A globalização está promovendo avanços muito rápidos de muitas economias pobres, em especial na Ásia. O comércio internacional e os influxos de investimentos externos foram fatores importantes do crescimento econômico notável da China no último quarto de século e do rápido crescimento econômico da Índia desde o início da década de 1990. Os países mais pobres, marcadamente na África Subsaariana, não são mantidos na pobreza pela globalização; eles são em grande parte ignorados por ela.

A pobreza é o resultado da exploração dos pobres pelos ricos?
As nações afluentes repetidamente pilharam e exploraram os países pobres por meio da escravidão, governo colonial e práticas comerciais injustas. No entanto, talvez seja mais exato dizer que a exploração é o resultado da pobreza (que deixa os países pobres vulneráveis ao abuso) do que sua causa. A pobreza costuma decorrer da baixa produtividade por trabalhador, que reflete a saúde ruim, falta de qualificação para o mercado de trabalho, precariedade de infra-estrutura (estradas, centrais elétricas, portos etc.), subnutrição crônica e coisas semelhantes. A exploração desempenhou um papel na produção dessas condições, mas fatores mais profundos (isolamento físico, doenças, ecologia, dificuldade de produção de alimentos) tendem a ser mais importantes e difíceis de superar sem ajuda externa.

O aumento da renda nos países pobres resultará na queda da renda nos países ricos?
De modo geral, o desenvolvimento econômico é um processo de soma positiva, significando que todos podem participar sem que ninguém saia prejudicado. Nos últimos 200 anos, o mundo como um todo obteve um aumento maciço da produção econômica, e não uma mudança da produção econômica para certas regiões à custa de outras. Sem dúvida, restrições ambientais globais já começam a se impor. À medida que os países pobres atuais se desenvolverem, o clima, as áreas de pesca e as florestas sofrerão uma pressão crescente. O crescimento econômico global é compatível com a exploração sustentável dos ecossistemas de que todos os seres humanos dependem - na verdade, a riqueza pode ser benéfica ao meio ambiente -, mas somente se as políticas públicas e tecnologias encorajarem práticas sensatas e forem feitos os investimentos necessários na sustentabilidade ambiental, metas ainda longe de serem atingidas.

As contribuições privadas americanas compensam os baixos níveis de ajuda oficial dos EUA?
Alguns alegam que, embora o orçamento governamental americano forneça relativamente pouco auxílio aos países mais pobres, o setor privado preenche a lacuna. Na verdade, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estimou que fundações privadas e organizações não-governamentais fornecem cerca de US$ 6 bilhões por ano, ou 0,05 % do PIB dos países. Neste caso, a ajuda internacional americana total é de cerca de 0,21 do PIB - ainda uma das menores cotas proporcionais de todas as nações doadoras.

O autor

Jeffrey D. Sachs dirige o Instituto da Terra da Universidade Columbia e o Projeto do Milênio da ONU. Como economista, fez sua formação acadêmica toda na Universidade Harvard. É conhecido por ter assessorado governos da América Latina, leste da Europa e ex-União Soviética, Ásia e África sobre reformas econômicas e por seu trabalho em órgãos internacionais para promover a redução da pobreza, o controle das doenças e a redução da dívida dos países pobres.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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spink
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Re.: O fim da miséria.

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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Claudio Loredo
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Re.: O fim da miséria.

Mensagem por Claudio Loredo »



Ótimo texto! Vivemos numa economia de abundância. Com a tecnologia atual, a população da Terra poderia ser alimentada várias vezes. Não há porque ter um número tão grande de pessoas na miséria. Os gastor militares já resolveriam para acabar com toda a probreza no mundo.


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user f.k.a. Cabeção
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Re: Re.: O fim da miséria.

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Claudio Loredo escreveu:

Ótimo texto! Vivemos numa economia de abundância. Com a tecnologia atual, a população da Terra poderia ser alimentada várias vezes. Não há porque ter um número tão grande de pessoas na miséria. Os gastor militares já resolveriam para acabar com toda a probreza no mundo.



"We are the world...
we are the children...
we are the ones
to make a better day
so let start giving..."

de novo...

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Poindexter
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Re.: O fim da miséria.

