Ideologia Liberal

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.

Você concorda com a visão liberal?

sim
21
60%
não
14
40%
 
Total de votos: 35

Avatar do usuário
rui mig
Mensagens: 133
Registrado em: 06 Jan 2007, 10:40

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por rui mig »

Eu sou liberal... se isso significa liberdade. E também sou pelas regras. Só um idiota seria contra a regulaçao da economia. Há quem fale de auto-regulaçao. Poucos defendem só essa forma de regulaçao. É sempre preciso dar um jeito. E nem nos Estados Unidos ou em lago algum existiu autoregulaçao pura. Isso seria até um insulto ás pessoas... como se de repente fossemos todos formigas acéfalas onde algo como a autoregulaçao pura pode realmente funcionar.

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por RicardoVitor »

rui mig escreveu:Eu sou liberal... se isso significa liberdade. E também sou pelas regras. Só um idiota seria contra a regulaçao da economia. Há quem fale de auto-regulaçao. Poucos defendem só essa forma de regulaçao. É sempre preciso dar um jeito. E nem nos Estados Unidos ou em lago algum existiu autoregulaçao pura. Isso seria até um insulto ás pessoas... como se de repente fossemos todos formigas acéfalas onde algo como a autoregulaçao pura pode realmente funcionar.


O Império das Leis é fundamental para o bom funcionamento do liberalismo econômico. É necessário diferenciar regulação de intervenção, são coisas completamente diferentes.
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Edson Jr »

Clara Campos;

Você é formada em alguma área voltada para a Educação?

Estou dizendo isso, porque suas opiniões refletem muito bem a visão pedagógica que predomina no ambiente escolar.

Acauan, ao que parece, possui uma visão liberal e, nosso posicionamento é mais marxista. Acho que podemos continuar esse debate aqui neste tópico mesmo, pois não estamos fugindo do tema não. Estamos, na verdade, aprofundando a questão, analisando qual visão seria melhor, dentro do ambiente escolar.

Seria a visão liberal ou marxista?

E é justamente neste ponto que me preocupo, pois quero conhecer a visão liberal tal como ela é, sem deturpações. E os livros pedagógicos são claramente anti-liberais, o que me leva a desconfiar (não disse concluir) de uma possível parcialidade dos autores na abordagem do tema.

Espero uma ótima discussão! :emoticon1:

Avatar do usuário
rui mig
Mensagens: 133
Registrado em: 06 Jan 2007, 10:40

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por rui mig »

Ela é prof de ciencias...

Avatar do usuário
clara campos
Moderadora
Mensagens: 3356
Registrado em: 02 Abr 2006, 15:42
Contato:

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por clara campos »

edson, estou a estagiar no curso de ensino de ciências, por isso tenho asim algum formação em pedagogia.

Achei curioso afirmares que s minhas opiniões reflectem de certa forma uma espécie de paradigma vingente, porque na verdade eu não sinto isso no meu dia a dia.

Também achei estranho porque eu sou uma desentendida em marxismo e liberalismo e, embora a minha formação pessoal seja vincadamente esquerdista, ela não é propriamente marxista. Sendo que os meus conheimentos sobre esta temática se devem muito a alguns debates que vou seguindo (dificilmente participando) neste forum, eu sou essencialmente uma pessoa pragmática.
Com isto pretendo dizer que estou pouco interessada em teorizinhas bonitinhas que fracassem, e muito interessada em propostas mais concretas, talvez menos bonitas, mas que resultem.

Agrada-me muito a tua postura de grande humildade no sentido de "quero realmente aprender", embora eu não a partilhe na íntegra. Não sou grande conhecedora da corrente de liberalismo mas já vi liberais defendo ideias que vão contra o meu sistema de valores e opiniões pessoais, situação bem mais rara nos apologistas de diferentes correntes socialistas.

Algo que acho curioso é que neste fórum existe alguma confusão entre socialismo e comunismo. Quando entrei e comecei vendo essas confusões, comecei a recear que eu estivesse redondamente enganada ou que, eventualmente, os conceitos divergissem entre europa e brasil. Pedi ao sama alguns esclarecimentos e ele gentil e pacientemente mos concedeu.
Percebi então que a essa confusão apenas existe na cabeça de alguns foristas daqui.
Quero com isto dizer que a forma como divides a realidade liberalismo/marxismo, para mim não faz muito sentido, nem teórico (porque conheço mal as correntes) nem prático (porque tenho sérias dúvidas que qualquer uma das correntes seja integralmente correcta e tenha respostas a todas as questões pedagógicas).


Como nunca te conheci, para mim es mais bem vindo que re-bem-vindo, e para mim pessoalmente será duplamente agradável encontrar por aqui alguém que aprecie uma boa discussão sobre educação. :emoticon4:
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

Avatar do usuário
clara campos
Moderadora
Mensagens: 3356
Registrado em: 02 Abr 2006, 15:42
Contato:

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por clara campos »

Acauan:
a tua resposta fez-me pensar que de alguma forma estamos a usar as mesmas expressões para nos referirmos a coisas diferentes, o que requer algumas clarificações.

Agora estou sem tempo, mas mais à noite, ou amanhã o mais tardar, elaborarei uma espécie de respostas.
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por RicardoVitor »

clara campos escreveu:Algo que acho curioso é que neste fórum existe alguma confusão entre socialismo e comunismo. Quando entrei e comecei vendo essas confusões, comecei a recear que eu estivesse redondamente enganada ou que, eventualmente, os conceitos divergissem entre europa e brasil. Pedi ao sama alguns esclarecimentos e ele gentil e pacientemente mos concedeu.
Percebi então que a essa confusão apenas existe na cabeça de alguns foristas daqui.


Que confusões? Poderia explicar-se?
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Leo
Mensagens: 2784
Registrado em: 01 Nov 2005, 12:29
Contato:

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Leo »

RicardoVitor escreveu:O Império das Leis é fundamental para o bom funcionamento do liberalismo econômico. É necessário diferenciar regulação de intervenção, são coisas completamente diferentes.


Óbvio que o Império das leis é fundamental, pois o liberalismo é uma regulamentação de caráter estatal introduzido e mantido pela via legislativa.

Avatar do usuário
clara campos
Moderadora
Mensagens: 3356
Registrado em: 02 Abr 2006, 15:42
Contato:

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por clara campos »

RicardoVitor escreveu:
clara campos escreveu:Algo que acho curioso é que neste fórum existe alguma confusão entre socialismo e comunismo. Quando entrei e comecei vendo essas confusões, comecei a recear que eu estivesse redondamente enganada ou que, eventualmente, os conceitos divergissem entre europa e brasil. Pedi ao sama alguns esclarecimentos e ele gentil e pacientemente mos concedeu.
Percebi então que a essa confusão apenas existe na cabeça de alguns foristas daqui.


Que confusões? Poderia explicar-se?


Parece que neste fórum comunismo=socialismo, sendo que o comunismo é uma forma (bastante extrema) de socialismo, e não O socialismo
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Edson Jr »

clara campos escreveu:edson, estou a estagiar no curso de ensino de ciências, por isso tenho asim algum formação em pedagogia.


Oi Clara!

Foi o que imaginei, pois dificilmente vejo pessoas com opiniões parecidas com as suas que não tenham nenhum vínculo com a educação.

clara campos escreveu:Achei curioso afirmares que s minhas opiniões reflectem de certa forma uma espécie de paradigma vingente, porque na verdade eu não sinto isso no meu dia a dia.


Clara, quando você coloca um peso muito grande nas circunstâncias, minimizando a responsabilidade do aluno e do professor, mesmo que sem intenção, você está a seguir o que se é padrão dentro da escola.

Tanto é que as idéias do Acauan costumam soar como radicais, pois não é o que os professores costumam ouvir, tanto em sua formação acadêmica (incluindo os livros pedagógicos), quanto no ambiente escolar).


clara campos escreveu:Também achei estranho porque eu sou uma desentendida em marxismo e liberalismo e, embora a minha formação pessoal seja vincadamente esquerdista, ela não é propriamente marxista.


