Ciência e desígnio

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emmmcri
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Ciência e desígnio

Mensagem por emmmcri »

http://www.logoshp.hpg.ig.com.br/ciedi1.htm

Ciência e desígnio

Por: William Dembsky
Traduzido ao espanhol por: Karenlie Riddering
Traduzido ao português por: Emerson de Oliveira


Exponho esta tradução de um artigo de William A. Demsky, que é um dos principais artífices do Desígnio (ou Design) Inteligente. Me parece muito útil para expor as idéias básicas de como detectar o desenho (originado por inteligência) e sua relação com a ciência.

Nota do Tradutor: Considero a evolução como uma teoria ou uma hipótese em aberto (ao menos o que se entende como um fato científico), ainda que considere muito exageradas as manifestações de alguns que afirmam que os mecanismos que a explicam estejam basicamente explicados. Não considero a Bíblia um manual de ciências, pois apesar da mensagem inspirada ser infalível, ela tem impressões dos hagiógrafos. Portanto, é preciso muito cuidado ao se interpretar Gênesis como todo literal, pois muito de seu sentido é teológico. Não sou criacionista literalista e creio no diálogo entre Ciência e Religião. Brigas e discussões inúteis só servem para separá-las. A Ciência tem seu campo de atuação, assim com a Religião (por esta considero a religião cristã).

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Introdução

Quando a física de Galileu e de Newton substituiu a física de Aristóteles, os cientistas tentaram explicar o mundo descobrindo suas leis naturais deterministas. Quando a sua vez a física quântica de Bohr e de Heisenberg suplantou a física de Galileu e de Newton, os cientistas se deram conta que necessitavam suplementar suas leis naturais deterministas tomando em consideração os processos de casualidade em suas explicações de nosso Universo. Casualidade e necessidade, para usar uma frase dada a conhecer por Jacques Monod, fixou desde então os limites da explicação científica.

Não obstante, hoje, casualidade e necessidade tem provado ser insuficientes para explicar todos os fenômenos científicos. Sem invocar as corretamente descartadas teleologias, entelequias e vitalismos do passado, podemos ver que ainda se requer um terceiro modo de explicação, quer dizer, o Desígnio, ou Design Inteligente (DI). Casualidade, necessidade e desenho - estes três modos de explicação - são necessários para explicar a gama completa dos fenômenos científicos.

Ainda assim, nem todos os cientistas entendem que excluir o DI restringe artificialmente a ciência. Richard Dawkins, um conhecido darwinista, começa seu livro "O Relojoeiro Cego", dizendo, "a biologia é o es tudo das coisas complicadas que dão a aparência de ter sido desenhadas com um propósito". Afirmações como esta fazem eco através da literatura biológica. Em "Louca Perseguição", Francis Crick, laureado com o Prêmio Nobel e co-descobridor da estrutura do DNA, escreve: "os biólogos devem ter em mente constantemente que o que eles vem não foi projetado, mas evoluído".

A comunidade biológica pensa que tem explicado o desígnio aparente na natureza através do mecanismo darwiniano de mutação ao acaso e de seleção natural. Contudo, o ponto a considerar é que no intento de explicar o aparente desígnio na natureza, os biólogos consideram ter criado um argumento científico vitorioso contra este mesmo design. Isto é importante porque para que um argumento seja cientificamente falsificável, tem que contar com a possibilidade de ser certo. A refutação científica é uma espada de dois gumes. Afirmações que são refutadas cientificamente podem ser incorretas, mas não são necessariamente incorretas - não podem ser eliminadas sem mas.

Para entender isto, considere o que aconteceria se o exame microscópico revelasse que cada célula tivesse escrita a seguinte frase: "Feita por Yahvé". É claro que as células não vem com a inscrição "Feita por Yahvé" nelas, mas esse não é o ponto. O ponto é que não saberíamos isto a menos que verdadeiramente olhássemos as células sob o microscópio. E se tivessem essa inscrição, teríamos que considerar, como cientistas, que realmente foram feitas por Yahvé. Assim, alguns daqueles que não crêem nele admitem tacitamente que o desígnio permanece como uma opção viva na a biologia. As proibições 'a priori' contra o desígnio são pouco sofisticadas filosoficamente e fáceis de contradizer. No entanto, uma vez admitimos que o desenho não se pode excluir da ciência sem argumentos, permanece uma pergunta de mais peso: por quê gostaríamos de admitir o design na ciência?

Design na ciência?

Para responder esta pergunta, vamos pensar melhor: por que não admitiríamos o desígnio na ciência? O que há de mal explicar algo como tendo sido projetado por uma Inteligência? Certamente há muitos acontecimentos diários que explicamos apelando para um projeto. Mais ainda, em nossas vidas de trabalho é absolutamente crucial distinguir entre acidente e desígnio. Respondemos a perguntas como "ela caiu ou a empurraram?", "alguém morreu acidentalmente ou se suicidou?", "esta música foi criada ou plagiada?", "aquela pessoa teve sorte na bolsa de valores ou recebeu alguma informação privilegiada?"

Não somente nós respondemos a estas perguntas mas empresas inteiras se dedicam a fazer distinção entre acidente e desígnio. Aqui podemos incluir as empresas forenses, a lei de propriedade intelectual, investigação de seguros, criptografia e a geração de números ao acaso, para mencionar só algumas. A mesma ciência tem que marcar esta distinção para manter-se honesta consigo mesma. Houve um artigo na revista Science sobre uma investigação na Internet realizada por Medline em que se descobriu "um artigo publicado no Zentralblatt für Gynäklogie em 1991 [contendo] um texto que é quase idêntico a uns escritos de um artigo publicado em 1979 no Journal of Maxillofacial Surgery". O plágio e a falsificação de dados nas ciências são mais comuns do que gostaríamos de admitir. O que nos faz evitar estes abusos é nossa capacidade de detectá-los.

Se o desígnio é tão detectável fora da ciência e se sua capacidade de ser detectado é um dos principais fatores para manter os cientistas honestos, por que deveria manter-se o desígnio longe da ciência? Por que Dawkins e Crick se sentem forçados a lembrarmos que a biologia estuda coisas que só parecem ser projetadas, mas na realidade não são projetadas? Por que a biologia não pode estudar coisas que são projetadas?

