Johnny escreveu:Apo escreveu:Problemas tivemos quando vimos pais desaparecerem misteriosamente, não se podia falar determinadas coisas na escola e nem na casa dos outros.
Desculpe-me APO, mas estamos falando mesmo do Brasil? Eu e nem meus parentes nunca tivemos noticia disso. Quanto a sumir gente contra o governo, bem, você deveria conhecer o Nordeste. Verá que aqui a sua ditadura está mais viva do que nunca...
Bom, eu não sei como a ditadura e a repressão afetaram o Brasil inteiro, se com a mesma intensidade em todos os lugares. Eu tinha 4 anos quando começou, ou seja quando entrei prá escola, em 67, o "climão" já estava no ar.
Sou cria de capital, centro de cidade, escola pública cercada pelos órgãos públicos todos a minha volta. O pátio da minha escola era virado para os fundos do Palácio do Governo do Estado. Meus recreios era na base do sanduíche regado à escopetas empunhadas e marchinhas militares.
Em 69, o sobrinho do Médici foi estudar justamente na minha escola e na minha sala de aula. Eu tinha 9 anos e fomos avisados que cuidássemos para não falar do tio dele.
Na minha escola tinha professor que era do DOPS. E na escola que fui estudar no ensino médio também tive um professor que era do DOPS. Minhas amigas que tinham parentes ligados ao poder público, tinham sempre umas conversas que eu não entendia muito, mas que davam conta de alguém que estava sendo procurado e por isto andava meio escondido.
Uma amiga minha que participava de um grupo de teatro mambembe, que se chamava " Óinóisaquitravéis", que ouriçava o governo militar, vivia sendo ameaçada e uma vez foi detida por causa de um texto de uma peça.
Era muita coisa rolando. Eu era novinha e fui percebendo as coisas aos poucos. Meu pai evitava falar.
Apo escreveu:As escolas públicas eram cheias de símbolos militares, os quartéis da cidade esbanjavam armas empunhadas pelos soldados em todo lugar, a literatura era controlada, o cheiro que se respirava era de repressão.
Estudei em escola pública e não vi nada disso. Mas isso no E.S.P.. Não sei se no RS foi diferente. Quanto a literatura ser controlada, por que então na UNICAMP sempre pediam (E PEDEM) autores brasileiros e tudo o mais?
Quanto a soldados em todo lugar, ainda acho que não estamos falando do mesmo país...
Autores brasileiros que mostravam coisas da nossa terra, ufanismo, cultura nacional, mas jamais autores socialistas. Eu lembro de um cara na escola que foi chamado à secretaria, pois ele arrancou uma página do Capital e escondeu dentro do caderno, para não andar com o livro todo.
Universidade eu entrei em 79, o ano da abertura, peguei em março a posse do Figueiredo. Foi quando começou a se poder ouvir músicas que tinham sido censuradas, inclusive as peças do Chico e outras coisas mais. Eu matava a aula e ia a tudo. Peças, ciclos de filmes nacionais e estrangeiros que estavam guardados em gavetas...era uma farra.
É...talvez não tenhamos tido a mesma percepção. Algumas crianças e adolescentes não se ligavam e achavam que aquilo tudo era muito normal.
Apo escreveu:Vi muitas amigas adolescentes serem ameaçadas e a suas famílias por qualquer gracinha feita com algum símbolo nacional ( tipo desenhar a bandeira noutrea cor, umas bobagens...).
Faça isso com a bandeira dos estados unidos na frente de um americano...[/quote]
Tu não tá entendendo, Johnny...Lá, os símbolos podem ser usados, coloridos, estampados, vendidos, é livre. Mas claro, respeitados, mas com liberdade de expressão. Eles adoram usar os símbolos em etiquetas, em cadernos, nas frentes das casas.
Aqui era proibido usar os símbolos assim civilmente. Apenas em ocasiões cívicas. Não podia poe ex, usar uma calça jeans com uma bandeira do Brasil no traseiro. Nem fazer marketing com símbolos da Pátria. Era crime. Havia mercado negro de roupas militares, por ex, escondido. Principalmente coturnos.
Apo escreveu:A repressão estava nos meios de comunicação, as notícias davam medo.
Se tinha repressão, como tinha noticias?