Ao menos os livros da área de pedagogia dão muita ênfase no aspecto histórico-social do aluno, o que de certa forma (aí devo concordar com Acauan) minimiza exageradamente sua responsabilidade. Acabamos atribuindo ao aluno o papel de vítima, dando muita abertura e colher de chá, o que, de certa forma, desvia nosso atenção na resolução dos problemas reais.

Quando digo uma visão marxista, me refiro ao modo quase exclusivo de ver o indivíduo no seu aspecto histórico-social.

clara campos escreveu:Com isto pretendo dizer que estou pouco interessada em teorizinhas bonitinhas que fracassem, e muito interessada em propostas mais concretas, talvez menos bonitas, mas que resultem.


Talvez isso seja a diferença do pensamento liberal para o marxista. Um é mais prático. Outro mais utópico.

clara campos escreveu:Agrada-me muito a tua postura de grande humildade no sentido de "quero realmente aprender", embora eu não a partilhe na íntegra. Não sou grande conhecedora da corrente de liberalismo mas já vi liberais defendo ideias que vão contra o meu sistema de valores e opiniões pessoais, situação bem mais rara nos apologistas de diferentes correntes socialistas.


Obrigado pela apreciação, mas não mereço. Apenas valorizo por demais o conhecimento a ponto de não dar o braço a torcer por qualquer preço.

Quanto aos liberais, concordo com você. Minha opinião negativa era bem firme anteriormente, mas agora está suspensa, pois quero conhecer o liberalismo do jeito que ele realmente é. Segundo o Acauan, minha visão sobre o que é liberal está equivocada, fruto da influência de pedagogos marxistas (a nossa pedagogia é fundamentalmente marxista).

Se ele me convencer do meu erro, mudarei minha opinião sem hesitação.

clara campos escreveu:Algo que acho curioso é que neste fórum existe alguma confusão entre socialismo e comunismo. Quando entrei e comecei vendo essas confusões, comecei a recear que eu estivesse redondamente enganada ou que, eventualmente, os conceitos divergissem entre europa e brasil. Pedi ao sama alguns esclarecimentos e ele gentil e pacientemente mos concedeu.
Percebi então que a essa confusão apenas existe na cabeça de alguns foristas daqui.
Quero com isto dizer que a forma como divides a realidade liberalismo/marxismo, para mim não faz muito sentido, nem teórico (porque conheço mal as correntes) nem prático (porque tenho sérias dúvidas que qualquer uma das correntes seja integralmente correcta e tenha respostas a todas as questões pedagógicas).


Certo. Sem dúvida foi uma divisão grosseira que eu fiz. Na verdade, dificilmente uma pessoa é integralmente uma coisa só. Mas, ao menos demonstra uma maior inclinação ou para um lado, ou para o outro.

Também não me sinto pertencente a nenhum tipo de corrente pedagógica específica. Estou numa fase de amdurecimento, de reflexão, antes de me decidir. Mas, pelo que conheço de mim, terei a minha própria corrente, meu próprio sistema pedagógico. Talvez pegue um pouquinho daqui, um pouquinho dali, mas tudo de uma só corrente é difícil. Sempre perceberemos falhas em qualquer tipo de corrente pedagógica.

clara campos escreveu:Como nunca te conheci, para mim es mais bem vindo que re-bem-vindo, e para mim pessoalmente será duplamente agradável encontrar por aqui alguém que aprecie uma boa discussão sobre educação. :emoticon4:


Obrigado pela recepção, Clara!

É sempre bom discutir com pessoas que amam a educação e lutam por um país melhor! :emoticon4:

Avatar do usuário
clara campos
Moderadora
Mensagens: 3356
Registrado em: 02 Abr 2006, 15:42
Contato:

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por clara campos »

Acauan, a ver se esclarecemos alguns pontos em que penso estarem a existir alguma falha na nossa comunicação.

Acauan escreveu: O papel da Escola e do professor NUNCA pode ser relacionar sua matéria com a realidade social do aluno.


-Que motivos impedem imperativamente esta relação?

-Este NUNCA é para a relação em si, ou para s formas como é exercida?

No fundo procuro entender a profundidade desta afirmação, ou abrangência, se preferires.
É que se for tida como um princípio geral, então outras questões surgem:

-Esta afirmação implica que o liberalismo (ou tu, neste caso) defendem que todos os alunos, independentemente da sua realidade social, devem ter exactamente o mesmo tratamento do ponto de vista pedagógico?

-Do ponto de vista curricular, esta afirmação resultaria num currículo único, fixo e uniformizado para todos os alunos dum nível geral num mesmo país?


Acauan escreveu: Se a missão da Escola é desenvolver estes potenciais, isto implica que ela está desenvolvendo nossa humanidade, o que, com certeza, não é pouca coisa.


Perfeito.

Acauan escreveu: Bem, não tenho nenhuma experiência quanto a maus tratos, negligência ou famílias disfuncionais, mas pertenço à primeira geração urbana de um clã de Índios que veio para cidade com nada mais que suas malas de roupas.


Existem exemplos fascinantes da força de vontade de algumas pessoas.
É sempre uma honra para mim e conhecer e lidar com pessoas que, não obstante todas as dificuldades com que se depararam na vida e que apesar de terem nascido num ambiente ou contexto que de alguma forma signifique uma desvantagem social, conseguiram de forma extraordinária desenvolver as suas potencialidades sociais, intelectuais e profissinais.
Estas pessoas são para mim modelos de preservação e acima de tudo provas vivas de que não nos devemos acomodar ao fácil, imediato e aparentemente "pré-determinado".

Infelizmente para o mundo, estas pessoas não são uma maioria.


Acauan escreveu:
clara campos escreveu: Ignorar a esfera particular de cada aluno é anular a individualidade de cada estudante na escola e é meio caminho andado para lhe fornecer uma educação insatisfatória.



A esfera particular de cada aluno se revela na expressão de suas competências e talentos, uma manifestação da individualidade que ignora fatores externos ao brilho das almas que os contém.


É realmente lindo disto desta forma, pele vermelha, mas é um sonho.

Os factores externos podem não só moldar as nossas competências e talentos como podem fechar o espaço necessário à sua expressão.

Mas neste ponto volto a sentir que de alguma forma não falamos do mesmo, é aqui que me começo a perder na retórica.
Vamos talvez a exemplos concretos.

Dá-me por favor um em que consideres improdutiva ou castradora a relação entre "realidade social" e "ensino académico" na escola/aula. Pode ser que assim eu entenda melhor a tu ideia.



Acauan escreveu: Clara, estas coisas não existem em Portugal, mas no Brasil, crianças faveladas que vivem cercadas pela violência das quadrilhas de traficantes de drogas devem ser segregadas deste mundo e inspiradas a acreditar que sua realidade é uma exceção social, não uma regra.

Penso que aqui está o cerne da questão.

-Tu pareces defender que se eu pegar num menino favelado, o puser numa escola com professores brilhantes, que dão aulas execpcionais de arte, história, matemática, português ou ciências, as probabilidades desse menino ter sucesso no futuro são iguais às de um menino vindo de uma "regra social".

Eu pessoalmente não acredito nisto.


Acauan escreveu: O que vai além dos conhecimentos acadêmicos?
Por que estes valores que você defende que a Escola deve transmitir aos alunos não podem estar incluídos entre os valores acadêmicos, se é que há alguma forma de o academismo ter algum valor se aqueles não estiverem incluídos.


Nesta parte, por exemplo, falas em "transmissão de valores" e em "valores académicos".

Não me apercebi que valores pensas que defendi serem transmitidos, eu estava a defender que a escola deveria oferecer oportunidades de reflexão sobre as realidades própria e alheia, e não a defender a transmissão deste ou daquele valor.
(embora eu realmente defenda que a escola deve procurar transmitir alguns valores como o civismo e o respeito ao próximo)

Não percebi o que queres dizer com "valores académicos".


