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A CÉLULA ORIGINAL E O GRAVADOR.

Enviado: 28 Mar 2007, 18:51
por videomaker
A CÉLULA ORIGINAL E O GRAVADOR

A transmissão da vida é um fato paradoxal.

Por um lado, sabemos com certeza que o laço que une os pais aos filhos é material, já que o novo ser surgirá do encontro de duas células, o óvulo da mãe e o espermatozóide do pai.

Mas, por outro, sabemos com igual certeza que nenhuma das moléculas, nenhum dos átomos que constituem a célula originária tem a menor possibilidade de ser transmitido, tal qual é, à geração seguinte. Torna-se óbvio, portanto, que o que se transmite não é a matéria dos pais, mas uma determinada modificação desta; ou, mais exatamente, uma forma.

Mesmo sem evocarmos o complexo mecanismo das macromoléculas codificadas que são os vetores da herança, este paradoxo desaparece se observarmos que é comum a todos os processos de reprodução, naturais ou inventados.

Uma estátua, por exemplo, requer um substrato material, de bronze, mármore ou barro. Durante a reprodução, existe em cada instante uma contigüidade de matéria entre a estátua e o molde, ou entre o molde e a réplica. O que se reproduz, porém, não é o material, que pode variar segundo a vontade do fundidor, mas exatamente a forma dada à matéria pelo gênio do escultor.

A reprodução dos seres vivos é, certamente, muito mais delicada que a de uma forma inanimada, mas segue o mesmo caminho, como no-lo demonstra um exemplo corrente.

Na fita cassette é possível gravar, por meio de minúsculas modificações de imantação, uma série de sinais que correspondem, por exemplo, à execução de uma sinfonia.

Essa fita, colocada num aparelho, reproduzirá a sinfonia, embora nem o gravador nem a fita contenham os instrumentos ou mesmo a partitura.

É de uma maneira semelhante que se reproduz o organismo vivo.

André Luiz 17:08(1½ horas atrás) A fita de gravação é incrivelmente tênue, pois está representada pela molécula de DNA, cuja pequenez confunde a inteligência. Para fazermos uma idéia, se se reunisse num mesmo ponto o conjunto das moléculas de DNA que especificassem todas e cada uma das qualidades físicas dos seis bilhões de homens que existem neste planeta, essa quantidade de matéria caberia facilmente dentro de um dedal.

A célula original do ser humano é semelhante ao gravador com a fita. Mal o mecanismo se põe em funcionamento, a vida humana desenvolve-se de acordo com o seu próprio programa, e se o nosso organismo é efetivamente um aglomerado de matéria animado por uma natureza humana, isso se deve a esta informação primitiva, e somente a ela. O fato de o ser humano dever desenvolver-se no seio do organismo materno durante os seus nove primeiros meses não modifica em nada este fato.

Para a mais estrita análise biológica, o princípio do ser remonta à fecundação, e toda a existência, desde as primeiras divisões celulares até à morte, não é senão a ampliação do tema originário.

Re.: A CÉLULA ORIGINAL E O GRAVADOR.

Enviado: 28 Mar 2007, 21:15
por Tranca