user f.k.a. Cabeção escreveu:A adoção de uma criança por uma associação de dois (ou mais) indivíduos cujos hábitos são inapropriados para a formação de um ambiente familiar saudável deve sim ser vetada, ainda que a liberdade que esses dois (ou mais) indivíduos têm de praticar suas preferências não possa ser questionada.
Sim, sim, essa é uma opinião que se vê por aí. Felizmente, tenderá a ser cada vez mais inexpressiva com o passar do tempo, já que a opinião de que um ambiente familiar formado por homossexuais é "inapropriado" tenderá a regredir cada vez mais. Da mesma forma já se vetou o reconhecimento de qualquer direito a pessoas que conviviam em concubinato e não eram casadas, por isso ser considerado imoral e inapropriado, e argumentava-se que conferir a tutela do Estado a esses relacionamentos iria fazer colapsar toda a sociedade montada sobre a unidade familiar porque supostamente ninguém mais se casaria e a promiscuidade e imoralidade reinariam incontroláveis para sempre. Também já foi por muito tempo da história do Brasil vedado o reconhecimento de qualquer direito a filhos havidos fora do casamento, que não poderiam solicitar herança, não poderiam acionar investigação de paternidade, não poderiam adotar o nome do pai natural e não poderiam ter o mesmo certificado no assento de nascimento, porque isso faria colapsar toda a sociedade montada sobre a unidade familiar, e a unidade familiar e os direitos de filiação só se reconheciam no casamento formal. O Brasil também não contava com o instituto do divórcio até 77, quando a Lei do Divórcio foi introduzida no país, supostamente porque a libertinagem resultante da possibilidade de se divorciar faria colapsar toda a sociedade montada sobre a unidade familiar, ameaçada esta pelos humores volúveis dos cônjuges imorais.
Agora, já com bastante atraso, chegou a vez dos homossexuais. Seguindo a ordem natural das coisas, depois da possibilidade de reconhecimento de união estável para pessoas do mesmo sexo, com os direitos e obrigações a ela inerentes, e depois da já tradicional admissão do companheiro homossexual como segurado e beneficiário da previdência e de contratos dirigidos ao público familiar, como os planos de saúde, chegamos à adoção. Vamos em frente, vamos em frente! É tão bonito ver o próprio conceito de família em mutação!
Geralmente os hábitos que conservadores consideram inapropriados pra serem presenciados pela criança são as demonstrações de afeto e carinho entre pais do mesmo sexo. Isso não é considerado inapropriado entre casais de homem e mulher... a interessante lógica disso é que essas demonstrações irão condicionar a sexualidade da criança na infância, juventude e vida adulta, mas esse temor falha em explicar como pessoas homossexuais são geradas em ambientes familiares tradicionais e muitas vezes até ortodoxos, que rejeitam a sexualidade delas. A heterossexualidade paterna deveria condicionar a heterossexualidade da prole que com esses pais convivem, não vejo como se concluir, já que isso não acontece, que a homossexualidade paterna vá condicionar a homossexualidade da prole. A não ser, talvez, que se permaneça tratando a homossexualidade como "desvio", e que nas fases de formação da identidade sexual o convívio com o "desvio" vá lesar essa formação, o que não aconteceria com pais "normais". Hummmmmmm. Não é satisfatório. A homossexualidade já não é mais tratada como desvio.
Enfim, a formação da sexualidade ainda comporta muitas questões em aberto. Mas em relação à homossexualidade, a tendência é cada vez mais considerá-la mais uma maneira das pessoas se relacionarem, apenas isso. A identidade sexual infantil está sujeita a muitas influências.