Matemática revolucionária

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Re.: Matemática revolucionária

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

zumbi filosófico escreveu:
user f.k.a. Cabeção escreveu:
dreaming escreveu: se vc acredita em neutralidade, é sem dúvida muito ingênuo.



Deixa eu te explicar rapidamente como sao as minhas aulas de matematica.

De manha: Vou a um anfiteatro onde um professor passa a aula enunciando e demonstrando teoremas matematicos.

De tarde: Vou a uma sala de aula onde um professor resolve exercicios relacionados ao conteudo tratado no aula da manha, e tambem chama alguns alunos para resolver exercicios no quadro negro.

De noite: Devo fazer o resto dos exercicios das folhas que foram dadas em sala.

Agora fica por sua conta descobrir onde a neutralidade ideologica foi quebrada nesse modelo pedagogico.


A ideologia está aí não numa forma ativa, mas sim passiva, mais pernciosa por ser difícil de ser detectada.

Enquanto as pessoas lidam diariamente com essas abstrações como apenas números, vão gradual mas inexoravelmente se condicionando a não ver o que está por trás desses números. Enquanto na realidade, os números na maior parte do tempo, uma hora ou outra dizem respeito a seres humanos, ao meio social.

Ocorre assim a banalização da própria humanidade, que deveria ser o principal, e a sociedade fica psicologicamente amortecida ao ver os meros "números" das vítimas do capitalismo ao redor do mundo, nos noticiários, todos os dias.

Nada mais adequado ao capitalismo do que deixar que os números sejam apenas números, sem se importar com o lado social por trás deles, facilitando assim que essa habilidade seja útil no setor financeiro, para cuidar de um tipo de número que só serve ao capitalismo, enquanto outros números são negligenciados, porque o indivíduo se torna insensível, incapaz de distinguir, de diferenciar, que de um lado, os números se referem a tiras de papel pintadas ou peças de metal, e do outro, são vidas humanas.



Nao duvido nada que eles pensem uma variante disso, ou seja, que e ideologico nao ser ideologico durante a aula.

Isso seria uma forma extremada de reacionarismo: professores fazendo exatamente aquilo que se espera deles, ou seja, ensinar uma materia, em vez de usar o seu tempo para divulgar a Revolucao.
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Apáte
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Re.: Matemática revolucionária

Mensagem por Apáte »

dreaming,
Você continua acompanhando o RV ou hoje teve um sinal pra entrar aqui?
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Samael
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Re: Re.: Matemática revolucionária

Mensagem por Samael »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
dreaming escreveu: se vc acredita em neutralidade, é sem dúvida muito ingênuo.



Deixa eu te explicar rapidamente como sao as minhas aulas de matematica.

De manha: Vou a um anfiteatro onde um professor passa a aula enunciando e demonstrando teoremas matematicos.

De tarde: Vou a uma sala de aula onde um professor resolve exercicios relacionados ao conteudo tratado no aula da manha, e tambem chama alguns alunos para resolver exercicios no quadro negro.

De noite: Devo fazer o resto dos exercicios das folhas que foram dadas em sala.

Agora fica por sua conta descobrir onde a neutralidade ideologica foi quebrada nesse modelo pedagogico.


Não foi questão de ter sido ou não quebrada, até porque você está incluso num modelo educacional que existe devido à influência ideológica-pedagógica de alguém.

A questão é que você está considerando ideologia apenas como um embate entre forças políticas, coisa que reduz muito o seu significado.

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Apáte
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Re: Re.: Matemática revolucionária

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Samael escreveu:
user f.k.a. Cabeção escreveu:
dreaming escreveu: se vc acredita em neutralidade, é sem dúvida muito ingênuo.



Deixa eu te explicar rapidamente como sao as minhas aulas de matematica.

De manha: Vou a um anfiteatro onde um professor passa a aula enunciando e demonstrando teoremas matematicos.

De tarde: Vou a uma sala de aula onde um professor resolve exercicios relacionados ao conteudo tratado no aula da manha, e tambem chama alguns alunos para resolver exercicios no quadro negro.

De noite: Devo fazer o resto dos exercicios das folhas que foram dadas em sala.

Agora fica por sua conta descobrir onde a neutralidade ideologica foi quebrada nesse modelo pedagogico.


Não foi questão de ter sido ou não quebrada, até porque você está incluso num modelo educacional que existe devido à influência ideológica-pedagógica de alguém.

