Os Franceses desintegrados

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Pug
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Mensagem por Pug »

Ben Carson, a sua ideia não deve andar longe da realidade.

Em portugal também existem pequenos atritos, mas quando comparado com o resto da europa é um paraíso no que diz respeito ao acolhimento, os estrangeiros que se queixam, se experimentassem a europa mais a norte passavam a estar calados.


O modelo françês passa pela assimilação dos imigrantes, como vc afirmou, o afrancezar-se, porque é inadmissível que essa "gente" não faça como "nós". Só que esses imigrantes pretendem ser franceses do seu modo, sem apagar toda sua identidade e isso entra em confronto com o significado da palavra integração(assimilação) em França. A isto junte-se uma boa dose de racismo da parte dos "verdadeiros" franceses e teremos o que se assistiu nos últimos tempos nos subúrbios de Paris.

A França enquanto nação é extremamente limitada, resultado de tantos séculos a olhar o própio umbigo. Existem outras realidades, igualmente válidas, coisa que até hoje a sociedade francesa não admite, no fundo para os franceses o mundo todo deveria ser como eles.



Este caso em França, para mim foi estranho, vivendo em Paris, não fosse a televisão não faria a minima ideia do que se estaria a passar a poucos Km daqui.

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Acauan
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Re: Os Franceses desintegrados

Mensagem por Acauan »

Mig escreveu:"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem" Bertold Brecht

Acho que esta frase resume bem a violência em França. O País da igualdade, da fraternidade e da liberdade e que fala contra o sangue impuro no seu hino.
Quando se vive na contradição cedo ou tarde é de esperar uma explosão.

Ouvi alguns dizer que o problema desses hooligans é serem anti-sociais e sobretudo muçulmanos que não conseguem aprender a viver de acordo com as regras do país que os acolhe. Mas esta opinião é ignorante. Em Portugal, por exemplo, há uma grande comunidade Muçulmana completamente integrada e próspera. Mas em França, o que se passou foi que nos anos 70 resolveram desintegrar uma grande número de imigrantes (sobretudo muçulmanos). Criaram autênticas cidadelas na periferia do Reino e deixaram-nos lá, abandonados á sua sorte. Nada do qu8e agora se passa em França tem razões religiosas. Tem tudo a ver com o abandono. Os distúrbios são provocados por jovens que olham para o futuro e não vêem nada.

Ás vezes imagino que o Fundamentalismo Islâmico nasce de uma abandono semelhante. Se alguém não vê nada no seu futuro e aparece alguém que lhe dá algo, então é normal que esse alguém siga o seu benfeitor, mesma que a oferta dele seja explodir pela glória de Alá...


Contradição o cacete.
O sangue impuro de que fala a Marselhesa é o daqueles que levantam o estandarte sangrento da tirania.

E quem ergue este estandarte hoje são os moleques revoltadinhos filhos de imigrantes que tendo de escolher entre trabalhar duro e aproveitar as infinitas oportunidades que uma sociedade aberta e democrática como a francesa oferece a quem trabalha duro, preferem incendiar carros e se fazerem de coitadinhos.
Se outros povos imigrantes que desembarcaram em terras novas tivessem a mesma mentalidade, então irlandeses e judeus que hoje fulguram em todos os níveis na sociedade americana nunca teriam passado de vândalos ressentidos.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
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Liberdade! Liberdade!
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Pug
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Re: Os Franceses desintegrados

Mensagem por Pug »

Pug escreveu:
Pug escreveu:
Acauan escreveu:
Mig escreveu:"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem" Bertold Brecht

Acho que esta frase resume bem a violência em França. O País da igualdade, da fraternidade e da liberdade e que fala contra o sangue impuro no seu hino.
Quando se vive na contradição cedo ou tarde é de esperar uma explosão.

Ouvi alguns dizer que o problema desses hooligans é serem anti-sociais e sobretudo muçulmanos que não conseguem aprender a viver de acordo com as regras do país que os acolhe. Mas esta opinião é ignorante. Em Portugal, por exemplo, há uma grande comunidade Muçulmana completamente integrada e próspera. Mas em França, o que se passou foi que nos anos 70 resolveram desintegrar uma grande número de imigrantes (sobretudo muçulmanos). Criaram autênticas cidadelas na periferia do Reino e deixaram-nos lá, abandonados á sua sorte. Nada do qu8e agora se passa em França tem razões religiosas. Tem tudo a ver com o abandono. Os distúrbios são provocados por jovens que olham para o futuro e não vêem nada.