A resposta da comunidade biológica a estas perguntas tem sido a de resistir de maneira absoluta ao design. A preocupação é que para objetos naturais (a diferença de artefatos humanos) a distinção entre design e não-design não pode ser traçada de forma confiável. Considere, por exemplo, o seguinte comentário feito por Darwin no capítulo final de seu livro A Origem das Espécies: "Vários eminentes naturalistas tem publicado recentemente sua crença de que uma multidão de espécies em cada gênero no são espécies reais; mas que outras espécies são reais, isto é, tem sido criadas independentemente... No entanto, eles não pretendem poder definir, ou sequer conjeturar, quais são as formas de vida criadas e quais são as produzidas por leis secundárias. Eles admitem que a variação é causa verdadeira em um caso, e eles o negam arbitrariamente em outro, sem fazer nenhuma distinção entre os dois casos." Os biólogos se preocupam em atribuir-lhe algo ao design (aqui identificado com a Criação) só para que seja logo contradito; esta preocupação legítima e bem difundida lhes preveniu utilizar o design inteligente como uma explicação científica válida.

Complexidade-especificação

Ainda que possivelmente justificada no passado, esta preocupação já não é sustentável. Agora existe um critério rigoroso -complexidade-especificação- para distinguir entre objetos inteligentemente causados e aqueles não causados inteligentemente. Muitas ciências especiais já usam este critério, ainda que em uma forma pré-teórica (ex., ciências forenses, inteligência artificial, criptografía, arqueologia e a busca de Inteligência Extraterrestre). O grande avanço na filosofia da ciência e na teoria das probabilidades nos anos recentes tem sido isolar e tornar preciso este critério. O critério de complexidade irredutível para estabelecer o design de sistemas bioquímicos de Michael Behe é um caso especial do critério complexidade-especificação para detectar design (veja o livro de Behe, A Caixa Preta de Darwin).

Que aparência tem este critério? Apesar de que uma explicação e justificação detalhadas é bastante técnica (para uma explicação mais completa veja meu livro The Design Inference, publicado por Cambridge University Press), a idéia básica é direta e fácil de ilustrar. Considere como os astrônomos de rádio no filme Contato, detectaram uma inteligência extraterrestre. Este filme, que estreou no ano passado e foi baseado em um livro de Carl Sagan, foi uma deleitosa obra de propaganda para o programa de investigação SETI (sigla em inglês: "the Search for Extra-Terrestrial Inteligence"), a Busca de Inteligência Extra-Terrestre, em português. No filme, os investigadores do SETI encontram inteligência extraterrestre (as investigações reais não tem tido tanto sucesso).

SETI. Como, então, os investigadores do SETI em Contato encontraram uma inteligência extraterrestre? Os investigadores do SETI monitoraram milhões de sinais de rádio no espaço. Muitos objetos naturais no espaço (por ex., os "pulsares") produzem ondas radiais. Buscar sinais de design entre todas estas ondas radiais produzidas de forma natural é como buscar uma agulha num palheiro. Para procurar no palheiro, os investigadores do SETI submetem os sinais que monitoram a computadores programados para detectar padrões. Sempre e quando um sinal não coincide com um dos padrões pré-determinados, passará por um detector de padrões (mesmo se houvesse uma fonte inteligente). Se, por outro lado, coincide com alguns destes padrões, então, dependendo do padrão com que coincida, os investigadores do SETI podem ter uma boa ocasião para celebrar.

Os investigadores SETI em Contato, encontraram o seguinte sinal:

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111111111111111111111111110111111111111111111111111111111111111111111111
111111111111111111111101111111111111111111111111111111111111111111111111
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1111111111111111111111111111111111111111111111

Nesta seqüência de 1126 bits, o 1 (um) corresponde a pulsos e o "0" (zero) a pausas. Esta seqüência representa os números primos do 2 ao 101, onde um número primo dado é representado pela quantidade correspondente de pulsos (os "uns") e os números primos individuais são separados pelas pausas (os "zeros").

Os investigadores do SETI em Contato tomaram este sinal como confirmação decisiva de inteligência extraterrestre. O que este sinal tem que indica convincentemente o design? Sempre que falamos de design, devemos estabelecer duas coisas - complexidade e especificação. A complexidade assegura que o objeto em questão não é tão simples que se possa explicar facilmente por casualidade. A especificação assegura que este objeto exibe um tipo de padrão que é a marca de fábrica da inteligência.

Complexidade. Para entender por quê a complexidade é crucial para inferir design, considere a seguinte seqüência de bits:

110111011111

Estes são os primeiros doze bits na seqüência anterior representando os números primos 2, 3 e 5 respectivamente. Nenhum investigador do SETI, ao ver esta seqüência de doze bits, contataria o editor de ciência do New York Times, faria uma conferência de imprensa e anunciaria que foi descoberto uma inteligência extraterrestre. Nenhum jornal diria: "os alienígenas dominam os primeiros três números primos!"

O problema é que esta seqüência é muito curta (em outras palavras, tem muito pouca complexidade) para estabelecer que uma inteligência extraterrestre com conhecimento de números primos a tenha produzido. Uma fonte emissora de rádio originando pulsos aleatórios poderia produzir por casualidade a seqüência "110111011111." Uma seqüência de 1126 bits representando os números primos do 2 ao 101, no entanto, é uma outra história. Aqui, a seqüência é suficientemente longa (ou seja, tem suficiente complexidade) para confirmar que uma inteligência extraterrestre a tenha produzido.

Especificação. Ainda assim, a complexidade por si mesma não é suficiente para eliminar a casualidade e indicar design. Se eu lanço uma moeda 1000 vezes, participarei de um evento altamente complexo (e improvável). Certamente, a seqüência resultante de lançar a moeda 1000 vezes será uma em um trilhão trilhão trilhão...onde a elipse necessita de mais 22 "trilhões". Esta seqüência de lançamento da moeda ao acaso não nos levará, no entanto, a uma inferência de design. Mesmo que complexa, esta seqüência não mostrará uma padrão adequado. Contraste isto com a seqüência representando os números primos do 2 ao 101. Não só é complexa esta seqüência, mas que também representa um padrão adequado. O investigador do SETI que descobre esta seqüência no filme Contato o explicou desta maneira: "isto não é um ruído, isto tem estrutura".

Qual é o padrão adequado para inferir design? Não será qualquer padrão. Alguns padrões podem ser legitimamente utilizados para inferir design, enquanto outros não. É fácil ver a intuição básica aqui. Suponhamos que um arqueiro se posicione a 50 metros de um muro com arco e flecha na mão. Digamos que a parede é suficientemente grande para que o arqueiro a atinja. Agora, suponhamos que cada vez que o arqueiro dispare uma flecha contra a parede, o arqueiro pinte um alvo em volta da flecha para que a flecha fique no centro do alvo. O que podemos dizer disso? Absolutamente nada sobre a habilidade do arqueiro como um arqueiro. Sim, existe um padrão; mas é um padrão fixado depois que a flecha foi lançada. O padrão é puramente ad hoc.

Por outro lado, suponhamos que o arqueiro pinte um alvo na parede e comece a lançar flechas nele. Vamos supor que arqueiro dispare cem flechas e que cada uma acerte o centro do alvo. O que iremos concluir? Confrontados com este segundo esquema somos obrigados a concluir que estamos diante de um arqueiro de fama mundial, cujos disparos não podem ser puramente explicados pela sorte, mas que pelo contrário devem se explicados pela destreza e superioridade do arqueiro. Destreza e domínio estão, portanto, presentes no design.

Como o arqueiro que mira o alvo e depois dispara, os estatísticos determinam o que é conhecido como uma "região de rejeição" antes do experimento. Se o resultado de um experimento cai nos perímetros de uma "região de rejeição", os estatísticos negam as hipóteses de que o resultado é devido o acaso. Não é necessário apresentar o padrão anterior a um evento para implicar design. Veja o seguinte texto codificado:

nfuijolt ju jt mjlf b xfbtfm

Inicialmente, isto aprece uma seqüência saltada de letras e espaços - inicialmente carece de padrões para negar o acaso e concluir o design.

Mas suponha que alguém vem logo e te diz que trates esta seqüência com um código "César", movendo cada letra um espaço no alfabeto. Então, a seqüência agora se lê:

"methinks it is like a weasel"

Apesar de que o padrão é dado logo de fato, é o tipo correto de padrão para eliminar o acaso e concluir que foi projetado. Em contraste com as estatísticas, que sempre trata de identificar seus padrões antes de que um experimento se leve a cabo, a criptoanálise deve descobrir os padrões depois do fato. Em ambas as vezes, os padrões são adequados para concluirmos que foi projetado.

Os padrões se dividem em dois tipos, aqueles que em presença de complexidade garantem que foram projetados e aqueles que apesar da presença de complexidade não garantem que foram projetados. O primeiro tipo de padrão se chama de especificação, o segundo, uma fabricação. As especificações são os padrões não ad hoc que podem ser utilizados legitimamente para eliminar o acaso e garantir que foram projetados. Em contraste, as fabricações são os padrões ad hoc que não podem ser utilizados legitimamente para garantir que houve um projeto. Esta distinção entre especificação e fabricação se pode levar a cabo com total rigor estatístico (cf. The Design Inference).

Complexidade e Especificação. Por quê o critério de complexidade-especificação detecta com certeza o design? Para responder a isso, temos que entender, em primeiro lugar, que é o que tem os agentes inteligentes que lhes faz detectáveis. A característica principal dos agentes inteligentes é a capacidade de escolha. Sempre que um agente inteligente atua, escolhe dentre uma variedade de possibilidades competentes.

Isto é real não só para os humanos e inteligências extraterrestres, mas para os animais também. Um rato navegando num labirinto deve escolher se vai par a direita ou pra a esquerda em vários pontos do labirinto. Quando os investigadores do SETI tentam descobrir inteligência nas transmissões radiais que monitoram, assumem que uma inteligência extraterrestre poderia ter escolhido transmitir um grande número de possíveis padrões e que então tentam comparar as transmissões que observam com os padrões que buscam. Sempre que um ser humano fala coerentemente, escolhe entre uma grande gama de combinação de sons articuláveis. Um agente inteligente sempre usa discriminação - escolhe umas coisas e descarta outras.

Dada esta característica de agencia inteligente, como reconhecemos que um agente inteligente fez ma escolha? Um vidro de tinta é derramado sobre um papel; alguém toma uma pena e escreve uma mensagem em uma folha de papel. Nos dois casos se aplica tinta ao papel. Nos dois casos usa-se uma dentre quase um infinito número de possibilidades. Nos dois casos uma contingência é atualizada e outras são descartadas. No entanto, num caso atribuímos agente, no outro o acaso.

Qual é a diferença relevante? Não só temos a necessidade de observar que uma contingência foi atualizada, mas que nós mesmos também necessitamos ser capazes de especificar essa contingência. A contingência deve conformar-se a um padrão dado independentemente e devemos ser capazes de formular esse padrão independentemente. Uma mancha de tinta feita ao acaso não é especificável; uma mensagem escrita com tinta no papel é especificável. No Culture and Value, Wittgenstein afirmou o mesmo ponto: "tendemos a tomar a linguagem de um chinês como murmúrios não articuláveis. Alguém que entenda chinês reconhecerá linguagem no que escuta".

Ao escutar uma declaração de um chinês, alguém que entenda a linguagem não só reconhecerá que uma entre muitas possíveis declarações foi dita, mas que também é capaz de identificar a declaração como uma frase chinesa coerente. Contraste isto com alguém que não entende chinês. Também reconhecerá que uma dentre muitas possíveis declarações foi atualizada, mas nesta ocasião, porque carece da habilidade de entender chinês, é incapaz de dizer se a declaração é coerente ou não.