A questão é que você está considerando ideologia apenas como um embate entre forças políticas, coisa que reduz muito o seu significado.


zumbi filosófico escreveu:A ideologia está aí não numa forma ativa, mas sim passiva, mais pernciosa por ser difícil de ser detectada.

Enquanto as pessoas lidam diariamente com essas abstrações como apenas números, vão gradual mas inexoravelmente se condicionando a não ver o que está por trás desses números. Enquanto na realidade, os números na maior parte do tempo, uma hora ou outra dizem respeito a seres humanos, ao meio social.

Ocorre assim a banalização da própria humanidade, que deveria ser o principal, e a sociedade fica psicologicamente amortecida ao ver os meros "números" das vítimas do capitalismo ao redor do mundo, nos noticiários, todos os dias.

Nada mais adequado ao capitalismo do que deixar que os números sejam apenas números, sem se importar com o lado social por trás deles, facilitando assim que essa habilidade seja útil no setor financeiro, para cuidar de um tipo de número que só serve ao capitalismo, enquanto outros números são negligenciados, porque o indivíduo se torna insensível, incapaz de distinguir, de diferenciar, que de um lado, os números se referem a tiras de papel pintadas ou peças de metal, e do outro, são vidas humanas.


:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:
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Samael
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Re: Re.: Matemática revolucionária

Mensagem por Samael »

Apáte escreveu:
Samael escreveu:
user f.k.a. Cabeção escreveu:
dreaming escreveu: se vc acredita em neutralidade, é sem dúvida muito ingênuo.



Deixa eu te explicar rapidamente como sao as minhas aulas de matematica.

De manha: Vou a um anfiteatro onde um professor passa a aula enunciando e demonstrando teoremas matematicos.

De tarde: Vou a uma sala de aula onde um professor resolve exercicios relacionados ao conteudo tratado no aula da manha, e tambem chama alguns alunos para resolver exercicios no quadro negro.

De noite: Devo fazer o resto dos exercicios das folhas que foram dadas em sala.

Agora fica por sua conta descobrir onde a neutralidade ideologica foi quebrada nesse modelo pedagogico.


Não foi questão de ter sido ou não quebrada, até porque você está incluso num modelo educacional que existe devido à influência ideológica-pedagógica de alguém.

A questão é que você está considerando ideologia apenas como um embate entre forças políticas, coisa que reduz muito o seu significado.


zumbi filosófico escreveu:A ideologia está aí não numa forma ativa, mas sim passiva, mais pernciosa por ser difícil de ser detectada.

Enquanto as pessoas lidam diariamente com essas abstrações como apenas números, vão gradual mas inexoravelmente se condicionando a não ver o que está por trás desses números. Enquanto na realidade, os números na maior parte do tempo, uma hora ou outra dizem respeito a seres humanos, ao meio social.

Ocorre assim a banalização da própria humanidade, que deveria ser o principal, e a sociedade fica psicologicamente amortecida ao ver os meros "números" das vítimas do capitalismo ao redor do mundo, nos noticiários, todos os dias.

Nada mais adequado ao capitalismo do que deixar que os números sejam apenas números, sem se importar com o lado social por trás deles, facilitando assim que essa habilidade seja útil no setor financeiro, para cuidar de um tipo de número que só serve ao capitalismo, enquanto outros números são negligenciados, porque o indivíduo se torna insensível, incapaz de distinguir, de diferenciar, que de um lado, os números se referem a tiras de papel pintadas ou peças de metal, e do outro, são vidas humanas.


:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:


:emoticon85:

Ao menos não fez fotopostagem das minhas postagens com o Paulo Freire. Se fizesse, era relação cortada na mesma hora.

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Apáte
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Re.: Matemática revolucionária

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"Da sempre conduco una attività ininterrotta di lavoro, se qualche volta mi succede di guardare in faccia qualche bella ragazza... meglio essere appassionati di belle ragazze che gay" by: Silvio Berlusconi

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Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Samael escreveu:Não foi questão de ter sido ou não quebrada, até porque você está incluso num modelo educacional que existe devido à influência ideológica-pedagógica de alguém.

A questão é que você está considerando ideologia apenas como um embate entre forças políticas, coisa que reduz muito o seu significado.



"Tudo e ideologia, tudo e discurso". Partindo da nocao de que tudo que se faz e ideologico, e muito facil.

