user f.k.a. Cabeção escreveu:
O que voce acabou de citar resume meu ponto de vista: os custos de producao e suas variacoes afetam a oferta de bens e portanto a utilidade marginal dos mesmos. Maior a escassez, maior a utilidade das unidades a serem negociadas no mercado.
Se voce estivesse lendo o que eu escrevi perceberia que essa e exatamente a forma como eu descrevi o efeito indireto dos custos nos precos, que nao tem nada a ver com a sua visao de "complementaridade logica", como se tudo que tem valor tivesse custo e tudo que tem custo tivesse valor. Adiante nos veremos como voce lida com esse problema de uma forma completamente falaciosa.
Ter valor de troca não é sinônimo de ser valioso. “Ser valioso” é até uma medida obscura. Um Honda Biz é valioso? Depende. Ele tem pouco valor se comparado a um Audi A8. Valor de troca é um conceito que envolve um exercício comparativo.
Em determinadas circunstâncias, variações nos custos de produção
DETERMINAM TOTALMENTE as variações no grau de utilidade marginal. Imagine duas mercadorias (A e B) que tenham os mesmos custos de produção e a mesma função utilidade. Se só há um aumento no custo de produção, haverá um choque de oferta desfavorável. Se esta causar um aumento de 10% no preço de A em relação a B, então se pode dizer que a variação no valor de troca entre estas duas mercadorias foi
TOTALMENTE DETERMINADA pela variação nos custos de produção. Este é o caso de uma função de função. Outro exemplo similar. Se só A determina B, e se só B determina C, então A determina C e B é uma mera variável INDUZIDA. Se B não fosse determinada por A ou por qualquer outra variável, ela seria uma variável AUTÔNOMA e totalmente responsável pela determinação de C. No exemplo hipotético que dei, a variação do grau de utilidade marginal faz o papel de variável INDUZIDA pela variação nos custos de produção.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Ou seja, voce esta apenas inventando conceitos para evitar de assumir que o meu ponto de vista esta fundamentalmente correto: o seu conceito de nao-mercadoria e exatamente o que eu vinha dizendo a respeito de existir uma infinidade de bens ou servicos concebiveis e potencialmente realizaveis, cujo custo de producao seria alto e o valor seria baixo. Nao ha necessidade mesmo para o valor ser nulo, algo pode ser em alguma medida util, mas seu custo ser tao grande que ninguem se interessara em produzir.
Não-mercadoria não é um conceito que inventei. Não-mercadoria é apenas aquilo que não é mercadoria. Mercadoria, por definição, é um objeto externo que satisfaz uma necessidade humana de qualquer espécie. Da mesma forma que não se pode dizer que Michael Jackson é mais feliz do que o número 9, você não pode dizer que uma mercadoria tem mais valor de troca do que uma não-mercadoria. É só imaginar a resposta a esta pergunta: "O número 9 é feliz?". Resposta: Não. Ele não é. Mas também, ele NÃO NÃO É. Da mesma forma que o conceito de felicidade só é aplicável a seres sencientes, valor de troca só é um conceito aplicável se houver pelo menos duas mercadorias em discussão. Algo só é mercadoria se é produzido para ser trocado. E valor de troca é algo que tem haver com a idéia de PREÇOS RELATIVOS.
Se você disser que valor de troca deveria ser aplicável a não-mercadorias, então estaria entrando em contradição, porque isto seria o mesmo que invalidar a sua teoria da utilidade marginal favorita. Eu já respirei milhões de litros de ar em toda minha vida. Mas, COM CERTEZA, a soma da utilidade marginal dos litros de ar respirados não foi igual a zero. Entretanto, eu jamais paguei um único centavo por uma tragada de ar atmosférico.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Errado.
Voce nunca pode decidir o quanto voce vai receber. Se assim o fosse, todos escolheriam receber tudo em troca de nada, o que e evidentemente absurdo.