Ué...onde há repressão, há tentativa de burlar. As notícias oficiais eram sempre de cunho governista, de interesse do governo, alteradas, mexidas, adulteradas, com coisas que se percebia nas entrelinhas da mídia que se arriscava e amanhecia fechada ou com uma ameaça de bomba. Assim como shows públicos, com letras de músicas que tinham sido censuradas e modificadas, e que o cantor resolvia cantar a letra verdadeira e a polícia acabava com a brincadeira. Impossível que nunca ouviste falar nada disto...
Nunca ouviu falar da bomba na banca de Jornal que vendia o Tribuna da Imprensa?
Não lembra disto?
"Manchete da TRIBUNA DA IMPRENSA de 25 de janeiro de 1968
Governo tenta arrolhar CL
SÃO PAULO (Sucursal) - O governo federal está tomando várias medidas para impedir a divulgação do pronunciamento do sr. Carlos Lacerda, depois de amanhã, em São Paulo, quando paraninfará uma turma de economistas. A censura federal já avisou a todas as emissoras de rádio e televisão que "ignorem a permanência do ex-governador carioca nesta capital", acrescentando que o pronunciamento de CL não deve ser divulgado. Como as emissoras necessitam de certificados da censura para os demais programas, naturalmente o pedido toma foros de imposição. Todos os repórteres políticos das emissoras de rádio e televisão receberam ordens das respectivas direções, para não dar cobertura ao sr. Carlos Lacerda.
No link abaixo você confere a manchete completa:
http://www.tribunadaimprensa.com.br/40anos.asp"
Apo escreveu:Pais de amigos que estavam ligados às forças armadas eram tratados com muito mais "respeito". A gente baixava os olhos para a figura de um pai milico. Até o síndico do prédio se fosse militar mandava de outra forma.
Policiais, juizes, politicos de poder...até aqui não mudou nada, só a farda...
Sim. São duas porcarias. Foi o que eu disse. Mas a repressão era muito grave. Agora a gente o que quiser na escola e em qualquer lugar.
Apo escreveu:De resto ( e por causa disto ), é evidente que as coisas funcionavam muito melhor do que hoje.
Pode ser que umas funcionavam melhor mesmo. Não vou dizer que era perfeito. Mas pelo menos nas universidades federais não se vendia drogas a céu aberto.
A céu aberto, não. Mas as seringas estavam sempre aparecendo enfiadas em vasos nos jardins atrás das escolas, por exemplo. Droga é outro assunto.
Apo escreveu:Mas o MOBRAL sempre foi um engodo, o MEC era totalmente fardado e a gente não questionava cadeiras como Moral e Cívica, OSPB e outras coisas do gênero.
Namorei uma ,mulher (10 anos mais velha) que era professora do Mobral. Ela gostava e dizia que era um meio de sociabilizar pessoas à margem da sociedade. O que temos hoje? Telecurso?
Então. Era uma droga mentirosa e assim continua. Tudo populismo barato. Já tinha telecurso, supletivo e estas coisas. Um lixo. A fórmula e a retórica do Lula é a mesma com todas as letras daquela época. Ele apenas copia a fórmula, pois nem para criar alguma sacanagem diferente ele serve. Lembre-se, eles aprenderam direitinho naquela época.
Apo escreveu:Eu já disse quinhentas vezes aqui: não precisa ser de um jeito e nem de outro.
o Brasil parece que não consegue funcionar sem mão de ferro. Vira esta baderna e esta putaria.
Isso se chama imaturidade politica. Teoricamente, com o tempo, deveremos ter consciência politica e escolher melhor nossos governantes. Mas isso acontecerá SE E SOMENTE SE, houver um patriotismo e uma vontade SOCIAL de querer mudar, tanto na educação cívica quanto no tratamento pessoa a pessoa. Se continuarmos na lei de Gerson, esqueça, as coisas vão continuar a piorar.
Yep. Lamento informar...mas o povo gosta.
Apo escreveu:É isto que me deixa tão insatisfeita.
Por isto que não sou de direita nem de esquerda ( pelo menos não nestes 2 moldes, um mais podre do que o outro).
Mas não desista. Se estiver fazendo em sua casa o necessário para que os seus não sejam iguais aos outros, já é um começo.
Bjs
Sim, eu faço. Mas já viu, né...as pedradas são velozes.
Beijos!