Ás vezes imagino que o Fundamentalismo Islâmico nasce de uma abandono semelhante. Se alguém não vê nada no seu futuro e aparece alguém que lhe dá algo, então é normal que esse alguém siga o seu benfeitor, mesma que a oferta dele seja explodir pela glória de Alá...


Contradição o cacete.
O sangue impuro de que fala a Marselhesa é o daqueles que levantam o estandarte sangrento da tirania.

E quem ergue este estandarte hoje são os moleques revoltadinhos filhos de imigrantes que tendo de escolher entre trabalhar duro e aproveitar as infinitas oportunidades que uma sociedade aberta e democrática como a francesa oferece a quem trabalha duro, preferem incendiar carros e se fazerem de coitadinhos.
Se outros povos imigrantes que desembarcaram em terras novas tivessem a mesma mentalidade, então irlandeses e judeus que hoje fulguram em todos os níveis na sociedade americana nunca teriam passado de vândalos ressentidos.



Tipico afirmar que as pessoas não querem trabalhar, mas...


Aqui em França, existem muitos desses "coitadinhos" com cursos superiores, que pura e simplesmente não conseguem emprego, outros com formação média, mas também sem emprego. Sim a vida está dura para todos, mas parece mais para uns do que outros. Viver numa cité é sinónimo de ver vedada a entrada em bons empregos, muitos precisam iludir dizendo que vivem noutros lugares, o que não é fácil devido a documentação do estado françês.

E empregos, no duro ou não é coisa que até na França é dificel de encontrar...

Neste país da igualdade, para um arabe ou africano é extremamente duro alugar casa em Paris, sobretudo em determinadas freguesias. Conheço enumeros casos que tiveram de usar fotografias de pessoas brancas. A SOS racisme testou o sistema, enviaram sistematicamente 2 dossiers, de um branco e outro de um africano, apesar das mesmas garantias incomensurávelmente o branco foi o escolhido.

Apesar de o racismo ser evidente na sociedade francesa em geral, o mesmo não aparenta ser tão evidente nos serviços publicos, onde a existência de pessoas de ascendência arabe ou africana é uma realidade inegável. Tirando o estado, sobra uma sociedade fracturada. Sendo o estado a sociedade, acaba tudo por dar no mesmo, igualdade só no papel.


E só mais um pormenor, entre os autores de distúrbios, dá-se conta da existência de uma infima % de franceses sem ascendência estrangeira.

.



EDITADO :emoticon7:
Editado pela última vez por Pug em 17 Nov 2005, 15:02, em um total de 2 vezes.

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Claudio Loredo
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Mensagem por Claudio Loredo »

Sobre o tema "os franceses desintegrados", há uma análise boa que saiu na Agência Carta Maior.

Os órfãos da globalização
fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br/age ... eportagens

Há 20 mil brasileiros presos na fronteira do México com os EUA. O que isso tem a ver com os 21 milhões de trabalhadores estrangeiros nos EUA, dos quais um terço está ilegalmente no país? O que tem a ver com os árabes e negros na França e com os milhões de turcos na Alemanha? A análise é de Emir Sader.

Emir Sader - Carta Maior 07/11/2005



Há 20 mil brasileiros presos na fronteira do México com os EUA – a única fronteira, no mundo, entre o terceiro e o primeiro mundo. Por essa razão, o governo dos EUA impôs o retorno do visto de entrada dos brasileiros no México e o Brasil, em reciprocidade, tomou a mesma atitude para a entrada dos mexicanos aqui.


Para se ir ao México, é preciso pedir o visto nos consulados, o que inclui a impressão de um formulário, com foto recente, mais comprovantes de reservas de hotéis no México, comprovante de rendimentos dos últimos três meses, comprovante de pagamento de cartão de créditos nos últimos três meses, entre outros documentos. Uma vez entregues todos os documentos, os vistos serão concedidos, caso os documentos sejam aprovados em três dias úteis. A circulação entre os dois países mais importantes do continente fica submetida a esses trâmites, a partir da decisão do governo dos EUA.


O que isso tem a ver com outros conflitos mundiais? O que tem a ver com os árabes e negros na França? Com os milhões de turcos na Alemanha? Com as centenas de milhares de equatorianos e marroquinos na Espanha? Com os 21 milhões de trabalhadores estrangeiros nos EUA – dos quais, 40% proveniente do México e da América Central e um terço está ilegalmente no país?


