Proctologista.
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PROCTOLOGISTA - Luis Fernando Veríssimo
"Vinte anos. Ah, os vinte anos. De casados, claro! Casamos novos!
Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. Lua-de-mel, viagens,mobílias
na casa alugada, prestações da casa própria e o primeiro bebê.
Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai.
Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer
aquela muambazinha por um preço módico. Ela tinha vergonha, mas eu
desejava eternizar aquele momento.
Interrompi na sala de parto com a câmera no ombro e chorei
enquanto filmava o parto do meu primeiro filho. Todo mundo que
chegava lá em casa era obrigado a assistir o filme.
Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre
amigos, parentes e parentes dos amigos. Meu filho e minha esposa
eram o meu orgulho.
Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro.
Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse,
invadia a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro.
As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e
marido naquele ato.
O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma
demonstração de meu orgulho.
Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala
do meu proctologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de
próstata. Eu lá, com as pernas naquelas malditas braçadeiras, o
cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta
e a mulher gritando:
-Ah! Doutor! Que maravilha!
Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou
enviando
uma para o senhor!
Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que
não
conseguia falar.
O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois
centímetros
do meu nariz.
A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema:
- Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close
agora...
Alcancei um sapato na mesa e joguei na maldita.
Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que
receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim. Eu
pago o reembolso."
Luiz Fernando Veríssimo
"Vinte anos. Ah, os vinte anos. De casados, claro! Casamos novos!
Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. Lua-de-mel, viagens,mobílias
na casa alugada, prestações da casa própria e o primeiro bebê.
Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai.
Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer
aquela muambazinha por um preço módico. Ela tinha vergonha, mas eu
desejava eternizar aquele momento.
Interrompi na sala de parto com a câmera no ombro e chorei
enquanto filmava o parto do meu primeiro filho. Todo mundo que
chegava lá em casa era obrigado a assistir o filme.
Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre
amigos, parentes e parentes dos amigos. Meu filho e minha esposa
eram o meu orgulho.
Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro.
Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse,
invadia a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro.
As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e
marido naquele ato.
O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma
demonstração de meu orgulho.
Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala
do meu proctologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de
próstata. Eu lá, com as pernas naquelas malditas braçadeiras, o
cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta
e a mulher gritando:
-Ah! Doutor! Que maravilha!
Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou
enviando
uma para o senhor!
Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que
não
conseguia falar.
O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois
centímetros
do meu nariz.
A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema:
- Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close
agora...
Alcancei um sapato na mesa e joguei na maldita.
Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que
receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim. Eu
pago o reembolso."
Luiz Fernando Veríssimo
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
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Re.: Proctologista.
Luiz Fernando Veríssimo é? Já vi esse texto antes em sessões de piadas de sites por aí…
Re.: Proctologista.
JOSUÉ, O ATEU - Luis Fernando Verissimo
Conta o monge tibetano Bhigavat que havia em uma pequena aldeia um rapaz chamado Josué.
Josué colhia framboesas todos os dias pela manhã. Certo dia ao fazer este ritual a beira do rio de águas turvas meditou e concluiu que não acreditava em deus.
A noite, em frente a fogueira assando as framboesas, ouviu um grito de socorro vindo da cachoeira do rio.
Pegou sua bolsa e seu cajado e correu para lá.
Avistou uma bela loira, de vestido cor do céu e olhos verdejantes. Ela se afogava e pedia ajuda.
Ao correr para socorrê-la ela falou com uma voz doce "não quero que me salve, afinal você não acredita em mim".
Josué chorou e concluiu que a jovem moça era Deus.
Um dia Josué faleceu ao se espetar em uma rosa venenosa. Ao passar pelos portais de arco-íris do paraíso e ver São Pedro, encontrou a mesma moça. Ele falou "fui ateu toda a minha vida, mas descobri você, meu Deus."
A moça, sorrindo falou "foste ateu mas quis me salvar, então foi um ateu bom e estás perdoado."
Enquanto entrava no paraíso, Josué orava e meditava por aquelas tristes almas que não acreditavam em Deus.
Torcia em seu íntimo para encontrarem a moça que se afoga no rio das águas turvas.
Conta o monge tibetano Bhigavat que havia em uma pequena aldeia um rapaz chamado Josué.
Josué colhia framboesas todos os dias pela manhã. Certo dia ao fazer este ritual a beira do rio de águas turvas meditou e concluiu que não acreditava em deus.
A noite, em frente a fogueira assando as framboesas, ouviu um grito de socorro vindo da cachoeira do rio.
Pegou sua bolsa e seu cajado e correu para lá.
Avistou uma bela loira, de vestido cor do céu e olhos verdejantes. Ela se afogava e pedia ajuda.
Ao correr para socorrê-la ela falou com uma voz doce "não quero que me salve, afinal você não acredita em mim".
Josué chorou e concluiu que a jovem moça era Deus.
Um dia Josué faleceu ao se espetar em uma rosa venenosa. Ao passar pelos portais de arco-íris do paraíso e ver São Pedro, encontrou a mesma moça. Ele falou "fui ateu toda a minha vida, mas descobri você, meu Deus."
A moça, sorrindo falou "foste ateu mas quis me salvar, então foi um ateu bom e estás perdoado."
Enquanto entrava no paraíso, Josué orava e meditava por aquelas tristes almas que não acreditavam em Deus.
Torcia em seu íntimo para encontrarem a moça que se afoga no rio das águas turvas.
- Aurelio Moraes
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Re.: Proctologista.
Eu não me chamo Luis Fernando Veríssimo.
O Manuel está brincando com o fato de existirem milhões de textos falsos com a autoria do Luis Fernando Verissimo.
O Texto acima o Azatoth tirou do meu site:
http://paginas.terra.com.br/arte/aureli ... andopc.htm
http://www.aureliomoraes.cjb.net
É uma imitação de Paulo Coelho.
O Manuel está brincando com o fato de existirem milhões de textos falsos com a autoria do Luis Fernando Verissimo.
O Texto acima o Azatoth tirou do meu site:
http://paginas.terra.com.br/arte/aureli ... andopc.htm
http://www.aureliomoraes.cjb.net
É uma imitação de Paulo Coelho.
Re.: Proctologista.
COMOÇÃO DA VITÓRIA - Luis Fernando Verissimo
Neste momento de crise, espero que me seja perdoado não falar hoje mais extensamente à Câmara. Confio em que os meus amigos, colegas e antigos colegas que são afetados pela reconstrução política se mostrem indulgentes para com a falta de cerimonial com que foi necessário actuar. Direi à Câmara o mesmo, que disse aos que entraram para este Governo: "Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor". Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento.
Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei; fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. -; essa a nossa política.
Perguntam-me qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos.
Compreendam bem: não sobreviverá o Império Britânico, não sobreviverá tudo o que o Império Britânico representa, não sobreviverá esse impulso que através dos tempos tem conduzido o homem para mais altos destinos.
Neste momento de crise, espero que me seja perdoado não falar hoje mais extensamente à Câmara. Confio em que os meus amigos, colegas e antigos colegas que são afetados pela reconstrução política se mostrem indulgentes para com a falta de cerimonial com que foi necessário actuar. Direi à Câmara o mesmo, que disse aos que entraram para este Governo: "Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor". Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento.
Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei; fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. -; essa a nossa política.
Perguntam-me qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos.
Compreendam bem: não sobreviverá o Império Britânico, não sobreviverá tudo o que o Império Britânico representa, não sobreviverá esse impulso que através dos tempos tem conduzido o homem para mais altos destinos.
- Aurelio Moraes
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Re.: Proctologista.
A turma da Mônica
Luis Fernando Veríssimo
Não canso de repetir que os maiores perigos atuais são: O Homossexualismo, O Satanismo e a revolução comunista que paira sobre nosso planeta.
E destes, sem dúvida, o que mais me assombra é a revolução comunista, já que esta conta com a ajuda dos meios de comunicação, dos governos de quase todos os países, da ONU, do sistema educacional e, acabo de descobrir também dos gibis.
Depois de debruçar-me sobre os trabalhos de um tal Marício de Souza, veja em sua obra nada mais que propaganda soviética, com traços nazistas e nuances maoístas.
Eureka, gritei extasiado. Faz todo o sentido: Uma das estratégias de Gramsci e do Sendero Luminoso é minar e enfraquecer a sociedade temente à Deus e ainda não contaminada pelo vírus do comunismo. E para atingir este objetivo, nada mais fácio que atingir nossas crianças.
Senão vejamos:
Os pais dos personagens são ausentes, passando para os leitores-mirins uma mensagem com a semente da rebeldia, de modo a desacreditar seus pais que, mais tarde, ao dizerem: Meu filho, não use drogas; Meu filho, fique longe dos cabeludos do DCE pois são todos PTistas trotskista ou PCdoBsistas Stalinistas, essa mensagem seja interpretada como o chamado que a sra cascão fazia ao filho para tomar banho: Podia ser desrespeitada sem maiores problemas, no próximo número do Gibi lá estava o cascão mais sujo que no exemplar anterior.
Além das mensagens subliminares, como a citada aqui, as personagens representam bem o maniqueísmo entre nós, os bons, e os malvados comunistas da união soviética. E não é difícil explicar esta relação:
1. A Mônica. Ninguém tem dúvidas que é comunista Stalinista. Mandona, não gosta que apontem seus defeitos (afinal, ela não é mesmo baixinha e dentuça?). Como não dá para mandar o cascão para o México e mandar matá-lo com uma machadada como fez com Trotski, Stalin, ou melhor, a mônica usa seu Coelinho azul para bater no pobre coitado co Cebolinha, numa clara alusão aos crimes e assassinatos cometidos dentro da cortina de ferro.
2. A Magali. Comunista. Seu apetite incontrolável representa nada mais que a fome da burocracia bolchevique. Assim como o estômago da personagem aparentava não ter fim, o ralo da burocracia e da corrupção soviética também eram sorvedouros dos recursos e das riquezas tão duramente acumulados pelo povo russo durante o brilhante regime dos czares Nicolau e Alexandre.
3. Cascão. Não tomava banho. Comunista. E Hippie. Alguma tendência homossexual. Não precisa dizer mais. O papelo do cascão neste instrumento de propaganda revolucionária chamado Turma da Mônica é bem claro: Representa os países periféricos, aqueles cujos nomes terminavam com ÃO (Uzbesquistão, Cazaquistão, Quizdisquistão). Além da rima com CASCÃO, estes países existiam para a união soviética apenas com o propósito de realizar o serviço sujo: Fornecer mão de obra para as minas de carvão, fornecer matéria prima de graça para a rússia, enviar militares para realizar golpes de estado mundo afora.
4. Bidu. Deste eu gosto. O Bidu é um agente infiltrado da CIA e está lá apenas para tentar diminuir os impactos negativos desta trama satânica. Ao falar com a pedra, teoricamente um objeto surdo, o Bidu simboliza todos os pregadores do bem, pessoas que, como eu, falam somente a verdade, nada mais que a verdade, mesmo achando que estão falando com objetos inanimados e surdos, sem a mínima condição de entender as mensagens enviadas.
5. Anjinho. Um dos mais perigosos. Um anjo caído do céu. Vocês meus leitores, sabem bem o que isto significa. Mais um elemento do satanismo infiltrado.
6. Chico bento. Caipira. Não é preciso dizer quem representa. Meus leitores, inteligentes como são, saberão que se trata dos pobres latino-americanos. Caipirões, com papéis secundários da trama. Não sabem nem falar suas próprias linguas. Ficam esperando uma chance de se aproximar da Rosinha.
7. Rosinha. Pela Beleza e pureza, representa o capitalismo. Não tenho dúvidas que a Rosinha é a representação dos EUA. E o Chico bento, um latino tentando pular a fronteira.
Luis Fernando Veríssimo
Não canso de repetir que os maiores perigos atuais são: O Homossexualismo, O Satanismo e a revolução comunista que paira sobre nosso planeta.
