EM BUSCA DAS RAÍZES
Um mistério desde sempre cercou o judaísmo: como uma religião que não pretende converter ninguém que sofreu toda a sorte de perseguições ao longo da História conseguiu manter as mesmas práticas e tradições ao longo de milhares de anos?
Uma das explicações mais populares diz que a sobrevivência é fruto não da quantidade de fiéis, mas da obediência rígida às tradições e do cumprimento das leis.
No mundo contemporâneo, um dos responsáveis pela manutenção dessa ortodoxia judaica tem sido um movimento conhecido como chabad-lubavitch.
Ele tenta capturar de volta para a religião os milhões de judeus assimilados. Os adeptos do movimento se destacam pelo traje sóbrio,com chapéu preto e barba comprida. As mulheres costumam usar perucas e se vestir com saias longas e blusas fechadas.
No Brasil, ande chegaram na década de 60, o lubavitchs vêm consquistando cada vez mais moças e rapazes para suas hostes. Trata-se, em uma comparação livre, da versão judaica dos movimentos fundamentalistas que têm surgido em quase todas as regiões no mundo contemporâneo.
Sem nenhum componente violento, apenas pregando o retorno às raízes e aos fundamentos do judaísmo.
Apesar de recomendar o rígido cumprimento das leis, os lubavtichs cobram isso aos poucos de quem chega a uma de suas sinagogas. O movimento aceita o judeu não-religioso amigavelmente. É o que faz o grupo crescer.
"Temos a mente aberta e não nos fechamos em nosso círculo. O judaísmo tem 613 leis. Não posso pedir para alguém fazer tudo de uma vez", afirma o rabino Yossi Alpern, do Beit Chabad Central, em São Paulo. "Para começar, uma lei basta: o que você não gosta, não faça ao próximo".
Pode parecer estranho que jovens em um mundo moderno queiram seguir à risca as complexas regras da religião judaica. Mas fazer parte de um grupo com leis claras, é , para muitos, um meio de se encontrar na vida. "A solidão leva à vontade de participar de uma comunidade, e esses jovens encontram na rigidez da ortodoxia respostas para um vazio existencial", diz Marta Francisca Topel, coordenadora da Pós-Gradução em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica da USP e autora do livro Jerusalém & São Paulo - A Nova Ortodoxia Judaica em Cena. " Um dos encantos dos lubavitchs é ter respostas claras para qualquer questionamento".
No Brasil, de acordo com a Federação Israelita do Estado de São Paulo, vivem cerca de 120 mil judeus. Desses,60 mil estão em São Paulo. Cerca de 14% são ortodoxos. Não se sabe ao certo quantos são lubavitchs. Mas todas as 20 instituições do movimento têm gente jovem em suas fileiras. É o caso de Renata Klinovischi, de 27 anos, arquiteta, paulistana, que afirma que a decisão de entrar para o grupo deixou os pais desconcertados. Ela diz que estudou em colégio judaico e freqüentava o clube da comunidade, mas nunca respeitou as tradições. Teve namorados, caía na balada, viajou, morou no Canadá. Mas, segundo afirma, sentia falta de alguma coisa.
Renata acabou indo passar 3 meses em Israel. Quando voltou para o Brasil, doou as calças compridas e as blusas regatas. O guarda-roupa agora só tem saias e blusas fechadas.
Toda as regras do Judaísmo têm, segundo o rabino Alpern, uma razão, explicada em algum dos livros sagrados da religião, a Torá, o Talmude, a Mishná ou a Guemará. A Torá, ou pentateuco, é o mais sagrado livro do judaísmo - seu texto corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia. As demais obras reúnem, progressivamente, comentários e discurssões sobre os ensinamentos religiosos. "O judaísmo é uma religião prática. Não basta o judeu afirma que acredita em algo diferente", diz Marta. "Precisa comer diferente, não ligar nada elétrico no Shabat ( o sábado, dia sagrado de descanso segundo a religião judaica) ou não beijar ninguém do sexo oposto que não seja da família."
Como os Lubavitchs seguem essas e dezenas de regras, quem opta por ser lubavitch depara com problemas todos os dias. O empresário Sidney Wahjsbrot, de 41 anos, afirma que sua família não se conforma com o fato de ele não atender o telefone aos Sábados. Sidney e a mulher , a psicóloga Liza, de 33, pararam de freqüentar restaurantes, pela dificuldade de achar um pratro no cardápio condizente com a comida Kasher, preparada de acordo com uma complicada série de regras religiosas - elas proíbem, por exemplo, o consumo de carne suína,ou mistura de alimentos à base de carne e de leite.
O nome chabhad reúne as iniciais de três palavras em hebraico: sabedoria, compreensão e conhecimento. Lubavitch é o nome da da cidade (na atual Belarus) onde o movimento nasceu, no século XVIII. Há atualmente mais de 3 mil centros espalhados por 70 países.
No Brasil há 60 rabinos e 20 instituições ligadas ao movimento. A expansão deveu-se ao rabino Menachem Mendel Scheneerson, um refugiado do nazismo que se estabeleceu em Nova York, de onde mandava emissários divulgar o movimento mundo afora.
Fonte: Revista Época
Em busca das raízes
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Cris*
"Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.” Jean-Paul Sartre
"Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.” Jean-Paul Sartre