Samael, observando da perspectiva do "intelectual organico", cuja missao e esclarecer os alunos do seu papel na sociedade, onde e que se encaixa o modelo tradicional de ensino de matematica, aquele onde demonstramos teoremas e fazemos exercicios baseados nesses teoremas?

Onde um Espaco de Hilbert ou uma Distribuicao Temperada, ou uma Superficie de Riemman, ou um operador eliptico sao ideologicos?

Como relacionar a integral de Lebesgue e o teorema da convergencia dominada com a realidade social do aluno?

O que a Transformada de Fourrier ou a teoria de representacao de Grupos pode ajudar nessa compreensao ?

Sao esses (e varios outros) os conteudos de um curso universitario serio de matematica.

No ginasio e no cientifico, professores serios ensinaram equacoes do segundo grau, funcoes, logaritmos, geometria plana e espacial, matrizes, analise combinatoria.

E um bocado de coisa para se falar e para se trabalhar fazendo exercicios, e nao vejo como fazer isso de maneira eficiente relacionando determinantes com a sociedade capitalista.

Se o aluno quiser aprender sobre a sociedade, que faca sociologia ou algo que o valha. Se o aluno esta num curso de matematica, ele deve aprender matematica. E pro diabo com a sociedade.

No colegio, cada professor que trate de ensinar a sua materia. Esse papo de "interdisciplinaridade" e uma palhacada que consiste em diluir o ja ralo conteudo das disciplinas escolares ainda mais. A muito tempo que se fala e se pratica esse tipo de coisa no Brasil e a cada dia os alunos brasileiros se tornam mais e mais ignorantes.
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Acauan
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Re.: Matemática revolucionária

Mensagem por Acauan »

SPAM do Acauan:

Acauan escreveu:Me pareceu um momento oportuno para republicar isto:
Acauan, no tópico: Educação Pública no Brasil, escreveu:Comentários sobre a educação pública no Brasil

Por Acauan

Parte 1
Publicado originalmente em 07/07/2007 às 18:58

Para se entender a decadência do ensino público no Brasil convém fazer uma retrospectiva do histórico desta decadência.

Até a década de 1960 o ensino público brasileiro era de qualidade, mas só era acessível aos que moravam nas cidades, enquanto a maioria da população vivia nas zonas rurais onde as escolas eram poucas, o acesso difícil tanto para professores quanto para alunos, o que resultava em altos índices de analfabetismo no campo.

Mesmo na cidade, a grande maioria dos alunos do então nível secundário pertencia às classes média e alta, uma vez que era regra que os pobres abandonassem os estudos após o curso primário ou ginasial, para começar a trabalhar.

O modelo escolar e pedagógico era fortemente inspirado na tradição das escolas católicas, com disciplina rígida e currículo dividido entre humanidades e ciências, sendo que a profissionalização especialista era papel da Universidade, inacessível aos pobres que só obtinham profissionalização no aprendizado prático de atividades técnicas.

Com a industrialização e urbanização acelerada que o país sofreu a partir desta época, ficou óbvio aos governantes que o analfabetismo seria um limitador do desenvolvimento econômico, uma vez que a Indústria requeria grandes quantidades de mão-de-obra e as massas analfabetas migrantes do campo não preenchiam os requisitos mínimos das funções operárias como ler instruções escritas, fazer registros simples ou operações matemáticas básicas, o que exigia a manutenção de uma dispendiosa burocracia industrial auxiliar, para compensar esta deficiência.

Isto veio de encontro aos planos ambiciosos dos militares que tomaram o poder em 1964 e que acreditavam em um projeto ambicioso de transformar o país em uma potência industrial ao longo de uma geração.

O objetivo urgente era universalizar a educação, erradicar o analfabetismo urbano e diminuir o rural e adequar os currículos escolares às necessidades da nascente civilização urbana industrial.

O resultado foi uma aliança insólita.
Enquanto o regime militar reprimia ferozmente as organizações de esquerda, culminando com o extermínio dos grupos guerrilheiros armados, o projeto de reforma do ensino foi construído sobre idéias e filosofias de pedagogos marxistas, que por um destes azares da vida convergiam com os objetivos dos militares.

Como os generais queriam um ensino de massa, que formasse rapidamente grandes populações cujas famílias não freqüentaram a escola, mas entendiam que nos novos tempos o estudo abria as portas de melhores empregos e possibilidade de ascensão social, encontraram um modelo pronto nas propostas educacionais marxistas, focadas em classes sociais, doutrinação de massas e pragmatismo, tudo que acreditavam precisar no momento.

A ironia está em que os mesmos militares que foram notoriamente eficazes em erradicar a influência comunista do aparato do Estado, sonhando a partir daí construir uma grande nação, trouxe esta mesma ameaça para dentro das salas de aula, iniciando o processo de destruição do ensino público brasileiro que quatro décadas depois se tornou o maior empecilho ao desenvolvimento nacional que tanto almejavam.

Comentários – parte 2
Publicado originalmente em 07/07/2007 às 20:10

Os ideólogos marxistas encarregados de reformar o ensino público brasileiro, sob a benção dos militares governantes, iniciaram uma estratégia de desmonte dos valores tradicionais herdados da educação católica:

- A função da escola é preservar e transmitir o saber humano acumulado;
- O saber promove a ascese espiritual do indivíduo;
- A educação conscientiza o homem de seus deveres e responsabilidades individuais.

O que tornava o modelo tradicional de educação vulnerável à crítica é que este não tinha pretensões de ser aplicável em massa, preferindo à qualidade à quantidade e admitindo uma hierarquia social que situava as pessoas cultas e educadas no topo.

Para os marxistas o modelo de ensino tradicional era elitista, socialmente discriminatório e orientado para a preservação do status quo.
Era claro para eles que não era um modelo a ser reformado, mas desmontado completamente e substituído por outro erigido sobre valores marxistas:

- A função da escola é conscientizar as massas;
- A escola deve promover a mudança social;
- A educação deve preparar as classes exploradas para seu papel histórico.

Parece estranho que os militares tenham aceito tal modelo, que além do esquerdismo óbvio ainda contrariava a educação tradicional clássica dada na Academia Militar das Agulhas Negras, Escola Naval e Academia da Força Aérea, centros de ensino de excelência nas quais todos os oficiais se formaram.
Houve que os ideólogos de esquerda acenaram com o que os generais mais queriam na época, que era transformar as escolas públicas em centros profissionalizantes de massa, capazes de alfabetizar e preparar toda uma geração para o exercício das profissões técnicas na indústria.

Os que atentaram para as diferenças entre os princípios da escola tradicional e os de seu substitutivo marxista notaram uma guinada de um foco no encontro entre o indivíduo e o conhecimento, visando formar um indivíduo melhor, para uma proposta de conscientizar as massas visando construir uma sociedade melhor.

Ou seja, a instalação de uma visão coletivista no ensino.

O grande mal do ensino de orientação marxista é que nele pouco importa se cada aluno individualmente aprendeu alguma coisa e cresceu como ser humano.
Neste modelo o sucesso é medido coletivamente, a partir de o quanto a sociedade, classes ou as massas se tornaram mais conscientes, uma abstração sem significado lógico, mas que é a base desta percepção ideológica da realidade.

Vem daí a origem dos efeitos hoje percebidos por todos, escolas que não reprovam os alunos inaptos e não se importam com o fato de eles chegarem ao ensino médio na condição de analfabetos funcionais.

Enquanto o ensino tradicional se importa em saber o quanto determinado aluno aprendeu, o quanto determinado indivíduo sabe, o modelo marxista se importa com o total de saber passado ao coletivo, à massa indefinida e abstrata que é o centro e objetivo do modelo e o quanto este saber os preparou para seu papel histórico, a construção da sociedade plenamente igualitária.

Comentários – parte 3
Publicado originalmente em 07/07/2007 às 20:58

Definido o plano ideológico de desmonte do sistema tradicional de ensino e sua substituição por um modelo coletivista de inspiração marxista, sua colocação em prática dependia da capacidade de seus ideólogos em driblar a vigilância dos militares governantes, seduzidos pela promessa de instalação de um ensino de massas voltado para a formação técnica de mão-de-obra para a indústria, mas ainda muito pouco tolerantes com qualquer tipo de doutrinação política esquerdista explícita.

Além disto, as escolas ainda estavam cheias de professores e diretores formados na antiga tradição de saber individual como objetivo, disciplina e dedicação como meios, que resistiriam à nova filosofia oficial de ensino.

O desmonte começou pelos currículos escolares, a partir do de humanidades.
- Latim? Se é uma língua morta pra que ensinar?
- Filosofia? Coisa de quem não tem o que fazer.
- Literatura Portuguesa? O que Camões sabia sobre a realidade brasileira?

