NeferNeferNefer escreveu:Fernando Silva escreveu:Lúcifer escreveu:Suicidio, ao meu ver, é a escapatória covarde de alguem que encontrou alguma dificuldade na vida e não tem coragem de enfrentá-la, mesmo que as chances de vitoria serem pequenas. Ou então não tem coragem de enfrentar os seus problemas.
A pessoa, às vezes, simplesmente não vê motivos para continuar vivendo.
Não é uma questão de ter problemas a enfrentar. Ela pode até não ter nenhum.
Pode ser até que alguns problemas a resolver lhe dessem motivação para continuar viva.
E, seja lá como for, pular fora diante dos problemas é uma opção que ela tem. Uma opção legítima.
É realmente, por aí, Fernando.
Eu ainda não vejo graça em continuar vivendo. Vou fazendo, cumprindo as obrigações e tal... e pasme, Apo, e não estou deprê.
Fui à psiquiatra, tomei os remedinhos que ela receitou. Frequentei algumas sessões de terapia, mais para que ela, a doutora, entendesse o porquê do meu ato, do que eu.
O que mais me pegou foi como isso afetou minha família. Eu nunca havia comentado esse assunto com ninguém. Mesmo porque eu já sabia das reações.
Preparei a casa, as contas, mandei as meninas para a sorveteria. Esperei o maridão ir deitar... só que naquele dia ele levantou mais cedo, e me encontrou. Quando eu percebi que eu estava no hospital eu reagi e tentei de novo. Aí as enfermeiras começaram a me tratar mal, mas não soltaram meus braços. Tipo: eu não gosto de voce, não deixarei que voce se mate, mas também não vou lhe tratar bem, justamente porque voce quer se matar.
Vá entender.
Eu acho que o maior problema é separar quem está doente (os depressivos e tal) daqueles que conscientemente deram pra bola, como o meu caso.
Mas valeu o respeito de voces pelo assunto.
NeferNeferNefer,
Tempos atrás, eu passei por uma situação semelhante a que você enfrenta agora, se esse seu problema de “não ver graça em continuar vivendo” tiver algo a ver com uma espécie de niilificação da vida. Se este for o problema, a sua situação é sim caso para psicoterapia, ainda que você dispense tratamento com remédios.
Até onde já li do best seller “Inteligência Emocional” (do PhD Daniel Goleman, Editora Objetiva), existem quatro tipos de temperamentos encontrados num indivíduo: ele pode ser tímido, otimista, ousado e melancólico. Nós temos diferentes heranças temperamentais, cada qual causado pelas diferenças dos circuitos nos centros emocionais do cérebro. A facilidade com que cada uma dispara qualquer um desses padrões emocionais citados, a duração e a intensidade dos mesmos, depende de características inatas de fatores genéticos, mas já é consenso entre os especialistas que temperamento não é destino. A psicoterapia, o reaprendizado emocional sistemático através da experiência, pode, ao mesmo tempo, mudar os padrões emocionais e moldar o cérebro.
Não acredito que “não ver graça em continuar vivendo” não seja um problema sério de melancolia. Para uma pessoa com padrão emocional bem-sucedido, não basta evitar a depressão, ela precisa de animosidade para viver. O problema de buscar um sentido para vida está relacionado à própria conquista da felicidade. Basicamente foi isso que Mihaly Csikszentmihalyi, um psicólogo da Universidade de Chicago, descobriu ao desvendar aquilo que se chama de “ciência da felicidade”. A questão é que para ter um propósito na vida, você precisa de uma de uma atividade que imponha um desafio às suas capacidades e que gere motivação para se aperfeiçoar cada vez mais. Nós precisamos descobrir algo de que gostamos e nos apegar a ela. É necessário atrair um aprendizado para desenvolver aptidões, usando como alavanca o puro prazer de saborear a prática de uma atividade - tem de ser um desafio não muito fácil a ponto de ser entediante, nem tão difícil que se torna frustrante. Ao criar um trabalho para realizar uma façanha, esse trabalho árduo pode se tornar mais renovador e restaurador do que cansativo. Isto está relacionado ao um fenômeno cerebral chamado “fluxo”, que ocorre quando o engajamento numa atividade numa torna-se tão intenso que dá aquela sensação boa de está completamente absorto, a ponto de esquecer-se do mundo e perder a noção do tempo (ou seja, é um estado de alegria quase perfeita). Em síntese, a resposta sobre o sentido da vida, deve ser buscada de forma mais existencialista do que objetiva: o sentido da vida é tudo aquilo que é mais significativo para mim.
Enfim, se eu acertei o diagnóstico, eu sugiro fortemente a você que vá a uma livraria e pegue o livro do Daniel Goleman para ler. Não precisa comprar, basta dá uma olhadas no trechos das páginas de 112 a 117 do livro da última edição brasileira, que trata do caso do “fluxo”. Ou se preferir, basta buscar na internet algo sobre os trabalhos dos cientistas citados aqui. Claro, existem outras aptidões emocionais que devem ser levadas em conta, como otimismo e esperança (ver página 108 a 112 do livro do Goleman), mas não vale a pena citar todas aqui.
O pensar em efetivar o suicídio implica acreditar que não há mais soluções. Mas quase sempre há soluções. Pensadores suicidas gastam tempo demais em reflexões como "isso não deveria ser assim". Ao fazer isto, desperdiça-se um tempo precioso que seria fundamental para criar espaço para soluções. Acho que tentar manter a mente tranqüila, relaxada e determinante é fundamental nessas horas.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes