Acauan escreveu:Isto não passa de jogo de palavras que não faz sentido algum em si mesmo, apenas desvia a discussão da situação real posta para uma etimologia inventada especialmente para a ocasião.
Tornar-se indiferente àqueles que amou apenas para melhor desfrutar de prazeres disponíveis é egoísmo por definição e não há como negar isto apenas destacando um prefixo do termo.
Tomemos a crença mais comum entre os cristãos, que é a do inferno eterno.
Um ente querido seu está sendo torturado por toda a eternidade, você simplesmente não liga a mínima para que assim possa aproveitar melhor as benesses do paraíso, chama isto de "respeito à escolha individual" para tentar livrar a cara e ainda decreta, por própria conta, que não está sendo egoísta.
A verdade é que além de egoísta está sendo hipócrita e cara de pau.
E quem decide o que é a vontade de Deus, você?
A única coisa que faz algum sentido neste emaranhado de definições criadas especificamente para satisfazer as conveniências que defende é o descarado relativismo semântico na qual se baseia, ou seja, achar que se pode mudar a realidade atribuindo novos significados às palavras.
Pior ainda é decretar com base em suas próprias opiniões que seguir suas opiniões é entregar-se a vontade de Deus, coisa da qual só poderia ter certeza se o próprio o houvesse informado disto, coisa da qual, particularmente, duvido.
Quem decide é o próprio Deus Acauan, o ser humano apenas aceita, mesmo que isso contrarie aquilo que ele em sua ignorância gostaria.
Não se trata de um "jogo de palavras", mas do fato de aceitar essa decisão divina e a condição infernal do ser amado, a despeito do que pessoalmente queremos para ele.
Ele estar sofrendo no inferno, não significa que eu o ignore ou deixe de ama-lo, nem que eu ignore o sofrimento dele.
Significa apenas que eu aceito a decisão de Deus e não sofro com isso.
O problema aqui se atem a incapacidade atual do homem, de compreender o que é estar no controle dos sentimentos, ao invés de ser levado por eles.
Nessa perspectiva os sentimentos desempenham um papel diferente do que estamos acostumados.
Não ser egoísta, significa não ter desejos e repulsas, quereres e não-quereres.
Acauan escreveu:
Você insiste em querer dar às palavras o significado que lhe interessa no momento.
Eu descrevi "compaixão" com base na acepção dada pelo Houaiss e no uso mais cotidiano do termo:
(...)
Ou seja, meu entendimento do conceito reflete o entendimento dado a ele nos últimos seiscentos anos. E o teu entendimento, vem de onde?
Vem do entendimento do que representa estar no controle dos sentimentos ao invés de ser levado por eles.
Você se atem ao sentimento com base em como funciona atualmente, em como ele toma posse de nós.
Eu falo sobre o que ele passa a representar quando somos senhores dele.
O sentimento é produto da mente, estando no controle dela, somos capazes de controla-lo, o que torna esse sentimento algo diferente daquilo a que você está acostumado.
Acauan escreveu:
Quando falo de teologia me refiro a um conjunto de obras históricas-filosóficas, editadas e organizadas, que dão continuidade metódica à interpretação de questões religiosas específicas e gerais.
Verdades universais discutidas por yoguir, místicos e ocultistas têm a consistência intelectual de um pudim de gelatina, analogamente falando.
Eu diria que na maioria dos casos... é o oposto que ocorre.
São os pontos de vista limitados da teologia tradicional, que normalmente tem essa consistência intelectual, visto que se atem a fontes limitadas escolhidas de forma arbitraria, mal informada e dogmática.
Acauan escreveu:
Do cristianismo é que não foi, pois a posição oficial da Santa Sé claramente explícita no Catecismo Católico define o inferno como um lugar de condenação, não como um estado mental. Protestantes, com exceção dos aniquilacionistas e algumas pouquíssimas vertentes liberais, mantém em maior ou menor grau a crença no lago de fogo onde o verme que o rói nunca morre etc.
Estou falando sobre o cristianismo, não sobre o catolicismo.
Acauan escreveu:
E o cristianismo não é ambíguo a respeito coisa nenhuma, desde que você consulte as fontes teológicas certas, de Santo Agostinho a Bento XVI para os católicos e os versículos bíblicos referentes, para a interpretação protestante, quase sempre literal.
Sim ele é ambíguo.
O inferno na biblia cristã, pode ser interpretado de diferentes formas, aceita diferentes hipóteses não refutáveis com base na biblia.
Acauan escreveu:[color=yellow]
O inferno é parte essencial da doutrina cristã que posiciona o homem no centro de extremos e opostos entre os quais deve conviver e fazer suas escolhas, espírito e carne, natural e divino, individualidade e coletividade e, claro, Céu e Inferno.
As interpretações ou descrições podem variar conforme a época, mas o Inferno se inclui na própria natureza do cristianismo de ser uma religião que prega a salvação da alma pela escolha individual, logo se há uma salvação a ser escolhida, deve haver um oposto para quem opta por não escolhê-la.
Sim, o oposto é continuar aqui na terra sujeito ao sofrimento.
O "reino dos céus" é um estado mental e uma forma das pessoas se comportarem, algo que só pode ser conseguido ao seguir as praticas que são ensinadas.
Ou a pessoa faz isso, ou não entra nesse "estado", não entra no "reino dos céus"... não entrar no reino dos céus é estar no inferno.
Lembrando que o cristianismo nasce como uma seita judaica, com base em um judeu que pregava o judaísmo real, uma religião que fala da mesma verdade universal, como qualquer outra religião.
Acauan escreveu:
Esta concepção é exclusiva do Cristianismo, ainda assim excluindo o Calvinismo predestinista, segundo o qual a escolha individual humana não existe.
O inferno tem concepção totalmente diferente do Islã, apesar de descrito em termos análogos ao inferno cristão e só pode sair abobrinha de se tentar correlacionar o inferno cristão com religiões orientais, animistas ou tribais.
O seu desconhecimento de que essas outras religiões falam sobre a mesma verdade universal que é tema no cristianismo, não torna correlaciona-las uma abobrinha.
Cristo fala sobre o mesmo "reino dos céus", "Deus panenteista", a mesma "yoga" (praticas que levam a mente a seu estado desperto), "karma", "pecado", etc... que religiosos, como Lao Tsé, Krishna e outros tantos.
É isso que torna a teologia tradicional um tanto estúpida, coloca todo o questionamento em Cristo, enquanto ignora outros que falam sobre EXATAMENTE a mesma coisa.
Seria como tentar discutir toda a filosofia existencialista, tendo base apenas em Albert Camus, enquanto se ignora todo o resto.