E destes, sem dúvida, o que mais me assombra é a revolução comunista, já que esta conta com a ajuda dos meios de comunicação, dos governos de quase todos os países, da ONU, do sistema educacional e, acabo de descobrir também dos gibis.
Depois de debruçar-me sobre os trabalhos de um tal Marício de Souza, veja em sua obra nada mais que propaganda soviética, com traços nazistas e nuances maoístas.
Eureka, gritei extasiado. Faz todo o sentido: Uma das estratégias de Gramsci e do Sendero Luminoso é minar e enfraquecer a sociedade temente à Deus e ainda não contaminada pelo vírus do comunismo. E para atingir este objetivo, nada mais fácio que atingir nossas crianças.
Senão vejamos:
Os pais dos personagens são ausentes, passando para os leitores-mirins uma mensagem com a semente da rebeldia, de modo a desacreditar seus pais que, mais tarde, ao dizerem: Meu filho, não use drogas; Meu filho, fique longe dos cabeludos do DCE pois são todos PTistas trotskista ou PCdoBsistas Stalinistas, essa mensagem seja interpretada como o chamado que a sra cascão fazia ao filho para tomar banho: Podia ser desrespeitada sem maiores problemas, no próximo número do Gibi lá estava o cascão mais sujo que no exemplar anterior.
Além das mensagens subliminares, como a citada aqui, as personagens representam bem o maniqueísmo entre nós, os bons, e os malvados comunistas da união soviética. E não é difícil explicar esta relação:
1. A Mônica. Ninguém tem dúvidas que é comunista Stalinista. Mandona, não gosta que apontem seus defeitos (afinal, ela não é mesmo baixinha e dentuça?). Como não dá para mandar o cascão para o México e mandar matá-lo com uma machadada como fez com Trotski, Stalin, ou melhor, a mônica usa seu Coelinho azul para bater no pobre coitado co Cebolinha, numa clara alusão aos crimes e assassinatos cometidos dentro da cortina de ferro.
2. A Magali. Comunista. Seu apetite incontrolável representa nada mais que a fome da burocracia bolchevique. Assim como o estômago da personagem aparentava não ter fim, o ralo da burocracia e da corrupção soviética também eram sorvedouros dos recursos e das riquezas tão duramente acumulados pelo povo russo durante o brilhante regime dos czares Nicolau e Alexandre.
3. Cascão. Não tomava banho. Comunista. E Hippie. Alguma tendência homossexual. Não precisa dizer mais. O papelo do cascão neste instrumento de propaganda revolucionária chamado Turma da Mônica é bem claro: Representa os países periféricos, aqueles cujos nomes terminavam com ÃO (Uzbesquistão, Cazaquistão, Quizdisquistão). Além da rima com CASCÃO, estes países existiam para a união soviética apenas com o propósito de realizar o serviço sujo: Fornecer mão de obra para as minas de carvão, fornecer matéria prima de graça para a rússia, enviar militares para realizar golpes de estado mundo afora.
4. Bidu. Deste eu gosto. O Bidu é um agente infiltrado da CIA e está lá apenas para tentar diminuir os impactos negativos desta trama satânica. Ao falar com a pedra, teoricamente um objeto surdo, o Bidu simboliza todos os pregadores do bem, pessoas que, como eu, falam somente a verdade, nada mais que a verdade, mesmo achando que estão falando com objetos inanimados e surdos, sem a mínima condição de entender as mensagens enviadas.
5. Anjinho. Um dos mais perigosos. Um anjo caído do céu. Vocês meus leitores, sabem bem o que isto significa. Mais um elemento do satanismo infiltrado.
6. Chico bento. Caipira. Não é preciso dizer quem representa. Meus leitores, inteligentes como são, saberão que se trata dos pobres latino-americanos. Caipirões, com papéis secundários da trama. Não sabem nem falar suas próprias linguas. Ficam esperando uma chance de se aproximar da Rosinha.
7. Rosinha. Pela Beleza e pureza, representa o capitalismo. Não tenho dúvidas que a Rosinha é a representação dos EUA. E o Chico bento, um latino tentando pular a fronteira.
Re.: Proctologista.
O BARRIL DE AMONTILLADO - Luis Fernando Veríssimo
Suportei o melhor que pude as injúrias de Fortunato; mas, quando ousou insultar-me, jurei vingança. Vós, que tão bem conheceis a natureza de meu caráter, não havereis de supor, no entanto, que eu tenha proferido qualquer ameaça. No fim, eu seria vingado. Este era um ponto definitivamente assentado, mas a própria decisão com que eu assim decidira excluía qualquer idéia de perigo. Assim devia apenas castigar, mas castigar impunemente. Uma injúria permanece irreparada, quando o castigo alcança aquele que se vinga. Permanece, igualmente, sem reparado, quando o vingador deixa de fazer com que aquele que o ofendeu compreenda que e ele quem se vinga.
É preciso que se saiba que, nem por meio de palavras, nem de qualquer ato, dei a Fortunato motivo para que duvidasse de minha boa vontade. Continuei, como de costume, a sorrir em sua presença, e ele não percebia que o meu sorriso, agora, tinha como origem a idéia da sua imolação.
Esse tal Fortunato tinha um ponto fraco, embora, sob outros aspectos, fosse um homem digno de ser respeitado e, até mesmo, temido. Vangloriava-se sempre de ser entendido em vinhos. Poucos italianos possuem verdadeiro talento para isso. Na maioria das vezes, seu entusiasmo se adapta aquilo que a ocasião e a oportunidade exigem, tendo em vista enganar os milionários ingleses e austríacos. Em pintura e pedras preciosas, Fortunado, como todos os seus compatriotas, era um intrujão; mas, com respeito a vinhos antigos, era sincero. Sob este aspecto, não havia grande diferença entre nós - pois que eu também era hábil conhecedor de vinhos italianos, comprando-os sempre em grande quantidade, sempre que podia. Uma tarde, quase ao anoitecer, em plena loucura do carnaval, encontrei o meu amigo. Acolheu-me com excessiva cordialidade, pois que havia bebido muito. Usava um traje de truão, muito justo e listrado, tendo à cabeça um chapéu cônico, guarnecido de guizos. Fiquei tão contente de encontra-lo, que julguei que jamais estreitaria a sua mão como naquele momento.
- Meu caro Fortunato - disse-lhe eu -, foi uma sorte encontrá-lo. Mas, que bom aspecto tem você hoje! Recebi um barril como sendo de Amontillado, mas tenho minhas duvidas.
- Como? - disse ele. - Amontillado? Um barril? Impossível! E em pleno carnaval!
- Tenho minhas duvidas - repeti - e seria tolo que o pagasse como sendo de Amontillado antes de consultá-lo sobre o assunto. Não conseguia encontrá-lo em parte alguma, e receava perder um bom negócio.
- Amontillado!
- Tenho minhas dúvidas. - Amontillado!
- E preciso efetuar o pagamento. - Amontillado!
- Mas, como você esta ocupado, irei a procura de Luchesi. Se existe alguém que conheça o assunto, esse alguém e ele. Ele me dirá . . .
- Luchesi e incapaz de distinguir entre um Amontillado e um Xerez.
- Não obstante, ha alguns imbecis que acham que o paladar de Luchesi pode competir com o seu.
- Vamos, vamos embora. - Para onde?
- Para as suas adegas.
- Não, meu amigo. Não quero abusar de sua bondade. Penso que você deve ter algum compromisso. Luchesi. . .
- Não tenho compromisso algum. Vamos.
- Não, meu amigo. Embora você não tenha compromisso algum, vejo que esta com muito frio. E as adegas são insuportavelmente úmidas. Estão recobertas de salitre.
Apesar de tudo, vamos. Não importa o frio. Amontillado! Você foi enganado. Quanto a Luchesi, não sabe distinguir entre Xerez e Amontillado.
Assim falando, Fortunato tomou-me pelo braço. Pus uma máscara de seda negra e, envolvendo-me bem em meu roquelaire, deixei-me conduzir ao meu palazzo. Não havia nenhum criado em casa, pois que todos haviam saído para celebrar o carnaval. Eu lhes dissera que não regressaria antes da manhã seguinte, e lhes dera ordens estritas para que não arredassem pé da casa. Essas ordens eram suficientes, eu bem o sabia, para assegurai o seu desaparecimento imediato, tão logo eu lhes voltasse as costas. Tomei duas velas de seus candelabros e, dando uma a Fortunato, conduzi-o, curvado, através de uma seqüência de compartimentos, à passagem abobadada que levava à adega. Chegamos, por fim, aos últimos degraus e detivemo-nos sobre o solo úmido das catacumbas dos Montresor.
O andar de meu amigo era vacilante e os guizos de seu gorro retiniam a cada um de seus passos.
- E o barril? - perguntou.
- Está mais adiante - respondi. - Mas observe as brancas teias de aranha que brilham nas paredes dessas cavernas.
Voltou-se para mim e olhou-me com suas nubladas pupilas, que destilavam as lágrimas da embriaguez.
- Salitre? - perguntou, por fim.
- Salitre - respondi. - Há quanto tempo você tem essa tosse?
Meu pobre amigo pôs-se a tossir sem cessar e, durante muitos minutos, não lhe foi possível responder.
- Não é nada - disse afinal.
- Vamos - disse-lhe com decisão. - Vamos voltar. Sua saúde é preciosa. Você é rico, respeitado, admirado, amado; você é feliz, como eu também o era. Você é um homem cuja falta será sentida. Quanto a mim, não importa. Vamos embora. Você ficará doente, e não quero arcar com essa responsabilidade. Além disso, posso procurar Luchesi...
- Basta - exclamou ele. - Esta tosse não tem importância; não me matará. Não morrerei por causa de uma simples tosse.
-É verdade, é verdade - respondi. - E eu, de fato, não tenho intenção alguma de alarmá-lo sem motivo. Mas você deve tomar precauções. Um gole deste Medoc nos defenderá da umidade.
E, dizendo isto, parti o gargalo de uma garrafa que se achava numa longa fila de muitas outras iguais, sobre o chão úmido.
- Beba - disse, oferecendo-lhe o vinho.
Levou a garrafa aos lábios, olhando-me de soslaio. Fez uma pausa e saudou-me com familiaridade, enquanto seus guizos soavam.
- Bebo - disse ele - à saúde dos que repousam enterrados, em torno de nós.
- E eu para que você tenha vida longa. Tomou-me de novo o braço e prosseguimos.
- Estas cavernas - disse-me - são extensas.
- Os Montresor - respondi - formavam uma família grande e numerosa.
- Esqueci qual o seu brasão.
- Um grande pé de ouro, em campo azul. O pé esmaga uma serpente ameaçadora, cujas presas se acham cravadas no salto.
- E a divisa?
- Nemo me impune lacessit. - Muito bem! - exclamou.
O vinho brilhava em seus olhos e os guizos retiniam. Minha própria imaginação se animou, devido ao Medoc. Através de paredes de ossos empilhados, entremeados de barris e tonéis, penetramos nos recintos mais profundos das catacumbas. Detive-me de novo e, essa vez, me atrevi a segurar Fortunato pelo braço, acima do cotovelo.
- O salitre! - exclamei. - Veja como aumenta. Prende-se, como musgo, nas abóbadas. Estamos sob o leito do rio. As gotas de umidade filtram-se por entre os ossos. Vamos. Voltemos, antes que seja tarde demais. Sua tosse...
- Não é nada - respondeu ele. - Prossigamos. Mas, antes, tomemos outro gole do Medoc.
Parti o gargalo de uma garrafa de vinho De Grâve e dei-a a Fortunato. Ele a esvaziou de um trago. Seus olhos cintilaram com brilho ardente. Pôs-se a rir e atirou a garrafa para o ar, com gesticulação que não compreendi. Olhei-o, surpreso. Repetiu o movimento, um movimento grotesco.
- Você não compreende? - perguntou. - Não, não compreendo - respondi.