Seguido do ensino da matemática.
- Demonstrar teoremas? Pra que se já sabemos que estão certos?
- Conceitos fundamentais de geometria plana? Só interessam as equações.
- Polinômios? Vão usar isto onde?

E das ciências naturais:
- Experimentação? Laboratórios são caros...

Em compensação as ciências sociais ganhavam um novo destaque, com as aulas de História, Geografia e Educação Moral e Cívica sendo continuamente assumidas por professores marxistas, que expunham suas disciplinas segundo suas convicções ideológicas.

Detonados os currículos, seguiu-se a pulverização dos valores tradicionais da escola.
Excelência passava a ser considerada elitismo, os padrões de exigência deviam se adaptar aos menos capazes e não exigir deles que se esforçassem mais para apresentar melhor desempenho.
Disciplina passava a ser considerado repressão, o professor não devia se colocar acima do aluno como um ser superior e distante e sim tratá-lo como igual, os rituais de demonstração de respeito deviam se abolidos, punição devia ser substituída pelo diálogo.
Civismo passava a ser considerado propaganda da ditadura, o hasteamento da bandeira e o Hino Nacional deviam ser suprimidos.

Com o fim do regime militar o processo de desmonte do ensino tradicional se completou.
Não apenas desaparecia de cena a repressão ao esquerdismo, como se estabelecia sua dominância ideológica, já que tudo que podia ser associado à ditadura moribunda devia ser considerado mau e repudiado.

O tempo fizera seu papel conduzindo à aposentadoria os professores e diretores da velha guarda, apegados aos valores do ensino tradicional.

Os ideólogos de esquerda eram agora senhores absolutos das escolas públicas brasileiras.

Comentários – parte 4
publicado originalmente em 09/07/2007 às 22:23

O erro mais comum nas muitas análises sobre causas e soluções do problema do ensino público brasileiro é que a maioria se atém a elementos operacionais do sistema – volume de verbas, remuneração dos professores, métodos pedagógicos e pouco se fala do fundamental, as filosofias que orientam a formulação das diretrizes.

Estas filosofias estão em parte explícitas na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, um pastiche ideológico que oficializou com quarenta anos de atraso as propostas de Paulo Freire e outros ideólogos de esquerda da educação, mas sua identificação completa deve ser tirada da práxis da implantação do projeto marxista de educação ao longo deste tempo.

Relembrando dos comentários anteriores, a esquerda desviou o foco educacional da tradição católica do indivíduo que melhora a si mesmo e a partir de si pode melhorar a sociedade, para a ideologia coletivista da sociedade que progride historicamente e, no processo, melhora o indivíduo.

Assim, podemos encontrar nas diferenças entre estas diretrizes a origem da maioria dos problemas da educação pública brasileira.

Diretrizes tradicionais de inspiração católica:

- A função da escola é preservar e transmitir o saber humano acumulado;
- O saber promove a ascese espiritual do indivíduo;
- A educação conscientiza o homem de seus deveres e responsabilidades individuais.


Diretrizes coletivistas de inspiração marxista:

- A função da escola é conscientizar as massas;
- A escola deve promover a mudança social;
- A educação deve preparar as classes exploradas para seu papel histórico.


As primeiras coisas que os brasileiros devem se perguntar quando analisam o fracasso do sistema público de ensino são porque não mudam o sistema?
Por que os teóricos que o desenharam não são repudiados e suas propostas abandonadas e substituídas por alguns dos muitos outros modelos internacionais bem sucedidos, inclusive em países pobres?
Por que vemos estes mesmos teóricos preservando altos cargos na hierarquia burocrática estatal do ensino, dando entrevistas defendendo seus modelos, ao mesmo tempo que apontam soluções para os problemas da educação como se eles próprios não tivessem nada a ver com eles?

A resposta é que para os teóricos de esquerda o modelo é um sucesso, dado que seu objetivo não é ensinar alunos, trazê-los da ignorância e pô-los em contato com o legado do gênio humano a partir de onde poderão encontrar modelos em que se inspirar para realizar seu pleno potencial como seres humanos.

Estes são valores da educação tradicional, que os pais desejam para seus filhos, mas não que os ideólogos desejam para a "massa estudantil" que para eles é massa de manobra para a "mudança social", o verdadeiro e único objetivo de seu modelo, que pouco se importa se o filho da D. Maria sabe ou não sabe interpretar textos simples quando chega ao nível médio.

