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As multidões substituem os indivíduos

Enviado: 17 Mar 2007, 11:36
por Fernando Silva
"O Globo" 12/03/07

A ascensão das massas

PAULO GUEDES

As cidades estão cheias de gente. Os hotéis, cheios de hóspedes. Os estabelecimentos, cheios de consumidores. As calçadas, cheias de transeuntes. Os espetáculos, cheios de espectadores. As praias, cheias de banhistas.

O que antes não costumava ser problema começa a sê-lo quase de forma contínua: encontrar lugar. Vemos a multidão de posse dos espaços criados pela civilização. E a ocupação é também política, intelectual, moral, econômica e religiosa.

Compreende todos os atos coletivos, inclusive o modo de se vestir e se divertir. Este é o fato mais importante da vida em sociedade no momento, para o bem ou para o mal: o advento das massas ao poder.

Os indivíduos que integram as multidões já existiam, não surgiram do nada. Levavam, pelo visto, uma vida divergente, dissociada, distante.

Agora, de repente, aparecem sob a forma de aglomeração, e nossos olhos vêem multidões por toda parte. De repente, a multidão tornou-se visível, instalou-se nos lugares preferenciais da sociedade.

Antes, passavam despercebidas. Ocupavam o fundo do cenário social. Tornaram-se agora o personagem principal.

É natural que o povo desfrute hoje mais, e em maior número, das criações relativamente refinadas da cultura humana, anteriormente reservadas às minorias. O problema é que o fenômeno não pode se manifestar somente em relação aos prazeres.

Nem poderia a massa atuar à margem da lei, por meio de pressões, impondo suas aspirações e seus gostos. A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo que é vulgar, afirma o direito à vulgaridade e o impõe em toda parte.

A civilização não está aí simplesmente, como a natureza. É um artifício. Os que se aproveitam de suas vantagens, mas não se preocupam com seus princípios, num piscar de olhos ficam sem ela. Tudo se evapora.

O mundo é civilizado, mas a maioria de seus habitantes ainda não. Desconhece seu caráter artificial, quase inverossímil. Os homens da massa são primitivos, que penetraram pelos bastidores no velho cenário da civilização ocidental.

Interessam-lhe os remédios, os automóveis e outras coisas mais, sem perceber, em seu radical desinteresse pela civilização, que são apenas produtos de uma engrenagem que desconhecem.

Quanto mais avança a civilização, maior sua complexidade, e cada vez menor o número de pessoas cujas mentes compreendem sua evolução. Como as massas não vêem nas vantagens da civilização construções prodigiosas, que só podem ser mantidas com grandes esforços e cuidados, acham que seu papel se resume em exigi-las, como se fossem direitos naturais.

As massas costumam procurar pão e o meio que empregam costuma ser a destruição das padarias.

Esse é o símbolo do comportamento que têm as massas atuais para com a civilização que as alimenta. É muito difícil salvar uma civilização quando chegou sua hora de cair em poder dos demagogos.

P.S.: Estes são trechos do livro “A rebelião das massas” (1930), de José Ortega y Gasset, filósofo espanhol que registrou o clima fervilhante dos anos 20 provocado pela ascensão das massas na sociedade européia.

Enviado: 17 Mar 2007, 14:17
por Tulio
Caso típico dos anti-americanos tupiniquins: mordem, mastigam, engolem e digerem produtos e serviços americanos e depois arrotam o seu ódio e despreso contra os Estados Unidos.