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There's a choice we're making
We're saving our own lives
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Claudio Loredo
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Re.: O fim da miséria.

Mensagem por Claudio Loredo »



We Are The World (U.S.A. for Africa)
Various Artistes

There comes a time when we heed a certain call
When the world must come together as one
There are people dying
And it's time to lend a hand to life,
The greatest gift of all

We can go on pretending day by day
That someone, somewhere will soon make a change
We are all a part of God's great big family
And the truth you know love is all we need

We are the world
We are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me


Send them your heart so they'll know that someone cares
And their lives will be stronger and free
As God has shown us by turning stones to bread
So we all must lend a helping hand

We are the world
We are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me

When you're down and out
There seems no hope at all
But if you just believe there's no way we can fall
Let us realize that a change can only come
When we stand together as one

We are the world
We are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me

We are the world
We are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me


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Claudio Loredo
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Re.: O fim da miséria.

Mensagem por Claudio Loredo »



Parece-me obvio que se houver uma maior colaboração entre os países e dentro dos países entre as pessoas, os problemas serão resolvidos.

"You can say I'm a dreamer, but I'm not the only one" John Lennon


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Poindexter
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Re: Re.: O fim da miséria.

Mensagem por Poindexter »

Claudio Loredo escreveu:

Parece-me obvio que se houver uma maior colaboração entre os países e dentro dos países entre as pessoas, os problemas serão resolvidos.

"You can say I'm a dreamer, but I'm not the only one" John Lennon



"Immagine 1 billion illegals
Living inside U.S.A. ..." :emoticon20:
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¿Dónde está el Hexa?

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A child, not a choice.

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Lamentável...

O que vem de baixo, além de não me atingir, reforça ainda mais as minhas idéias.

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Acauan
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Re: Re.: O fim da miséria.

Mensagem por Acauan »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Claudio Loredo escreveu:

Ótimo texto! Vivemos numa economia de abundância. Com a tecnologia atual, a população da Terra poderia ser alimentada várias vezes. Não há porque ter um número tão grande de pessoas na miséria. Os gastor militares já resolveriam para acabar com toda a probreza no mundo.



"We are the world...
we are the children...
we are the ones
to make a better day
so let start giving..."

de novo...

"We are the world..."


Weelll...

Cabeça,

Que pese eu estar falando, para minha própria estranheza.

O que o Claudio disse é verdade.
Factualmente.
Não há o que questionar sobre a veracidade das afirmações.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Re.: O fim da miséria.

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Claudio Loredo escreveu:

Parece-me obvio que se houver uma maior colaboração entre os países e dentro dos países entre as pessoas, os problemas serão resolvidos.

"You can say I'm a dreamer, but I'm not the only one" John Lennon



Claudio, o fato é que sem leis que protejam a propriedade privada e o livre comércio, toda essa riqueza e alta produtividade que você tão nobremente almeja repartir ira desvanescer.

A melhor forma de garantir um acesso maior a essas riquezas ocorre quando os países pobres percebem que não é lutando contra os incentivos que se conseguirá alguma coisa, e sim protegendo e premiando o espírito empreendedor e a liberdade do comércio, respeitando contratos e conquistando a confiança do investidor.
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Claudio Loredo
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Re.: O fim da miséria.

Mensagem por Claudio Loredo »



O texto inicial deste tópico já demonstra que não basta apenas a liberdade de comércio para um país se desenvolver, são necessários investimentos em infra-estrutura, saúde e educação, coisas que são feitas pelo Governo. É simplista demais achar que a liberdade comercial é tudo.


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user f.k.a. Cabeção
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Re: Re.: O fim da miséria.

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Acauan escreveu:
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Claudio Loredo escreveu:

Ótimo texto! Vivemos numa economia de abundância. Com a tecnologia atual, a população da Terra poderia ser alimentada várias vezes. Não há porque ter um número tão grande de pessoas na miséria. Os gastor militares já resolveriam para acabar com toda a probreza no mundo.



"We are the world...
we are the children...
we are the ones
to make a better day
so let start giving..."

de novo...

"We are the world..."


Weelll...

Cabeça,

Que pese eu estar falando, para minha própria estranheza.

O que o Claudio disse é verdade.
Factualmente.
Não há o que questionar sobre a veracidade das afirmações.


Eu nunca defendi a existência de miséria, mas acho que não é através de igualdade imposta que ela se resolverá.

Não acho que os gastos militares americanos sejam responsáveis pela pobreza e pela fome.

Antes os gastos militares (e todos os outros) de Cuba, de Ruanda, do Paquistão e da China teriam maior parcela de culpa para com relação à fome de suas populações do que os orçamentos militares dos EUA.

Os EUA inclusive tinham uma reserva emergencial de alimentos para casos de subasbastecimento decorrentes de guerras e outras crises, da qual abriram mão para alimentar o resto do mundo.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

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spink
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Mensagem por spink »

E por falar em livre comércio:


Protecionismo ou liberalismo: onde estamos?

A formação de blocos econômicos tem a mesma inspiração que a reunião das comunidades em burgos, que deram origem às cidades como hoje as conhecemos.

Para se defenderem das feras, de outros seres humanos hostis, de intempéries que destruíam as colheitas e de outros fatores adversos, os homens se aglomeraram, se reuniram, se fortificaram, formaram comunidades.

Para se unirem, abriram mão de sua individualidade em favor do interesse coletivo, comunitário. O indivíduo deu lugar ao grupo.

Fundada a comunidade, o grupo passou a agir como instituição, criou normas, convenções, leis, veio a necessidade de um exército e, sobretudo, passou-se a pensar e agir comercialmente.

Primeiro as trocas, depois as moedas foram criadas, os interesses passaram a ser regionais e, enfim, para não nos delongarmos na História, chegamos a Nova York, Londres e outros grandes centros urbanos.

Criaram-se as noções de nação, país e Estado e hoje, vemo-nos em acirrada discussão em torno dos chamados blocos econômicos, que, nada mais são do que formas modernas de luta e defesa de idéias, limites e interesses, só que sem o uso de exércitos armados.

Mas, podem acreditar, a violência, a magnitude dos interesses debatidos, as armas utilizadas, os bancos centrais, transformados em verdadeiros generais, não são menores do que aqueles que se encontravam no tempo das cruzadas ou durante as duas grandes guerras mundiais.

BLOCOS ECONÔMICOS

Em 1957, surge na Europa o primeiro bloco econômico, com a criação da Comunidade Econômica Européia (CEE), atual União Européia (UE).

Não raro, notamos um certo desânimo, uma vontade de apressar as coisas quanto aos blocos mais novos, como o Mercosul, por exemplo. Uma impaciência porque as coisas não saem do papel e se tornam realidade.

Aí costumo lembrar que a União Européia, quase cinqüenta anos depois de sua fundação, ainda se debate em torno do Euro e de outros problemas regionais como o queijo, o vinho e o transitar europeus entre fronteiras de seus membros. E tudo indica que outros cinqüenta anos ainda serão necessários para harmonizar os interesses daquele continente.

Hoje já são vários os blocos econômicos, criados e estimulados pelo fim da Guerra Fria, sendo comuns ao nosso vocabulário as siglas NAFTA, MERCOSUL, PACTO ANDINO, CARICOM, na América; UE e CEI na Europa; SADC na África; ASEAN na Ásia e, em fase de formação o APEC, que reúne países da América e da Ásia.

Todavia, a coqueluche do momento é a ALCA, a chamada ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS, que pretende reunir 34 países em um extraordinário esforço de harmonização sem precedentes no mundo, a partir de 2003. A única certeza que se tem sobre a ALCA é que ninguém quer ficar de fora do bloco, mas não há um só privilegiado cristão que saiba como fazer para manter tantos interesses díspares, tantas vaidades, tantas divergências políticas ou, em termos populares, onde vão arranjar brasa suficiente para tanta sardinha.

O interessante é que ao longo de décadas, blocos de 15, 20, 25 países sul-americanos como ALADI e Pacto Andino nunca impressionaram os grandes líderes mundiais, à frente de grandes países como Canadá e Estados Unidos.