Todas essas situações têm a ver com os órfãos da globalização. São todos eles trabalhadores buscando empregos que não encontram nos seus países ou salários um pouco melhores do que as miseráveis remunerações que recebem nos seus países de origem. Africanos saindo de seus países, abandonados pelo capitalismo, que desconhece a África. Equatorianos fugindo da dolarização do seu país. Mexicanos fugindo dos salários de fome que recebem, quando encontram empregos, nos seus países.


Situações dramáticas, resultado da acentuação gigantesca da desigualdade dentro de cada país e entre países e regiões do mundo, produzida pela “livre circulação” dos capitais, promovida pelas políticas neoliberais. Mesmo discriminados, vivendo em condições incomparavelmente inferiores às dos nativos em cada país a que chegam, os trabalhadores imigrantes ainda assim tem mais possibilidades de sobrevivência que nos seus países de origem – o que dá uma idéia da brutal miséria a que as regiões globalizadas do mundo são submetidas.


A globalização neoliberal tira das pessoas – além do direito ao emprego e a condições de vida minimamente decentes – o direito a viver no seu próprio país, colocando-lhes dilemas cruéis entre permanecer no seu país, ao lado de suas famílias, de seus amigos, com seu idioma, sua cultura, seu mundo ou deslocar-se para um mundo hostil, que os discrimina, os condena à marginalidade, mas que lhes permite obter alguns recursos a mais, de que enviam parte para suas famílias.


Formam todos um imenso mercado internacional de mão-de-obra, sem direitos, nem de deslocar-se, nem de radicar-se, nem de ser cidadãos, disponíveis para ser explorados de forma ilimitada pelo grande capital internacional. Essa a realidade humana mais aguda da globalização neoliberal. Que não se surpreendam com as revoltas atuais na França! Como podem reagir marroquinos jogados de volta da Espanha no meio do deserto, abandonados para que morram à mingua? Como podem reagir mexicanos, brasileiros, centro-americanos, abatidos ou presos na fronteira com os Estados Unidos, cercados pelo muro da vergonha do neoliberalismo?


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Mensagem por M »

Claudio Loredo escreveu:Parece que na Europa a xenofobia está crescendo devido ao aumento do desemprego. Dai, os imigrantes levam a culpa. Quando a causa é bem outra.

Outro ponto é a globalização. Diante da invasão de outras culturas, de outros hábitos, e da interação com outras nações bem diferentes, os franceses vêem suas tradições serem ameaçadas. Dai existe o apelo ao nacionalismo, que levado ao exagero pode levar a um sentimento contra os imigrantes.



O Fukuyama disse que fazer da Europa uns Estados Unidos é um erro. A América é um cadinho de diversidade, mas a Europa tem uma identidade cultural muito marcada pelos laços de sangue. É um problema. Ninguém fala muito disto, mas os Europeus pressionados podem ser mais terríveis que todas as Jihads Islâmicas. Os maiores morticínios da História foram os civilizados Europeus que provocaram. Lembram do que houve á 60 anos atrás? Não é muito tempo assim.

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Claudio Loredo
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Mensagem por Claudio Loredo »

Mais um texto publicado na Agência Carta Maior explicando os confrontos recentes na França.

As origens da revolta social na França, por Ignacio Ramonet
Fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br/age ... eportagens

Nesta madrugada do dia 10, 482 veículos foram queimados e 203 pessoas, detidas. A violência diminuiu, mas ainda não é possível dizer que as medidas tomadas pelo governo funcionaram – talvez por não atingirem a origem do problema.

Ignacio Ramonet - Especial para a Carta Maior 10/11/2005



Paris - Na França há 750 zonas urbanas onde reinam a pobreza e a falta de segurança. Nelas vivem cinco milhões de habitantes, a maioria dos quais não pode votar.

Das periferias de Paris, a revolta dos jovens marginalizados estendeu-se até alcançar quase todas as grandes cidades da França. Por que tanta violência em um país que, aparentemente, estava propondo ao resto da Europa um modelo para a integração dos imigrantes e um exemplo de abordagem social da pobreza?

Não há dúvidas de que a razão está em que sucessivos governos recusaram-se a ver a gravidade dos problemas de todo tipo – econômicos, culturais, religiosos e étnicos – que foram se acumulando, como se fosse uma panela de pressão, nesses becos do lixo cada vez mais abandonados pelos poderes públicos.

