O valor da auto-crítica

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Cris
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O valor da auto-crítica

Mensagem por Cris »

O Valor da auto-crítica

Cristiane Leporace



Estive lendo um livro recentemente e até o indico para quem quiser, porque ele não só me abriu os olhos mais uma vez para algumas coisas que eu já havia aprendido a fazer, como também foi referencial para o curso que acabei de aplicar no meu trabalho. Chama-se " Como fazer amigos e influenciar pessoas", do escritor Dale Carnegie.

Os princípios que o autor ensina neste livro, têm sido aplicado no mundo inteiro, em diversas organizações, dos mais diferentes segmentos,até hoje e é um grande sucesso.

Eu havia prometido ao avatar ontem à tarde, depois da minha explicação para ele no tópico Indiferença, que o citaria aqui neste texto, porque se refere exatamente ao que diz o primeiro capítulo do livro:

Avatar escreveu:Quem desconhece o bálsamo da auto-crítica, que atire quantas pedras quiser...


Muitos de nós, desejamos que nossos amigos, parentes e pessoas de um modo geral, sejam diferentes. Desejamos aconselhar, modificar e melhorar. Isso tudo é muito bom! Mas porque não começar por nós mesmos?

De um ponto de vista egoísta, é muito mais proveitoso olharmos para nós mesmos e depois tentar mudar o outro. A começar em nós, precisamos perceber o porque da nossa rejeição para com o outro, e o que nos faz perceber que o outro nos incomoda. E nós, será que o outro não se incomoda com o que somos e fazemos? Além de ser um pouco menos perigoso, os benefícios de olharmos para dentro de nós, nos faz crescer e como bem diz um dos membros:" Evoluir sempre, tal é a lei!".

Confúncio disse: "Não se queixe da neve no telhado da casa do seu vizinho, quando a soleira da sua porta não está limpa". E é verdade, é muito fácil criticar, é muito fácil apontar, mas nunca paramos e se paramos nos percebemos muitas vezes desconfortáveis com as nossas próprias descobertas ao avaliarmos a nossa consciência e é isso que incomoda, por isso é tão fácil criticar.

A crítica pode matar uma pessoa ou destruir para sempre seus projetos e sonhos. A crítica mordaz fez com que o sensível Thomas Hardy, um dos mais finos romancistas que já apareceram na literatura inglesa, abandonasse para sempre os trabalhos de ficção. A crítica levou Thomas Chatterton, o poeta britânico, ao suicídio.

Benjamim Franklin, um tanto descontrolado na sua juventude, tornou-se tão diplomata e tão hábil em lidar com as pessoas, que foi nomeado embaixador americano na França. O segredo do seu sucesso? "Não falarei mal de nenhum homem", disse ele," e falarei tudo de bom que souber de cada pessoa?"

É um exercício fácil? Claro que não! E eu mesma apanho todos os dias e várias vezes por dia me pego no meio de uma crítica pessoal em relação a minha chefe, ao cara que é folgado e fica jogando no computador em horário de trabalho e finge estar trabalhando e assim por diante.

Eu, tenho uma filha de quase 13 anos, e evito que ela saia com amigas que já têm experiência no campo sexual, isso para mim é uma forma de proteger, mas inconscientemente eu estou criticando a conduta desta amiga dela. Mas eu não me iludo, primeiro, porque não vou estar o tempo todo do lado dela, e segundo eu já fui adolescente e sei como foi isso para mim. Não concordo com a atitude das amigas da minha filha? Sim, é verdade, mas não acho que elas sejam como a expressão popular bem diz:"facéis", apenas acho que elas foram mal orientadas. Algo que tenho feito em relação às amigas da minha filha, é conversar com estas abertadamente sobre sexo, cuidado, relação sexual e falo claramente que ainda que sexo seja uma delícia, principalmente quando ele é bem feito, que elas estão muito novas para tal e também que existem outras formas tão maravilhosas de se divertirem e aproveitarem quanto o sexo. Mayara, por ser madura para a idade que tem, tem amigas de 15/16/17 anos. Sou considerada pelas amigas dela, como uma "tia muito legal e de cabeça aberta".

Quando tratamos com pessoas, lembremo-nos sempre que não estamos tratando com criaturas de lógica. Estamos tratando com criaturas emotivas, criaturas suscetíveis ás observações norteadas pelo orgulho e pela vaidade.

Qualquer pessoa pode criticar, condenar e queixar-se , e segundo livro, que chama claramente estas pessoas de idiotas, a maioria faz isso.
Mas é preciso ter caráter e autocontrole pra ser complacente e saber perdoar.
"Um grande homem demonstra sua grandeza, pelo modo como trata os pequenos", na opinião de Carlyle.

Tem um ditado que eu gosto muito e volta e meia me sinto muito feliz quando consigo aplica-lo em minha vida: "Quando um não quer, dois não brigam", e é verdade. Procuro ter esta postura com a minha chefe por exemplo, que é uma pessoa muito intransigente. Lidar com ela requer algo como sublimar o que ela diz, obviamente e devo confessar que não é sempre, mas depois da nussa última "lavação de roupa suja", acho que desta feita ela vai se acalmar, porque eu já tinha tentado ser assertiva e apontei neste dia todos os defeitos dela, todos mesmo, algo que eu nunca tinha feito até então.