De repente, quando pequenos blocos como o MERCOSUL começaram a disputar a liderança dos países em desenvolvimento, surgiu a proposta do Governo George Bush, o pai, de criar um bloco de 34 países.

O problema é que, assim como nos primórdios a questão era abrir mão do individual pelo coletivo, o mote na época dos blocos econômicos é: abrir mão da soberania em favor de regras comuns entre países.

E, definitivamente, quando se trata de soberania, nenhum país está disposto a abrir mão de suas prerrogativas.

A verdadeira utopia de nosso tempo é reunir em blocos países diferentes política e economicamente e esperar que eles cedam parte de suas liberdades em favor do coletivo.

E nem sempre dá certo. Por exemplo, o NAFTA é formado por Estados Unidos, Canadá e México, mas, enquanto os cidadãos americanos e canadenses convencionaram a igualdade de direitos – podem entrar livremente num ou noutro país, como se Canadá e Estados Unidos fossem um só território, do lado mexicano as barreiras são imensas, a entrada de mexicanos nos Estados Unidos é controladíssima e anualmente centenas de migrantes morrem sob balas dos policiais ou afogados nas águas do Rio Grande.

A força de um bloco econômico reside na harmonia existente entre seus membros e na pujança de sua economia perante outros blocos.

É assim que a Apec, formada por 17 países, com sede em Cingapura, recebe toda a atenção dos Estados Unidos e da União Européia e não é para menos: seus membros respondem hoje por 46% das exportações mundiais, o que o torna um bloco fortíssimo.

O que atrai a atenção de todo o mundo para a ALCA são os seus números comparativos:

BLOCOS
Alca
POPULAÇÃO (740 milhões)
PIB (trilhões/U$ 10,8)

Nafta
POPULAÇÃO (410 milhões)
PIB (trilhões/U$ 9,2)

União Européia
POPULAÇÃO (400 milhões)
PIB (trilhões/U$ 8,3)

Mercosul
POPULAÇÃO (220 milhões)
PIB (trilhões/U$ 1,1)

Os EUA defendem a antecipação da ALCA, com início a partir de 2003. O acesso facilitado a grandes mercados consumidores, como o Brasil, e o fortalecimento de sua influência política e comercial nas Américas são os principais interesses.

Para realizar as negociações mais rapidamente, Bush precisa do fast track - é uma autorização do Parlamento para que o presidente feche acordos internacionais de comércio sem precisar da posterior confirmação do Senado. Outros países temem fechar acordo com os EUA e, na hora da ratificação, o Senado modifique os termos.

O Brasil prioriza o fortalecimento do MERCOSUL. A partir dele, em tese, estaria em melhores condições de negociar outros acordos. O governo teme a criação apressada da ALCA: insiste em que a data não é o mais importante, mas a substância do acordo. Substância, no caso, são basicamente três temas: subsídios (especialmente na agricultura), leis antidumping e regras de origem das mercadorias. Há também o temor de que muitos setores da economia brasileira não estão preparados para concorrer com tarifas de importação zeradas. Além disso, o Brasil busca outras formas de integração, como uma eventual área de livre comércio entre MERCOSUL e União Européia, que possam existir simultaneamente para que não fique vulnerável à economia dos EUA.

Em resumo: o importante não é saber que a ALCA representa um mercado potencial de 740 milhões de consumidores e um PIB de 10,8 trilhões de dólares. O que importa é um país como o Brasil saber quantos desses consumidores comprarão produtos brasileiros.

É saber se nossos produtos vão concorrer nesse mercado.

É ter certeza de que bilhões de dólares não ingressarão em um pequeno país em forma de produtos bem acabados, causando desemprego, angústia e mais pobreza do que já temos.

Na verdade, parte desses 34 países vão abrir suas fronteiras para produtos americanos, asiáticos, europeus. Indústrias de pequenos e médios países, os chamados em desenvolvimento, ficarão obsoletas.

Mas a contrapartida ocorrerá? Os países ricos comprarão produtos latino-americanos a preços justos, transferirão tecnologia, treinarão mão-de-obra na América do Sul?