Acauan escreveu: O que é possível que você não tenha entendido é que eu não defendo a alienação da comunidade escolar em relação à realidade de seus alunos.
O que eu condeno é a ideologia vigente no Brasil que tenta submeter o conhecimento a uma funcionalidade ideológica de adaptação do educando ao seu mundo.


Como pode não existir alienação, se começas por afirmar que as relações entre realidade social do aluno e matéria não podem ser papel da escola ou do professor?
Parecem-me ideias atagónicas, mas vou esperar pelos esclarecimentos acima pedidos para ver se compreendo melhor.

Acauan escreveu: Ora, não queremos que o educando se adapte ao seu mundo.
Queremos que o educando atinja o máximo de seu potencial como indivíduo e assim contribua para o progresso de seu mundo por vias construtivas.

Sim.
Mas é preciso que conheça o seu mundo, que o compreenda e, claro, que tome conhecimento de outros mundos e realidades, para que queira progredir.


Acauan escreveu:
clara campos escreveu: Professores devem si dar asas aos seus alunos, mas asas fortes e bem construídas e para tal, sempre que necessário, o mundinho dos alunos deve ser trazido à aula..


O que deve ser trazido às aulas é o mundão dos alunos. Aquele que apesar de toda a pequenez à sua volta conserva a grandeza da imaginação, da criatividade, da curiosidade e do desejo de aprender. .


Aqui parece-me ou contradição. Porque primeiro afirmas que não devemos ser politicamente correctos e chamar bonito ao feio. Mas sugeres uma via, igualmente "enganadora" que é ignorar o mundinho e elevar o mundão.

Concordo em absoluto que o mundão deva ser exaltado, aproveitado, mostrado como exemplo.

Mas penso que o "mundinho" também tenha que ser mostrado, para que os alunos se confrontem com ele e percebam, não apenas o que querem, mas o que não querem. (não é bem a mesma coisa, nem vai bem dar ao mesmo...)



No fundo, parece-me que pensas que se fornecermos apenas exemplos bons e encorajadores aos alunos, eles vão automaticamente optar por eles.
Na minha opinião, alguns garotos estão tão imersos em tanta coisa má - que para eles não é necessariamente má, é antes normal porque é o que conhecem - que temos que, a par das alternativas, mostrar-lhes, ou pelo menos obrigá-los a reflectir - nas deficiências da sua realidade. Ou eles não tentarão sequer querer sair dela.
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por RicardoVitor »

clara campos escreveu:
RicardoVitor escreveu:
clara campos escreveu:Algo que acho curioso é que neste fórum existe alguma confusão entre socialismo e comunismo. Quando entrei e comecei vendo essas confusões, comecei a recear que eu estivesse redondamente enganada ou que, eventualmente, os conceitos divergissem entre europa e brasil. Pedi ao sama alguns esclarecimentos e ele gentil e pacientemente mos concedeu.
Percebi então que a essa confusão apenas existe na cabeça de alguns foristas daqui.


Que confusões? Poderia explicar-se?


Parece que neste fórum comunismo=socialismo, sendo que o comunismo é uma forma (bastante extrema) de socialismo, e não O socialismo


Comunismo, segundo Marx, é a etapa final de toda sociedade socialista. Comunismo e socialismo fazem parte da mesma teoria, a marxista. A URSS seguiu os ditames da doutrina marxista, portanto não há nada de errado em chamá-la de comunista ou socialista, mesmo que não tenha atingido a tal etapa comunista, como fora teorizado por Marx.
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Edson Jr »

Quero deixar registrado aqui que as opiniões da Clara refletem muito bem o pensamento das principais correntes pedagógicas que atuam no ambiente escolar, independente da Clara ter tido ou não algum tipo de influência nesse sentido.

E a discussão vai ficar quente! Até mesmo porque os comentários da Clara foram muito pertinentes! :emoticon1:

Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Mensagem por Edson Jr »

zencem escreveu:Os utópicos generalizam na visão de seus antagonistas, como utópicos também, e não se dão ao trabalho de verificar que uma utopia é no máximo uma verdade relativa e, portanto, como antagonistas, terão apenas as utopias derivadas de outras verdades relativas.

O liberalismo pra mim seria apenas um conjunto de regras que teria a mesma função do propósito científico, ou filosófico, e que, basicamente, contemplam a liberdade e a verdade, como suportes da importância da individualidade, na composição de uma ação racional, humana e correta.

Achar que uma instituição ideológica teria mais capacidade do que a síntese da ação de seus indivíduos é uma tremenda ilusão, que normalmente acaba dando com os burros n'agua, até porque, mesmo com o controle, continuará sendo a síntese de seus indivíduos, agora agravados pelo mergulho no obscurantismo.

O liberalismo é portanto um conceito filosófico que não se identifica com nenhuma doutrina que costuma olhar os seus filiados como ovelhas ideais, nascidas pra ser peças de uma massa obediente e parva.

Tanto assim que, num sistema liberal, pode ser eleito um governo com fins ideológicos, como de verdade, até hoje, todos são, o que não se pode ver em sistemas ideológicos geralmente controlados por uma trupe só.

A ideologia trái e fere a democracia, o que não se pode dizer do liberalismo que a acha essencial.


Olá Zencem!

Do jeito que falou, concordo com você.

Agora, poderíamos entrar numa questão subjacente?

Na sua opinião, quando tentamos explicar o comportamento de um indivíduo, qual seria o grau de ênfase adequado que poderíamos dar ao seu contexto histórico-social?

É uma pergunta, ao meu ver, fundamental, principalmente no ambiente escolar, onde todo comportamento dos alunos são praticamente legitimados quando observamos tão-somente seu aspecto histórico-social.

Num outro extremo, comportamento inadequados dos alunos são punidos com extremo rigor, independente do contexto e do tipo de realidade que ele vive.

O ensino público tende mais para a primeira opção. E é justamente aqui que Clara, Acauan e eu estamos debatendo. Acauan tende mais para a desconsideração do aspecto histórico-social, enquanto a Clara já pensa diferente.

Acauan é liberal. Clara é mais marxista (apesar de não ser sua intenção).

Abraços!

Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Edson Jr »

Ih, caramba!

Clara é de Portugal?

Pensei que fosse do Brasil!
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

zencem escreveu:
O liberalismo é portanto um conceito filosófico que não se identifica com nenhuma doutrina que costuma olhar os seus filiados como ovelhas ideais, nascidas pra ser peças de uma massa obediente e parva.

Tanto assim que, num sistema liberal, pode ser eleito um governo com fins ideológicos, como de verdade, até hoje, todos são, o que não se pode ver em sistemas ideológicos geralmente controlados por uma trupe só.

A ideologia trái e fere a democracia, o que não se pode dizer do liberalismo que a acha essencial.


Olá Zencem!

Do jeito que falou, concordo com você.

Agora, poderíamos entrar numa questão subjacente?

Na sua opinião, quando tentamos explicar o comportamento de um indivíduo, qual seria o grau de ênfase adequado que poderíamos dar ao seu contexto histórico-social?

É uma pergunta, ao meu ver, fundamental, principalmente no ambiente escolar, onde todo comportamento dos alunos são praticamente legitimados quando observamos tão-somente seu aspecto histórico-social.

Gosto da valentia da Clara.
O que lí sobre a posição dela, entretanto, são insuficientes para fazer alguma consideração. Vou deixar pra depois, se puder.

Mas sobre esse assunto, admito que podemos observar este histórico social, para traçar alguma estratégia de como enfrentá-lo.
Todavia, acredito que isto não deva obedecer a critérios que levem em conta justiificativas que legitimem ou tentem aliviar a responsabilidade da ação de cada aluno.

