Azathoth escreveu:Vou dar algumas considerações a respeito do determinismo genético que foi comentado:
1) Muitos fenótipos não são 'inevitáveis', dependem de condições ambientais ( intra-uterinas, durante a infância, etc ) para se manifestar. Muitos genes estão a mercê do ambiente e fatores socio-culturais, ao invés de funcionar como uma força maquiavélica que anda na direção oposta.
2) Nenhum traço do comportamento humano da mesma forma é 'inevitável' geneticamente, e a falácia do 'um gene para comportamento x' ignora pleiotropia e necessidade de estímulo e aprendizado para desenvolvimento final de muitos comportamentos.
3) Entretanto, podemos estudar a prevalescência estatística de comportamentos, quão comuns pessoas com o mesmo DNA manifestam tal comportamento em contraponto àqueles de DNAs diferentes. São feitos estudos considerando gêmeos univiterinos e fraternos criados separadamente; grande fervor religioso por exemplo apresenta correlação estatística de 62% para gêmeos idênticos criados separadamente em contraponto a 2% de gêmeos fraternos criados separadamente. Se traços de personalidade com estes fossem inevitáveis, seria esperado encontrar uma correlação de perto de 100% para o primeiro caso. Mas a discrepância entre mesmos comportamentos seguidos por gêmeos idênticos em contraponto aos fraternos é muito significativa.
4) Mesmo gêmeos idênticos podem ser pessoas muito diferentes, ainda que criados na mesma casa. Muitos sentem o ímpeto de se diferenciar do outro para receber tratamento diferenciado durante a adolescência. Os clones de "Os garotos do Brasil" são fantasia porque identidade própria apesar de estar sujeita a predisposições genéticas e socio-culturais é ainda sim muito sensível.
5) Finalmente, no espiritismo kardecista, vejo exemplos de processos de reencarnação que transcendem nacionalidades, grupos étnicos, classes sociais e períodos históricos. Se mesmo as pessoas mais parecidas do mundo não são idênticas, é atrozmente improvável que a personalidade se conserve, caso exista o espírito.
Azzatoth, só para complementar, vou dar um exemplo simples da idiotice do determinismo genético e a confusão entre genótipo e fenótico.
A hemofilia B. Em termos médicos um hemofilico tem um defeito genético que leva á não produção do fator de coagulação 8. Mas a pessoa com o defeito genético não está absolutamente condenada a manifestar o fenótipo doente. Não se tomar injeções com o fator 8. Pode ter o gene da hemofilia sem ser hemofilico. Em principio isto é válido para qualquer gene ou, mesmo para características poligénicas (que ainda desconhecemos quase totalmente como funcionam). Tudo depende do contexto social. Hoje em dia quem tem o gene da coreia de Hunttington, está condenado a sofrer de uma doença neurodegenerativa brutal. Quer isto dizer que está confirmado o determinismo genétco? De modo algum. Simplesmente ainda não temos injeções para evitar a manifestação do fenótipo. Mas tam como acontece com a diabetes ou hemofilia B... um dia haverá também uma injeção para isso.
No caso do comportamento é a mesma coisa. Certas pessoas têm comportamentos aberrantes. Podemos dizer que dados estatísticos apontam para uma correlação genética. Eu acho óbvio que os estudos provam essa correlação. O problema é que aparecem logo algumas alminhas que ignoram em absoluto duas coisas. Primeiro: a pleiotropia (como tu disseste). E começam logo a falar de genes para isto ou para aquilo... mas nenhum gene comportamental foi até agora isolado. Segundo: que é possivel o contexto social (tal como no caso da hemofilia) evitar que o genótipo que leva a um comportamento se manifeste. Essas alminhas, movidas por uma ideologia qualquer, acham que os genes são o novo Oraculo. Antigamente consultava-se o Oraculo de Delfos para conhecer o futuro. Hoje, alguns acham que devemos consultar os genes. Pior, acham que os genes mostram um futuro inevitável. Nada pode ser mais falso...