- Então é porque você não pertence à irmandade. - Como?
- Não pertence à maçonaria. - Sim, sim. Pertenço.
- Você? Impossível! Um maçom? - Um maçom - respondi.
- Prove-o - disse ele.
- Eis aqui - respondi, tirando de debaixo das dobras de meu roquelaire uma colher de pedreiro.
- Você está gracejando! - exclamou recuando alguns passos. - Mas prossigamos: vamos ao Amontillado.
- Está bem - disse eu, guardando outra vez a ferramenta debaixo da capa e oferecendo-lhe o braço. Apoiou-se pesadamente em mim. Continuamos nosso caminho, em busca do Amontillado. Passamos através de uma série de baixas abóbadas, descemos, avançamos ainda, tornamos a descer e chegamos, afinal, a uma profunda cripta, cujo ar, rarefeito, fazia com que nossas velas bruxuleassem, ao invés de arder normalmente.
Na extremidade mais distante da cripta aparecia uma outra, menos espaçosa. Despojos humanos empilhavam-se ao longo de seus muros, até o alto das abóbadas, à maneira das grandes catacumbas de Paris. Três dos lados dessa cripta eram ainda adornados dessa maneira. Do quarto, os ossos haviam sido retirados e jaziam espalhados pelo chão, formando, num dos cantos, um monte de certa altura. Dentro da parede, que, com a remoção dos ossos, ficara exposta, via-se ainda outra cripta ou recinto interior, de uns quatro pés de profundidade, três de largura e seis ou sete de altura. Não parecia haver sido construída para qualquer uso determinado, mas constituir apenas um intervalo entre os dois enormes pilares que sustinham a cúpula das catacumbas, tendo por fundo uma das paredes circundantes de sólido granito.
Foi em vão que Fortunato, erguendo sua vela bruxuleante, procurou divisar a profundidade daquele recinto. A luz, fraca, não nos permitia ver o fundo.
- Continue - disse-lhe eu. - O Amontillado está aí dentro. Quanto a Luchesi...
- É um ignorante - interrompeu o meu amigo, enquanto avançava com passo vacilante, seguido imediatamente por mim.
Num momento, chegou ao fundo do nicho e, vendo o caminho interrompido pela rocha, deteve-se, estupidamente perplexo. Um momento após, eu já o havia acorrentado ao granito, pois que, em sua superfície, havia duas argolas de ferro, separadas uma da outra, horizontalmente, por um espaço de cerca de dois pés. De uma delas pendia uma corrente; da outra, um cadeado. Lançar a corrente em torno de sua cintura, para prendê-lo, foi coisa de segundos. Ele estava demasiado atônito para oferecer qualquer resistência. Retirando a chave, recuei alguns passos.
- Passe a mão pela parede - disse-lhe eu. - Não poderá deixar de sentir o salitre. Está, com efeito, muito úmida. Permita-me, ainda uma vez, que lhe implore para voltar. Não? Então, positivamente, tenho de deixá-lo. Mas, primeiro, devo prestar-lhe todos os pequenos obséquios ao meu alcance.
- O Amontillado! - exclamou o meu amigo, que ainda não se refizera de seu assombro.
- É verdade - respondi -, o Amontillado.
E, dizendo essas palavras, pus-me a trabalhar entre a pilha de ossos a que já me referi. Jogando-os para o lado, deparei logo com uma certa quantidade de pedras de construção e argamassa. Com este material e com a ajuda de minha colher de pedreiro, comecei ativamente a tapar a entrada do nicho.
Mal assentara a primeira fileira de minha obra de pedreiro, quando descobri que a embriaguez de Fortunato havia, em grande parte, se dissipado. O primeiro indício que tive disso foi um lamentoso grito, vindo do fundo do nicho. Não era o grito de um homem embriagado. Depois, houve um longo e obstinado silêncio. Coloquei a segunda, a terceira e a quarta fileiras. Ouvi, então, as furiosas sacudidas da corrente. O ruído prolongou-se por alguns minutos, durante os quais, para deleitar-me com ele, interrompi o meu trabalho e sentei-me sobre os ossos. Quando, por fim, o ruído cessou, apanhei de novo a colher de pedreiro e acabei de colocar, sem interrupção, a quinta, a sexta e a sétima fileiras. A parede me chegava, agora, até a altura do peito. Fiz uma nova pausa e, segurando a vela por cima da obra que havia executado, dirigi a fraca luz sobre a figura que se achava no interior.
Uma sucessão de gritos altos e agudos irrompeu, de repente, da garganta do vulto acorrentado, e pareceu impelir-me violentamente para trás. Durante breve instante, hesitei... tremi. Saquei de minha espada e pus-me a desferir golpes no interior do nicho; mas um momento de reflexão bastou para tranqüilizar-me. Coloquei a mão sobre a parede maciça da catacumba e senti-me satisfeito. Tornei a aproximar-me da parede e respondi aos gritos daquele que clamava. Repeti-os, acompanhei-os e os venci em volume e em força. Fiz isso, e o que gritava acabou por silenciar.
Já era meia-noite, a minha tarefa chegava ao fim. Completara a oitava, a nona e a décima fileiras. Havia terminado quase toda a décima primeira - e restava apenas uma pedra a ser colocada e rebocada em seu lugar. Ergui-a com grande esforço, pois que pesava muito, e coloquei-a, em parte, na posição a que se destinava. Mas, então, saiu do nicho um riso abafado que me pôs os cabelos em pé. Seguiu-se-lhe uma voz triste, que tive dificuldade em reconhecer como sendo a do nobre Fortunato. A voz dizia:
- Ah! ah! ah! . . . eh! eh! eh! . . . Esta é uma boa piada... uma excelente piada! Vamos rir muito no palazzo por causa disso . . . ah! ah! ah! . . . por causa do nosso vinho... ah! ah! ah!
- O Amontillado! - disse eu.
- Ah! ah! ah! ...sim, sim ...o Amontillado. Mas não está ficando tarde? Não estarão nos esperando no palácio... a Sra. Fortunato e os outros? Vamos embora.
- Sim - respondi -, vamos embora. - Pelo amor de Deus, Montresor!
- Sim - respondi -, pelo amor de Deus!
Mas esperei em vão qualquer resposta a estas palavras.
Impacientei-me.
Gritei, alto:
- Fortunato!
Nenhuma resposta. Tornei a gritar: - Fortunato!
Ainda agora, nenhuma resposta. Introduzi uma vela pelo orifício que restava e deixei-a cair dentro do nicho. Chegou até mim, como resposta, apenas um tilintar de guizos. Senti o coração opresso, sem dúvida devido à umidade das catacumbas. Apressei-me para terminar o meu trabalho. Com esforço, coloquei em seu lugar a última pedra - e cobri-a com argamassa. De encontro à nova parede, tornei a erguer a antiga muralha de ossos. Durante meio século, mortal algum os perturbou. In pace requiescat!
Suportei o melhor que pude as injúrias de Fortunato; mas, quando ousou insultar-me, jurei vingança. Vós, que tão bem conheceis a natureza de meu caráter, não havereis de supor, no entanto, que eu tenha proferido qualquer ameaça. No fim, eu seria vingado. Este era um ponto definitivamente assentado, mas a própria decisão com que eu assim decidira excluía qualquer idéia de perigo. Assim devia apenas castigar, mas castigar impunemente. Uma injúria permanece irreparada, quando o castigo alcança aquele que se vinga. Permanece, igualmente, sem reparado, quando o vingador deixa de fazer com que aquele que o ofendeu compreenda que e ele quem se vinga.
É preciso que se saiba que, nem por meio de palavras, nem de qualquer ato, dei a Fortunato motivo para que duvidasse de minha boa vontade. Continuei, como de costume, a sorrir em sua presença, e ele não percebia que o meu sorriso, agora, tinha como origem a idéia da sua imolação.
Esse tal Fortunato tinha um ponto fraco, embora, sob outros aspectos, fosse um homem digno de ser respeitado e, até mesmo, temido. Vangloriava-se sempre de ser entendido em vinhos. Poucos italianos possuem verdadeiro talento para isso. Na maioria das vezes, seu entusiasmo se adapta aquilo que a ocasião e a oportunidade exigem, tendo em vista enganar os milionários ingleses e austríacos. Em pintura e pedras preciosas, Fortunado, como todos os seus compatriotas, era um intrujão; mas, com respeito a vinhos antigos, era sincero. Sob este aspecto, não havia grande diferença entre nós - pois que eu também era hábil conhecedor de vinhos italianos, comprando-os sempre em grande quantidade, sempre que podia. Uma tarde, quase ao anoitecer, em plena loucura do carnaval, encontrei o meu amigo. Acolheu-me com excessiva cordialidade, pois que havia bebido muito. Usava um traje de truão, muito justo e listrado, tendo à cabeça um chapéu cônico, guarnecido de guizos. Fiquei tão contente de encontra-lo, que julguei que jamais estreitaria a sua mão como naquele momento.
- Meu caro Fortunato - disse-lhe eu -, foi uma sorte encontrá-lo. Mas, que bom aspecto tem você hoje! Recebi um barril como sendo de Amontillado, mas tenho minhas duvidas.
- Como? - disse ele. - Amontillado? Um barril? Impossível! E em pleno carnaval!
- Tenho minhas duvidas - repeti - e seria tolo que o pagasse como sendo de Amontillado antes de consultá-lo sobre o assunto. Não conseguia encontrá-lo em parte alguma, e receava perder um bom negócio.
- Amontillado!
- Tenho minhas dúvidas. - Amontillado!
- E preciso efetuar o pagamento. - Amontillado!
- Mas, como você esta ocupado, irei a procura de Luchesi. Se existe alguém que conheça o assunto, esse alguém e ele. Ele me dirá . . .
- Luchesi e incapaz de distinguir entre um Amontillado e um Xerez.
- Não obstante, ha alguns imbecis que acham que o paladar de Luchesi pode competir com o seu.
- Vamos, vamos embora. - Para onde?
- Para as suas adegas.
- Não, meu amigo. Não quero abusar de sua bondade. Penso que você deve ter algum compromisso. Luchesi. . .
- Não tenho compromisso algum. Vamos.
- Não, meu amigo. Embora você não tenha compromisso algum, vejo que esta com muito frio. E as adegas são insuportavelmente úmidas. Estão recobertas de salitre.
Apesar de tudo, vamos. Não importa o frio. Amontillado! Você foi enganado. Quanto a Luchesi, não sabe distinguir entre Xerez e Amontillado.
Assim falando, Fortunato tomou-me pelo braço. Pus uma máscara de seda negra e, envolvendo-me bem em meu roquelaire, deixei-me conduzir ao meu palazzo. Não havia nenhum criado em casa, pois que todos haviam saído para celebrar o carnaval. Eu lhes dissera que não regressaria antes da manhã seguinte, e lhes dera ordens estritas para que não arredassem pé da casa. Essas ordens eram suficientes, eu bem o sabia, para assegurai o seu desaparecimento imediato, tão logo eu lhes voltasse as costas. Tomei duas velas de seus candelabros e, dando uma a Fortunato, conduzi-o, curvado, através de uma seqüência de compartimentos, à passagem abobadada que levava à adega. Chegamos, por fim, aos últimos degraus e detivemo-nos sobre o solo úmido das catacumbas dos Montresor.
O andar de meu amigo era vacilante e os guizos de seu gorro retiniam a cada um de seus passos.
- E o barril? - perguntou.
- Está mais adiante - respondi. - Mas observe as brancas teias de aranha que brilham nas paredes dessas cavernas.
Voltou-se para mim e olhou-me com suas nubladas pupilas, que destilavam as lágrimas da embriaguez.
- Salitre? - perguntou, por fim.
- Salitre - respondi. - Há quanto tempo você tem essa tosse?
Meu pobre amigo pôs-se a tossir sem cessar e, durante muitos minutos, não lhe foi possível responder.