A comparação que você estava fazendo era entre uma economia de escambo e uma economia capitalista que usa moeda. Na economia de escambo, É POSSÍVEL SIM decidir o quanto vai receber. Se fulano é um padeiro e sicrano um é pizzaiolo, ambos podem chegar a um acordo para trocar um quilo de pão por um quilo de pizza. Neste caso, obviamente eles estão postulando o valor de troca “um quilo de pão= um quilo de pizza”. Em uma economia de escambo uma decisão de ofertar um certo montante de produtos necessariamente implica também uma decisão de aceitar como pagamento, e portanto de demandar, uma quantidade de produtos do mesmo valor. Logo, neste caso, o valor real da oferta agregada sempre é igual ao valor real da demanda agregada. E isso NÃO necessariamente acontece numa economia capitalista que usa moeda.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Voce esta apenas empregando random talk como se fosse um argumento.
Veja, voce ja deu claras demonstracoes de desconhecer os fundamentos basicos de um mercado simples como o do escambo entre duas pessoas e dois artigos.
Antes de fazer hipoteses avancadas sobre conceitos complexos e necessario estar bastante seguro de compreender o que se passa na base, como o ser humano age e como o processo de mercado se produz.
Primeiro, ao analisar essas situacoes como se fossem dados da natureza que podemos hipotetizar, e que nao tivessem causas ligadas a fenomenos mais simples, e a principio um erro.
"Desemprego", "escassez de consumo", "rigidez do salario real" sao todos resultados de certas interferencias no funcionamento do sistema de precos do mercado, e sem compreender a natureza dessas interferencias, fazer qualquer suposicao ou hipotese arriscada sobre o comportamento dessas variaveis e um simples exercicio de futilidade.
No livre mercado existem dois e apenas dois tipos de desempregado
"Desemprego", "escassez de consumo", "rigidez do salario real" sao todos resultados de certas interferencias no funcionamento do sistema de precos do mercado, e sem compreender a natureza dessas interferencias, fazer qualquer suposicao ou hipotese arriscada sobre o comportamento dessas variaveis e um simples exercicio de futilidade.
Você é que está entendendo nada. Eu falei da diferença entre economia de escambo e uma economia capitalista que usa moeda. Na primeira, o valor da oferta agregada sempre é igual ao da demanda agregada. No segundo caso, se não há equilíbrio no mercado de capitais, o valor REAL da oferta agregada NÃO É igual ao valor REAL da demanda agregada. Só há equilíbrio no mercado de capitais desde que: as taxas de juros reais sejam perfeitamente “flexíveis” e que exista uma função investimento “bem comportada” e elástica em relação à taxa de juros. Se isto não acontece, como no caso de a taxa de juros for rígida por algum motivo, dizer que a queda do preço do fator de produção que está em excesso de oferta iria trazer a economia de volta ao "equilíbrio de mercado no mercado de investimento e poupança" é errado, porque a queda nos salários nominais no caso de desemprego certamente AUMENTARIA a taxa real de juros, uma vez que a deflação de salários e preços ocorreria tendo como pano de fundo uma taxa nominal de juros fixa, causando uma queda no investimento. Todas estas coisas podem ocorrer mesmo que os preços de TODOS os fatores de produção (capital e trabalho) sejam INFINITAMENTE FLEXÍVEIS.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Errado. Alias, o conceito de equilibrio geral Walrasiano sequer e tido como fundamental pelos Austriacos. Em Acao Humana, Mises o tratou como "Economia uniformemente circular", que seria o estado de alocacao de recursos para o qual convergiria um determinado sistema economico se os dados como preferencias subjetivas, conhecimento cientifico e tecnologico, e potencialidades para producao de novos estoques fossem conservados constantes, o que nao e uma hipotese realista. E um conceito util como constructo mental para uma situacao ideal, e que pode servir como explicacao para o transcorrer instantaneo dos eventos numa sociedade, mas que nunca se realiza como estado da natureza.
Eu falei em “Lei de Walras”. Você sabe o que é isso? Ela afirma que todo excesso de oferta de um bem implica num excesso de demanda por outro bem. A conseqüência disso é que a superprodução relativa seria possível, mas a superprodução absoluta supostamente seria algo impossível (o valor real da oferta agregada sempre seria igual ao valor real da demanda agregada). O Mises foi para o túmulo achando que ela era válida em qualquer situação imaginável (
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=159 ), o que mostra que ele ignorava um princípio básico da macroeconomia moderna que já demonstrei aqui.
Os esclarecimentos terminam por aqui, porque a discussão já está tomando caminhos diferentes do objetivo deste tópico.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes