NÓS, OS HIPÓCRITAS
Enviado: 28 Fev 2007, 23:10
Fonte
Hoje, vindo ao trabalho, encontrei no trânsito um desses veículos extremamente poluidores, que os americanos denominam “SUV” (Sport Utility Vehicle - Veículo Utilitário Esportivo).
O curioso, nesse carro de hoje, é que havia uma capa, no estepe externo traseiro, com os dizeres “Salvem as Florestas” (obviamente, em inglês), com o requinte de um panda desenhado.
É mole? O cara está num veículo que polui pra diabo, mas ao mesmo tempo divulga uma mensagem ecológica. Talvez seja ironia, uma piada de péssimo gosto, mas é provável que seja mesmo pura e simples ignorância. Ou hipocrisia.
E já que o assunto é automóvel, convém lembrar o caso dos ‘motoboys’. Os motoristas, em sua imensa maioria, odeiam os motoqueiros. Mas, quando precisam, sempre fazem uso dos serviços de “courrier motorizado” ou, no domingo à noite, pedem a sagrada pizza que geralmente recebem em casa graças a um ‘motoboy’.
Um outro exemplo de hipocrisia, que sempre uso por aqui, é o do socialista fumante de Marlboro. O cara quer que todo mundo abra mão da propriedade privada, mas ele próprio não consegue se livrar de um vício, e ainda por cima financia uma das indústrias mais pérfidas do mundo (para completar: uma empresa norte-americana).
Recentemente, ficamos sabendo de um sociólogo de esquerda que anda de ‘carro zero’ e motorista. Ele publica textos raivosos, contra as mazelas do mundo e em defesa dos oprimidos, mas não abre mão de seu veículo com ar condicionado. Nem do motorista. E também não abre mão de um ou outro contrato com empresas integrantes do governo que defende.
E há, claro, direitistas liberais, que odeiam o gigantismo estatal, mas enriquecem às custas do Estado. Vale lembrar o caso de uma publicação “liberal” que caminhou em direção ao vinagre (ou ‘aceto balsamico’, pois se trata de gente fina), quando um governo estadual deixou de anunciar por meio de um banco público.
Há outros liberais que também são figuras tragicômicas, pois fizeram - e fazem - fortuna graças a polpudos contratos firmados com administrações públicas. No Brasil, há inúmeros exemplos, mas também podemos citar os republicanos dos EUA, que são os grandes baluartes do liberalismo de direita e mesmo assim muitos deles ganham rios de dinheiro por conta de contratos firmados com o governo.
Recebi um email, na semana retrasada, com um texto anti-científico. O autor, cujo nome sinceramente esqueci, refutava as descobertas científicas e enaltecia a “perenidade da religião” (ou algo do gênero). Engraçado, não? Ele usa a ciência (Internet, computadores…) para refutar as conquistas científicas. É como se um cético fosse a um templo religioso e fizesse uma oração a Deus para dizer que Ele não existe.
No ano passado, muitos cidadãos se mostraram “indignados” com os escândalos políticos. Alguns conhecidos, que sonegam impostos, esbravejaram contra as práticas deploráveis dos políticos.
E não menos incongruentes eram alguns parlamentares, filiados a legendas conhecidíssimas de muitos outros carnavais, que resolveram se transformar em “arautos da decência”. Piada, piada… Anedota em estado bruto!
Atualmente, diante do crime terrível que houve no Rio de Janeiro, uma outra categoria de “indignados” aparece com maior destaque (essa categoria sempre aparece quando ocorre alguma desgraça do gênero).
Eles querem reduzir a maioridade penal, querem instituir a pena de morte, querem acabar com o problema de uma vez por todas, entre outras vontades ao mesmo tempo sinceras, ingênuas e hipócritas.
Da mesma forma que os conservadores reclamam da ausência dos “defensores dos direitos humanos” quando morre um “pai de família”, acho justo cobrar, agora dos conservadores, a ausência de alguém que defenda, além das medidas punitivas imediatistas, também soluções a longo prazo que possam efetivamente melhorar a estrutura social, em vez de transformá-la num moto-perpétuo de crime e castigo.
Mas isso é bobagem.
Sujeitos que dirigem SUVs continuarão poluindo e defendendo os pandas, socialistas continuarão pregando a revolução e fumando Marlboro, direitistas liberais continuarão condenando o gigantismo do Estado e enriquecendo com verba pública, detratores de motoboys continuarão contratando os motoqueiros que tanto odeiam, sonegadores condenarão governantes corruptos, crentes utilizarão conquistas e meios científicos para falar mal da ciência… E assim por diante.
De quando em vez, como sói, a “classe média organizada” participará de um ou outro movimento e, no dia seguinte, nem se lembrará do que defendia.
Pena de morte? Redução da maioridade penal? Armas? Drogas? Escalação do Ronaldinho? Triunfo da mocinha na novela das oito? Ah, são tantas as indagações filosóficas que povoam os debates de nossa classe média…
É compreensível que não consigam ter memória para tudo isso.