Para alguém que não entende chinês, a declaração parecerá disparate. Disparate - a declaração de sílabas sem sentido e não interpretáveis entre qualquer linguagem natural - sempre atualiza uma declaração a partir de uma gama de possíveis declarações. Não obstante, um disparate, ao corresponder a nada que possamos entender de qualquer linguagem, também pode ser especificado. Como resultado, um disparate nunca se considera comunicação inteligente, mas sempre pelo que Wittgenstein chama "murmúrios não articuláveis".

Psicólogos experimentais que estudam o comportamento e aprendizagem animal utilizam métodos similares. Para aprender uma tarefa um animal deve adquirir a habilidade de atualizar comportamentos adequados para a tarefa assim como a habilidade de descartar condutas não adequadas para a tarefa. Além disso, para um psicólogo reconhecer que um animal aprendeu uma tarefa, é necessário não só observar o animal fazer a discriminação apropriadas, mas também especificar esta discriminação.

Então, para reconhecer se um rato aprendeu como cruzar um labirinto, o psicólogo deve em primeiro lugar especificar qual seqüência de viradas à esquerda e a direita levam o rato para fora do labirinto. Sem dúvida, um rato atravessando um labirinto ao acaso também discrimina uma seqüência de viradas à esquerda e a direita. Mas ao atravessar o labirinto ao acaso, o rato não dá indicações de que pode discriminar a seqüência apropriada de viradas à esquerda e a direita para sair do labirinto. Conseqüentemente, o psicólogo estudando o rato não terá razão para pensar que o rato aprendeu a atravessar o labirinto. Só se o rato executar a seqüência de viradas à esquerda e a direita especificada pelo psicólogo, saberá reconhecer o psicólogo que o rato ha aprendeu a atravessar o labirinto.

Observe que a complexidade está implícita aqui também. Para entender isto, considere novamente um rato atravessando um labirinto, mas agora pense em um labirinto bem simples em que duas voltas à direita conduzirão o rato à saída do labirinto. Como o psicólogo que está estudando o rato poderá determinar se tem aprendido a sair do labirinto? Colocar o rato no labirinto não será suficiente. Pelo labirinto ser tão simples, o rato pode ter tomado duas voltas à direita por acaso, e por onde saiu do labirinto. Portanto, o psicólogo estará inseguro de se o rato realmente aprendeu a atravessar o labirinto o se o rato simplesmente teve sorte.

Mas contraste isto agora com um labirinto complicado no qual um rato deve tomar só a correta seqüência de voltas à esquerda e à direita para sair do labirinto. Suponha que o rato deve tomar cem voltas corretas à esquerda e à direita e que qualquer erro evitará que o rato saia do labirinto. Um psicólogo que vê que o rato não faz voltas errôneas e que cruza em curto tempo o labirinto, estará convencido de que o rato verdadeiramente aprendeu como atravessar o labirinto, e que não foi só sorte.

Inteligência. Este esquema geral para reconhecer agência inteligente é apenas uma forma disfarçada do critério complexidade-especificação. Em geral, para reconhecer agência inteligente devemos observar uma eleição entre possibilidades competentes, notar que possibilidades não foram selecionadas, e logo ser capazes de especificar a possibilidade que foi escolhida. O que é mais, as possibilidades competidas que foram descartadas devem ser possibilidades reais, e suficientemente numerosas (complexas) de maneira que especificar a possibilidade escolhida não se possa atribuir ao acaso.

Todos os elementos neste esquema geral para reconhecer agência inteligente (escolher, descartar e especificar) encontram sua contraparte no critério de complexidade-especificação. Este critério formaliza o que temos estado fazendo quando reconhecemos agencia inteligente. O critério de complexidade-especificação determina o que necessitamos estar buscando quando detectamos design.

Possivelmente a evidência mais precisa para o design na biologia provêm da bioquímica. Em uma edição recente de Cell (8 de fevereiro de 1998), Bruce Alberts, presidente do National Academy of Sciences, afirmou: "a célula inteira se pode observar como uma fábrica que contêm uma rede elaborada de linhas de engrenagens interconectadas, cada uma das quais está composta de grandes máquinas de proteínas... Por quê chamamos máquinas às grandes engrenagens de proteínas que estão na função celular? Precisamente porque, assim como as máquinas inventadas pelos humanos para trabalhar eficientemente com o mundo macroscópico, estes grupos de proteínas contêm partes móveis altamente coordenadas."

Complexidade irredutível. Ainda assim Alberts se identifica com a maioria dos biólogos em considerar a complexidade maravilhosa das células como só aparentemente desenhadas. O bioquímico Michael Behe, de Lehigh University, está em desacordo Em Darwin´s Black Box (A Caixa Preta de Darwin, 1996), Behe apresenta um poderoso argumento em favor do design real na célula. Central em seu argumento, está sua noção de complexidade irredutível. Um sistema é irredutivelmente complexo se consiste em várias partes inter-relacionadas de forma tal que remover simplesmente uma parte destruiria completamente as funções do sistema. Como um exemplo de complexidade irredutível, Behe oferece a ratoeira comum. Uma ratoeira consiste de uma plataforma, um martelo, uma mola, uma captura e uma barra de prender. Elimine qualquer destes cinco componentes e é impossível construir uma ratoeira funcional.

A complexidade irredutível necessita ser contrastada com a complexidade acumulativa. Um sistema é acumulativamente complexo se os componentes do sistema podem ser organizados em seqüência de forma que a remoção sucessiva de seus componentes nunca leve a uma perda total de função. Um exemplo de um sistema de complexidade acumulativa é uma cidade. É possível remover pessoas e serviços exitosamente de uma cidade até chegar a uma pequena aldeia- sem perder o sentido de comunidade, a "função" da cidade.

Desta caracterização de complexidade acumulativa, está claro de que o mecanismo darwinista de seleção natural e mutação ao acaso pode ser considerado como um caso de complexidade acumulativa. A declaração de Darwin, de como os organismos se tornam gradualmente mais complexos a medida que se acumulam adaptações favoráveis é a outra face da moeda da cidade em nosso exemplo do que pessoas e serviços são removidos. Em ambos os casos, as versões mais simples e mais complexas também funcionam, só que de formas mais efetivas ou menos efetivas.