Quando expulsaram da escola pública a excelência, disciplina e civismo, rechaçados como elitismo, repressão e ditatorialismo prepararam o terreno passo a passo para a ignorância generalizada, a falta de respeito dos alunos para com professores e a instituição escolar e o desprezo pela própria Pátria, a qual não encontrava mais nas salas de aula quem a enaltecesse ou defendesse.

Na origem de todo o mal está o abandono da tradição de que o homem educado tem mais deveres e responsabilidades do que o homem ignorante.
Em outros tempos, um homem instruído que apresentasse comportamentos socialmente reprováveis era repreendido com a frase "você estudou e se comporta como um ignorante?".
Estudar significava assumir MAIS deveres sociais.

Nos ideário esquerdista, estudar significa ser conscientizado dos direitos sociais que deve reivindicar e apenas dos direitos.

Deve ser óbvio a todos qual das duas diretrizes produz uma sociedade melhor.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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Samael
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Samael escreveu:Não foi questão de ter sido ou não quebrada, até porque você está incluso num modelo educacional que existe devido à influência ideológica-pedagógica de alguém.

A questão é que você está considerando ideologia apenas como um embate entre forças políticas, coisa que reduz muito o seu significado.



"Tudo e ideologia, tudo e discurso". Partindo da nocao de que tudo que se faz e ideologico, e muito facil.

Samael, observando da perspectiva do "intelectual organico", cuja missao e esclarecer os alunos do seu papel na sociedade, onde e que se encaixa o modelo tradicional de ensino de matematica, aquele onde demonstramos teoremas e fazemos exercicios baseados nesses teoremas?

Onde um Espaco de Hilbert ou uma Distribuicao Temperada, ou uma Superficie de Riemman, ou um operador eliptico sao ideologicos?

Como relacionar a integral de Lebesgue e o teorema da convergencia dominada com a realidade social do aluno?

O que a Transformada de Fourrier ou a teoria de representacao de Grupos pode ajudar nessa compreensao ?

Sao esses (e varios outros) os conteudos de um curso universitario serio de matematica.

No ginasio e no cientifico, professores serios ensinaram equacoes do segundo grau, funcoes, logaritmos, geometria plana e espacial, matrizes, analise combinatoria.

E um bocado de coisa para se falar e para se trabalhar fazendo exercicios, e nao vejo como fazer isso de maneira eficiente relacionando determinantes com a sociedade capitalista.

Se o aluno quiser aprender sobre a sociedade, que faca sociologia ou algo que o valha. Se o aluno esta num curso de matematica, ele deve aprender matematica. E pro diabo com a sociedade.

No colegio, cada professor que trate de ensinar a sua materia. Esse papo de "interdisciplinaridade" e uma palhacada que consiste em diluir o ja ralo conteudo das disciplinas escolares ainda mais. A muito tempo que se fala e se pratica esse tipo de coisa no Brasil e a cada dia os alunos brasileiros se tornam mais e mais ignorantes.


Cabeção, você começou sua postagem com uma frase da qual, você notoriamente sabe, que discordo.

Para mim, dizer que "tudo o que se faz é ideológico" é tão redundante quanto se dizer que "tudo o que se faz é humano" ou "tudo o que se faz é baseado em critérios".

O que os autores que tratam da questão do discurso, em geral, colocam, basicamente, não é que a existência em si seja "ideológica", isso seria cair numa idiotice egocentrista de pensar que tudo existe a partir do homem (ou até do indivíduo).

O que é colocado, basicamente, é que a verdade é um atributo inerente ao discurso, ou seja, que a percepção da realidade passa por mecanismos meramente humanos, e mecanismos meramente humanos são formados por conceitos (apriorísticos ou não), axiomas e opiniões. São essas formas de expressão, intrinsecamente liguados à linguagem (e a linguagem não é apenas uma forma de comunicação com o mundo, é também a forma como fazemos as coisas ficarem inteligíveis para nós mesmos), que eu chamo, particularmente, de ideologia.

Como eu creio ser a realidade por trás da linguagem una e coerente (como creio que você também pense), é óbvio que podemos traçar juízos de fato para as coisas. Nesses juízos universais existem até nossas leis e teorias.

Mas, ideologicamente, estão todas sob o jugo da empiria. :emoticon1:

Quanto ao curso, eu concordo plenamente contigo. Acho essa babaquice "freiriana" uma merda sem tamanho. E boa sorte com os estudos aí em França, afinal, Matemática não é pra qualquer um.

Trancado