É preciso que fique claro que uma sociedade é a que sempre está sendo organizada de e por indivíduos que constróem as suas leis que, nada mais são senão a forma de regulamentar os interesses essenciais de cada um, inclusive, a sua liberdade.

Cabe mais sim, conscientizá-lo de que ele está sendo resultado desse histórico social que é esse meio gregário, onde ele está crescendo sem a consciência e importância dessa individualidade que precisa ser despertada.

Só ele, no exercício desta individualidade, poderá ativar a inteligência, geradora de um saber que poderá tornar em vantagem a vida gregária de modo a alcança-lo, também.

Somos despejados, ao nascer, neste meio, que nos vai condicionando e nos construindo, sem a preocupação da consciência de nossa individualidade.

Assim pensamos gregariamente, agimos gregariamente, somos julgados gregariamente, mas pagamos individualmente.

É aí que o indivíduo precisa nascer e tomar consciência dos pilares capazes de reconstruir o seu próprio projeto de educação onde possa se caminhar para uma sociedade melhor: A verdade e a liberdade, como componentes de um pensamento crítico e consciente de si mesmo.

Temos duas escolhas: Ou contribuimos pela melhoria dessa vida gregária, ou renunciamos a ela e recuperamos integralmente a solidão de nossa individualidade na sela de uma prisão, ou numa selva amazônica onde exista alguma tribo disposta a não nos vêr.


Num outro extremo, comportamento inadequados dos alunos são punidos com extremo rigor, independente do contexto e do tipo de realidade que ele vive.

Uma ação não anula a outra.
Alias, pode até haver uma simbiose, aquí.
O que não pode é plantar o sentimento de impunidade numa idade tão decisiva.


O ensino público tende mais para a primeira opção. E é justamente aqui que Clara, Acauan e eu estamos debatendo. Acauan tende mais para a desconsideração do aspecto histórico-social, enquanto a Clara já pensa diferente.

Acauan é liberal. Clara é mais marxista (apesar de não ser sua intenção).

Abraços!

Estava pensando em abrir um tópico com uma boa idéia socialista, em tua homenagem.

Mas ando tão incompetente e desconcatenado que acho que nem é bom arriscar.

Como você vê: O liberalismo permite essas aventuras. :emoticon12:

Grande abraço.


Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Edson Jr »

Orlando;

Muitas vezes tenho a impressão de que o nosso sistema cria condições muito propícias para a violência e bandidagem, inclusive dos jovens. Depois, o sistema os pune, atribuindo à eles toda a responsabilidade.

Mas vejo que não poderia ser diferente, pois tudo aquilo que representa uma ameça à civilização (mesmo que a civilização seja, em parte, inimiga da individualidade) precisa ser combatido.

Talvez, o que possa ser feito e, que seria, ao meu ver, de grande valia, seria a punição sim, mas uma constante reflexão e ação das autoridades e sociedade em geral, no sentido de entender que ambientes desfavoráveis favorecem comportamentos inconvenientes para o bem estar social e, conseqüentemente, prover os meios necessários para tornar tais ambientes desfavoráveis, em terrenos mais propícios para o bem social.

Resumindo, é como se eu fosse um escritor de um livro. Se, em algum momento, percebo que escrevi bobagens, amasso e jogo fora a besteira que escrevi. Mas reconheço que cometi um erro e procuro melhorar meus escritos.

O que ocorre atualmente, ao meu ver, são escritores que escrevem besteiras e culpam a caneta, o papel ou até mesmo os próprios personagens, sem refletir que ele é o maior responsável pelos escritos ruim.

Sei que essa analogia não é a ideal, mas foi a melhor que me veio agora na mente. :emoticon1:

Grande abraço!

Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Edson Jr »

Ah, Orlando!

Pare de bobagem, pois você não está nada incompetente.

Pelo contrário, está em plena forma! :emoticon4:
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Mensagem por Acauan »

Edson Jr escreveu:Hoje, poderia ser piloto da FAB (Força Aérea da Aeronáutica), pois sou ex-aluno da EPCAR (Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica). Abandonei a aeronáutica por não conseguir encontrar nada dentro dela que se encaixasse com meus mais profundos ideais. Em meu íntimo, sempre tive o desejo em dar minha contribuição para a sociedade. E entendi o magistério como a profissão mais nobre e importante dentre todas as outras, apesar dos baixos salários. É claro que meus critérios de avaliação e ideais de nobreza são de caráter puramente pessoal e subjetivo.


Edson,

Por estas e outras que acredito em você como uma exceção e uma esperança neste meio educacional.
Conquistar o sabre alado é uma façanha, mas renunciar ao prestígio auferido por ele para ensinar é uma decisão corajosa e de certo a mais nobre.
A FAB pode desfrutar do luxo de contar com muito mais jovens brilhantes disputando uma vaga de cadete do ar do que precisaria para manter seus poucos aviões voando.
Já nossas Escolas se ressentem do fato de que os melhores talentos fujam do magistério, alimentando o círculo vicioso em que os professores ruins de hoje formam os professores piores de amanhã.

Cada reforço que ajude a quebrar este ciclo é extremamente bem vindo.


Edson Jr escreveu:Agora, percebo a possibilidade de estar cometendo um erro grave, apesar de não ter tido intenção. É que, TODOS os livros pedagógicos de referência bibliográfica para os concursos públicos do magistério são de caráter não-liberal. Nada do que disse é essencialmente diferente de tudo o que li sobre o assunto. Na verdade, tais livros, primeiro criticam a visão liberal e, apesar de não falarem abertamente, deixam implícita a visão marxista como opção mais justa e humana.


Os Marxistas se valem de um artifício extremamente desonesto para sustentar a hegemonia que conquistaram no setor educacional brasileiro que é comparar as promessas socialistas de uma sociedade igualitária e fraterna com a aparente dureza das proposições liberais, mostradas como uma doutrina que prega que os pobres devem ser abandonados à própria sorte.

A esquerda nunca compara as realizações efetivas do Liberalismo e do Socialismo, cujos resultados provam que economias dirigidas não apenas são muito mais cruéis com seus pobres como os produzem em muito maior profusão que o Liberalismo. Diante dos fatos e dados que provam isto, Marxistas recorrem a escapismos como negar a autenticidade dos fracassados regimes socialistas estabelecidos até hoje ou apontar o Liberalismo como causa de todos os problemas sociais do Brasil e do mundo, sem nunca demonstrar uma única relação de causa e efeito válida ou um padrão comparativo minimamente aceitável (tipo Alemanha Ocidental X Alemanha Oriental, Coréia do Sul X Coréia do Norte ou China X Taiwan).

Também é ausente do discurso dos Marxistas uma comparação entre os fundamentos de sua doutrina e a do Liberalismo, para checar qual tem bases mais sólidas na realidade.
Um exemplo é que o conceito de valor no Liberalismo é definido pela Lei da Oferta e da Procura, um fato econômico que pode ser historicamente provado e se mostra válido e verdadeiro em todas as circunstâncias em que é estudado.

O conceito de valor do Marxismo é o Valor-Trabalho, uma bobagem sem pé nem cabeça que nunca foi provada experimentalmente e pode ser demonstrada como absurda por qualquer colegial minimamente informado sobre os rudimentos da Economia.

Caberia perguntar, se o Marxismo é tão tolo, porque bilhões de pessoas foram submetidas a este regime ao longo do século XX e como uma parcela enorme da classe intelectual ainda o defende?
A resposta é que o Marxismo é tolo como teoria econômica e social, mas é extremamente eficaz como doutrina de Fé revolucionária, que fornece o caminho das pedras para a conquista e manutenção de poder por certos grupos intelectuais e políticos que seriam relegados ao ostracismo em regimes liberais fundamentados na competição.


Edson Jr escreveu:Não somente os livros, mas TODOS os meus ex-professores de sociologia da faculdade tendiam à visão socialista.