- Não é nada - disse afinal.
- Vamos - disse-lhe com decisão. - Vamos voltar. Sua saúde é preciosa. Você é rico, respeitado, admirado, amado; você é feliz, como eu também o era. Você é um homem cuja falta será sentida. Quanto a mim, não importa. Vamos embora. Você ficará doente, e não quero arcar com essa responsabilidade. Além disso, posso procurar Luchesi...
- Basta - exclamou ele. - Esta tosse não tem importância; não me matará. Não morrerei por causa de uma simples tosse.
-É verdade, é verdade - respondi. - E eu, de fato, não tenho intenção alguma de alarmá-lo sem motivo. Mas você deve tomar precauções. Um gole deste Medoc nos defenderá da umidade.
E, dizendo isto, parti o gargalo de uma garrafa que se achava numa longa fila de muitas outras iguais, sobre o chão úmido.
- Beba - disse, oferecendo-lhe o vinho.
Levou a garrafa aos lábios, olhando-me de soslaio. Fez uma pausa e saudou-me com familiaridade, enquanto seus guizos soavam.
- Bebo - disse ele - à saúde dos que repousam enterrados, em torno de nós.
- E eu para que você tenha vida longa. Tomou-me de novo o braço e prosseguimos.
- Estas cavernas - disse-me - são extensas.
- Os Montresor - respondi - formavam uma família grande e numerosa.
- Esqueci qual o seu brasão.
- Um grande pé de ouro, em campo azul. O pé esmaga uma serpente ameaçadora, cujas presas se acham cravadas no salto.
- E a divisa?
- Nemo me impune lacessit. - Muito bem! - exclamou.
O vinho brilhava em seus olhos e os guizos retiniam. Minha própria imaginação se animou, devido ao Medoc. Através de paredes de ossos empilhados, entremeados de barris e tonéis, penetramos nos recintos mais profundos das catacumbas. Detive-me de novo e, essa vez, me atrevi a segurar Fortunato pelo braço, acima do cotovelo.
- O salitre! - exclamei. - Veja como aumenta. Prende-se, como musgo, nas abóbadas. Estamos sob o leito do rio. As gotas de umidade filtram-se por entre os ossos. Vamos. Voltemos, antes que seja tarde demais. Sua tosse...
- Não é nada - respondeu ele. - Prossigamos. Mas, antes, tomemos outro gole do Medoc.
Parti o gargalo de uma garrafa de vinho De Grâve e dei-a a Fortunato. Ele a esvaziou de um trago. Seus olhos cintilaram com brilho ardente. Pôs-se a rir e atirou a garrafa para o ar, com gesticulação que não compreendi. Olhei-o, surpreso. Repetiu o movimento, um movimento grotesco.
- Você não compreende? - perguntou. - Não, não compreendo - respondi.
- Então é porque você não pertence à irmandade. - Como?
- Não pertence à maçonaria. - Sim, sim. Pertenço.
- Você? Impossível! Um maçom? - Um maçom - respondi.
- Prove-o - disse ele.
- Eis aqui - respondi, tirando de debaixo das dobras de meu roquelaire uma colher de pedreiro.
- Você está gracejando! - exclamou recuando alguns passos. - Mas prossigamos: vamos ao Amontillado.
- Está bem - disse eu, guardando outra vez a ferramenta debaixo da capa e oferecendo-lhe o braço. Apoiou-se pesadamente em mim. Continuamos nosso caminho, em busca do Amontillado. Passamos através de uma série de baixas abóbadas, descemos, avançamos ainda, tornamos a descer e chegamos, afinal, a uma profunda cripta, cujo ar, rarefeito, fazia com que nossas velas bruxuleassem, ao invés de arder normalmente.
Na extremidade mais distante da cripta aparecia uma outra, menos espaçosa. Despojos humanos empilhavam-se ao longo de seus muros, até o alto das abóbadas, à maneira das grandes catacumbas de Paris. Três dos lados dessa cripta eram ainda adornados dessa maneira. Do quarto, os ossos haviam sido retirados e jaziam espalhados pelo chão, formando, num dos cantos, um monte de certa altura. Dentro da parede, que, com a remoção dos ossos, ficara exposta, via-se ainda outra cripta ou recinto interior, de uns quatro pés de profundidade, três de largura e seis ou sete de altura. Não parecia haver sido construída para qualquer uso determinado, mas constituir apenas um intervalo entre os dois enormes pilares que sustinham a cúpula das catacumbas, tendo por fundo uma das paredes circundantes de sólido granito.
Foi em vão que Fortunato, erguendo sua vela bruxuleante, procurou divisar a profundidade daquele recinto. A luz, fraca, não nos permitia ver o fundo.
- Continue - disse-lhe eu. - O Amontillado está aí dentro. Quanto a Luchesi...
- É um ignorante - interrompeu o meu amigo, enquanto avançava com passo vacilante, seguido imediatamente por mim.
Num momento, chegou ao fundo do nicho e, vendo o caminho interrompido pela rocha, deteve-se, estupidamente perplexo. Um momento após, eu já o havia acorrentado ao granito, pois que, em sua superfície, havia duas argolas de ferro, separadas uma da outra, horizontalmente, por um espaço de cerca de dois pés. De uma delas pendia uma corrente; da outra, um cadeado. Lançar a corrente em torno de sua cintura, para prendê-lo, foi coisa de segundos. Ele estava demasiado atônito para oferecer qualquer resistência. Retirando a chave, recuei alguns passos.
- Passe a mão pela parede - disse-lhe eu. - Não poderá deixar de sentir o salitre. Está, com efeito, muito úmida. Permita-me, ainda uma vez, que lhe implore para voltar. Não? Então, positivamente, tenho de deixá-lo. Mas, primeiro, devo prestar-lhe todos os pequenos obséquios ao meu alcance.
- O Amontillado! - exclamou o meu amigo, que ainda não se refizera de seu assombro.
- É verdade - respondi -, o Amontillado.
E, dizendo essas palavras, pus-me a trabalhar entre a pilha de ossos a que já me referi. Jogando-os para o lado, deparei logo com uma certa quantidade de pedras de construção e argamassa. Com este material e com a ajuda de minha colher de pedreiro, comecei ativamente a tapar a entrada do nicho.
Mal assentara a primeira fileira de minha obra de pedreiro, quando descobri que a embriaguez de Fortunato havia, em grande parte, se dissipado. O primeiro indício que tive disso foi um lamentoso grito, vindo do fundo do nicho. Não era o grito de um homem embriagado. Depois, houve um longo e obstinado silêncio. Coloquei a segunda, a terceira e a quarta fileiras. Ouvi, então, as furiosas sacudidas da corrente. O ruído prolongou-se por alguns minutos, durante os quais, para deleitar-me com ele, interrompi o meu trabalho e sentei-me sobre os ossos. Quando, por fim, o ruído cessou, apanhei de novo a colher de pedreiro e acabei de colocar, sem interrupção, a quinta, a sexta e a sétima fileiras. A parede me chegava, agora, até a altura do peito. Fiz uma nova pausa e, segurando a vela por cima da obra que havia executado, dirigi a fraca luz sobre a figura que se achava no interior.
Uma sucessão de gritos altos e agudos irrompeu, de repente, da garganta do vulto acorrentado, e pareceu impelir-me violentamente para trás. Durante breve instante, hesitei... tremi. Saquei de minha espada e pus-me a desferir golpes no interior do nicho; mas um momento de reflexão bastou para tranqüilizar-me. Coloquei a mão sobre a parede maciça da catacumba e senti-me satisfeito. Tornei a aproximar-me da parede e respondi aos gritos daquele que clamava. Repeti-os, acompanhei-os e os venci em volume e em força. Fiz isso, e o que gritava acabou por silenciar.
Já era meia-noite, a minha tarefa chegava ao fim. Completara a oitava, a nona e a décima fileiras. Havia terminado quase toda a décima primeira - e restava apenas uma pedra a ser colocada e rebocada em seu lugar. Ergui-a com grande esforço, pois que pesava muito, e coloquei-a, em parte, na posição a que se destinava. Mas, então, saiu do nicho um riso abafado que me pôs os cabelos em pé. Seguiu-se-lhe uma voz triste, que tive dificuldade em reconhecer como sendo a do nobre Fortunato. A voz dizia:
- Ah! ah! ah! . . . eh! eh! eh! . . . Esta é uma boa piada... uma excelente piada! Vamos rir muito no palazzo por causa disso . . . ah! ah! ah! . . . por causa do nosso vinho... ah! ah! ah!
- O Amontillado! - disse eu.
- Ah! ah! ah! ...sim, sim ...o Amontillado. Mas não está ficando tarde? Não estarão nos esperando no palácio... a Sra. Fortunato e os outros? Vamos embora.
- Sim - respondi -, vamos embora. - Pelo amor de Deus, Montresor!
- Sim - respondi -, pelo amor de Deus!
Mas esperei em vão qualquer resposta a estas palavras.
Impacientei-me.
Gritei, alto:
- Fortunato!
Nenhuma resposta. Tornei a gritar: - Fortunato!
Ainda agora, nenhuma resposta. Introduzi uma vela pelo orifício que restava e deixei-a cair dentro do nicho. Chegou até mim, como resposta, apenas um tilintar de guizos. Senti o coração opresso, sem dúvida devido à umidade das catacumbas. Apressei-me para terminar o meu trabalho. Com esforço, coloquei em seu lugar a última pedra - e cobri-a com argamassa. De encontro à nova parede, tornei a erguer a antiga muralha de ossos. Durante meio século, mortal algum os perturbou. In pace requiescat!
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O BARRIL DE AMONTILLADO - Luis Fernando Veríssimo



Uma Proposta Modesta - Luís Fernando Veríssimo
É motivo de tristeza, para aqueles que andam por esta grande cidade, ou viajam pelo país, verem as ruas, as estradas ou as portas dos barracos apinhados de mendigos do sexo feminino, seguidos por três, quatro ou seis crianças, todas esfarrapadas, a importunar os passantes com solicitações de donativos. Essas mães, em vez de poderem trabalhar pelo seu honesto sustento, são forçadas a perambular o tempo todo atrás de esmolas a fim sustentar os seus pequenos desvalidos, os quais, à medida que crescem, se tornam ladrões, por falta de trabalho, ou deixam sua terra natal para lutar pelo Pretendente na Espanha ou se vendem para ir às Barbados.
Creio que todos os partidos concordam em que esse número prodigioso de crianças nos braços, ou nas costas, ou mesmo nos calcanhares de suas mães, e freqüentemente nos de seus pais, é no presente estado deplorável do reino um grande transtorno adicional; de modo que quem quer que encontre um método razoável, barato e fácil de transformar tais crianças em membros saudáveis e úteis da comunidade não mereceria menos do público do que uma estátua erguida em sua homenagem, aclamando-o como benfeitor da nação.
No entanto minha intenção está longe de se restringir aos filhos dos mendigos declarados: é de uma amplitude muito maior e há de envolver todas as crianças de certa idade que nasceram de pais tão efetivamente incapazes de sustentá-las quanto aqueles que demandam nossa caridade nas ruas.
De minha parte, tendo aplicado meus pensamentos durante muitos anos a esse importante assunto e tendo pesado com maturidade os diversos trabalhos de nossos avaliadores, sempre os achei grosseiramente equivocados em seus cômputos. Com efeito, uma criança que saltou recentemente do ventre de sua mãe pode muito bem ser mantida com o leite dela durante um ano inteiro, e com pouca nutrição adicional: quando muito, não mais que o valor de dois xelins, ou mesmo com as sobras, que a mãe poderá certamente conseguir por meio de uma honesta mendicância. E é exatamente na idade de um ano que proponho aplicar-lhes tal solução, de modo que, em lugar de se tornarem um fardo para seus pais ou para a paróquia, ou de carecerem de alimento e vestuário pelo resto de suas vidas, virão, pelo contrário, a contribuir para alimentar e, em parte, para vestir muitos milhares de outros.
Existe, igualmente, uma outra grande vantagem no meu método, que é a de prevenir esses abortos voluntários e aquela prática horrenda das mulheres de matarem seus filhos bastardos – ai! –, tão freqüente entre nós, sacrificando seus bebês inocentes não sei se, mais, para evitar os custos do que a vergonha – prática que há de suscitar lágrimas e piedade mesmo no peito mais selvagem e desumano.
Sendo o número de almas neste reino comumente estimado em um milhão e meio, entre essas calculo que haverá cerca de duzentos mil casais cujas esposas possam procriar. Desse número subtraio trinta mil casais que têm condições de sustentar seus próprios filhos (embora receie que nem haja tantos assim, dadas as atuais dificuldades do reino), mas, admitindo-se o cálculo, ainda restarão umas cento e setenta mil parideiras. De novo subtraio cinqüenta mil, para aquelas mulheres que malogram ou cujos filhos morrem de acidente ou de doença antes do primeiro ano de vida. Apenas restam cento e vinte mil crianças que nascem todos os anos de pais pobres. A questão, portanto, é: como esse número pode ser criado e mantido?; o que – como já referi – nas presentes circunstâncias é absolutamente impossível, se adotarmos os métodos até agora propostos. Pois não podemos empregá-las na manufatura ou na agricultura, nem construímos casas (quero dizer, no interior), nem cultivamos terras. Muito dificilmente poderão obter sustento roubando antes de chegarem à idade de seis anos, a menos que sejam excepcionalmente aplicadas, embora eu confesse elas aprendam os rudimentos bem antes; e durante esse tempo elas só poderão ser tomadas como aprendizes, como tenho sido informado por um cavalheiro importante do condado de Cavan, que me asseverou nunca ter conhecido mais que um ou dois casos antes da idade de seis, e isso numa parte do reino bastante renomada por sua grande proficiência naquela arte.
Nossos traficantes me têm assegurado que um menino ou uma menina de idade inferior a doze anos não é artigo vendável e, mesmo quando chegam a essa idade, ainda não alcançam mais que três libras ou três libras e meia coroa, no máximo, na venda; o que não é nenhum negócio nem para os pais nem para o reino, já que os gastos em nutrição e vestuário atingem pelo menos quatro vezes esse valor.
Agora, pois, proporei humildemente minhas próprias idéias, as quais acredito não serão suscetíveis da menor objeção.
Um americano muito experiente, conhecido meu, me disse em Londres que uma criança nova, saudável e bem nutrida é, com a idade de um ano, um petisco bastante delicioso e salutar, seja servido ensopado, assado, grelhado ou cozido; e não tenho dúvida de que poderá ser preparada como um fricassê ou um ragu.
Assim, ofereço humildemente à consideração do público o seguinte: que das cento e vinte mil crianças, já computadas, vinte mil possam ser apartadas para a reprodução, das quais apenas uma quarta parte serão machos, o que é mais do que costumamos fazer com as ovelhas, as vacas ou os porcos. E a razão que apresento é que essas crianças quase nunca são frutos do casamento, uma circunstância muito pouco considerada pela plebe, portanto um macho será suficiente para cobrir quatro fêmeas. Que as cem mil remanescentes possam ser, com um ano de idade, oferecidas para a venda a pessoas de qualidade e posses em todo o reino, sempre advertindo as mães para que as amamentem bem no último mês, de modo que fiquem bem cheinhas e fornidas para uma boa mesa. Uma criança dará dois pratos numa recepção de amigos, e quando a família jantar sozinha os quartos anteriores ou posteriores fornecerão um prato razoável; e, com uma pitada de pimenta e de sal, agüentará bem até o quarto dia, especialmente no inverno.
Fui informado por fonte segura de que uma criança recém-nascida, podendo pesar 12 libras, dentro de um ano, se convenientemente nutrida, aumentará para 28 libras.
Admito que esse alimento será caro, e portanto adequado aos proprietários, os quais, já tendo devorado os pais, parecem ter todo o direito de fazer o mesmo com os filhos.
A carne das crianças será de época durante todo o ano, mas mais abundantemente em março, e um pouco antes e depois, pois somos instruídos por um grave autor e eminente médico francês de que, sendo os peixes uma dieta prolífica, há mais crianças nascendo nos nove meses posteriores à Quaresma. Os mercados estarão mais abarrotados do que de costume, devido a que o número de crianças católicas alcança pelo menos três por um neste reino, o que leva a supor uma outra vantagem adicional, que é a diminuição do numero de papistas entre nós.
Já computei os custos de nutrição de uma cria de mendigo (em cuja lista incluo todos os aldeões, trabalhadores braçais e quatro quintos dos roceiros) como orçando em torno de dois xelins por ano, farrapos incluídos; e acredito que nenhum cavalheiro se queixaria de dar dez xelins pela carcaça de uma boa criança gorda, a qual, como já disse, fornecerá quatro pratos de carne excelente e nutritiva, quando ele tiver apenas algum amigo pessoal ou sua própria família para jantar. Então o proprietário aprenderá a ser um bom patrão e ganhará popularidade entre seus peões, a mãe açambarcará oito xelins de lucro líquido e estará em condições de trabalhar até produzir outro filho.
Aqueles que são mais econômicos (como, devo confessar, estes tempos andam a pedir) poderão esfolar a carcaça, cuja pele, adequadamente curtida, proporcionará luvas admiráveis para as senhoras e botas de verão para os cavalheiros.
Quanto à nossa cidade de Dublin, açougues especiais podem ser designados para esse propósito, nas partes mais convenientes da mesma, e açougueiros – podemos estar certos – não faltarão, embora eu prefira recomendar que se comprem as crianças vivas e que sejam abatidas na hora do consumo, como fazemos com os leitões para assar.
Uma pessoa de muito valor, um verdadeiro amante deste país, cujas virtudes estimo em alta conta, teve recentemente, ao discutir comigo tal matéria, a bondade de propor um refinamento ao meu projeto. Ele disse que, já havendo diversos cavalheiros deste reino dizimado seus cervos, a carne de veado poderia ser substituída facilmente pelos corpos de jovens rapazes e moças, sem exceder a idade de quatorze anos, nem abaixo de doze, havendo agora tão grande número de ambos os sexos em cada região em vias de morrer de fome por falta de trabalho ou de serviço. E esses, se vivos, poderiam ser fornecidos pelos seus próprios pais ou, de outro modo, por seus parentes mais próximos. Mas, com o devido respeito a tão excelente amigo e tão respeitável patriota, não posso compartilhar totalmente de suas opiniões, pois, quanto aos machos, meu informante americano me assegurou, com base em experiência, que a carne deles era geralmente dura e seca, como a de nossos meninos de escola, devido ao contínuo exercício, além de ter gosto desagradável, e engordá-los não compensaria os gastos. Então, quanto às fêmeas, seria – suponho humildemente – uma perda para os consumidores, porque logo estariam em condições de parir elas mesmas; e, além disso, não é improvável que algumas pessoas escrupulosas se sentissem prontas a censurar tal prática (embora, certamente, com alguma injustiça), acusando-a de bordejar com a crueldade, o que, confesso, tem sido sempre para mim a maior objeção contra qualquer projeto, por mais bem-intencionado que seja.
Mas – defendendo meu amigo – ele confessou que tal expediente lhe foi proposto pelo famoso Salmanazar, um nativo da ilha de Formosa, que de lá veio a Londres há cerca de vinte anos e numa conversa contou a ele que em seu país, quando acontecia de alguma pessoa jovem ser levada à morte, o carrasco vendia a carcaça a pessoas de qualidade, como refinada iguaria; e que, em seu tempo, o corpo de uma garota gorducha de quinze anos, crucificada por tentativa de envenenar o Imperador, foi cortado em postas ao pé do patíbulo e vendido ao primeiro ministro de sua Majestade Imperial e a outros mandarins da Corte, por quatrocentas coroas. Nem, com efeito, posso negar que, se o mesmo emprego fosse dado a muitas garotas gorduchas desta cidade – as quais, sem um tostão de seu, não podem sair por aí sem um coche, e aparecem nos locais públicos ou nas assembléias vestindo modas estrangeiras pelas quais nunca pagarão –, o reino não estaria tão mal.
Algumas pessoas mais temerosas têm se preocupado muito com o grande número de pobres que são velhos, doentes ou aleijados; e me foi solicitado aplicar meus pensamentos a descobrir que medidas se podem tomar para aliviar a nação de tão penosa incumbência. Quanto a mim, o assunto me preocupa pouco, pois é mais que sabido que eles estão morrendo a cada dia, e apodrecendo, seja de frio ou de fome, ou de sujeira, ou consumidos pelos piolhos, e tão rápido quanto se pode esperar. E, quanto aos jovens em idade de trabalhar, se encontram agora numa condição mais que auspiciosa: não podem arranjar serviço e, conseqüentemente, se depauperam por falta de alimento, a tal ponto que, se a qualquer instante forem convocados para um trabalho ordinário, não terão forças para executá-lo; e assim, felizmente, o país e eles mesmos serão liberados dos males vindouros.
Deixei-me levar pela digressão, e é hora de retornar ao meu tema. Suponho que as vantagens da proposta que tenho feito são óbvias e diversas, bem como da mais alta importância.
Primeiramente, como já tenho apontado, diminuiria em muito o número de papistas, cujas ondas nos inundam anualmente, sendo eles os principais geradores da nação, bem como nossos mais perigosos inimigos, os quais permanecem em casa com o único propósito de entregar o reino ao Pretendente, na expectativa de obterem vantagens com a ausência de tantos bons protestantes, enquanto estes últimos preferem deixar o país a ficar em casa e pagar dízimos a um coadjutor episcopal contra a sua consciência.
Em segundo lugar, os arrendatários mais pobres, que nunca souberam o que é ter dinheiro, possuirão alguma coisa de valor, a qual por lei poderá estar sujeita a confisco, a fim de ajudar a pagar o aluguel aos proprietários, já tendo sido o seu gado e o seu milho devidamente pilhados.
Em terceiro lugar, ao passo que a manutenção de cem crianças, de dois anos para cima, não pode ser computada em menos de dez xelins anuais por cabeça, as reservas nacionais serão incrementadas em cinqüenta libras por ano. Além disso, haverá o advento de um novo prato, a ser introduzido nas mesas de todos os afortunados cavalheiros do reino que tenham algum refinamento de gosto. E o dinheiro circulará entre nós mesmos, sendo todos os bens de nossa própria extração e manufatura.
Em quarto lugar, as parideiras constantes, além do ganho de oito xelins esterlinos por ano com a venda de seus filhos, estarão livres do fardo de sustentá-los após o primeiro ano de vida.
Em quinto lugar, esse alimento traria igualmente maior freguesia para as tavernas, onde os negociantes terão por certo grande cuidado em providenciar as melhores receitas para prepará-lo com perfeição e, assim, para ter suas casas freqüentadas por todos os cavalheiros refinados, que muito se gabam de seu conhecimento da boa comida. E um cozinheiro habilidoso, que entenda bem de como obsequiar seus fregueses, se esmerará em torná-la tão cara quanto a estes lhes agradar.
Em sexto lugar, haveria um grande incentivo ao casamento, o qual todas as nações sábias têm encorajado por meio de retribuições ou mesmo têm forçado por meio de leis e de penalidades. Aumentaria, então, o cuidado e a ternura das mães pelos filhos, pois estariam certas de uma colocação para seus pobres bebês no futuro, patrocinada de algum modo pelo poder público, obtendo ganhos anuais em vez de despesas. Observaríamos em breve um honesto sentimento de emulação entre as mães, a fim de verem quem traria o filho mais gordo para o mercado. Os homens teriam tanto interesse por suas esposas, durante o tempo da gravidez, quanto têm agora por suas éguas, suas vacas ou suas porcas em vias de parir; e não mais se prontificariam a bater nelas (como é a prática freqüente), receando com isso um aborto.
