Acauan escreveu:Pelo que entendi, o tom das defesas da repressão assassina promovida por Augusto Pinochet é o velho e conhecido "os fins justificam os meios", que Maquiavel nunca disse, mas é atribuído a ele pelo conjunto da obra, justa ou injustamente.
Se os fins justificam os meios, desaparece o fundamento moral que permite condenar o nazismo e o comunismo, dado que estas ideologias se propunham a construir uma sociedade perfeita da qual bilhões ou trilhões de pessoas se beneficiariam por pelo menos mil anos, na proposta nacional-socialista, ou por toda a História, equivalente Marxista-Leninista da eternidade, objetivos que justificariam, na opinião dos partidários dos fins, o extermínio de milhões, uma vez que suas mortes representariam um preço pequeno a pagar pelo bem-bom para tantos que viria sabe-se-lá-quando.
Para os que acreditam nos valores da Civilização Ocidental, vale a pena voltar algum tempo atrás, quando, acima dos interesses de quem quer que fosse, foi imposta a todos a premissa de que todo Homem é inocente até que se prove sua culpa.
O desdobramento desta premissa dizia que todo Homem acusado de um crime tem o direito de ser julgado por um tribunal imparcial, constituído de seus iguais, que com base em provas decidirá por sua inocência ou culpa e qual a pena justa que lhe deve ser imputada.
Quem defende a execução sumária de pessoas por motivos ideológicos atenta contra os valores fundamentais de nossa civilização e assim, ironicamente, se alinha junto àqueles que por suspeita de defenderem ideologias que atentam contra estes valores foram sumariamente assassinados.
Ninguém aqui, que demonstrou qualquer grau de "afinidade" com as idéias de Pinochet, defendeu a tese de que os fins justificam os meios.
No máximo se disse - e alguns em tom de brincadeira - que comunistas merecem mesmo morrer. E só. Partir daí a dizer que o assassinato sumário de supostos comunistas tenha sido justo é, absolutamente, outra história. E isso pode ser confirmado por vários posts emitidos por mim, pelo cabeção e pelo Encosto, por exemplo.
O que aqui se pretendeu deixar claro é que Pinochet não é o monstro facínora que vêm sendo pintado pela mídia sensacionalista, a mesma que faz questão de incensar Fidel Castro. As bases que este deixou para os avanços econômicos e educacionais no Chile são inegáveis; o favor que prestou à sua nação, ao barrar uma revolução trotskista que transformaria seu país em uma nova Cuba, também é inegável. O que não o exime de suas faltas.
Mesmo os alguns dos mais ultra-conservadores defensores da pena de morte (como OF, da Montfort) defendem que esta não pode haver sem ter sido precedida por um julgamento. E essa foi a falha capital do regime chileno.
Não foram os 30 milhões de mortos, como querem uns, nem os diamantes equivalentes a dois anos de toda a produção mundial, como querem outros. Foi esta a sua falha. Mas há de se considerar a impossibilidade prática de julgamentos em massa, quando em clima de guerra civil. Sim, não estamos falando da Cuba de tempos de paz, que manda inúmeros ao
paredón. Estamos falando de um país à beira da convulsão, onde agir rápido era fundamental, para que não se implantasse
ad eternum um clima tribal, ao estilo do que se sucedeu nos países africanos que não puderam sufocar suas milícias "populares", "operárias" e "patrióticas".
Ademais, os esquerdinhas de plantão pedem a cabeça de Pinochet, mas pedem clemência a Saddam, que usou armas químicas contra seu próprio povo, em tempos de paz, e fez questão de humilhar de todas as formas possíveis os seus adversários.
Eis a lógica dos que querem mandar à fogueira alguém que merecia uma estadia no purgatório, antes de receber as suas 72 virgens e sentar-se à mesa dos eternos guerreiros do Valhallah...