user f.k.a. Cabeção escreveu:Não conheço a sua condição financeira, mas conheço a de muitos que fazem tal afirmação, e sei que grande parte das vezes não é procedente.
Primeiro porque quando a educação superior não é grátis (no sentido de cobrar mensalidade, porque grátis nada é de fato), existe uma própria cultura de se fazer reservas financeiras para os estudos. Segundo, porque havendo o desafogar da economia com o livrar dessa grande geradora de gastos que é a Universidade Estatal, ocorreria uma diminuição nos tributos, o que alimentaria a economia e garantiria às pessoas maiores condições de financiarem seu ensino superior se assim quiserem. Terceiro, porque a própria natureza da universidade privada é funcional o suficiente para oferecer grades que possam ser cumpridas em paralelo a empregos de meio-período, ou mesmo integrais, e muitas dessas faculdades são geradoras de empregos para seus alunos, fazendo abatimentos nas anuidades, fornecendo alojamento e alimentação e até pagando pequenos salários (para quem precisar).
Você é que tem que explicar porque o ensino superior deve ser fornecido pelo Estado, ou porque assim seria mais eficiente, quando a realidade das experiências mundo afora provam exatamente o contrário, além da própria natureza do mercado ser muito mais eficaz do que qualquer controle estatal.
Ainda insiste nesse ponto de que a solução do mercado é favorável a alguma classe, quando na verdade não é. O mercado é composto de nichos, pobres consomem mais óleo de soja que ricos, e a concorrência entre empresas de óleo de soja visa os pobres, e cria benefícios que afetam mais os pobres. Você acha que o controle estatal do fornecimento de óleo de soja seria melhor do que a concorrência de empresas privadas, já que estamos falando do setor mais pobre?
Da mesma forma, as faculdades tentariam conseguir o maior número de alunos, ou o melhor nível de alunos, dependendo do seu enfoque e de que ramo do mercado ela quer competir. Além do que, ter uma participação social é do interesse de muitas empresas, tanto pelo marketing social quanto pelos benefícios tais como isenção de impostos. E o compromisso social de empresas privadas é algo muito mais eficiente do que o velho sistema de sobrecarga de impostos para bancar uma burocracia, perder um pouco (ou bastante) para a corrupção e só aí assistir a população, de forma pouco eficaz.
O mercado é sempre favorável a quem tem mais capital a se investir no próprio.
Universidades privadas visariam o lucro, obviamente, e isto faria com que seu ensino, independente de qualidade, visasse sempre o mercado de trabalho. Vários cursos que não tem tanto espaço no mercado seriam afetados diretamente. Matérias optativas que não tiverem um peso, senão o da sua posterior venda no mercado, não serão oferecidas.
Um sistema deste tipo não seria propício à formação de qualquer sistema ideológico senão o mercadológico, onde o saber tem de gerar lucro. E, como bem sabes, eu discordo dessa ideologia.
Fora isso, você sabe bem que na prática, os impostos não seriam reduzidos em nada.
Não estou discutindo funcionalidade, pois eu sei que o sistema privado que você propõe é muito mais funcional, mas, para mim, não seria meritocrático e, acima de tudo, não teria uma boa qualidade.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Concordo.
Hoje, a faculdade pública ainda tem os melhores alunos, mesmo sendo repositório de comunistas que falei.
Mas temos que concordar que isso se dá devido a peculiar situação universitária brasileira, onde a oferta de vagas para alunos e professores nas instituições estatais é muito mais atraente do que na área privada, onde além de pagar a mensalidade (e os impostos que sustentam as públicas), o aluno encontrará apenas alunos que não conseguiram passar para as públicas ou que não têm tempo para dedicar a elas. Com alunos incompetentes ou pouco aplicados, apenas uma pequena gama de cursos é oferecida, principalmente os mais simples e rápidos, ou aqueles que apresentam grande absorção do mercado de trabalho. Salvam-se algumas universidades, como Ibemec, FGV, ESPM e outras que escolheram pela especialização, e a PUC.
Mas esse é o sistema brasileiro errado, não devemos tomar um sistema privatizado de ensino superior pela fração brasileira. No Brasil, o mercado universitário ocupou-se do nicho não absorvido pelas estatais, mas com a privatização completa, ele teria abrangência total.
Será mesmo? Eu não tenho tanta certeza...
Bem ou mal as Universidades Públicas realizam uma seleção mais rigorosa por meio do vestibular. A meu ver, é muito mais lucrativo criar esses cursos caça-níquel como faz a Estácio (bacharelado em Direito em 3 anos, entra qualquer um, passa de qualquer forma) do que arcar com os pesados custos de cursos de qualidade (a PUC carioca está quase falida em vários setores...)
Para mim, o investimento maciço em educação pública de todos os níveis ainda é a solução mais justa e com melhores resultados.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Samael, sua visão de mercado é cerceada por estereótipos.
Existem diversas maneiras de se competir no mercado, oferecer produtos e serviços descartáveis é uma delas. Mas quando a cultura de mercado é plenamente desenvolvida, a concorrência entre as empresas às forçará a disputar em preços, ou em qualidade, ou em serviços especializados. E todo o marketing, seja ele positivo ou negativo, servirá para guiar o consumidor a fazer sua escolha, de forma que seja a mais interessante para ele.
O mercado pode ser influenciado, mas no mercado livre não existem players grandes o suficiente para manipular os interesses e influências a seu bel-prazer. É claro que o comportamento de alguém ou algum grupo sempre influenciará as decisões dos outros, mas acreditar que existe uma manipulação superior nisso é equivalente a crer nas teorias conspiratórias do Euzébio.
Você pode dizer que existem aqueles que criam as modas, as tendências, e que na verdade essas são impostas ao público, ao invés de determinadas por estes. Isso é uma meia verdade. Faz parte da função do departamento de marketing das empresas vender a idéia de que seu produto é uma necessidade, mas o consumidor é quem tem a palavra final ao acatar ou não àquela moda.
No próprio mercado de eletrodomésticos, hoje as televisões apresentam bem menos problemas do que no passado, além de oferecerem melhor qualidade de imagem e captação, e de existirem produtos com diversas opções, tais como telas planas e finas, formatos de cinema, telas de plasma e etc. Dizer que hoje eles só vendem porcarias que estragam assim que ligam é generalizar erroneamente.
A Honda entrou no mercado brasileiro de automóveis e os clientes dela estão mais do que satisfeitos com o desempenho, resistência e consumo dos carros que compraram. Isso só para ficar nos exemplos dados por você, eu poderia continuar, mas não vejo necessidade, pois só se vê decréscimo global de qualidade quando se enxerga através de filtros ideológicos.
Vitor, que cultura de mercado plenamente desenvolvida é essa? Mesmo nos países de primeiro mundo as grandes corporações dominam. Como eu já disse, o mercado é plenamente manipulável. Seja pelo sistema de cartelização, seja pelo próprio marketing.
E há decréscimo sim: tente comprar uma lava-roupas atualmente. Não sei se isto ocorre também no exterior, mas todas no mercado brasileiro, sem exceção, são muito mais descartáveis.
Quanto ao Honda, sim, é descartável, meu tio comprou um "Civic" no ano passado. Felizmente, ele tem condição de trocar de carro quase que anualmente, mas isto não impediu de já ter tido três problemas com relação a peças desde a compra até agora. E, obviamente, só pôde trocá-las em autorizadas. Problemas esses que, diga-se de passagem, ele nunca teve com seus fuscas antigamente...
Se a lógica do sistema é o lucro, a rápida descartabilidade, seja por meio de propaganda, seja por meio de menor qualidade faz-se essencial.