O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca

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Dante, the Wicked
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Re: Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca

Mensagem por Dante, the Wicked »

Samael escreveu:
Simples: como se define o grupo g? Há múltiplas interpretações baseadas nos mesmos dados.


Assim como se define qualquer coisa:

g={x|Px & Qx & Rx...}

Ou seja:

g é todo x tal que x tem propriedades P, Q, R...

Simplesmente adota-se a definição que for mais conveniente à linguagem.

Samael escreveu: Como se define o período histórico t? Há múltiplas interpretações baseadas nos mesmos dados.


Essa é fácil: t vai do ano x até o ano y.


Samael escreveu: Como se avalia ou mesmo se descobre o leque de condições?


Pesquisando. Lendo documentos da época. Analisando os registros arqueológicos.

Samael escreveu:E, dependendo da ideologia do pesquisador, como identificar que condições são mais ou menos atuantes no tal grupo? Há múltiplas interpretações.


A relevância das condições são teorias sociológicas e antropológicas que devem ser testadas objetivamente neste ambito. No caso disto ser completamente impossível, o correto seria aceitar a indecidibilidade do problema e largar de fazer elocubrações empesteadas de ideologias.


Samael escreveu: Quanto às aspirações, a pior de todas. Interpretações de dados são os pontos onde historiadores mais divergem, visto que esta é uma visão do PESQUISADOR acerca do que tal autor queria dizer. No fim, as relações causais são ainda mais discutíveis, visto que você observa o fato à posteriori, ou seja, o que determinado intelectual pensa que foi a causa de determinado fato, pode não ter sido, e outro intelectual certamente defenderá outra causa.


É dificil. Mas ainda assim pode-se encontrar textos cuja interpretação é óbvia e objetiva. Ex:

"Nós, o grupo g, queremos paz, terra e pão".

Seria muito subjetivismo da minha parte supor que g queria paz, terra e pão?
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Samael
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Re: Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca

Mensagem por Samael »

Dante, the Wicked escreveu:Assim como se define qualquer coisa:

g={x|Px & Qx & Rx...}

Ou seja:

g é todo x tal que x tem propriedades P, Q, R...

Simplesmente adota-se a definição que for mais conveniente à linguagem.


E lá vão as conceituações que pensam resumir a realidade numa fórmula. Mais falhas ainda quando existem sob o escopo do olhar humano...

Dante, the Wicked escreveu:Essa é fácil: t vai do ano x até o ano y.


Engraçadinho. :emoticon17:

Se definem períodos históricos a partir de afinidades gerais e não de cortes temporais arbitrários. E, mesmo assim, as "afinidades gerais" mudam de acordo com o escopo pretendido.

Atualmente, fala-se muito em "curto século XX", que teria início na Revolução Russa e teria fim após a queda da URSS.

Dante, the Wicked escreveu:Pesquisando. Lendo documentos da época. Analisando os registros arqueológicos.


Ah, sim, e quando a condição surge, acende uma pequena lâmpada vermelha indicando A VERDADE ao pesquisador. :emoticon122:

Em debates abstratos então, quando os próprios conceitos e métodos dos pesquisadores diferem de acordo com sua "escola", aí a confusão se torna ainda maior.

Dante, the Wicked escreveu:A relevância das condições são teorias sociológicas e antropológicas que devem ser testadas objetivamente neste ambito. No caso disto ser completamente impossível, o correto seria aceitar a indecidibilidade do problema e largar de fazer elocubrações empesteadas de ideologias.


Então vamos parar de estudar História, visto que todos são acontecimentos passados, relatados a partir de PERCEPÇÕES pessoais. Não existe teste empírico e objetivo em História e Sociologia. Inclusive, se houvesse um mundo de certezas mesmo em Filosofia, não haveria uma profusão tão grande de "escolas", sendo essa sua racionalista apenas mais uma delas. Ah, e um consehlo: desista da metafísica. :emoticon1:

A História não é uma fotografia do passado, é uma construção posterior que deve ser colocada à prova constantemente. Além disso, é besteira sua dizer para não "fazermos ciência empesteada de ideologia" visto que esse seu pensamento é pautado numa ideologia que eu já citei acima, tanto quando brinquei com você quanto quando respondi ao Flaveco.

Dante, the Wicked escreveu:É dificil. Mas ainda assim pode-se encontrar textos cuja interpretação é óbvia e objetiva. Ex:

"Nós, o grupo g, queremos paz, terra e pão".

Seria muito subjetivismo da minha parte supor que g queria paz, terra e pão?


Nesse caso em particular é bem simples. E bem irrelevante até. Este é o testemunho inicial que fará com que o pesquisador abra seu leque de perguntas. E são dessas perguntas que nascerá a discórdia. :emoticon13:

Dante, the Wicked
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Re: Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca

Mensagem por Dante, the Wicked »

Samael escreveu:
Dante, the Wicked escreveu:Assim como se define qualquer coisa:

g={x|Px & Qx & Rx...}

Ou seja:

g é todo x tal que x tem propriedades P, Q, R...

Simplesmente adota-se a definição que for mais conveniente à linguagem.


E lá vão as conceituações que pensam resumir a realidade numa fórmula. Mais falhas ainda quando existem sob o escopo do olhar humano...


Rodrigo, é justamente do olhar humano que eu estou falando. As palavras significam aquilo que queremos que elas signifiquem. Se eu digo que "camponês" é "toda coisa que é trabalhador rural", todo mundo concorda comigo de forma tal que quando eu digo a primeiro todo mundo entende o segundo, então a palavra significa isto. Minha posição é que palavras são só rótulos que damos para as coisas e definições são apenas construções linguísticas que introduzem um conceito novo ou permitem relacionar um conceito já conhecido com outros.
Agora, quem fica debatendo o escopo de palavras é que tem a posição oposta, segundo a qual as palavras captariam a essência de alguma coisa...
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Dante, the Wicked
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Re: Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca

Mensagem por Dante, the Wicked »

Samael escreveu:
Dante, the Wicked escreveu:Essa é fácil: t vai do ano x até o ano y.


Engraçadinho. :emoticon17:

Se definem períodos históricos a partir de afinidades gerais e não de cortes temporais arbitrários. E, mesmo assim, as "afinidades gerais" mudam de acordo com o escopo pretendido.

Atualmente, fala-se muito em "curto século XX", que teria início na Revolução Russa e teria fim após a queda da URSS.



Mais uma vez você caindo no enfeitiçamento da linguagem. Qualquer um pode rotular qualquer período de tempo assim como qualquer outra coisa. Se o rótulo for útil na linguagem, as pessoas o aceitarem e concordarem com seu escopo, ele é adotado.
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Dante, the Wicked
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Re: Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca

Mensagem por Dante, the Wicked »

Samael escreveu:
Dante, the Wicked escreveu:Pesquisando. Lendo documentos da época. Analisando os registros arqueológicos.


Ah, sim, e quando a condição surge, acende uma pequena lâmpada vermelha indicando A VERDADE ao pesquisador. :emoticon122:

Em debates abstratos então, quando os próprios conceitos e métodos dos pesquisadores diferem de acordo com sua "escola", aí a confusão se torna ainda maior.


E que outro método deve ser adotado além do científico, Rodrigo?

1º Formula-se uma teoria testável.
2º Testa-se a teoria.
3º No caso do resultado falsear a teoria, volte para o primeiro passo. No caso do resultado não falsear a teoria, volte para o segundo passo.

O que falsearia uma teoria histórica dá um boa discussão filosófica acerca da epistemologia. Discussão na qual marxismo ou webberianismo seriam irrelevantes.
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Flavio Costa
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Mensagem por Flavio Costa »

Samael escreveu:No entanto, nada me garante que nós não tenhamos determinada inaptidão a pensar a realidade. Ou ainda, a partir desse mesmo "padrão", pensarmos todos de formas semelhantes algo que, na realidade, não é da forma que pensamos.

Vemos um peixe e imaginamos a limitação dele em compreender a realidade que um cerca. Vemos um gato, idem. Temos algumas vantagens sobre eles, mas tudo indica que não estamos livres de similares limitações. Inclusive, é nossa semelhança com outras espécies que torna os testes em animais úteis...
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Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
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Samael
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Mensagem por Samael »

Fala Dante.

Não entrei no escopo da filosofia da Linguagem. Veja bem, meu amigo, eu não sou relativista nem pós-moderno, eu admito e creio existir uma realidade factual, uma essência definidora das "coisas". O problema é que as ciências aqui tratadas envolvem valorações.

Não estamos "fotografando o passado", estamos recontruindo o mesmo sob o olhar do presente. Existem métodos a serem adotados que, empiricamente o são pelo fato de darem mais resultados. Mas estes não formam um conjunto de leis quase que fechadas.

Não há como se reprdouzir a "alegoria empírica" de se colocar uma "sociedade em um laboratório" e tecer uma lei sobre sua forma de agir. Até porque o ser humano não é muito previsível. Além disso, como eu já disse acima, lidamos com ruptura, ou seja, com o acontecimento novo, o inédito. Raramente lidamos com continuações...

E o factualismo, apesar de imprescindível, não fala por si só.

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Samael
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Mensagem por Samael »

Flavio Costa escreveu:
Samael escreveu:No entanto, nada me garante que nós não tenhamos determinada inaptidão a pensar a realidade. Ou ainda, a partir desse mesmo "padrão", pensarmos todos de formas semelhantes algo que, na realidade, não é da forma que pensamos.

Vemos um peixe e imaginamos a limitação dele em compreender a realidade que um cerca. Vemos um gato, idem. Temos algumas vantagens sobre eles, mas tudo indica que não estamos livres de similares limitações. Inclusive, é nossa semelhança com outras espécies que torna os testes em animais úteis...


Exatamente. E eu ainda tenho problema em conceituar o que seriam essas limitações. Sobre o que nos embasamos para dizer que uma determinada visão é menos real que a nossa?

É bem complicado...

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Flavio Costa
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Mensagem por Flavio Costa »

Samael escreveu:Exatamente. E eu ainda tenho problema em conceituar o que seriam essas limitações. Sobre o que nos embasamos para dizer que uma determinada visão é menos real que a nossa?

Algumas coisas que nos sugerem o que são essas limitações são o viés ideológico, a subjetividade, o raciocínio falacioso, a influência dos valores e preconceitos culturais, as questões existenciais, a incerteza das percepções sensoriais, as reações passionais... em geral são coisas mais fáceis de se perceber por contraste com as civilizações antigas, mas que certamente estão presentes hoje.
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Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca

Mensagem por Samael »

Hum, Flavão, eu não discordo, mas tenho minhas dúvidas quanto a todas essas questões. Principalmente quanto à primeira, visto que eu penso que TODO viés é ideológico, hehehe.

Trancado