Zonas sensíveis
As 750 zonas urbanas consideradas sensíveis são compostas por bairros muito deteriorados, edificados na década de 1960, nos quais 5 milhões de habitantes – dos 61 milhões da França – sobrevivem em edifícios de mais de nove andares tidos como exemplo de favela vertical.

As classes médias abandonaram paulatinamente esses subúrbios e ali, como em novos guetos, foram se concentrando as minorias étnicas visíveis, ou seja, a população magrebina e subsaariana. Visto que os imigrantes extra-comunitários não podem votar, exceto se adotam a nacionalidade francesa, todos esses subúrbios foram esquecidos pelos prefeitos locais, na medida em que não representam nenhum ganho eleitoral.

Em muitos deles não resta nenhuma representação do Estado. Os serviços públicos ou semipúblicos – correios, delegacias, hospitais, colégios, bancos, linhas de ônibus... – estão se retirando como conseqüência da política neoliberal de reduzir os orçamentos públicos e o número de funcionários. Com freqüência, muitos comércios privados – bares, supermercados, farmácias – adotam a mesma atitude, devido ao aumento da insegurança.

Discriminação territorial
E os honestos vizinhos desses subúrbios, que já tinham que suportar o racismo, tiveram, também, que enfrentar a "discriminação territorial". Quando atendiam a uma oferta de emprego, se confessavam morar em um desses bairros a vaga lhes era negada.

Deste modo, esses territórios constituíram-se, pouco a pouco, em "zonas sem lei", nas quais, para sobreviver, muitos jovens desempregados passaram a praticar pequenos crimes, vender objetos roubados, ao tráfico de drogas... E transformaram-se em habitat ideal para grupos islâmicos radicais que ali recrutam voluntários para diversos fronts – Afeganistão, Caxemira, Chechênia, Iraque.

As autoridades, mesmo não admitindo, preferiram, cinicamente, fechar os olhos durante anos, apostando que essa economia do crime permaneceria em calma. Em vez de empreender uma política de reconquista pacífica e social, o ministro do Interior, Nicolás Sarkozy, decidiu apostar na repressão, com a esperança de seduzir os eleitores da extrema direita racista e xenófoba. Chamou, sem distinção, os habitantes desses bairros de brutos marginais e declarou que enfrentaria tudo isso com "ácido puro".

Foi um erro grave, que provocou esta primeira rebelião nacional dos jovens pobres, marginalizados e discriminados. Uma situação que faz lembrar as explosões niilistas dos bairros negros dos Estados Unidos durante os anos 60 – especialmente a de Watts, em Los Angeles, em agosto de 1965. Na França, como nos EUA, estas rebeliões somente irão desaparecer quando o governo lançar, finalmente, um verdadeiro Plano Marshall para os subúrbios.

Tradução: Naila Freitas/Verso Tradutore


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Re: Os Franceses desintegrados

Mensagem por M »

Acauan escreveu:
Mig escreveu:"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem" Bertold Brecht

Acho que esta frase resume bem a violência em França. O País da igualdade, da fraternidade e da liberdade e que fala contra o sangue impuro no seu hino.
Quando se vive na contradição cedo ou tarde é de esperar uma explosão.

Ouvi alguns dizer que o problema desses hooligans é serem anti-sociais e sobretudo muçulmanos que não conseguem aprender a viver de acordo com as regras do país que os acolhe. Mas esta opinião é ignorante. Em Portugal, por exemplo, há uma grande comunidade Muçulmana completamente integrada e próspera. Mas em França, o que se passou foi que nos anos 70 resolveram desintegrar uma grande número de imigrantes (sobretudo muçulmanos). Criaram autênticas cidadelas na periferia do Reino e deixaram-nos lá, abandonados á sua sorte. Nada do qu8e agora se passa em França tem razões religiosas. Tem tudo a ver com o abandono. Os distúrbios são provocados por jovens que olham para o futuro e não vêem nada.

Ás vezes imagino que o Fundamentalismo Islâmico nasce de uma abandono semelhante. Se alguém não vê nada no seu futuro e aparece alguém que lhe dá algo, então é normal que esse alguém siga o seu benfeitor, mesma que a oferta dele seja explodir pela glória de Alá...


Contradição o cacete.
O sangue impuro de que fala a Marselhesa é o daqueles que levantam o estandarte sangrento da tirania.