Ela ficou me olhando meio chocada, mas pelo menos eu coloquei para fora quase dois anos de tensão. Agora se ela está irritada, eu simplesmente finjo que não estou ouvindo e que não é comigo e se ela me pergunta, como fez ontem, eu digo, quando a senhora falar direito comigo eu a responderei.


Outro dia , uma amiga me perguntou o que fazia para parar com uma discussão que estava se arrastando há meses, eu disse: ignore-o, não responda, fique calada, finja que ele não existe. As pessoas odeiam ser ignoradas, mas isso sendo bom ou não, funciona mesmo. Quando você anula a presença cheia de veneno do outro, este fica falando para o ar e acaba percebendo que não está sendo "visto" e aí a discussão cessa.

Aprendi com um amigo que se você não "pega" aquilo que o outro diz para você de forma agressiva, e devolve para a pessoa em forma de silêncio, ele ficará sem ação. Percebo isso nas minhas atitudes com este mesmo amigo. Eu confesso que eu tenho um temperamento forte, e sou sanguínea, ele é fleumático e em várias colocações que eu faço "percebo" pela forma que ele coloca as coisas que eu fico sem graça diante da minha eloqüência e ele lá na dele, calmo, não muda nem o tom de voz. Resultado: nunca brigamos, ele é tão assertivo comigo que perco o rumo de casa e me envergonho por estar nervosa.

Abraham Lincoln, era um crítico nato, mandava cartas para seus adversários e os ridicularizava publicamente nos jornais. O que o fez mudar foi um triste incidente pessoal da vida de Lincoln. No outono de 1842, ridicularizou um belicoso político irlandês chamado James shields. Lincon satirizou-o numa carta anônima publicada no Springfield Journal. A cidade foi às gargalhadas e Shieds, orgulhoso e sensível, descobriu o autor da carta e chamou Lincon para um duelo, que no último minuto não aconteceu.

Resultado: ele nunca mais escreveu uma carta insultuosa. Nunca mais ridicularizou ninguém. E, desde então, jamais criticou qualquer pessoa por coisa alguma. Quando a Sra. Lincoln e outros falavam asperamente dos sulistas, Lincoln replicava: "Não os critiquem; são eles exatamente o que nós seriámos sob idênticas condições".

Se você e eu quisermos evitar amanhã um ressentimento que poderá prolongar-se por décadas e durar até a morte, sejamos indulgentes e não critiquemos, pois assunto nenhum justifica a crítica, mas se fizermos, procuremos também fazer uma avaliação a respeito da nossa conduta diária, com nossos pais, amigos, nossos colegas de trabalho, com o próximo. E antes que a palavra venha a boca, procuremos sempre nos colocar no lugar do outro e tentar perceber o que o outro percebe e nós não. Se ao invés de criticarmos, observarmos o porquê da atitude, seremos mais assertivos e consequentemente poderemos evitar que o outro se sinta ferido, invadido ou ridicularizado.

Meu pai é um diplomata nato, e admiro isso demais nele. Eu nunca vi, em momento nenhum da minha vida, meu pai ser agressivo, ser violento, falar coisas ríspidas, nada disso. Nós sempre fomos muito amigos e ele é um dos meus conselheiros, meu pai tem um dom que eu admiro em que o possui, que é esfriar pavio curto, ele faz isso com minha mãe. Meu pai sempre apontou os meus defeitos,mas nunca os fez de forma que eu ficasse traumatizada e da maneira dele eu fui adquirindo valores e princípios que os guardo até hoje. Não tenho problema nenhum com meu pai, mas já tive muitos com minha mãe, por ela ser agressiva por natureza, o famoso pavio curto.

Eu vivia criticando ela, reclamando dela, falando e falando. Até que me dei conta, que aquilo não ia ajudar ela a mudar, mas só a ia deixar mais ressentida e magoada comigo. Tivemos uma boa conversa à 6 anos atrás, na qual ela ficou 2 meses sem falar comigo direito, mas coloquei os pingos nos 'is'. E comecei eu a mudar, a ensinar e mostrar para ela que ela dava conta de ser diferente, mas não foi com palavras, foram minhas atitudes que mudaram com ela. Percebi que tinha que começar por mim, que estava envolvida no problema, mas estava vendo-o de fora, e que ela não iria dar conta de mudar se eu não mudasse minhas atitudes, fiz uma auto-crítica sobre minha conduta com ela e vi que eu também não era um "doce" de pessoa com ela. Foi um longo processo é verdade, mas nossa relação hoje, seis anos depois é muito, muito diferente.

Então, a começar por mim, por você, por nós, que façamos uma auto-crítica, que olhemos para nós , antes de apontar e criticar o outro, que sejamos mais observadores e nos coloquemos no lugar do outro para perceber que assim como eu, você e todo mundo, o outro também tem limitações.

Derrubar é fácil, construir é que é dificil, mas vale a pena.
Cris*
"Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.” Jean-Paul Sartre

Trancado