Muitas outras vantagens poderiam ser enumeradas. Por exemplo, o acréscimo de alguns milhares de peças em nossa exportação de carne bovina em barris, um aumento na oferta de carne suína e a melhoria na arte de produzir bacon de qualidade, em grande falta entre nós devido à matança excessiva dos porcos, tão constantes em nossas mesas; porcos que de modo algum se comparam em gosto ou magnificência a uma criança bem criada e bem gorda, a qual, assada no ponto, há de fazer grande figura na festa do senhor prefeito ou em qualquer comemoração pública. Mas isso e outras coisas omitirei por amor à brevidade.
Na suposição de que mil famílias nesta cidade sejam consumidoras usuais de carne infantil, além de outras que a teriam em suas alegres comemorações, particularmente nos casamentos e batizados, calculo que Dublin daria fim, anualmente, a umas boas vinte mil carcaças, e o resto do reino (onde provavelmente seriam vendidas mais barato) às restantes oito mil.
Não vejo nenhuma objeção que possa ser levantada contra esta proposta, a não ser que se alegue que o número de pessoas muito se reduzirá em todo o reino. Admito-o de bom grado, e foi esse, com efeito, um dos principais motivos que me levou a oferecê-la ao mundo. Desejo que o leitor observe que calculo meu remédio única e exclusivamente para o reino da Irlanda, e para nenhum outro que jamais terá havido, ou haja, suponho, sobre a face da terra. Assim, que ninguém me venha falar de outros expedientes: de criar um imposto de cinco xelins por libra como fundo para os desempregados; de não usar nem roupas nem mobílias que não sejam de nossa própria fabricação; de terminantemente rejeitar os materiais e instrumentos que promovam luxos estrangeiros; de curar os excessos do orgulho, da vaidade, da preguiça e do gosto pelo jogo em nossas mulheres; de introduzir uma veia de parcimônia, de prudência e de temperança entre as pessoas; de aprender a amar o país, no que diferimos até dos lapônios e dos habitantes de Tupinambu; de acabar com nossas animosidades e facciosidades, e de não agir mais como os judeus, que se matavam uns aos outros bem no momento em que sua cidade era tomada; de ter um pouco de consideração antes de vender nosso país e nossas consciências por qualquer preço; de ensinar os senhorios a terem um mínimo de misericórdia para com seus arrendatários. Finalmente, de impor um espírito de honestidade, indústria e habilidade aos nossos comerciantes, os quais, se se tomasse agora uma resolução de comprar apenas nossos produtos nativos, se uniriam imediatamente para nos enganar e nos extorquir no preço, na medida e na qualidade, e que não podem nunca ser solicitados a fazer uma única proposta de regulação honesta do comércio, por mais que freqüente e ardentemente incentivados a isso.
Portanto, repito, que ninguém me fale desses e de outros expedientes similares, a menos que se tenha o menor vislumbre de esperança de que um dia se venha a efetivar qualquer tentativa sincera e bem intencionada de colocá-los em prática.
Mas, quanto a mim, exausto já de ter consumido tantos anos a oferecer pensamentos ociosos, visionários e vãos, e por fim já desesperado de qualquer sucesso, atinei, por um favor do destino, com esta proposta, a qual, sendo inteiramente nova, tem qualquer coisa de sólida e de real, de pouco dispendiosa e de nada problemática, inteiramente ao nosso alcance, e com a qual não correremos nenhum risco de desagradar à Inglaterra. Pois esse tipo de produto não será passível de exportação, sendo a carne de tão sensível consistência que não admitiria uma longa conservação em salgadura, não obstante eu pudesse nomear aqui um país que de muito bom grado nos engoliria inteiros e crus.
Finalmente, não me acho tão cioso de minha própria opinião que chegue a rejeitar qualquer outra, sugerida por homens sábios, que porventura venha se provar tão inocente, barata, exeqüível e eficaz. Mas, antes que qualquer coisa do gênero seja invocada em contradição ao meu plano, ou apareça uma oferta melhor, quero que o autor ou os autores façam a gentileza de considerar, com maturidade, dois pontos. Primeiro, no presente estado de coisas, como poderão achar alimento e vestuário para cem mil bocas e dorsos inúteis? E, segundo, havendo um milhão redondo de criaturas humanas em todo o reino cuja subsistência, somada, lhes deixaria um débito de dois milhões de libras esterlinas, acrescentando-se esses que são mendigos de profissão, mais o volume de roceiros, agregados e braçais, com suas esposas e filhos, que são mendigos de fato, desejo que esses políticos que torcerem o nariz para minha sugestão e que, talvez, tiverem a audácia de me replicar perguntem aos pais dessas criaturas se eles não estariam mais contentes de terem sido vendidos como alimento no primeiro ano de vida, nos moldes que prescrevi, e assim de terem sido poupados da cena perpétua de infortúnios pelos quais têm passado, pela opressão dos proprietários, pela impossibilidade de pagar o aluguel na falta de dinheiro e ocupação, pela carência de subsídios básicos, tais como casa e vestuário para se protegerem das inclemências do clima, e a inevitável perspectiva de transmiti-los – ou outras misérias maiores – aos seus rebentos para todo o sempre.
Asseguro, com toda a sinceridade do coração, que não tenho o menor interesse pessoal em empreender a promoção desta obra necessária, não me movendo também nenhum outro motivo que o bem público de meu país, no desenvolvimento do comércio, na manutenção das crianças, no desencargo dos pobres, e no proporcionar alguma satisfação aos mais ricos. Não tenho filhos com os quais pudesse angariar nenhum tostão, sendo que o mais velho dos meus já fez nove anos, e minha esposa passou da idade de gerar.
"Considero a religião como um brinquedo infantil e acho que o único pecado é a ignorância." - Cristopher Marlowe
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Re.: Proctologista.
Uma crônica Teatral
Luis Fernando Veríssimo
Maristela gostava de teatro. Era amiga de todos na classe e gostava de assistir às peças do grupinho teatral da 8ª série . Sempre que tinha uma peça em cartaz ela era a primeira a chegar. Assistia à peça repetidas vezes, o que a deixava sabendo todos os diálogos de cor e salteado. Sempre se emocionava e caia em prantos quando a peça era por demais dramática. Ao acabar a peça, ia cumprimentar os atores ou em algumas ocasiões fazer o que ela chamava de "crítica construtiva":
-Oi Patrícia!
-Oi Maristela, tudo bem?Gostou da nossa apresentação de hoje?
-Não.
-Como não?
-Você não captou a alma da personagem, pombas!
-Como assim?
-Tava muito fraca. Você estava praticamente se arrastando no palco. E francamente, aquela gaguejada no fim do primeiro ato foi ridícula.
-Como é que é, minha filha?Alôôôu...a personagem pedia isto!
-Mentira! Eu já assisti a esta peça 10 vezes. Quando era a atriz antiga ela não gaguejava!
Nisto chega a Dona Renata, professora de teatro da escola:
-Oi Maristela, oi Patrícia! Por acaso vocês duas estão brigando?
-Essa incompetente aí- disse Maristela apontando para Patrícia, que a esta altura do campeonato já estava querendo pular no pescoço de Maristela- gaguejou no fim do primeiro ato, naquela parte que ela tinha que cantar o tema da peça.
-Poxa professora, diz a ela que era necessário gaguejar, que fazia parte da incorporação da personagem...
A professora, vendo que poderia sair uma briga feia ali, disse:
-É verdade, Patrícia. Tinha que cantar gaguejando mesmo. Mas não era preciso gaguejar muito. Só um pouquinho. Por outro lado, faltou um pouco de emoção naquela cena, Patrícia. Devia ter passado mais medo.
-Não te falei, sua horrorosa?-disse Maristela para Patrícia, apontando o dedo na cara dela.
-E você, Maristela, já que é tão boa em captar detalhes e falhas da peça, por que não se inscreve no grupo de Teatro? Aposto que com este perfeccionismo não teria errado no fim do primeiro ato...-disse a professora.
-Eu? Ah, eu tenho vergonha...
Cego, surdo e mudo
Luis Fernando Veríssimo
Os três macacos. Cada um com um tipo de omissão.
O primeiro vê, pode contar o que vê a sua volta mas não quer saber a opinião alheia.
Se julga melhor que os outros, talvez.
O segundo, hipócrita. Vê tudo, ouve tudo mas nada conta. Omisso de marca maior.
Não fala porquê não quer , maldito.
O últmo escuta, adora ouvir uma fofoca e contá-la para os outros. Mas não vê, este néscio.
Três símios omissos. Talvez se lhe cortem as mãos tomem uma atitude e se integrem plenamente
com o meio em que estão.
Três soberbos primatas, se prestando a este papel ridículo.
Vê se pode, tantos outros macacos querendo ouvir e falar e estes que podem debocham dos
preciosos sentidos que o Deus dos Macacos deu para eles.
Que queimem no inferno dos macacos, por uma vida dedicada a ignorar a integração com a sociedade
dos primatas.
Merecem realmente perder os sentidos que eles ignoram. Daí sim, estes primatas desgraçados sentirão falta.
Estão no caminho certo para dar o próximo passo da involução: O homo insipiens politicus.
http://www.aureliomoraes.cjb.net

Luis Fernando Veríssimo
Maristela gostava de teatro. Era amiga de todos na classe e gostava de assistir às peças do grupinho teatral da 8ª série . Sempre que tinha uma peça em cartaz ela era a primeira a chegar. Assistia à peça repetidas vezes, o que a deixava sabendo todos os diálogos de cor e salteado. Sempre se emocionava e caia em prantos quando a peça era por demais dramática. Ao acabar a peça, ia cumprimentar os atores ou em algumas ocasiões fazer o que ela chamava de "crítica construtiva":
-Oi Patrícia!
-Oi Maristela, tudo bem?Gostou da nossa apresentação de hoje?
-Não.
-Como não?
-Você não captou a alma da personagem, pombas!
-Como assim?
-Tava muito fraca. Você estava praticamente se arrastando no palco. E francamente, aquela gaguejada no fim do primeiro ato foi ridícula.
-Como é que é, minha filha?Alôôôu...a personagem pedia isto!
-Mentira! Eu já assisti a esta peça 10 vezes. Quando era a atriz antiga ela não gaguejava!
Nisto chega a Dona Renata, professora de teatro da escola:
-Oi Maristela, oi Patrícia! Por acaso vocês duas estão brigando?
-Essa incompetente aí- disse Maristela apontando para Patrícia, que a esta altura do campeonato já estava querendo pular no pescoço de Maristela- gaguejou no fim do primeiro ato, naquela parte que ela tinha que cantar o tema da peça.
-Poxa professora, diz a ela que era necessário gaguejar, que fazia parte da incorporação da personagem...
A professora, vendo que poderia sair uma briga feia ali, disse:
-É verdade, Patrícia. Tinha que cantar gaguejando mesmo. Mas não era preciso gaguejar muito. Só um pouquinho. Por outro lado, faltou um pouco de emoção naquela cena, Patrícia. Devia ter passado mais medo.
-Não te falei, sua horrorosa?-disse Maristela para Patrícia, apontando o dedo na cara dela.
-E você, Maristela, já que é tão boa em captar detalhes e falhas da peça, por que não se inscreve no grupo de Teatro? Aposto que com este perfeccionismo não teria errado no fim do primeiro ato...-disse a professora.
-Eu? Ah, eu tenho vergonha...
Cego, surdo e mudo
Luis Fernando Veríssimo
Os três macacos. Cada um com um tipo de omissão.
O primeiro vê, pode contar o que vê a sua volta mas não quer saber a opinião alheia.
Se julga melhor que os outros, talvez.
O segundo, hipócrita. Vê tudo, ouve tudo mas nada conta. Omisso de marca maior.
Não fala porquê não quer , maldito.
O últmo escuta, adora ouvir uma fofoca e contá-la para os outros. Mas não vê, este néscio.