O Marxismo em alguns feudos universitários é praticamente uma religião política, que como as religiões tradicionais não depende de uma base científica para sustentar a Fé de seus crentes. Assim como para o religioso cristão Deus está acima da natureza e da realidade sensível, podendo pois se manifestar de modo sobrenatural contrariando estas leis e realidades, o Marxista típico só acredita na realidade como descrita por sua doutrina, entendendo como incorreta qualquer coisa que a negue.

Edson Jr escreveu:Não que queira atribuir a responsabilidade para outros, até mesmo porque acredito que cometi o erro em não consultar outras fontes (apesar de não haver nenhum incentivo externo para isso).


Há um bloqueio ferrenho contra idéias liberais neste ambientes, só que as idéias não são colocadas em debate, situação que exporia de modo indiscutível a fragilidade dos argumentos anti-liberais.
Na maioria das vezes o defensor de idéias liberais é tratado como um tipo de ingênuo, doutrinado por supostas estruturas de poder ou então como um desinformado que precisa consultar as fontes certas para saber das coisas e o confronto de evidências é encerrado antes de começar.


Edson Jr escreveu:Quero dizer com tudo isso que, caso tudo que você disse sobre liberalismo seja realmente verdadeiro, os livros pedagógicos voltados para o magistério são absolutamente criminosos, pois dizem que o liberalismo é, o que, na verdade, não é, para depois atacá-lo. Seria uma espécie de falácia do espantalho.
Pior que isso, atacam o liberalismo e, depois de esmagá-lo, exaltam sutilmente a visão marxista.
E é isso que preciso estudar para os concursos! São essas minhas fontes!


Correto.
O Marxismo é uma doutrina revolucionária, logo não atua dentro das regras legítimas e transparentes do regime democrático, que desprezam sob o apelido depreciativo de democracia burguesa.
Para eles estes artifícios não são criminosos, dado que a ética Marxista é classista, acreditam que os atos não são bons ou ruins, certos ou errados em si. Segundo eles tais atos só podem ser julgados por seu papel no processo histórico de conscientização do proletariado, seja lá o que for que isto signifique e mesmo sabendo no que tais idéias resultam de prático no fim.


Edson Jr escreveu:Outro detalhe é que NENHUM professor de escola pública que conheço (sei que deve ter), me falaram sobre o liberalismo de forma parecida com a sua. Ao contrário, TODOS que conheço falavam sobre o liberalismo da mesma forma como está escrito nos livros que li. Tudo isso só veio a reforçar ainda mais minha opinião. Nem estou considerando os professores que nem sabem o que significam liberalismo, pois a maioria (parece engraçado, mas é verdade), pensa que liberalismo é um estilo de vida liberal (no sentido de descolado) que algumas pessoas adotam.
Em outras palavras, TUDO o que você está me dizendo sobre doutrina liberal é, para mim, novidade. Todo meu ambiente de trabalho, inclusive materiais de estudo para concursos é de caráter anti-liberal.


À doutrinação e bloqueio vigente no meio escolar contra o Liberalismo deve ser somada a ignorância média dos professores, mais familiarizados com a obra de Paulo Coelho do que com a de Hayek.

Edson Jr escreveu:Dessa forma, espero que me permita abusar um pouquinho de sua boa vontade. Gostaria de pedir para você me indicar alguns sites ou livros onde eu possa ler e entender melhor sobre a visão liberal, tal como ela realmente é. Somente assim irei tomar uma posição mais sólida e segura. Para isso, conto com sua ajuda, pois é bem possível que surjam dúvidas no caminho. E não conheço ninguém no meu ambiente de trabalho que demonstre conhecimento suficiente para me ajudar nesse sentido.


Uma introdução ao Pensamento Liberal bastante simples e agradável, mas nem por isto menos informativa pode ser encontrada nos artigos do site do jornalista João Mellão.

Lidos estes, recomendo buscar no google por artigos antigos na Folha e Estado de São Paulo de Roberto Campos, o mais brilhante defensor do Liberalismo no Brasil.

Como é importante saber como tudo começou, se ainda não o fez leia "A Riqueza da Nações", de Adam Smith.
Outra obra de iniciação indispensável é o livro "Capitalismo e Liberdade" de Milton Friedman.

Como é interessante conhecer os dois lados da moeda, recomendo para efeito de comparação crítica que leia também o livro "A Era da Incerteza", de John K. Galbraith, competente defensor do Keynesianismo, doutrina econômica opositora ao Liberalismo e que dominou o Ocidente durante a maior parte do século XX.

Em um estágio um pouco mais avançado são recomendadas as obras de Hayek e Von Mises.


Edson Jr escreveu:No mais, meu amigo, pode confiar em mim, pois apesar dos muitos erros, meu senso de valores aponta para o bem, seguindo, mesmo aos tropeços, a trilha dos guerreiros.


Que nesta trilha seu braço seja forte, seu coração seja valente e seu combate seja honrado.
Vá com coragem e volte em triunfo.

ANAUÊ!
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Mensagem por Acauan »

Leo escreveu:
Acauan escreveu:Os fundamentos do Marxismo – mais valia, valor trabalho, determinismo histórico, luta de classes etc não foram extraídos da experiência prática.
Eram apenas um conjunto de crenças apresentadas como verdadeiras e aceitas como tal justamente por tocar fundo em alguns sentimentos egoístas humanos, como a ambição de certos revolucionários de reconstruírem pela força um mundo no qual não conseguiram sucesso por seus méritos.


Agora foi a sua vez de apresentar um discurso ideologicamente contaminado. Afirmar, por exemplo, que o conceito de luta de classes não foi extraído da experiência prática é um absurdo. Com exceção de algumas sociedades primitivas, como as comunidades rurais na Rússia, que eram uma organização social pautada na propriedade comum da terra, todas as demais, a partir do momento em que o homem passou a se apropriar do seu semelhante e de parte do produto do seu trabalho, retratam a história da luta de classes. Negar isso é negar toda a história escrita até agora.


Negar isto é negar toda a interpretação marxista da História escrita até agora.

E só isto.

Karl Marx chamou alguns fenômenos sociais de luta de classes e os Marxistas passaram a apresentar estes fenômenos para provar que a luta de classes é um conceito científico.

Puro raciocínio circular sem qualquer fundamentação que não a doutrinária.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Re: Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por zencem »

Edson Jr escreveu:Orlando;

Muitas vezes tenho a impressão de que o nosso sistema cria condições muito propícias para a violência e bandidagem, inclusive dos jovens. Depois, o sistema os pune, atribuindo à eles toda a responsabilidade.

Mas vejo que não poderia ser diferente, pois tudo aquilo que representa uma ameça à civilização (mesmo que a civilização seja, em parte, inimiga da individualidade) precisa ser combatido.

Talvez, o que possa ser feito e, que seria, ao meu ver, de grande valia, seria a punição sim, mas uma constante reflexão e ação das autoridades e sociedade em geral, no sentido de entender que ambientes desfavoráveis favorecem comportamentos inconvenientes para o bem estar social e, conseqüentemente, prover os meios necessários para tornar tais ambientes desfavoráveis, em terrenos mais propícios para o bem social.

Resumindo, é como se eu fosse um escritor de um livro. Se, em algum momento, percebo que escrevi bobagens, amasso e jogo fora a besteira que escrevi. Mas reconheço que cometi um erro e procuro melhorar meus escritos.

O que ocorre atualmente, ao meu ver, são escritores que escrevem besteiras e culpam a caneta, o papel ou até mesmo os próprios personagens, sem refletir que ele é o maior responsável pelos escritos ruim.

Sei que essa analogia não é a ideal, mas foi a melhor que me veio agora na mente. :emoticon1:

Grande abraço!