Hoje, vindo ao trabalho, encontrei no trânsito um desses veículos extremamente poluidores, que os americanos denominam “SUV” (Sport Utility Vehicle - Veículo Utilitário Esportivo).
O curioso, nesse carro de hoje, é que havia uma capa, no estepe externo traseiro, com os dizeres “Salvem as Florestas” (obviamente, em inglês), com o requinte de um panda desenhado.
É mole? O cara está num veículo que polui pra diabo, mas ao mesmo tempo divulga uma mensagem ecológica. Talvez seja ironia, uma piada de péssimo gosto, mas é provável que seja mesmo pura e simples ignorância. Ou hipocrisia.
E já que o assunto é automóvel, convém lembrar o caso dos ‘motoboys’. Os motoristas, em sua imensa maioria, odeiam os motoqueiros. Mas, quando precisam, sempre fazem uso dos serviços de “courrier motorizado” ou, no domingo à noite, pedem a sagrada pizza que geralmente recebem em casa graças a um ‘motoboy’.
Um outro exemplo de hipocrisia, que sempre uso por aqui, é o do socialista fumante de Marlboro. O cara quer que todo mundo abra mão da propriedade privada, mas ele próprio não consegue se livrar de um vício, e ainda por cima financia uma das indústrias mais pérfidas do mundo (para completar: uma empresa norte-americana).
Recentemente, ficamos sabendo de um sociólogo de esquerda que anda de ‘carro zero’ e motorista. Ele publica textos raivosos, contra as mazelas do mundo e em defesa dos oprimidos, mas não abre mão de seu veículo com ar condicionado. Nem do motorista. E também não abre mão de um ou outro contrato com empresas integrantes do governo que defende.
E há, claro, direitistas liberais, que odeiam o gigantismo estatal, mas enriquecem às custas do Estado. Vale lembrar o caso de uma publicação “liberal” que caminhou em direção ao vinagre (ou ‘aceto balsamico’, pois se trata de gente fina), quando um governo estadual deixou de anunciar por meio de um banco público.
Há outros liberais que também são figuras tragicômicas, pois fizeram - e fazem - fortuna graças a polpudos contratos firmados com administrações públicas. No Brasil, há inúmeros exemplos, mas também podemos citar os republicanos dos EUA, que são os grandes baluartes do liberalismo de direita e mesmo assim muitos deles ganham rios de dinheiro por conta de contratos firmados com o governo.
Recebi um email, na semana retrasada, com um texto anti-científico. O autor, cujo nome sinceramente esqueci, refutava as descobertas científicas e enaltecia a “perenidade da religião” (ou algo do gênero). Engraçado, não? Ele usa a ciência (Internet, computadores…) para refutar as conquistas científicas. É como se um cético fosse a um templo religioso e fizesse uma oração a Deus para dizer que Ele não existe.
No ano passado, muitos cidadãos se mostraram “indignados” com os escândalos políticos. Alguns conhecidos, que sonegam impostos, esbravejaram contra as práticas deploráveis dos políticos.
E não menos incongruentes eram alguns parlamentares, filiados a legendas conhecidíssimas de muitos outros carnavais, que resolveram se transformar em “arautos da decência”. Piada, piada… Anedota em estado bruto!
Atualmente, diante do crime terrível que houve no Rio de Janeiro, uma outra categoria de “indignados” aparece com maior destaque (essa categoria sempre aparece quando ocorre alguma desgraça do gênero).
Eles querem reduzir a maioridade penal, querem instituir a pena de morte, querem acabar com o problema de uma vez por todas, entre outras vontades ao mesmo tempo sinceras, ingênuas e hipócritas.
Da mesma forma que os conservadores reclamam da ausência dos “defensores dos direitos humanos” quando morre um “pai de família”, acho justo cobrar, agora dos conservadores, a ausência de alguém que defenda, além das medidas punitivas imediatistas, também soluções a longo prazo que possam efetivamente melhorar a estrutura social, em vez de transformá-la num moto-perpétuo de crime e castigo.
Mas isso é bobagem.
Sujeitos que dirigem SUVs continuarão poluindo e defendendo os pandas, socialistas continuarão pregando a revolução e fumando Marlboro, direitistas liberais continuarão condenando o gigantismo do Estado e enriquecendo com verba pública, detratores de motoboys continuarão contratando os motoqueiros que tanto odeiam, sonegadores condenarão governantes corruptos, crentes utilizarão conquistas e meios científicos para falar mal da ciência… E assim por diante.
De quando em vez, como sói, a “classe média organizada” participará de um ou outro movimento e, no dia seguinte, nem se lembrará do que defendia.
Pena de morte? Redução da maioridade penal? Armas? Drogas? Escalação do Ronaldinho? Triunfo da mocinha na novela das oito? Ah, são tantas as indagações filosóficas que povoam os debates de nossa classe média…
É compreensível que não consigam ter memória para tudo isso.