Três símios omissos. Talvez se lhe cortem as mãos tomem uma atitude e se integrem plenamente
com o meio em que estão.
Três soberbos primatas, se prestando a este papel ridículo.
Vê se pode, tantos outros macacos querendo ouvir e falar e estes que podem debocham dos
preciosos sentidos que o Deus dos Macacos deu para eles.
Que queimem no inferno dos macacos, por uma vida dedicada a ignorar a integração com a sociedade
dos primatas.
Merecem realmente perder os sentidos que eles ignoram. Daí sim, estes primatas desgraçados sentirão falta.
Estão no caminho certo para dar o próximo passo da involução: O homo insipiens politicus.
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Re.: Proctologista.



O CORAÇÃO DELATOR - Luis Fernando Verissimo
Ora, não vos disse que apenas é super-acuidade dos sentidos, aquilo que erradamente julgais loucura? Repito, pois, que chegou aos meus ouvidos, um som baixo, monótono, rápido como o de um relógio, quando abafado em algodão. Igualmente eu bem sabia que som era aquele. Era o bater do coração do velho. Ele me aumentava a fúria, como o bater de um tambor estimula a coragem do soldado.
Ainda aí, porém, refreei-me e fiquei quieto. Tentei manter tão fixamente quanto pude a réstia de luz sobre o olho do velho. Entretanto, o infernal tan-tan do coração aumentava. A cada instante ficava mais alto, mais rápido, mais alto, mais rápido. O terror do velho deve ter sido extremo. Cada vez mais alto, repito, a cada momento. Prestais bem atenção? Disse-vos que sou nervoso: Sou-o. E então, àquela hora morta da noite, tão estranho ruído excitou em mim um terror incontrolável. Contudo, por alguns minutos mais, dominei-me e fiquei quieto. Mas o bater era cada vez mais alto. Julguei que o coração ia rebentar. E, depois, nova angústia me aferrou: o rumor poderia ser ouvido por um vizinho. A hora do velho tinha chegado. Com um alto berro, escancarei a lanterna e pulei para dentro do quarto. Ele guinchou mais uma vez... uma vez só. Num instante, arrastei-o para o soalho e virei a pesada cama sobre ele. Então sorri alegremente, por ver a façanha realizada. Mas, durante muitos minutos, o coração continuou a bater, com som cavo e surdo. Isto, porém, não me vexava. Não seria ouvido através da parede. Afinal, cessou. O velho estava morto. Removi a cama e examinei o cadáver. Sim, era uma pedra, uma pedra morta. Coloquei minha mão sobre o coração e ali a mantive durante muitos minutos. Não havia pulsação. Estava petrificado. Seu olho não mais me perturbaria.
Se ainda pensais que sou louco, não mais o pensareis, quando eu descrever as sábias precauções que tomei, para ocultar o cadáver. A noite avançava e eu trabalhava apressadamente, porém, em silêncio. Em primeiro lugar, esquartejei o corpo. Cortei-lhe a cabeça, os braços e as pernas.
Arranquei depois três pranchas do soalho do quarto e coloquei tudo entre os vãos. Depois recoloquei as tabuas, com tamanha habilidade e perfeição, que nenhum olhar humano, nem mesmo o DELE, poderia distinguir qualquer coisa suspeita. Nada havia a lavar, nem mancha de espécie alguma, nem marca de sangue. Fora demasiado prudente no evitá-las. Uma tina tinha recolhido tudo... ah! ah! ah!
Terminadas todas estas tarefas, eram já quatro horas. Mas ainda estava escuro, como se fosse meia-noite. Quando o sino soou a hora, bateram à porta da rua. Desci a abri-la, de coração ligeiro... pois que tinha eu AGORA a temer? Entraram três homens, que se apresentaram, com perfeita mansidão, como soldados da polícia. Fora ouvido um grito por um vizinho, durante a noite. Despertara-se a suspeita de um crime. Tinha-se formulado uma denuncia à polícia e eles, soldados, tinham sido mandados para investigar.
Sorri... pois que tinha eu a temer? Dei as boas vindas aos cavalheiros. O grito, disse eu, fora meu mesmo, em sonhos. O velho, relatei, estava ausente, no interior. Levei meus visitantes a percorrer toda a casa. Pedi-lhes que dessem uma busca... COMPLETA. Conduzi-os, afinal, ao quarto DELE. Mostrei-lhes suas riquezas, em segurança, intactas. No entusiasmo de minha confiança, trouxe cadeiras para o quarto e mostrei desejos de que eles ficassem ALI, para descansar de suas fadigas, enquanto eu mesmo, na desenfreada audácia de meu perfeito triunfo, colocava minha própria cadeira, precisamente sobre o lugar onde repousava o cadáver da vítima.
Re.: Proctologista.
O Azathoth esqueceu a parte final deste grande conto de Veríssimo! 

Re.: Proctologista.
ENTRE LÚCIFER E SATÃ - Luis Fernando Verissimo
O que quer que você pense ou diga, por mais importante, elevado e bonitinho que lhe pareça, está sendo pensado ou dito dentro do quadro da realidade e não acima dele; é somente mais um acontecimento sucedido dentro do fluxo temporal e cósmico no qual você é arrastado como os dias, as vidas, os átomos e as galáxias, e não uma escapada miraculosa para fora e para cima de tudo o que existe. Ainda que o conteúdo intencional desses pensamentos se refira ao “todo”, ao “universo”, o fato de você pensá-lo não coloca você acima do todo, como um juiz soberano e transcendente, mas apenas imita, desde dentro da imanência, aquele aspecto limitado da transcendência no qual você está pensando nesse momento. Nenhum ser humano julga o universo, a totalidade do real. Quando ele inventa sentenças que parecem fazer isso, o máximo que consegue é julgar-se a si mesmo.
Isso não quer dizer que, desde dentro da realidade sensível, você não faça a mínima idéia do que há para além dela. O simples fato de você poder criar aqueles julgamentos, ainda que errados, já mostra que algo, desde dentro e desde baixo, você consegue apreender do que está fora e acima. Digo “apreender” e não apenas “imaginar”, como preferiria Kant, porque se fosse apenas imaginado seria arbitrário e não suscetível de fiscalização racional ou confronto com a experiência; e o fato mesmo de estarmos discutindo isso já prova que não é assim. Por isso, se sobre a totalidade você nada pode dizer que a transcenda, a abarque e a julgue desde o além, também nada pode impedi-lo de olhar para esse além e saber algo a respeito. Se estivéssemos totalmente presos na imanência e na finitude, uma inteligência capaz de apreender as noções de infinito e de absoluto seria um luxo biológico inexplicável (a hipótese de que tenhamos chegado a isso pelo acúmulo de pequenas ampliações quantitativas da inteligência símia é simiesca em si mesma).
As duas máximas ilusões dos filósofos, ao longo dos tempos, foram precisamente essas: uns pretenderam transcender a totalidade e julgá-la, outros decretaram que nada podemos saber sobre a transcendência. Uns quiseram nos transformar em deuses; outros, em bichinhos inermes separados da transcendência por fronteiras cognitivas intransponíveis.
Na Bíblia, esses dois erros fatais da inteligência humana já estavam anunciados com muita precisão. A ilusão de julgar o mundo enquanto se está dentro dele é o “conhecimento do bem e do mal” que a serpente promete a Eva. O muro que veda o acesso à transcendência é a “insensatez” que limita a visão da existência à esfera do imediatamente acessível.
Esses dois erros têm nomes técnicos tradicionais, derivados da mesma raiz: gnosticismo e agnosticismo. O primeiro promete a posse de um conhecimento impossível; o segundo inibe e frustra a aquisição de um conhecimento possível. Correspondem a dois nomes do demônio: Lúcifer e Satã. O demônio da falsa luz e o demônio das trevas falsamente triunfantes. O demônio do conhecimento errado e o demônio da ignorância soberba.
Platão e Aristóteles já sabiam que a condição humana não é nem conhecimento, nem ignorância, mas a tensão permanente entre esses dois pólos, o primeiro pertencendo aos deuses, o segundo aos animais.
O que caracteriza a filosofia moderna como um todo é a perda dessa dialética tensional, a proclamação alternada do conhecimento absoluto e da ignorância invencível. De um lado, a metafísica onipotente de Descartes e Spinoza; de outro, o ceticismo radical de Hume. É verdade que Kant quis encontrar uma via média, mas, ao limitar as possibilidades de conhecimento aos fenômenos sensíveis e às formas vazias da razão, reduzindo à pura imaginação e à fé o acesso à transcendência, criou a forma mais requintada e letal de agnosticismo moderno. Como que em compensação, ergueu no horizonte a miragem gnóstica da “paz eterna”, tornando-se o profeta da burocracia global e de um cristianismo biônico sem nenhum Cristo de carne e osso.
O que quer que você pense ou diga, por mais importante, elevado e bonitinho que lhe pareça, está sendo pensado ou dito dentro do quadro da realidade e não acima dele; é somente mais um acontecimento sucedido dentro do fluxo temporal e cósmico no qual você é arrastado como os dias, as vidas, os átomos e as galáxias, e não uma escapada miraculosa para fora e para cima de tudo o que existe. Ainda que o conteúdo intencional desses pensamentos se refira ao “todo”, ao “universo”, o fato de você pensá-lo não coloca você acima do todo, como um juiz soberano e transcendente, mas apenas imita, desde dentro da imanência, aquele aspecto limitado da transcendência no qual você está pensando nesse momento. Nenhum ser humano julga o universo, a totalidade do real. Quando ele inventa sentenças que parecem fazer isso, o máximo que consegue é julgar-se a si mesmo.
Isso não quer dizer que, desde dentro da realidade sensível, você não faça a mínima idéia do que há para além dela. O simples fato de você poder criar aqueles julgamentos, ainda que errados, já mostra que algo, desde dentro e desde baixo, você consegue apreender do que está fora e acima. Digo “apreender” e não apenas “imaginar”, como preferiria Kant, porque se fosse apenas imaginado seria arbitrário e não suscetível de fiscalização racional ou confronto com a experiência; e o fato mesmo de estarmos discutindo isso já prova que não é assim. Por isso, se sobre a totalidade você nada pode dizer que a transcenda, a abarque e a julgue desde o além, também nada pode impedi-lo de olhar para esse além e saber algo a respeito. Se estivéssemos totalmente presos na imanência e na finitude, uma inteligência capaz de apreender as noções de infinito e de absoluto seria um luxo biológico inexplicável (a hipótese de que tenhamos chegado a isso pelo acúmulo de pequenas ampliações quantitativas da inteligência símia é simiesca em si mesma).
As duas máximas ilusões dos filósofos, ao longo dos tempos, foram precisamente essas: uns pretenderam transcender a totalidade e julgá-la, outros decretaram que nada podemos saber sobre a transcendência. Uns quiseram nos transformar em deuses; outros, em bichinhos inermes separados da transcendência por fronteiras cognitivas intransponíveis.
Na Bíblia, esses dois erros fatais da inteligência humana já estavam anunciados com muita precisão. A ilusão de julgar o mundo enquanto se está dentro dele é o “conhecimento do bem e do mal” que a serpente promete a Eva. O muro que veda o acesso à transcendência é a “insensatez” que limita a visão da existência à esfera do imediatamente acessível.
Esses dois erros têm nomes técnicos tradicionais, derivados da mesma raiz: gnosticismo e agnosticismo. O primeiro promete a posse de um conhecimento impossível; o segundo inibe e frustra a aquisição de um conhecimento possível. Correspondem a dois nomes do demônio: Lúcifer e Satã. O demônio da falsa luz e o demônio das trevas falsamente triunfantes. O demônio do conhecimento errado e o demônio da ignorância soberba.
Platão e Aristóteles já sabiam que a condição humana não é nem conhecimento, nem ignorância, mas a tensão permanente entre esses dois pólos, o primeiro pertencendo aos deuses, o segundo aos animais.
O que caracteriza a filosofia moderna como um todo é a perda dessa dialética tensional, a proclamação alternada do conhecimento absoluto e da ignorância invencível. De um lado, a metafísica onipotente de Descartes e Spinoza; de outro, o ceticismo radical de Hume. É verdade que Kant quis encontrar uma via média, mas, ao limitar as possibilidades de conhecimento aos fenômenos sensíveis e às formas vazias da razão, reduzindo à pura imaginação e à fé o acesso à transcendência, criou a forma mais requintada e letal de agnosticismo moderno. Como que em compensação, ergueu no horizonte a miragem gnóstica da “paz eterna”, tornando-se o profeta da burocracia global e de um cristianismo biônico sem nenhum Cristo de carne e osso.
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Re.: Proctologista.
Ei Azathoth, conhece este artigo do Veríssimo?
Em luta desigual
Luis Fernando Veríssimo
Mencionei semanas atrás o bombardeio de insultos, hate-mails e ameaças de morte que recebo regularmente. São os meios consagrados do “debate de idéias” no Brasil de Lula. Mas constituem só uma parte do preço que pago pelo que escrevo. Descrever o conjunto seria coisa de masoquista, mas aí vai um detalhe que me pareceu importante como sintoma da atual insanidade brasileira: o artigo “Luis Fernando Veríssimo" na Wikipedia sofreu tantas mutilações e enxertos ofensivos que entrou no rol das sessenta páginas mais vandalizadas do site ( http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia: ... ized_pages ), ao lado de “George W. Bush”, “Tony Blair” e “Israel”, com o detalhe de que somente o meu verbete vem com a advertência “Vandalismos repetidos”, faltante até mesmo nos dois itens de máximo interesse universal presentes na lista: “Vagina” e “Pênis”.
Para que o texto não sofra novas adulterações, a Wikipedia teve de colocá-lo na categoria dos “verbetes protegidos”, de modo que ninguém possa mexer nele sem permissão dos administradores.
As interferências nada tinham de brincadeiras inócuas. Atribuiam-me, em tom de seriedade, toda sorte de crimes, condutas viciosas e conexões macabras, de modo a incutir no leitor desavisado aversão e ódio à minha pessoa.
Explicar isso pela ação espontânea e coincidente de milhares de desocupados é abusar da credulidade da vítima. Esses fenômenos só acontecem graças à organização em “redes”, que permite a mobilização instantânea de militantes, atraindo por automatismo a colaboração de idiotas avulsos que imaginam ser tudo iniciativa de outros idiotas avulsos, e cuja presença no empreendimento serve ainda de camuflagem.
O procedimento é bem mais eficaz do que as antigas campanhas de difamação midiática, pois vem com a proteção da invisibilidade. É poderoso o bastante para paralisar a ação de governos e exércitos, como fez em Chiapas. Voltado contra um cidadão privado, deixa-o sem quaisquer meios de defesa ou garantias legais.
Tal é em germe o novo Brasil: um país onde todo sujeito com idéias indesejáveis estará exposto a um massacre difamatório do qual mesmo empresas de grande porte só poderiam se defender com muita dificuldade.
Desde a década de 80 o movimento revolucionário mundial veio se equipando para a utilização abrangente dos novos meios de comunicação como instrumentos para calar seus antagonistas sem necessidade de recorrer a meios de repressão ostensivos e sem envolver diretamente o governo, o partido ou os ídolos intelectuais da esquerda num combate sujo para o qual contam com os serviços da militância rasteira e anônima.
A única proteção possível seria criar uma rede igual e contrária como se fez nos EUA, mas isso, além de forçar a transformação de um escritor e cidadão comum em organizador político que ele não quer ser de maneira alguma, requer muito dinheiro, que nosso solícito empresariado já pôs todo à disposição da esquerda. Cada descontente, pois, que se prepare para viver com o rabo entre as pernas ou aceite o risco de uma luta monstruosamente desigual, com o agravante kafkiano de que, sozinho e sem recursos, será chamado de dominador capitalista enquanto as organizações bilionárias que o atacam farão o papel dos pobres e oprimidos.
Em luta desigual
Luis Fernando Veríssimo
Mencionei semanas atrás o bombardeio de insultos, hate-mails e ameaças de morte que recebo regularmente. São os meios consagrados do “debate de idéias” no Brasil de Lula. Mas constituem só uma parte do preço que pago pelo que escrevo. Descrever o conjunto seria coisa de masoquista, mas aí vai um detalhe que me pareceu importante como sintoma da atual insanidade brasileira: o artigo “Luis Fernando Veríssimo" na Wikipedia sofreu tantas mutilações e enxertos ofensivos que entrou no rol das sessenta páginas mais vandalizadas do site ( http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia: ... ized_pages ), ao lado de “George W. Bush”, “Tony Blair” e “Israel”, com o detalhe de que somente o meu verbete vem com a advertência “Vandalismos repetidos”, faltante até mesmo nos dois itens de máximo interesse universal presentes na lista: “Vagina” e “Pênis”.
Para que o texto não sofra novas adulterações, a Wikipedia teve de colocá-lo na categoria dos “verbetes protegidos”, de modo que ninguém possa mexer nele sem permissão dos administradores.
As interferências nada tinham de brincadeiras inócuas. Atribuiam-me, em tom de seriedade, toda sorte de crimes, condutas viciosas e conexões macabras, de modo a incutir no leitor desavisado aversão e ódio à minha pessoa.
Explicar isso pela ação espontânea e coincidente de milhares de desocupados é abusar da credulidade da vítima. Esses fenômenos só acontecem graças à organização em “redes”, que permite a mobilização instantânea de militantes, atraindo por automatismo a colaboração de idiotas avulsos que imaginam ser tudo iniciativa de outros idiotas avulsos, e cuja presença no empreendimento serve ainda de camuflagem.
O procedimento é bem mais eficaz do que as antigas campanhas de difamação midiática, pois vem com a proteção da invisibilidade. É poderoso o bastante para paralisar a ação de governos e exércitos, como fez em Chiapas. Voltado contra um cidadão privado, deixa-o sem quaisquer meios de defesa ou garantias legais.
Tal é em germe o novo Brasil: um país onde todo sujeito com idéias indesejáveis estará exposto a um massacre difamatório do qual mesmo empresas de grande porte só poderiam se defender com muita dificuldade.
Desde a década de 80 o movimento revolucionário mundial veio se equipando para a utilização abrangente dos novos meios de comunicação como instrumentos para calar seus antagonistas sem necessidade de recorrer a meios de repressão ostensivos e sem envolver diretamente o governo, o partido ou os ídolos intelectuais da esquerda num combate sujo para o qual contam com os serviços da militância rasteira e anônima.
A única proteção possível seria criar uma rede igual e contrária como se fez nos EUA, mas isso, além de forçar a transformação de um escritor e cidadão comum em organizador político que ele não quer ser de maneira alguma, requer muito dinheiro, que nosso solícito empresariado já pôs todo à disposição da esquerda. Cada descontente, pois, que se prepare para viver com o rabo entre as pernas ou aceite o risco de uma luta monstruosamente desigual, com o agravante kafkiano de que, sozinho e sem recursos, será chamado de dominador capitalista enquanto as organizações bilionárias que o atacam farão o papel dos pobres e oprimidos.
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Re: Re.: Proctologista.
Kramer escreveu:O BARRIL DE AMONTILLADO - Luis Fernando Veríssimo
Suportei o melhor que pude as injúrias de Fortunato...
Este conto não é de Luis Fernando Veríssimo, é de Edgar Allan Poe....
Re: Re.: Proctologista.
Alter-ego escreveu:Cara, o Veríssimo escreve bagaralho!
Não chega aos pés de seu pai, o senhor Erico Verissimo.
- Aurelio Moraes
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Um Deus Que Não Tem O Que Fazer
Luís Fernando Veríssimo
A julgar pelos testemunhos dos fundamentalistas cristãos, ou Deus não tem o que fazer ou tem uma péssima escala de prioridades.
Toda vez que se levanta a questão do por que Deus permite coisas como crianças esmagadas sob os escombros de um terremoto ou nascendo com doenças congênitas que as destinarão a uma vida de dor e sofrimento, os fundamentalistas traçam eloqüentes recitações sobre o grande plano de Deus para a Humanidade. Nunca entendi onde as crianças com paralisia cerebral se encaixam neste grande plano, mas isto fica para depois.
Bom, o curioso é que o mesmo fundamentalista cristão que acha mil e uma explicações de porque Deus não se manifesta nestas situações, vai para sua igreja e escuta entusiasmado o testemunho dos irmãos que contam como Deus lhe arranjou uma promoção no emprego, fez chover na sua horta ou matou os cupins do seu guarda-roupa.
Nada contra um Deus que mata os cupins do guarda roupa, se o meu estivesse infestado eu finalmente teria um motivo para me converter. A dúvida é porque este Deus está sempre pronto e disponível para atender a estes pedidos fúteis, com os quais os fundamentalistas estão constantemente lhe enchendo o divino saco (imagem e semelhança do homem, lembram...) enquanto o extremo e imerecido sofrimento de inocentes é relegado com indiferença para debaixo do tapete do tal grande plano.
Deve ser o que os fundamentalistas cristãos chamam de justiça divina. Aquela que vai mandar apenas os cristãos para o Paraíso, enquanto o Mahatma Gandhi (hindu e portanto não salvo) vai queimar no inferno eterno.
Luís Fernando Veríssimo
A julgar pelos testemunhos dos fundamentalistas cristãos, ou Deus não tem o que fazer ou tem uma péssima escala de prioridades.
Toda vez que se levanta a questão do por que Deus permite coisas como crianças esmagadas sob os escombros de um terremoto ou nascendo com doenças congênitas que as destinarão a uma vida de dor e sofrimento, os fundamentalistas traçam eloqüentes recitações sobre o grande plano de Deus para a Humanidade. Nunca entendi onde as crianças com paralisia cerebral se encaixam neste grande plano, mas isto fica para depois.
Bom, o curioso é que o mesmo fundamentalista cristão que acha mil e uma explicações de porque Deus não se manifesta nestas situações, vai para sua igreja e escuta entusiasmado o testemunho dos irmãos que contam como Deus lhe arranjou uma promoção no emprego, fez chover na sua horta ou matou os cupins do seu guarda-roupa.
Nada contra um Deus que mata os cupins do guarda roupa, se o meu estivesse infestado eu finalmente teria um motivo para me converter. A dúvida é porque este Deus está sempre pronto e disponível para atender a estes pedidos fúteis, com os quais os fundamentalistas estão constantemente lhe enchendo o divino saco (imagem e semelhança do homem, lembram...) enquanto o extremo e imerecido sofrimento de inocentes é relegado com indiferença para debaixo do tapete do tal grande plano.
Deve ser o que os fundamentalistas cristãos chamam de justiça divina. Aquela que vai mandar apenas os cristãos para o Paraíso, enquanto o Mahatma Gandhi (hindu e portanto não salvo) vai queimar no inferno eterno.
Re: Re.: Proctologista.
Neuromancer escreveu:Kramer escreveu:O BARRIL DE AMONTILLADO - Luis Fernando Veríssimo
Suportei o melhor que pude as injúrias de Fortunato...
Este conto não é de Luis Fernando Veríssimo, é de Edgar Allan Poe....



"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
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Re: Re.: Proctologista.
Neuromancer escreveu:Kramer escreveu:O BARRIL DE AMONTILLADO - Luis Fernando Veríssimo
Suportei o melhor que pude as injúrias de Fortunato...
Este conto não é de Luis Fernando Veríssimo, é de Edgar Allan Poe....


é, voce tem razão

mas "Uma Proposta Modesta" é dele mesmo. ele é um genio da literatura...
"Considero a religião como um brinquedo infantil e acho que o único pecado é a ignorância." - Cristopher Marlowe