Trecho:
...Quando afirmam que algumas passagens dos livros sagrados devem ter interpretação literal e outras interpretação simbólica, os exegetas NUNCA esclarecem que regras podem ser logicamente utilizadas para se definir quando uma ou outra interpretação deve ser considerada.
Assim, quando lemos Êxodo 22: 18 - “A feiticeira não deixarás viver.”, temos uma passagem que, literalmente interpretada, justifica do ponto de vista religioso as fogueiras da Inquisição. Hoje encontramos as mais variadas explicações para o versículo, chegando alguns ao exercício de imaginação de interpretar o uso do termo “feiticeira” como simbólico para representar “o mal que existe dentro de nós mesmos e que deve ser expurgado”...
Se não existe regra certa que defina o que é literal e o que é simbólico, não há como se ter certeza do significado de cada passagem do texto e portanto o mesmo não pode, do ponto de vista lógico, justificar um sistema de crenças.
A questão do contexto segue caminho semelhante. Já vi exegetas justificando as palavras de Jesus em Lucas 14: 26 com uma outra passagem do livro de Gálatas, que não era preciso ser teólogo para saber que não tinha nada que ver com nada, e muito menos com a fala de Cristo em questão.
Como no caso da diferenciação entre literal e simbólico, a justificativa contextual não segue nenhuma regra claramente definida, e qualquer elemento externo pode ser utilizado para justificar uma passagem, quando tal recurso produz o efeito desejado que é dar coerência à passagem em questão.
Se provar a coerência intrínseca dos livros sagrados é como se viu um objetivo praticamente inalcançável do ponto de vista lógico, ainda mais distante se encontra a prova da coerência extrínseca - entre textos sagrados e a realidade.
O conhecimento Humano desenvolveu dois métodos de aferir o Real - a Filosofia e a Ciência.
A coerência extrínseca dos livros sagrados poderia ser estabelecida Filosófica e Cientificamente se, e somente se, houver evidências racionais e materiais desta coerência.
A identificação de tais evidências já encontra obstáculo na indefinição da coerência intrínseca - como provar filosófica e cientificamente uma proposição que não se tem como saber se é de interpretação literal, simbólica, isolada ou contextual?