Mas pode o mecanismo darwinista dar conta da complexidade irredutível? Certamente, se a seleção atua com referência a uma meta, pode produzir complexidade irredutível. Considere a ratoeira de Behe. Dada a meta de construir uma ratoeira, alguém pode especificar um processo de seleção orientado a uma meta, que a sua vez selecione uma plataforma, um martelo, uma mola, uma captura e uma barra de prender, e que ao final ponha todos estes componentes juntos para formar uma ratoeira funcional. Dada uma meta especificada com anterioridade, a seleção não tem nenhuma dificuldade em produzir sistemas de complexidade irredutível.

Mas, a seleção operando na biologia é a seleção natural darwinista. E por definição esta forma de seleção opera sem metas, não tem plano ou propósito e é inteiramente não dirigida. O grande atrativo do mecanismo de seleção de Darwin era, depois de tudo, que eliminaria a teleologia da biologia. No entanto, ao fazer da seleção um processo sem direção, Darwin reduziu drasticamente o tipo de complexidade que os sistemas biológicos podiam manifestar. Em conseqüência, os sistemas biológicos poderiam manifestar só complexidade acumulativa, não complexidade irredutível.

Como Behe explica na Caixa Preta de Darwin: "Um sistema de complexidade irredutível não pode ser produzido...por ligeiras e sucessivas modificações de um sistema precursor, porque qualquer precursor de um sistema de complexidade irredutível que careça de uma parte é por definição disfuncional... Como a seleção natural só pode escolher sistemas que já estejam operativos, então se um sistema biológico não pode ser produzido gradualmente teria que levantar-se como uma unidade integrada, de um só golpe, para que a seleção natural tivesse algo sobre que atuar."

Para um sistema de complexidade irredutível, a função se adquire só quando todos os componentes do sistema estejam en seu lugar simultaneamente. Por conseguinte, a seleção natural, se vai produzir um sistema de complexidade irredutível, tem que produzi-lo de uma só vez ou não o produz. Isto não seria um problema se os sistemas em questão fossem simples. Mas não o são. Os sistemas bioquímicos de complexidade irredutível que Behe considera são máquinas de proteínas consistentes de numerosas proteínas distintas, cada uma indispensável para sua função; juntas estão mais além do que a seleção natural ode produzir em uma só geração.

Um dos sistemas bioquímicos de complexidade irredutível que Behe considera é o flagelo bacteriano. O flagelo é um motor rotativo parecido a um chicote que permite que uma bactéria navegue por seu meio ambiente. O flagelo inclui uma máquina rotatória movida por ácido, um estator (stator), anéis "O", buchas e um guia (drive shaft?). A maquinaria complicada deste motor molecular requer aproximadamente cinqüenta proteínas. No entanto, a ausência de qualquer uma destas proteínas resulta na perda total da função do motor.

A complexidade irredutível de tais sistemas bioquímicos não pode ser explicada pelo mecanismo darwinista, nem por nenhum mecanismo de evolução naturalista proposto até a data de hoje. Mais ainda, por causa de que a complexidade irredutível ocorre em nível bioquímico, não há um nível mais fundamental de análise biológica ao que se possa referir a complexidade irredutível dos sistemas biológicos e nos quais uma análise darwinista em termos de seleção e mutação todavia possa esperar ter êxito. Sustentando a bioquímica está a química ordinária e a física, nenhuma das quais pode explicar a informação biológica. Além disso, o que um sistema bioquímico seja irredutivelmente complexo é uma pergunta totalmente empírica: elimina individualmente cada proteína que constitua um sistema bioquímico para determinar se a função se perde. Se é assim, estamos tratando com um sistema irredutivelmente complexo. Experimentos deste tipo são rotineiros na biologia.
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
VOLTAIRE

Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.



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Perseus
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Re.: Ciência e desígnio

Mensagem por Perseus »

Porque antes de postar merda, você não vai la tentar responder meu desafio?

Desafio álias, que eu escrevi de próprio punho. Não preciso desse recurso criacionista de "minhas idéias são as idéias dele".

álias, desculpe-me, esqueci que criacionistas são apenas ovelhas insignificantes condicionadas a ficarem colando qualquer merda que vêem na net. Criacionistas não tem opinião própria.
"Uau! O Brasil é grande"

Reação de Bush, quando Lula mostrou um mapa do Brasil. Essa frase foi finalista em 2006 do site StupidityAwards.com, na categoria "Afirmação mais estúpida de Bush".

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emmmcri
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Re: Re.: Ciência e desígnio

Mensagem por emmmcri »

Perseus escreveu:Porque antes de postar merda, você não vai la tentar responder meu desafio?

Desafio álias, que eu escrevi de próprio punho. Não preciso desse recurso criacionista de "minhas idéias são as idéias dele".

álias, desculpe-me, esqueci que criacionistas são apenas ovelhas insignificantes condicionadas a ficarem colando qualquer merda que vêem na net. Criacionistas não tem opinião própria.


Olá Hooooooooolmes...
Sábado a noite ein?
Madrugada de domingo.
Hummmmmmmmmmmmmm. Pooooooooooooooooissss.
Heinnnnnnnnnnnnnnnn?
:emoticon144:
O que tem haver a sua análise psicológica de Jesus com o criacionismo sua anta??
Quantas vezes eu vou ter que repetir que estou aqui para ensinar criacionismo e não religião seu maluco?
Psicanálise de Deus , só me faltava essa de você! :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:
Editado pela última vez por emmmcri em 16 Dez 2005, 23:51, em um total de 1 vez.
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Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
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Re.: Ciência e desígnio

Mensagem por Vito Álvaro »

Diz você pegou essa tradução. Tudo bem. A fonte esse William A. Dembski.

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Re: Re.: Ciência e desígnio

Mensagem por emmmcri »

Vito Alvaro escreveu:Diz você pegou essa tradução. Tudo bem. A fonte esse William A. Dembski.

Enquanto vence... Secular Web

DI é Argumento à Ignorância. (Porque é complexo. Não pode imaginar)



Não é só complexibilidade, é complexibilidade como estatística,é também padrão.
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
VOLTAIRE

Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.



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Re: Re.: Ciência e desígnio

Mensagem por Vito Álvaro »

emmmcri escreveu:
Vito Alvaro escreveu:Diz você pegou essa tradução. Tudo bem. A fonte esse William A. Dembski.

Enquanto vence... Secular Web

DI é Argumento à Ignorância. (Porque é complexo. Não pode imaginar)



Não é só complexibilidade, é complexibilidade como estatística,é também padrão.

A fonte por favor Emmmcri.
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Aurelio Moraes
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Mensagem por Aurelio Moraes »

Ciência e o “Desenho Inteligente”*

Por Alan I. Leshner, PhD, 2005.



Os defensores do “Desenho Inteligente” lhe atribuem status de ciência sem adotar os procedimentos científicos exigidos para essa qualificação, afirma o editorial da revista “Science”, de 8 de julho, originalmente intitulado de “Redefinindo a Ciência”

Alan I. Leshner é chefe do setor executivo da Associação Americana para o Avanço da Ciência e editor-executivo da revista Science, onde foi publicado este editorial:

Por que os cientistas se mostram tão aborrecidos com o crescente movimento para levar o “Desenho Inteligente” (DI) às aulas de ciência e a âmbitos de educação pública como os museus de ciência, zoológicos e parques temáticos? Ao se completarem 80 anos do julgamento de Scopes (1), a pressão para o ensino do DI como alternativa científica à evolução ganha espaço em muitos estados dos EUA. Há também um incremento da atividade do DI na América Latina e na Europa.

Será que os cientistas se sentem tão inseguros que temem submeter as concepções centrais da evolução ao exame público? Provavelmente, não. Eles estão acostumados a isso. Teorias e princípios científicos são rotineiramente submetidos a avaliações e testes sistemáticos. Além disso, os cientistas são claramente movidos por argumentos e gostam de discutir suas teorias uns com os outros.

O problema é que os defensores do DI procuram apresentar crenças religiosas de modo a que pareçam ciência. Ao redefinirem o que é e o que não é ciência, eles também colocam o público, particularmente os jovens, na situação arriscada de ficarem inadequadamente preparados para a vida na sociedade moderna.

Os cidadãos do século XXI são legados cotidianamente a tomar decisões sobre questões que envolvem fortes conteúdos de ciência e tecnologia, como assistência médica, segurança pessoal, opções de compra e o que seus filhos devem aprender na escola. Para fazer escolhas sensatas, eles precisam distinguir entre provas cientificamente fundamentadas e alegações pseudocientíficas.

Há uma diferença importante entre crença e teoria. O DI é montado por seus proponentes como teoria científica, alternativa à evolução, mas falha no critério que usa para adquirir esse status.

Em nosso campo, a teoria não é um “chute” bem dado, nem, muito menos, uma crença. As teorias científicas buscam explicar o que pode ser observado, e é essencial que sejam testadas em repetidas observações e experiências. “Crença”, na realidade, é uma palavra que quase nunca se ouve na ciência. Não acreditamos em teorias. Nós as aceitamos ou rejeitamos, com base na sua capacidade de explicar fenômenos naturais, e elas devem ser testadas segundo metodologias científicas.

Os defensores do DI tentam freqüentemente denegrir a evolução como sendo “apenas uma teoria”. Em certo sentido, isso é verdade. A evolução é apenas uma teoria. Mas a gravidade também é uma teoria. As pessoas costumam responder que a gravidade é um fato. Mas o fato real são as chaves que caem no chão ao serem jogadas. E a gravidade é a explicação teórica que dá conta dos fatos observados.

Teorias científicas como a da evolução e a da gravidade somente são aceitas após terem sido submetidas à validação por repetidas observações e experiências, extensivamente examinadas pelo processo de revisão por pares.

O DI não consegue passar por nenhum desses testes. Seus proponentes lhe atribuem status de ciência sem adotar os procedimentos científicos exigidos para que essa qualificação seja estabelecida.

Ao mesmo tempo, é importante os cientistas saberem que a ciência não pode responder a todas as questões. Os vislumbres (insights) científicos se limitam ao mundo natural. Por razões próprias, alguns cientistas argumentam, com alguma paixão, que não poderia existir um projetista inteligente por trás do processo da evolução. Na verdade, não podemos responder cientificamente a esta questão, porque se trata de uma questão de crença, que se situa fora do nosso domínio.

Manter o DI fora do âmbito científico significa que estamos tentando acabar com ele? Não, pelo contrário. Entendo que é apropriado ensinar as concepções baseadas na fé, como o DI, nos cursos de humanidades, nas aulas em que se comparam pontos de vista religiosos, ou nos cursos de filosofia que confrontam visões religiosas e científicas do mundo.

Mas o que é ensinado nas aulas de ciência deve se limitar à ciência. Redefinir a ciência para levar uma crença particular à sala de aula simplesmente não tem nada de educativo

Assim como a comunidade científica tem a grande responsabilidade de zelar pela integridade dos trabalhos científicos de seus membros, ela também deve assumir certa responsabilidade pelo uso que se faz da ciência e pela forma com que ela é apresentada ao público. Isso nos exige clareza sobre o que é ciência e sobre como distinguir lucidamente entre sistemas científicos e sistemas de crenças, nas escolas e em outros ambientes dedicados à ciência.

Do contrário, não estaremos cumprindo nossa obrigação junto a nossos compatriotas e às novas gerações de estudantes, que vão depender da ciência em seu futuro. (Tradução de Ruth Monserrat e José Monserrat Filho)

(1) John Scopes – julgado, de 10 a 25 de julho de 1925, por ensinar a teoria da evolução numa escola pública do Tennessee, EUA – foi condenado por violar uma lei estadual contra o ensino da evolução, embora a decisão, mais tarde, tenha sido convertida em mera formalidade. A lei foi revogada em 1967.

Como citar esse documento

Leshner, A.I. (2005) A Ciência e o "Desenho Inteligente". Projeto Evoluindo - Biociência.org. [http://www.evoluindo.biociencia.org/cienciaedi.htm]

*Publicado pela primeira vez em 11/07/2005, em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=29676.
Reproduzido com autorização do Jornal da Ciência.