A experiência hoje vivida não confirma essa previsão, embora torne verdadeira, desde já a primeira hipótese. Há tantas barreiras para tecidos, calçados e aço brasileiros que obrigam os empresários brasileiros a refazer a rota de Cabral para vender alguns produtos em outros continentes.

Atualmente, a indústria de aviação canadense, a poderosa Bombardier, se confronta aos trancos e barrancos com a Embraer. De lado a lado, Brasil e Canadá dão subsídios à sua indústria para fazer frente às exigências de mercado. Volta e meia, um país denuncia o outro perante a Organização Mundial do Comércio.

Além dessa pendência, há pouco tempo o Canadá impôs pesados prejuízos aos produtores de carne brasileira, sob falsa denúncia de contaminação com a doença da vaca louca.

Os prejuízos sofridos ficaram por isso mesmo, sem nenhuma sanção, sem nenhuma providência das autoridades internacionais.

Mesmo no âmbito do Mercosul, Argentina e Brasil se engalfinham em denúncias recíprocas, ora porque o Brasil desvalorizou sua moeda, ora porque a Argentina adotou barreiras protecionistas para seus produtos e, ultimamente, de novo voltou a questão cambial, desta vez com o peso.

Alguém tem dúvida sobre a conduta do país que tem o maior número de patentes registradas no mundo, na hora de falar em "transferência de tecnologia" ou na quebra de patente de medicamentos estratégicos, como para tratamento da AIDS?

Nesses momentos, o que se debate não são questões econômicas, mas a soberania de cada País, vista como o direito inalienável de cada um decidir o que fazer dentro de seus limites territoriais.

Fala-se em globalização, em borboletas que batem asas num continente e causam tempestades em outro.

Mas, em verdade, o que está em jogo são velhos princípios impostos por países ricos, poderosos, os dominadores de todos os tempos:

Todos querem vender de tudo. Comprar, só o que eles não produzem em seus próprios domínios. A fome daqui é diferente da de lá.

Solidariedade, só se for com os nacionais.

A saída, a nosso ver, é procurar formar blocos econômicos entre países mais ou menos iguais, que tenham produtos parecidos e, formado o bloco, em bloco negociar com os países maiores e mais poderosos.

Sobretudo, é preciso conhecer e valorizar o produto nacional, vendendo-o para quem pagar mais e não prostituir seu preço para atender a contratos internacionais leoninos.

Se a biodiversidade é importante para o mundo, que o mundo pague pela nossa biodiversidade.

Sem essa visão, tudo o mais será uma grande utopia. -- Maurício Picarelli
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Acauan
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Re: Re.: O fim da miséria.

Mensagem por Acauan »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Acauan escreveu:
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Claudio Loredo escreveu:

Ótimo texto! Vivemos numa economia de abundância. Com a tecnologia atual, a população da Terra poderia ser alimentada várias vezes. Não há porque ter um número tão grande de pessoas na miséria. Os gastor militares já resolveriam para acabar com toda a probreza no mundo.



"We are the world...
we are the children...
we are the ones
to make a better day
so let start giving..."

de novo...

"We are the world..."


Weelll...

Cabeça,

Que pese eu estar falando, para minha própria estranheza.

O que o Claudio disse é verdade.
Factualmente.
Não há o que questionar sobre a veracidade das afirmações.


Eu nunca defendi a existência de miséria, mas acho que não é através de igualdade imposta que ela se resolverá.

Não acho que os gastos militares americanos sejam responsáveis pela pobreza e pela fome.

Antes os gastos militares (e todos os outros) de Cuba, de Ruanda, do Paquistão e da China teriam maior parcela de culpa para com relação à fome de suas populações do que os orçamentos militares dos EUA.

Os EUA inclusive tinham uma reserva emergencial de alimentos para casos de subasbastecimento decorrentes de guerras e outras crises, da qual abriram mão para alimentar o resto do mundo.


Weelll two...

Veja que não me referi aos aspectos políticos da questão, apenas ao fato matematicamente verdadeiro de que a produção total de alimentos e outros insumos básicos do mundo já é suficiente, em termos quantitativos, para eliminar a miséria.
Como criar mecanismos distributivos que erradiquem a miséria é outro problema.
A question one - referente à produção - já foi resolvido.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Trancado