o anátema escreveu:Sabe outra coisa que me faz achar que o racismo é consideravelmente pequeno? A parte dos trabalhadores domésticos. Essa, no meu entendimento da questão, seria a que deveria mostrar maior disparidade racial pela hipótese de racismo, e no entanto é área que menos mostra essa disparidade. Me parece muito mais verossímil que numa relação mais pessoal, o fator racial pesasse mais, do que digamos, na contratação no setor de construção civil; que um racista preferiria muito dar empregos como pedreiros no local de trabalho, mas em casa ter algum branco(a) como empregado(a).
Ué, normalmente o racismo "coloca as pessoas no seu devido lugar", ou seja, a preocupação não é sempre destruir, erradicar ou fazer sumir das vistas a totalidade das pessoas de certa etnia, mas sim muitas vezes colocá-las "em seu devido lugar", como é a notória história do racismo dirigido ao negro. Impedí-los de usufruir dos mesmos ambientes, privilégios e cenas sociais das pessoas opressoras, deixar claro que tal sociedade é divida entre segmentos de pessoas que merecem um status diferenciado, melhor ou pior. Assim, é perfeitamente natural que a maioria dos empregados domésticos seja de negros em uma sociedade racista (prefiro não entrar no mérito da sociedade brasileira ser necessariamente racista a esse ponto), ainda mais que a mão-de-obra negra pra serviços domésticos é muito mais abundante que a branca, no Brasil, e o racismo brasileiro, enviesado e oblíquo, não é forte o bastante a ponto de resistir ao fato de poder pagar menos a um negro do que um branco pra realizar um determinado serviço.
No Brasil ainda há a questão de que as relações sociais domésticas entre pessoas de diferentes faixas de renda, como o empregador e o empregado doméstico, são caracterizadas por um suposto afeto, amizade ou estima recíprocos, "a empregada é parte da família". Francamente, sempre achei isso demasiado ridículo: uma pessoa que você PAGA pra LIMPAR A SUA SUJEIRA é "parte da sua família"? Me poupe. Isso sempre foi um construto cultural usado pra poder cobrar do empregado doméstico mais do que ele necessariamente teria que dar ao empregador por força do vínculo de trabalho. Você vê isso especialmente ativo numa relação que nem mesmo é formalmente de trabalho, que é aquela de famílias da cidade que recebem em seus lares meninas vindas do interior pra, teoricamente, estudarem e desfrutarem de melhores oportunidades de vida em troca de serviços domésticos. Tenho NOJO de gente filha da puta que faz isso, especialmente dessas donas-de-casa gordas e escrotas que exploram até crianças.