SEGUNDA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2010
"Nosso Lar" coleciona festival de bobagens e efeitos mal-feitos
É possível analisar o filme “Nosso Lar” sob duas óticas. A da fraca estética do filme, com cenas idílicas completamente desnecessárias para a fita e a da qualidade da história em si, que não ajuda em nada a película. O filme, que vem fazendo grande sucesso entre os espíritas, católicos-espíritas e brasileiros em geral que gostam das histórias de Chico Xavier, conta a história do médico André Luiz, que ao morrer se depara com a “vida após a vida”.
Assim que ele morre, vai parar no que os espíritas chamam de “umbral”, cujo cenário é uma cópia mal-feita dos lugares tenebrosos da Terra Média do" Senhor dos anéis". Lá ele encontra os espíritos obsessores, maus como pica-paus e que parecem ter saído do clipe "Thriller", de Michael Jackson, no melhor estilo "zumbi porcamente maquiado". Após sofrer muito, ele é socorrido por espíritos de luz, com suas roupas brancas e cafonas, que com certeza não custaram muito caro para a produção do filme. Então ele é levado para um hospital futurista, no “Nosso Lar”, a colônia espiritual que paria sobre a Terra, conforme conta seu novo camarada, o espírito Lisias lhe conta mais adiante.
Aos poucos, André vai percebendo que não se livrou do capitalismo: precisa trabalhar para poder ver sua família, para poder usar uma espécie de lan house espiritual, com direito a computadores. Em um momento, André é levado para a casa de amigos, onde toma novamente uma bendita sopa servida pelos espíritos. Ou seja, se você morrer e sentir saudade do churrasquinho camarada, esqueça.
O mundo espiritual é mostrado no filme como uma mistura de Brasília com cidade do futuro, com direito a ônibus voadores e uma estrutura burocrática, com ministros, governadores e hospitais públicos. Gostaria que fosse explicado se esta inchada e grande máquina pública surgiu democraticamente ou se é uma espécie de ditadura, mas isto ninguém conta na história.
Aliás, o enredo, inspirado no livro de Chico Xavier, é recheado de críticas e indiretas aos céticos. André Luiz, que era cético durante a vida, ouve frases do tipo “ ceticismo só dura até a morte” e ao ver um grande prédio pomposo e branco na colônia espiritual, ele fala “Meu Deus”. Seu amigo Lísias então responde, com sarcasmo: “Ah, então você acredita nele..pensei que fosse um ateu graças à Deus”.
Para mim, parece que esta grande obra espírita tem uma espécie de implicância com quem não crê, no estilo “quando vocês morrerem, vão ver só, seus bobos”.
O filme é recheado de passagens clichês e piegas de bom-mocismo, bem características dos livros de Chico Xavier. Ou como diria o grande Machado de Assis, que criticou o espiritismo, “filosofia de armarinho”.
A história têm alguns momentos que parecem puro plágio de “Ghost”, como quando André ensina sua filha à tocar piano. Apesar de uma boa parte da mídia ter elogiado os efeitos especiais, achei-os todos muito fracos. O filme é tratado surpreendentemente como um relato verídico, como quando nos créditos finais é dito que nosso espírito boa-praça André ainda trabalha em Nosso Lar.
Comecei o artigo falando sobre como é possível analisar o filme. Se você acredita em toda esta história de reencarnação, vai sair do cinema chorando, emocionado e acreditando que ao morrer vai viver em um mundo colorido, florido e com concertos de música clássica em uma colina verdejante sob o sol. Porém se o espectador for cético, não ver nenhuma evidência para acreditar nesta história clichê e completamente irreal, vai lembrar que já fizeram filmes bem melhores do que este, onde se incluem quase todos da história do cinema nacional.
“Mas você não viu nada de positivo na história?”, me perguntarão alguns. Ao chegar em “Nosso Lar”, André é tratado como suicida, por ter tido uma vida desregrada e nababesca. Será que alguém deixa de ser sedentário por causa das obras espíritas? Talvez, mas não é preciso ler ou assistir toda esta história floreada para perceber isto, cujas consequências são sentidas em vida e não após a morte, obviamente. O filme também têm algumas pinceladas sobre caridade e ajuda ao próximo, a qual é totalmente independente da crença floreada espírita.
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“Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar” (Carl Sagan)
"Há males que vem pra fuder com tudo mesmo"