E quem ergue este estandarte hoje são os moleques revoltadinhos filhos de imigrantes que tendo de escolher entre trabalhar duro e aproveitar as infinitas oportunidades que uma sociedade aberta e democrática como a francesa oferece a quem trabalha duro, preferem incendiar carros e se fazerem de coitadinhos.
Se outros povos imigrantes que desembarcaram em terras novas tivessem a mesma mentalidade, então irlandeses e judeus que hoje fulguram em todos os níveis na sociedade americana nunca teriam passado de vândalos ressentidos.


Talvez tenhas razão, mas não sei bem:

Marselhesa:

Avante, filhos da Pátria,
O dia da Glória chegou.
O estandarte ensangüentado da tirania
Contra nós se levanta.
Ouvís nos campos rugirem
Esses ferozes soldados?
Vêm eles até nós
Degolar nossos filhos, nossas mulheres.
Às armas cidadãos!
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Nossa terra do sangue impuro se saciará!

2
O que deseja essa horda de escravos
de traidores, de reis conjurados?
Para quem (são) esses ignóbeis entraves
Esses grilhões há muito tempo preparados? (bis)
Franceses! Para vocês, ah! que ultraje!
Que elans deve ele suscitar!
Somos nós que se ousa criticar
sobre voltar à antiga escravidão!

3
Que! essas multidões estrangeiras
Fariam a lei em nossos lares!
Que! as falanges mercenárias
Arrasariam nossos fiéis guerreiros (bis)
Grande Deus! por mãos acorrentadas
Nossas frontes sob o jugo se curvariam
E déspotas vís tornar-se-iam
Mestres de nossos destinos!

4
Estremeçam, tiranos! e vocês pérfidos,
Injúria de todos os partidos,
Tremei! seus projetos parricidas
Vão enfim receber seu preço! (bis)
Somos todos soldados para combatê-los,
Se nossos jovens heróis caem,
A França outros produz
Contra vocês, totalmente prontos para combatê-los!

5
Franceses, em guerreiros magnânimes,
Levem/ carreguem ou suspendam seus tiros!
Poupem essas tristes vítimas,
que contra vocês se armam a contragosto. (bis)
Mas esses déspotas sanguinários
Mas esses cúmplices de Bouillé,
Todos esses tigres que, sem piedade,
Rasgam o seio de suas mães!...

6
Entraremos na batalha
Quando nossos antecessores não mais lá estarão.
Lá encontraremos suas marcas
E o traço de suas virtudes. (bis)
Bem menos ciumentos de suas sepulturas
Teremos o sublime orgulho
De vingá-los ou de seguí-los.

7
Amor Sagrado pela Pátria
Conduza, sustente nossos braços vingativos.
Liberdade, querida liberdade
Combata com teus defensores!
Sob nossas bandeiras, que a vitória
Chegue logo às tuas vozes virís!
Que teus inimigos agonizantes
Vejam teu triunfo e nossa glória.

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Re.: Os Franceses desintegrados

Mensagem por M »

O sangue impuro, podem muito bem ser os franceses desintegrados que tu chamas sarcásticamente de moleques revoltadinhos...

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Claudio Loredo
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Re.: Os Franceses desintegrados

Mensagem por Claudio Loredo »

Discriminação, pobreza e multiculturalismo


Publicado na Agência Carta Maior em 17/11/2005
Fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br/age ... eportagens

O desemprego da população jovem na França é um dos mais altos da Europa, chegando a 23%, sendo o desemprego dos jovens mulçumanos na ordem de 40%. A discriminação implica pobreza e a pobreza implica discriminação.



Mais de oito mil carros incendiados em quase 300 cidades; espaços públicos depredados; mais de 2600 pessoas detidas; e a bandeira “We hate France and France hates us” (nós odiamos a França e a França nos odeia). Os protestos, que começaram nos subúrbios de Paris em 27 de outubro, multiplicaram-se por todo país nas duas últimas semanas. A resposta do Estado francês foi invocar uma lei de 1955, que autoriza adoção de medidas de emergência, bem como determinar a deportação de qualquer estrangeiro considerado culpado.
Segundo informações, os responsáveis, em sua maioria, são jovens, pobres, desempregados, provenientes de grupos socialmente vulneráveis, constituindo, sobretudo, a segunda geração de mulçumanos da África do Norte e Ocidental. Dados apontam que o desemprego da população jovem na França é um dos mais altos da Europa, chegando a 23%, sendo o desemprego dos jovens mulçumanos na ordem de 40%. Atente-se que na França há em média 5 a 6 milhões de mulçumanos, o que representa um terço do total de mulçumanos na União Européia.