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Aurelio Moraes
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Re.: Ciência e desígnio

Mensagem por Aurelio Moraes »

que é o Design Inteligente? *


Por Julio Cesar Pieczarka, Dr., 2005.



Se você assume que fomos projetados de modo "inteligente" é inevitável a conclusão de se trata de um serviço muito mal feito, por um designer bastante incompetente, conclusão esta que dificilmente vai agradar um criacionista.

Tenho notado que sempre que surge a discussão Evolução x Criacionismo, repete-se a mesma situação: os criacionistas atacam a Teoria da Evolução e os evolucionistas tratam de defendê-la.

Na discussão seguinte, repete-se tudo de novo, não trazendo nada de novo e provavelmente aborrecendo quem não está diretamente envolvido na questão, ou seja, a maioria das pessoas. Nada se fala, porém, das propostas criacionistas.

Assim, gostaria de lançar luz sobre o outro aspecto da questão, discutindo o que é o Design Inteligente, quais suas propostas e críticas que se fazem a esta sugestão. Deste modo invertem-se desta vez os papéis, só para variar.



1) O que é o Design Inteligente?


A proposta do Design Inteligente (DI) encontra sua origem no teólogo William Pailey, que em 1831 imaginou o seguinte: se ao caminhar por uma charneca ele encontrasse uma pedra, provavelmente não daria maior atenção a ela, supondo que a mesma se encontra ali desde os princípios dos tempos.

Todavia, se ele se deparasse com um relógio, a coisa mudaria de figura, pois o relógio não é um objeto simples como a pedra. Ele leva imediatamente à idéia do relojoeiro, isto é, de uma inteligência que o projetou.

Assim, a existência de seres e/ou estruturas biológicas organizadas no mundo natural levariam à idéia de uma inteligência superior, provando a existência de Deus. Em linhas gerais, o DI propõe a mesma coisa: o design existe na natureza, levando inevitavelmente à idéia do designer.

A princípio, o designer poderia ser qualquer inteligência desconhecida pelos seres humanos, podendo ser, por exemplo, uma civilização alienígena. Porém, a preferência sempre foi por um Deus do tipo Judáico-Cristão.

Seguindo este raciocínio, a existência de estruturas complexas não seria explicável pela teoria da evolução. Behe (1997) sugere o conceito de Complexidade Irredutível. Seriam estruturas que só funcionariam se todas as suas partes estivessem presentes desde o princípio; portanto, elas não poderiam ser organizadas em um processo passo-a-passo, via seleção natural.

Um exemplo apresentado por Behe é o da ratoeira: se alguma das partes da ratoeira faltar, ela não funciona.

Deste modo, ela não teria surgido pelo aparecimento primeiro de uma parte, depois de outra, etc... pois ela só funciona no final, quando todas as partes estão presentes.

Como ela é inútil nos passos intermediários (não funciona) ela não poderia ter surgido por seleção natural, pois a seleção implica em vantagem em cada etapa.

Ele afirma existirem na natureza casos de complexidade irredutível, dando alguns exemplos, entre os quais o olho e o sistema imunológico. Outra proposta foi feita por Dembski (1998), o qual afirma que o design ocorre sempre que dois critérios são satisfeitos: complexidade e especificação. Complexidade não é o bastante, é preciso uma intenção subjacente, que indica inteligência.



2) Quais as críticas às propostas do DI?


Em primeiro lugar é preciso deixar claro que o design existe na natureza. Efetivamente a mão humana ou o sistema muscular de uma cobra, por exemplo, não são fruto do acaso. Eles desempenham uma função, para a qual foram projetados.

O grande problema com o Design Inteligente não é a idéia de design em si, é o imenso salto epistemológico em supor que este design implica necessariamente em um designer inteligente e consciente.

O design que eles detectam foi "projetado", porém, por um designer não consciente, que atende pelo nome de "seleção natural".

Quando se vai argumentar contra uma teoria é preciso pelo menos conhecer o que ela afirma. Infelizmente, porém, parece que os defensores do DI tem uma visão bastante errônea sobre a Teoria da Evolução, já que eles afirmam ser impossível as estruturas complexas do mundo atual serem explicadas por puro acaso.

Na realidade, um dos poucos elementos casuais na Teoria da Evolução é a mutação, que não surge em função da necessidade imediata do organismo.

No que toca à seleção natural, porém, não há nada de casual. A escolha das formas mutantes que são preservadas de modo algum é aleatória, pois a seleção é a interface entre o organismo e o meio em que ele vive.

Assim, passo a passo, as escolhas são feitas em função do ambiente e das necessidades do organismo. Estruturas paulatinamente mais complexas surgem a partir de menos complexas. Portanto, repito, o design detectado nada mais é que o resultado da seleção natural.

Alguém poderia argumentar que do mesmo modo, poderia ser atribuída a uma inteligência superior esta intenção, de modo que esta sugestão equivaleria à da seleção e, portanto, ambas teriam igual poder e tudo vira uma questão de opinião.

Não é assim, porém. A seleção natural é uma explicação baseada no mundo natural, sem necessitar de lançar mão de uma explicação sobrenatural. Um cientista deve usar a ‘Navalha de Occam’ e optar pela possibilidade mais simples e lógica.

Se uma pessoa opta pela idéia de que o design deve provir de Deus, trata-se de uma opinião dela, mas sem base científica. Deixa de ser ciência e se torna religião (até porque os desígnios Divinos, bem com a própria existência ou não de Deus estão fora do alcance da ciência, que não pode provar nem que Ele existe, nem que Ele não existe).

Em essência, os defensores do DI, ao detectar design na natureza nada mais fazem que detectar a evolução. O mesmo argumento serve contra Dembski, pois o processo de seleção natural tanto gera complexidade como traz em si o conceito de especificação, pois as estruturas não foram selecionadas ao acaso, mas em função das necessidades de sobrevivência específicas daquela espécie.

O erro, volto a dizer é automaticamente supor que design implica em designer inteligente e consciente. Com relação à complexidade irredutível, efetivamente a ratoeira é um exemplo deste tipo de complexidade e que foi, portanto, projetada de modo inteligente.