Realmente, a situação está caótica.
Veja por exemplo o que está emergindo do Rio.
Agora o governo promete ação, mas já antevejo que a ação será sempre de superfície, com medidas artificiais.
O problema vem lá de dentro; e lá dentro o que é que há?
Um sistema sem moral, ladrões, assassinos cínicos, impunidade, política corrupta e demagogia.
O que é bom e que permanece na peneira é ridiculamente insignificante e sem força.
A própria mídia vai tratando de deixá-los sumir no esquecimento, para que a imbecilidade dominante ressuscite e continue fazendo seu estrago.
O que nos resta?
Estar conscientes disso tudo e continuar a fazer o nosso trabalho de formiguinha.

Abraços!
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Mensagem por Acauan »

clara campos escreveu: Acauan, a ver se esclarecemos alguns pontos em que penso estarem a existir alguma falha na nossa comunicação.

Acauan escreveu: O papel da Escola e do professor NUNCA pode ser relacionar sua matéria com a realidade social do aluno.


-Que motivos impedem imperativamente esta relação?


O primeiro e mais importante motivo é que não há uma definição clara e objetiva do que seria a tal "realidade social do aluno".
Esta idéia só faz sentido dentro da óptica marxista de que a realidade social de cada pessoa é definida pela classe social à qual pertence.

Assim, quando falam em relacionar a matéria a realidade social do aluno, implica em identificar este aluno, por exemplo, como membro de uma família operária da periferia de São Paulo e relacionar as disciplinas com esta suposta e imaginada realidade.

O primeiro erro consiste no reducionismo marxista de decretar o fator econômico como preponderante para definir a realidade individual de cada, como se a cultura familiar, as aptidões individuais e as diferentes interações de cada aluno não estabelecesse para cada um uma realidade social que, na totalidade, é definida por um aspecto muito mais amplo de fatores de influência do que o estabelecido apenas por ser operário e morar na periferia.

O segundo erro, talvez mais grave, é que a tal realidade social do aluno é um referencial concreto.
Quando se fala em relacionar a disciplina ensinada à realidade social do aluno isto significa dar uma abordagem concreta ao tema.
E como ficam todas as disciplinas que dependem do pensamento abstrato, criativo ou poético para ser compreendidas. Reduzimos estas disciplinas ao concretismo ou damos caráter abstrato, criativo e poético à tal realidade social, sabe-se lá como se possa fazer isto.

Digamos um professor ensinando os fundamentos da geometria Euclidiana:

- Todas as figuras geométricas são constituídas de pontos;
- O ponto não tem comprimento, largura ou espessura;
- A linha é constituída de pontos, tem comprimento mas não tem largura ou espessura;
- Uma linha reta têm infinitos pontos, se marcarmos um ponto que a divida teremos duas semi-retas, cada qual também com infinitos pontos e se marcarmos um segundo ponto divisor teremos um segmento de reta, também com infinitos pontos.

Como relacionar estes conceitos abstratos à realidade social concreta do aluno sem destruir a abstração fundamental de toda a geometria plana?

No Brasil, o que os defensores desta política educacional pensam, mas não tem a honestidade de dizer é que abstrações como esta não tem utilidade prática e portanto devem ser suprimidas do ensino.

É absurdo que educadores tenham tal pensamento, mas muito mais absurdo é quando vêem que os resultados práticos de tais políticas é uma queda abissal e contínua na qualidade do ensino e mesmo assim insistem em aprofundar métodos que só produzem resultados negativos, mesmo que gerações inteiras já tenham sido condenadas à ignorância por conta deles.


clara campos escreveu: -Este NUNCA é para a relação em si, ou para s formas como é exercida?


Este "nunca" é para os significados ideológicos que originaram e sustentam a tal relação, que, em última instância, despreza tudo que não se enquadre na dinâmica marxista de construção do socialismo.

clara campos escreveu: No fundo procuro entender a profundidade desta afirmação, ou abrangência, se preferires.
É que se for tida como um princípio geral, então outras questões surgem:

-Esta afirmação implica que o liberalismo (ou tu, neste caso) defendem que todos os alunos, independentemente da sua realidade social, devem ter exactamente o mesmo tratamento do ponto de vista pedagógico?


Muito pelo contrário.
O que eu proponho é que a abordagem deve privilegiar, na medida do possível, as características individuais do aluno, independente de quaisquer outros fatores de influência a ser considerados.
Se um aluno demonstra notável aptidão para as artes, é interessante que o professor de artes o observe com mais atenção e identifique formas adequadas de desenvolver estas aptidões. Pouco importa se o aluno com aptidões é filho do borracheiro ou da rainha da Dinamarca.
Do mesmo modo, se determinados alunos demonstram dificuldades específicas ou mesmo antipatias com certos conteúdos, convém identificar quais os fatores causa em ação e como trata-los.

Sou inteiramente contrário ao coletivismo, ao ensino de massa que entende que ensinar é como fabricar tampas de garrafa, ajustam-se os alunos a determinado molde e batem-lhes na cabeça com ele.

Entendo perfeitamente as dificuldades de se aplicar métodos individualizados em classes lotadas de alunos, mas com interesse dos professores, tempo adequado e métodos de avaliação compatíveis pode-se, pelo menos, alcançar em algum grau este objetivo e com técnicas modernas de gestão promover a melhoria contínua que impulsione estes resultados para cima ano a ano.

O absurdo reside em que um sistema já demonstrado como um ciclo de piora contínua ainda receba apoio entusiasta de certos ideólogos e, pasme, professores.


clara campos escreveu: -Do ponto de vista curricular, esta afirmação resultaria num currículo único, fixo e uniformizado para todos os alunos dum nível geral num mesmo país?


Os fundamentos das disciplinas Português, matemática, física, química, biologia, língua estrangeira moderna, História, geografia, artes e educação física devem ser obrigatórios e uniformes em todo país, o que não impede adaptações, como estudo da geografia com ênfase nas características da região ou da língua portuguesa detalhando estilos regionais, como o cordel do nordeste do Brasil por exemplo.

O que não dá é inventar moda para no fim ter alunos que não sabem ler e interpretar um texto, desconhecem quem foi Camões e nem imaginam o que teria sido o sistema de capitanias hereditárias.


clara campos escreveu:
Acauan escreveu: Bem, não tenho nenhuma experiência quanto a maus tratos, negligência ou famílias disfuncionais, mas pertenço à primeira geração urbana de um clã de Índios que veio para cidade com nada mais que suas malas de roupas.


Existem exemplos fascinantes da força de vontade de algumas pessoas.
É sempre uma honra para mim e conhecer e lidar com pessoas que, não obstante todas as dificuldades com que se depararam na vida e que apesar de terem nascido num ambiente ou contexto que de alguma forma signifique uma desvantagem social, conseguiram de forma extraordinária desenvolver as suas potencialidades sociais, intelectuais e profissinais.
Estas pessoas são para mim modelos de preservação e acima de tudo provas vivas de que não nos devemos acomodar ao fácil, imediato e aparentemente "pré-determinado".

Infelizmente para o mundo, estas pessoas não são uma maioria.


Talvez não sejam uma maioria, mas com certeza não são exceções raras.
Cresci em um subúrbio operário que no período de vinte anos se transformou em uma relativamente próspera localidade de classe média na qual TODAS as famílias locais educaram seus filhos e conquistaram para eles os meios para começar a vida de um patamar mais alto do que eles próprios começaram.
Isto foi possível por que se apegavam a uma cultura e ética que associava o trabalho duro e disciplinado ao progresso.
Felizmente ninguém disse a eles que devido à sua realidade social deveriam abandonar aquelas ilusões pequeno-burguesas, pois seus trabalhos pouco qualificados e mal remunerados jamais seriam suficientes para prover um futuro melhor para suas famílias.


clara campos escreveu:
Acauan escreveu:Ignorar a esfera particular de cada aluno é anular a individualidade de cada estudante na escola e é meio caminho andado para lhe fornecer uma educação insatisfatória.
A esfera particular de cada aluno se revela na expressão de suas competências e talentos, uma manifestação da individualidade que ignora fatores externos ao brilho das almas que os contém.