Os recentes acontecimentos ocorridos na França remetem à reflexão a respeito da relação entre discriminação e pobreza, no marco do multiculturalismo.

Os protestos conferiram visibilidade à situação de alienação econômica e social de grande parte da população mulçumana, que por duas gerações tem se isolado na hostilidade dos bandlieues ao redor de muitas cidades francesas, com precárias condições de moradia, educação, transporte, ao que se soma o elevado desemprego, compondo um grave quadro de exclusão social. Refletem, assim, o legado de mais de trinta anos de segregração étnica e social destas comunidades “guetizadas”, bem como o fracasso do modelo de integração social do Estado francês, baseado fudamentalmente na ótica da integração individual.

Ainda que as medidas de emergência tenham tido o impacto inicial de reduzir o grau de violência – tendo o Presidente Jacques Chirac em pronunciamento esta semana revelado que serão elas estendidas por mais três meses –, a resposta repressiva-punitiva mostra-se absolutamente insuficiente para enfrentar a complexidade do problema.

A discriminação implica pobreza e a pobreza implica discriminação. Romper este ciclo vicioso demanda a adoção não apenas de medidas repressivas-punitivas, mas também de medidas afirmativas e promocionais. Isto é, não basta apenas proibir a discriminação, já que a negativa de exclusão não traduz automaticamente a inclusão das populações mais vulneráveis. Além proibir a discriminação, faz-se fundamental tomar medidas que propiciem maiores possibilidades de inclusão social dos grupos socialmente vulneráveis, o que compreende políticas sociais no campo da educação, do trabalho, bem como políticas urbanas e de habitação.

É a vertente promocional – e não a vertente punitiva – que é capaz de criar o sentimento de pertença e um senso de identidade social. É a vertente promocional que é capaz de romper com o isolamento dos guetos e com a repulsa e a hostilidade da mútua exclusão entre as comunidades excluídas e a sociedade que as exclui, permitindo fluir a riqueza da diversidade e do multiculturalismo, convertendo muros em pontes compartilhadas.

O drama da sociedade francesa remete à experiência brasileira dos orçamentos participativos. Assim que introduzidos, nas consultas populares a respeito das prioridades orçamentárias, as comunidades periféricas apontaram como escolha primeira e prioritária o asfalto. Demandar asfalto, em sua simbologia, significa demandar pertença, integração e pavimentação social.


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Ben Carson escreveu:
Alguém fez um comentário que achei muito interessante. Sobre as diferenças entre Portugal e a França. Fez relação entre a verdadeira integração que os imigrantes em Portugal alcançam com a ausência de conflitos naquele país. Igualmente, relacionou os problemas ocorridos na França ao fato de lá não haver verdadeira integração, fora do papel, mas segregação disfarçada. É uma tese muito interessante. Alguém mais informado saberia dar mais detalhes sobre a situação existente em Portugal? Sobre como esse país lida com seus imigrantes? De repente está aí a chave do mistério, e de como esses problemas podem ser evitados.


Os imigrantes hoje em dia têm cada vez mais dificuldades em Portugal. Eu falei só da comunidade muçulmana, que está bem integrada.

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Mensagem por M »

Ben Carson escreveu:
Gilberto Freyre, em Casa-Grande e Senzala, atribuiu essa inédita disposição dos portugueses em misturar-se ao fato de os próprios portugueses serem um povo miscigenado. Recuando aos tempos da invasão muçulmana, e fazendo extenso inventário dos tipos humanos encontrados em Portugal, ele encontra extensos vestígios de sangue africano correndo nas veias dos portugueses. Segundo ele, esse povo era composto pela mistura de sangue europeu com sangue mouro e de outros povos norte-africanos. Mistura semelhante deve ocorrer na Espanha, cujas mulheres são contadas entre as mais belas do mundo (assim como as brasileiras).
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Eu tenho sangue africano da parte do meu pai e a minha mãe é meio espanhola. A minha avó materna parece uma nórdica (cabelo escuro, olhos verdes e pele clara) pelo que acho que tenho sangue Viking também. O meu irmão é supermoreno (no verão, como o sol, se transforma em mulato) e eu sou mais nórdico. O povo português, á primeira vista pode parecer uma raça mais ao menos uniforme, mas um pouco mais de atenção revela que há de tudo. Brancos com estranhos narizes á africana, morenas de olhos azuis e verdes... há o estilo nórdico, alguns parecem muçulmanos (sobretudo no sul de Portugal. Enfim... geneticamente os Portugueses são dos mais misturados do mundo.

Trancado