Bento XVI recordou que Jesus veio "dizer-nos que nos quer a todos no Paraíso e que o inferno, do qual pouco se fala atualmente, existe e é eterno para aqueles que fecham o coração a seu amor". Sobre essas palavras o Prior da Comunidade Ecumênica de Bose, Pe. Enzo Bianchi, concedeu uma entrevista à Rádio Vaticano.
Acho intrigante o que afirmam os Papas. Primeiro João Paulo II afirmou que o inferno não existe como lugar específico e determinado. E agora, o seu sucessor, Bento XVI, quer dar a idéia de que o mesmo existe e é eterno. Ou seja, os próprios papas se contradizem.
Postei, em outro tópico, o que JP II afirmara em 2001. Vejamos :
http://antigo.religiaoeveneno.com.br/viewtopic.php?p=208070#208070Benetton escreveu:
É difícil para um Teísta criticar outra Religião aqui, sem sofrer represálias, mas minha intenção é abordar o fato, procurando obter subsídios para melhor compreensão do mesmo.
Analisemos uma parte representativa dessa população dita Cristã, ou seja, os católicos. Segundo o que consta no catecismo e as convenientes interpretações bíblicas dos fiéis e seus dirigentes, o inferno, para eles, é indiscutível. E, apenas como exemplo das várias passagens da bíblia sobre esse tema, citemos :
"Será atormentado pelo fogo e pelo enxofre diante dos seus santos anjos e do Cordeiro. A fumaça do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos. Não terão descanso algum, dia e noite, ...". (Ap 14,11)
Mas o interessante é que o próprio Papa ( J.P II ) já contestava essa interpretação literal das Escrituras, e rejeitava a idéia de um inferno nos moldes de Dante, dirigindo suas palavras de acordo com um horizonte mais aberto e flexível :
O PRÓPRIO PAPA JOÃO PAULO II, a quem os católicos deviam e continuam a dever SUBMISSÃO E OBEDIÊNCIA, altera as seculares determinações, e não obstante o que foi citado em apocalipse acima, poderemos observar sem "CONTROVÉRSIAS" o que se segue :
[center]REVISTA VEJA, DE DEZ/2001
O PAPA PODE INVENTAR ??? [/center]
“Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica retirou discretamente de seus ensinamentos as terríveis histórias de punição após a morte. Há dois anos, o papa João Paulo II decidiu que o INFERNO NÃO É UM LUGAR FÍSICO, ONDE AS PESSOAS SERIAM COZIDAS EM FOGO ETERNO, COMO SE APREGOOU DURANTE SÉCULOS, mas um "estado da alma", em que o sofrimento do pecador seria causado não mais pelas chamas, e sim pela ausência de Deus. A edição em português do Catecismo da Igreja Católica, que é o código de conduta e de princípios da Santa Sé, tem 734 páginas. De seus 2.865 parágrafos, só seis são dedicados ao inferno, três ao purgatório e onze ao paraíso.”
E a história se repete com relação ao Limbo para criancinhas não batizadas. Embora não fosse um Dogma, essa idéia entre os católicos prevaleceu por séculos, mas já fez a Sua Santidade rever alguns conceitos das "verdades divinas", principalmente após o Concílio Vaticano II.
Creio que daqui a algumas décadas, muito do que os papas arrogam hoje como verdade absoluta e revelada sob a inspiração do "Espírito-Santo", poderão ser revisadas, e o bom e velho "Espírito-Santo" deverá passar por umas aulas de reciclagem.
E aí, o Acauan explica :http://antigo.religiaoeveneno.com.br/viewtopic.php?p=208313#208313Acauan escreveu:
Benetton,
Das citações sobre o inferno você omitiu minha favorita, que informa que lá é o lugar onde " ... o bicho que rói nunca morre, e o fogo nunca apaga.(Marcos 9)".
É interessante questionar as motivações de um Deus de bondade infinita que não só criou almas imortais para poder tortura-las eternamente caso o desobedecessem, como também criou vermes imortais, imunes às chamas eternas, para roer para sempre as estranhas das tais almas, que, sabe-se lá porque mostram atributos tão materiais quanto os dos bichos que os roem sem morrer.
Dito isto, cabe lembrar que não importa o que o papa fulano ou beltrano tenha dito, seu pronunciamento só tem autoridade infalível junto ao rebanho católico se for feito ex-cathedra, ou seja, com o Pontífice explicitando que fala da cadeira de Pedro e, portanto, seu pronunciamento é irrevogável.
É óbvio que Papa nenhum se arrisca a fazer um pronunciamento destes antes que o último teólogo da Santa Sé seja consultado e concorde que não há riscos.
Por estas e outras que todos os pronunciamentos do Karol sobre o inferno não têm autoridade infalível, ou seja, são tidos como reflexões filosóficas de um Papa, que podem sem complementadas ou contestadas pelas de um sucessor.
Assim, o Vaticano pode sutilmente, ao longo dos séculos substituir a idéia de um inferno literal com chamas vivas consumindo seja lá o que do que seriam feitas as almas, pela idéia mais amena de que o inferno é a ausência de Deus, seja lá o que isto signifique na prática.
A pior parte sobra para os fundamentalistas cristãos, necessariamente protestantes de certas vertentes, que têm que defender a interpretação literal de que Deus vai fazer churrasquinho per secula seculorum de qualquer um que não se apresente como cristão no dia do juízo, e mesmo assim afirmar que este Deus é bom e justo.
E tem a minúscula vertente auto-denominada aniquilacionista, que diz que Deus é o máximo porque não vai punir eternamente os não-cristãos, vai apenas extermina-los.
Ô..., melhorou muito...!
Muito bem. Então quando um Papa não fala ex catedra, suas palavras não tem valor teológico, são apenas elucubrações particulares e os fiéis não têm que aceitar incondicionalmente. "Pra" que servem esses pronunciamentos, então ?
Se isso vale para o que disse JP II, então vale também para Bento XVI, ou seja, suas palavras não dogmáticas nada valem para desacreditar ou credenciar algo que é apenas bíblico.
Fatos como esses só servem para mostrar que as inspirações e pronunciamentos papais não são monitoradas pelo todo poderoso "espírito-santo".
Mas duvido muito, caso fosse, hipoteticamente, perguntado a JP II ou Bento XVI, ( considerando que os seus pronunciamentos não têm a autoridade da
"cadeira de Pedro" ), se eles teriam dispensado o respaldo do infalível dom divino, mesmo em declarações ex catedras.
Afinal, eles são papas, e as assessorias "deíficas" não iriam permitir que
"os representantes do Altíssimo aqui na terra" falassem bobagens.
E talvez, daqui a alguns anos, o próximo papa derrube o que disse Bento XVI e volte a afirmar, como João Paulo II, que o inferno não é um lugar físico, onde as pessoas seriam cozidas em fogo eterno, como se apregoou durante séculos.
Qual papa vai ganhar ? Quem dá mais ?
Então, continua valendo :
"Creio que daqui a algumas décadas, muito do que os papas arrogam hoje como verdade absoluta e revelada sob a inspiração do "Espírito-Santo", poderão ser revisadas, e o bom e velho "Espírito-Santo" deverá passar por umas aulas de reciclagem."