É realmente lindo disto desta forma, pele vermelha, mas é um sonho.
Os factores externos podem não só moldar as nossas competências e talentos como podem fechar o espaço necessário à sua expressão.
Mas neste ponto volto a sentir que de alguma forma não falamos do mesmo, é aqui que me começo a perder na retórica.
Vamos talvez a exemplos concretos.
Dá-me por favor um em que consideres improdutiva ou castradora a relação entre "realidade social" e "ensino académico" na escola/aula. Pode ser que assim eu entenda melhor a tu ideia.


Digamos que o professor de inglês resolva ensinar a seus alunos quem foi Shakespeare e a importância de sua obra para literatura universal.
A realidade social destes alunos é um andar sobre o fio da navalha entre o mundo civilizado e a violência vulgarizada pelas quadrilhas de traficantes de drogas, sendo que os que optam pela vida honesta frequentemente começam a trabalhar cedo e tem que dividir as horas do dia entre o trabalho e a escola, enfrentando todos os problemas oriundos da pobreza e da baixa auto-estima de ser tido como cidadão de segunda classe na disputa de oportunidades.

Como relacionar Shakespeare a esta realidade?

Há duas respostas possíveis. A primeira é considerar que um escritor estrangeiro morto há centenas de anos, cujas peças tratam de assuntos que não tem nada a ver com a realidade social dos alunos, seja econômica, histórica, étnica ou geograficamente em nada pode ajudá-los a entender melhor esta sua realidade social e portanto deve ser preterido em favor de outras alternativas de estudo, como exibir filmes modernos falados em inglês que mostrem a realidade dos subúrbios pobres americanos e correlacionar ambas.

A segunda abordagem é apresentar a obra de Shakespeare como um mergulho na alma humana e buscar nela exemplos onde cada aluno possa enxergar seus próprios conflitos pessoais e através do desenvolvimento desta compreensão reforçar a auto-estima destes alunos desenvolvendo neles o auto-conhecimento a partir de uma visão de si próprios orientada a partir dos significados de uma obra literária universal.

É claro para mim que esta segunda abordagem é preferível, só que ela destaca os aspectos universalistas da obra de Shakespeare que podem ser aplicados a qualquer lugar e época e questões individuais dos alunos, que independem de sua realidade social.


clara campos escreveu:
Acauan escreveu: Clara, estas coisas não existem em Portugal, mas no Brasil, crianças faveladas que vivem cercadas pela violência das quadrilhas de traficantes de drogas devem ser segregadas deste mundo e inspiradas a acreditar que sua realidade é uma exceção social, não uma regra.


Penso que aqui está o cerne da questão.

-Tu pareces defender que se eu pegar num menino favelado, o puser numa escola com professores brilhantes, que dão aulas execpcionais de arte, história, matemática, português ou ciências, as probabilidades desse menino ter sucesso no futuro são iguais às de um menino vindo de uma "regra social".

Eu pessoalmente não acredito nisto.


O que eu acredito é que crianças faveladas tem diferentes potenciais e que um professor atento a estes potenciais individuais mais do que à origem social de seus alunos descobrirá talentos que podem ser desenvolvidos e superar outros alunos nascidos em realidades mais confortáveis, mas sem as mesmas capacidades e motivações.

Na média é sempre possível produzir resultados melhores, mesmo que seja esperado que alunos com melhores condições materiais transformem estas facilidades em resultados mais positivos que aqueles que não dispõem delas.


clara campos escreveu:
Acauan escreveu: O que vai além dos conhecimentos acadêmicos?
Por que estes valores que você defende que a Escola deve transmitir aos alunos não podem estar incluídos entre os valores acadêmicos, se é que há alguma forma de o academismo ter algum valor se aqueles não estiverem incluídos.


Nesta parte, por exemplo, falas em "transmissão de valores" e em "valores académicos".

Não me apercebi que valores pensas que defendi serem transmitidos, eu estava a defender que a escola deveria oferecer oportunidades de reflexão sobre as realidades própria e alheia, e não a defender a transmissão deste ou daquele valor.
(embora eu realmente defenda que a escola deve procurar transmitir alguns valores como o civismo e o respeito ao próximo)

Não percebi o que queres dizer com "valores académicos".


Simples. Há uma confusão comum entre valores acadêmicos e burocracia acadêmica.
Valores acadêmicos remetem à origem do termo, a Academia grega como local de exposição, debate e preservação do conhecimento. O problema é que com o tempo a palavra "acadêmico" acumulou significados institucionais que pouco ou nada tinham em comum com suas origens.
Como você falou de "conhecer melhor os seus educandos, bem como oferecer aos alunos oportunidades de autoreflexão e crítica" como coisas que iriam além da transmissão de conhecimentos acadêmicos, estava utilizando o termo em sua concepção moderna, burocrática e não na original à qual me referia, que incluía estes objetivos entres seus valores fundamentais.


clara campos escreveu:
Acauan escreveu: O que é possível que você não tenha entendido é que eu não defendo a alienação da comunidade escolar em relação à realidade de seus alunos.
O que eu condeno é a ideologia vigente no Brasil que tenta submeter o conhecimento a uma funcionalidade ideológica de adaptação do educando ao seu mundo.


Como pode não existir alienação, se começas por afirmar que as relações entre realidade social do aluno e matéria não podem ser papel da escola ou do professor?
Parecem-me ideias atagónicas, mas vou esperar pelos esclarecimentos acima pedidos para ver se compreendo melhor.


Claro que as relações sociais do aluno e da matéria não podem ser papel da escola e do professor. O professor no Brasil é em geral um profissional de classe média, preparado para lecionar disciplinas nas quais se especializou. Quando propomos ao professor fazer o papel de guru social de seus alunos, primeiro criamos uma situação ridículo, pois este professor só conhece a tal realidade social de alunos favelados, por exemplo, através de filmes ou de ouvir falar. A distância geográfica entre a favela e a classe média no Brasil é nenhuma em cidades como o Rio de Janeiro, mas a distância sócio-cultural é gigantesca.
Ou seja, quando damos pretensões de guia social ao professor criamos apenas uma caricatura do tal guia, enquanto ele deixa de fazer adequadamente aquilo para o qual presume-se que tenha qualificações que é ensinar.
Dentro desta competência cabe a ele identificar as necessidades específicas de seus alunos e orientar suas aulas para o melhor resultado médio, abrindo, sempre que possível, espaço para os talentos se destacarem.
Basta que ele faça este serviço e já terá feito muito. Querer que o professor seja um agente reformador da sociedade é não ter o tal agente e ainda perder o que poderia ter sido um bom professor.


clara campos escreveu:
Acauan escreveu: Ora, não queremos que o educando se adapte ao seu mundo.
Queremos que o educando atinja o máximo de seu potencial como indivíduo e assim contribua para o progresso de seu mundo por vias construtivas.

Sim.
Mas é preciso que conheça o seu mundo, que o compreenda e, claro, que tome conhecimento de outros mundos e realidades, para que queira progredir.


A realidade cotidiana dos alunos em seu meio é auto-evidente.
É uma premissa Marxista a idéia de que os proletários precisem que uma casta intelectual lhes mostre sua própria realidade para que eles a entendam.
O que a premissa Marxista propõe na verdade é que as classes operárias devem ser guiadas para a revolução pelas classes intelectuais, o que não é outra forma de dizer que os pobres devem ser puxados pelo cabresto para a realização dos objetivos que a elite intelectual marxista acha que eles estão destinados.

A função da Escola é fornecer subísidios intelectuais para que o aluno, por si e por seus próprios métodos, enxergue sua realidade a partir de uma percepção mais ampla e profunda e desenvolva sua percepção crítica pela experiência intelectual pessoal, não pela doutrinação política conduzida por grupos.


clara campos escreveu:
Acauan escreveu:
clara campos escreveu: Professores devem si dar asas aos seus alunos, mas asas fortes e bem construídas e para tal, sempre que necessário, o mundinho dos alunos deve ser trazido à aula..


