André escreveu:Peguemos uma das máximas do liberalismo econômico ortodoxo. O papel do Estado se restringiria, na economia, a fazer valer os contratos. Ora isso não reconhece as relações de poder que se desenvolvem na sociedade. Com base nessa perspectiva contratadores no inicio do séc. XX no Brasil, assim como em diversos lugares, conseguiam jornadas de trabalho de mais de 12 horas, e algumas situações de semi-escravidão. Alguém pode dizer, a, mas a pessoa era livre para se não quisesse assinar o contrato e não trabalhar para esse. Mas o contratado diferente do contratador, precisa disso para sobreviver, e existindo outros que se submetam a essas condições ele aceita apenas por isso. Foi ai que vieram as lutas trabalhistas, pelos direitos do trabalhador, na arena democrática, e impedir que a liberdade de uns se transformasse em opressão contra outros. As greves e outros mecanismos dos mais organizados ampliavam o poder de barganha com os patrões. Mas ainda assim o poder era maior nos últimos.
Estou começando a perceber isso também. Dizer que os lucros dos empresários não são abusivos soa como um contra-senso. Uma loja de roupas muito famosa (ao menos aqui no Rio de Janeiro) chamada TACO, por exemplo, paga aos funcionários apenas comissão e Rio- Card (no valor de 80,00).
Cada funcionário da loja ganha 3,5% do valor total vendido. O fluxo de venda de uma loja da TACO, gira numa média de aproximadamente 200 mil reais mensais. Apenas 3,5% ficam para os vendedores. Existe um sistema de cotas onde o vendedor terá um ganho de 4,5%. A cota sempre é dificílima para ser batida.
A conseqüência disso é uma competição cruel entre os funcionários, um verdadeiro ninho de cobra. E muitos deles estão lá por obrigação mesmo, por não terem tido melhores oportunidades. A cobrança é cruel, não há preocupação humana absolutamente nenhuma e a idéia é somente lucro, lucro e lucro.
Existe, ao meu ver, uma nítida opressão mesmo. Não percebo nenhum respeito humano verdadeiro. Devem existir excessões, mas acredito serem poucas.
André escreveu:O outro elemento é que, se o Estado tem menos obrigações, e o livre mercado, mesmo nos EUA, pais mais rico do mundo, não é capaz de absorver todos, nem de garantir direitos sociais a todos (nos EUA quase 50 milhões não tem seguro de saúde). Uma parcela da população significativa não tem liberdade de escolher, não tem o básico que permita sua ascensão. A escolha depende da liberdade de se escolher, e se vc tem dividas, ou precisa do trabalho para sobreviver, o poder não está em suas mãos. A relação entre controle financeiro e poder, novamente aparece, agora quem tem capital, quem tem poder, tem acesso aos direitos sociais, que nessa sociedade não são direitos, mas um privilegio dos que podem pagar por ele, seja uma universidade cara, seja serviços de saúde...
Também considero que o básico todos deveriam ter. O que seria esse básico? Saúde, segurança, educação e moradia. E isso deveria ser oferecido gratuitamente pelo Estado.
Além disso o Estado deveria fazer cumprir as leis, evitando os possíveis excessos de um mercado livre. Porém, intervir o mínimo possível, somente em casos que realmente não tem jeito.
No resto, cada um pode agir do jeito que quiser, enriquecer mais que o outro, desde que o fundamental esteja sendo devidamente assegurado a todos.
André escreveu:No que tange modelo socioeconômico, estou bem longe dos radicais, seja de direita ou de esquerda. Sou mais radical no modelo de sistema de governo, por não crer muito na representação, e acreditar que uma sociedade mais radicalmente democrática, seria melhor e mais educativa, em termo da cidadania, do que uma que as responsabilidades são muito delegadas. Essa é uma avaliação dos sistemas de governo, e de que um sistema mais aberto e democrático seria melhor para combater corrupção, evitar a influencia excessiva do arbítrio autoritário, tanto da classe política, quanto da elite econômica, e para que o poder de fato representasse os anseios populares.
Até agora concordei com tudo que você disse. Tudo que escrevi foi apenas uma complementação desnecessária.
É neste ponto que não sei até que ponto posso concordar com você. Em tese, concordo, mas isso funcionaria na prática?
Acho que se houvesse investimento da educação, o povo não admitiria uma representação ruim. Elegeria os melhores, os mais aptos...
Pois acho que nosso governo, por exemplo, é reflexo do nível instrucional de nosso povo. Por isso que eles estão lá!
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)