Projetada por um ser humano! Mas não há exemplos na natureza deste tipo de complexidade. A literatura disponível sobre Biologia molecular contradiz este conceito, ao mostrar que estruturas aparentemente irredutíveis, na verdade, podem ser decompostas em etapas, através da duplicação de alguns genes.

Efetivamente, a duplicação gênica é um fenômeno importante no processo evolutivo, pois enquanto uma cópia do Gene continua fazendo sua função, a outra fica livre para sofrer alterações.

Eventualmente estas alterações levam à síntese de proteínas que complementam a função da proteína sintetizada pelo Gene original. Assim, é desnecessário, do ponto de vista científico, adicionar um elemento sobrenatural a fenômenos biológicos, uma vez que dispomos de explicações coerentes com o mundo natural.

Por fim, um aspecto que incomoda os defensores do DI (Dembski, por exemplo) é a questão da imperfeição do nosso design. Pigluiucci (2001) pergunta por que temos varises, hemorróidas, dor nas costas e nos pés?

A explicação da Teoria da Evolução é a de que evoluímos para o bipedismo em época relativamente recente, de modo que nosso corpo ainda não está perfeitamente adaptado a esta postura.

Mas se você assume que fomos projetados de modo ‘inteligente’ é inevitável a conclusão de se trata de um serviço muito mal feito, por um designer bastante incompetente, conclusão esta que dificilmente vai agradar um criacionista.

Dembski não encontrou resposta para isso, apenas aceitou o fato de que nosso design não é o ótimo que se esperaria de um Deus Todo Poderoso.

Desde Platão esta questão existe, pois ele sugeria que dado o serviço de qualidade variável, o projetista do Universo não poderia ser um Deus onipotente, mas apenas um Demiurgo, um deus menor, que não tinha capacidade de gerar algo melhor do que nós temos.

3) Qual a origem do grupo que defende o DI?

A conclusão mais evidente é a de se trata de um grupo criacionista, apesar deles negarem enfaticamente. O próprio conceito de Design Inteligente (a existência de uma inteligência que projetou o design) é um conceito criacionista em sua essência, embora não seja o mesmo que afirmar que a Terra tem 6000 anos como supõe alguns criacionistas (contrariando não apenas a Teoria da Evolução, mas também toda da Paleontologia, Geologia e Astronomia).

No entanto a noção de criação é implícita à idéia do DI. Mas vamos aos fatos. Em 1968 a Suprema Corte americana considerou a proibição do ensino de evolução (que perdurou por quase todo o século XX em muitos estados americanos) como inconstitucional, pois o motivo da proibição era visivelmente de fundo religioso e violava o princípio constitucional de separação entre estado e religião.

Os criacionistas no inicio dos anos 70 começaram então a divulgar o conceito de ‘criacionismo científico’, supostamente não religioso e que requeriria pelo menos tempo igual de divulgação em sala de aula da ‘teoria rival’, a evolução (Pennock, 2003).

Algumas leis passaram em alguns estados, mas em 1987 a Suprema Corte, no caso Edwards X Aguillard, decidiu que o criacionismo científico era de fato religião, por atribuir a origem humana a um ser sobrenatural.

Diante desta nova derrota ficou claro que os criacionistas precisavam de uma nova estratégia. Assim, o que eles precisavam era de um grupo, aparentemente independente deles, que:

a) se declarasse não criacionista (para fugir à acusação de ser um grupo religioso), que

b) lutasse por legitimidade científica (para poder ser ensinado em sala de aula), legitimidade esta a ser alcançada por bem ou por mal, tentando arrombar a porta se a mesma lhes fosse fechada, acusando os cientistas de autoritários (como se legitimidade científica fosse brinde que vem em caixa de cereal) e que

c) tivesse por mote combater a Teoria da Evolução, unindo forças com os criacionistas assumidos toda vez que isso fosse vantajoso. Então, no fim dos anos 80 surgiu o movimento DI. Se alguém ler a mensagens postadas no JC e-mail (e nos sites do DI) dos defensores do DI, verá que o comportamento descrito acima é exatamente aquele que eles apresentam (se tiverem respostas do DI a esta mensagem, por favor, atentem para este detalhe).

Estas são evidências circunstanciais. A evidência definitiva vem do documento chamado ‘The Wedge Strategy’, que estabelece as bases do movimento DI.

Este documento era interno do instituto criacionista Discovery Institute's Center for Science and Culture (CSC), mas vazou e foi publicado na internet em 2000 (Pennock, 2003). Uma cópia pode ser encontrada na página http://www.public.asu.edu/~jmlynch/idt/wedge.html

Ele estabelece que a proposta de que os seres humanos foram criados à imagem de Deus é uma das pedras fundamentais da civilização ocidental e que esta proposta está sendo ameaçada por intelectuais materialistas, como Charles Darwin, Sigmund Freud e Karl Marx.

Assim, o CSC iria reagir, através da construção de uma alternativa às teorias materialistas. Esta construção se chamaria Design Inteligente. O documento estabelece ainda um plano estratégico a ser desenvolvido em cinco anos, compreendendo três fases:

1) Pesquisa, Redação e Publicação;

2) Publicidade e Formação de Opinião;

3) Confrontação Cultural e Renovação.

Como a primeira fase foi um fracasso retumbante (mesmo com generosas verbas para pesquisa), eles passaram direto para a segunda e terceira fases. Pelo menos em um ponto eles acertaram em cheio: "Sem argumentação e pesquisa sólidas, o projeto será apenas mais uma tentativa de doutrinar, ao invés de persuadir".

Espero que os fatos e argumentos aqui apresentados contribuam para uma compreensão mais clara do que é o DI.

Como citar esse documento

Pieczarka, J.C. (2005) O que é Design Inteligente? Projeto Evoluindo - Biociência.org. [http://www.evoluindo.biociencia.org/oqueedi.htm]

*Publicado pela primeira vez em 17/02/2005, em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=25540.
Reproduzido com autorização do autor e do Jornal da Ciência.

Trancado