O que deve ser trazido às aulas é o mundão dos alunos. Aquele que apesar de toda a pequenez à sua volta conserva a grandeza da imaginação, da criatividade, da curiosidade e do desejo de aprender. .


Aqui parece-me ou contradição. Porque primeiro afirmas que não devemos ser politicamente correctos e chamar bonito ao feio. Mas sugeres uma via, igualmente "enganadora" que é ignorar o mundinho e elevar o mundão.

Concordo em absoluto que o mundão deva ser exaltado, aproveitado, mostrado como exemplo.

Mas penso que o "mundinho" também tenha que ser mostrado, para que os alunos se confrontem com ele e percebam, não apenas o que querem, mas o que não querem. (não é bem a mesma coisa, nem vai bem dar ao mesmo...)


Como disse o tal mundinho é auto-evidente e nenhum favelado precisa que um professor lhe ensine que a favela é ruim.
O que o favelado precisa que a escola lhe ensine são as coisas que ele não tem como aprender na favela, para que da soma das experiências de dentro e de fora dela possa realizar seus objetivos de vida, seja ele mudar para lugar melhor ou tornar melhor o lugar que mora.


clara campos escreveu:No fundo, parece-me que pensas que se fornecermos apenas exemplos bons e encorajadores aos alunos, eles vão automaticamente optar por eles.
Na minha opinião, alguns garotos estão tão imersos em tanta coisa má - que para eles não é necessariamente má, é antes normal porque é o que conhecem - que temos que, a par das alternativas, mostrar-lhes, ou pelo menos obrigá-los a reflectir - nas deficiências da sua realidade. Ou eles não tentarão sequer querer sair dela.


Como disse, o papel da Escola é justamente abrir para eles uma janela que os deixe ver que as realidades más nas quais estão inseridos não tem que ser uma regra, mas uma exceção social, da qual podem fugir pela elevação de seus espíritos e elevar espíritos é a razão de ser da Escola.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Leo
Mensagens: 2784
Registrado em: 01 Nov 2005, 12:29
Contato:

Mensagem por Leo »

Acauan escreveu:Negar isto é negar toda a interpretação marxista da História escrita até agora.

E só isto.

Karl Marx chamou alguns fenômenos sociais de luta de classes e os Marxistas passaram a apresentar estes fenômenos para provar que a luta de classes é um conceito científico.

Puro raciocínio circular sem qualquer fundamentação que não a doutrinária.


Errado. Este conceito expressa uma realidade observada em todas as sociedades divididas em classes, e que as relações estabelecidas entre as classes presupunha a apropriação de seu semelhante e de parte do produto do seu trabalho, a partir de certo nível de desenvolvimento das forças produtivas.

Da escravidão na Grécia homérica, do não reconhecimento dos direitos civis e políticos dos plebeus na Roma Antiga a flexibilização das leis trabalhistas na atualidade, o que vemos é a imposição de condições opressoras que permitem às classes detentoras do meios de produção defender os seus interesses, e é a partir do desacordo de interesses entre ela e a classe trabalhadora que surge a luta de classes.

E continuo achando curioso o fato de você criticar a influência ideológica no discurso alheio "sem perceber" o quanto de ideologia tem no seu. É... pimenta no cu dos outros é refresco de maracujá. Você diz que a teoria marxista só apresenta fundamentação doutrinária, mas ignora, por exemplo, o dogma da liberdade contido no liberalismo.

Será que os records nos índices de desenvolvimento humano dos países que adotaram o liberalismo é proporcional ao nível de emancipação do seu povo? Liberdade para quê e para quem, acredito eu, serem as perguntas fundamentais para desmistificar toda a ilusão contida nessa ideologia.
Editado pela última vez por Leo em 07 Jan 2007, 18:20, em um total de 2 vezes.

Avatar do usuário
Edson Jr
Mensagens: 2065
Registrado em: 25 Nov 2005, 21:34
Gênero: Masculino

Re.: Ideologia Liberal

Mensagem por Edson Jr »

Acauan, meu amigo!

Tomei nota de seus comentários e vou ler com calma sobre a visão liberal.

Conforme as dúvidas forem surgindo, vou postá-las aqui, tudo bem?

Um grande abraço, guerreiro!
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Mensagem por Acauan »

Leo escreveu:
Acauan escreveu:Negar isto é negar toda a interpretação marxista da História escrita até agora.
E só isto.
Karl Marx chamou alguns fenômenos sociais de luta de classes e os Marxistas passaram a apresentar estes fenômenos para provar que a luta de classes é um conceito científico.
Puro raciocínio circular sem qualquer fundamentação que não a doutrinária.


Errado. Este conceito expressa uma realidade observada em todas as sociedades divididas em classes, e que as relações estabelecidas entre as classes presupunha a apropriação de seu semelhante e de parte do produto do seu trabalho, a partir de certo nível de desenvolvimento das forças produtivas.
Da escravidão na Grécia homérica, do não reconhecimento dos direitos civis e políticos dos plebeus na Roma Antiga a flexibilização das leis trabalhistas na atualidade, o que vemos é a imposição de condições opressoras que permitem às classes detentoras do meios de produção defender os seus interesses, e é a partir do desacordo de interesses entre ela e a classe trabalhadora que surge a luta de classes.
E continuo achando curioso o fato de você criticar a influência ideológica no discurso alheio "sem perceber" o quanto de ideologia tem no seu. É... pimenta no cu dos outros é refresco de maracujá. Você diz que a teoria marxista só apresenta fundamentação doutrinária, mas ignora, por exemplo, o dogma da liberdade contido no liberalismo.
Será que os records nos índices de desenvolvimento humano dos países que adotaram o liberalismo é proporcional ao nível de emancipação do seu povo? Liberdade para quê e para quem, acredito eu, serem as perguntas fundamentais para desmistificar toda a ilusão contida nessa ideologia.


Para que esta interpretação do conceito de luta de classes fosse correta teriam que ser demonstradas como verdadeiras as seguintes premissas adotadas como válidas pelo Marxismo, sem a qual o conceito é apenas um raciocínio circular.

1. O fator econômico é preponderante sobre todos os demais que influenciam as relações sociais;

2. Indivíduos de perfil econômico semelhante tem, necessariamente, aspirações e visões de mundo semelhantes, que lhes determinam atitudes semelhantes;

3. Existe uma entidade supra-individual chamada classe, à qual é sujeito da História;

4. A luta de classes conduz ao socialismo;

5. A interação entre as classes é necessariamente antagônica.

Se você conseguir demonstrar que estas cinco premissas são cientificamente válidas então seu discurso se fundamenta em alguma coisa além de Fé, caso contrário...

Quanto ao Liberalismo, seus fundamentos são muito menos pretensiosos que o do Marxismo, logo seus conteúdos ideológicos - que obviamente os há - requerem bem menos Fé do que aqueles.

Retorno ao exemplo de que sempre que duas sociedades absolutamente idênticas em todos os fatores - econômicos, culturais, étnicos, históricos optaram uma pelo dirigismo e outra pelo Liberalismo, os que tomaram a opção Liberal obtiveram resultados incomparavelmente superiores em todos os aspectos de comparação, como demonstram Alemanha Ocidental e Oriental ou Coréia do Sul e do Norte.

Marxistas não podem dar um único exemplo efetivo em que a aplicação de suas doutrinas resultou em mais riqueza ou mais liberdade para os povos que os adotaram, desviando então a discussão para aspectos periféricos da Teoria.

Quando então se aponta a inconsistência lógica e científica de suas teorias, geralmente se refugiam em apelos emocionais que tendem a mostrar as opções não-socialistas como cruéis e insensíveis com os que sofrem, ignorando que poucos regimes na História produziram tanto sofrimento quanto este que defendem.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Trancado