Santa Inquisição

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Fabi
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Santa Inquisição

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[center]Santa Inquisição[/center]
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Heresia - (do grego hairesis, 'escolha', pelo latino haeresis + -ia) opinião, escolha, preferência, opção

Em fins do século XVIII, a Igreja Católica sentiu-se ameaçada por uma série de críticas feitas aos dogmas sobre os quais se apoiava a Doutrina Cristã. Essas críticas e dúvidas sobre a verdade absoluta da mensagem da Igreja aumentaram, e os indivíduos que partilhavam dessas idéias contestadoras da doutrina oficial do catolicismo eram chamados de hereges.

A palavra herege origina da palavra grega "hairesis" e do latim haeresis e significa doutrina contrária ao que foi definido pela Igreja Católica em matéria de fé. No que diz respeito propriamente ao conceito de heresia, foi aceita a definição do teólogo medievalista M. D. Chenu, de que herege é "o que escolheu’’ , o que isolou de uma verdade global uma verdade parcial, e em seguida se obstinou na escolha. A heresia é uma ruptura com o dominante e ao mesmo tempo é uma adesão a uma outra mensagem. É contagiosa e em determinadas condições dissemina-se facilmente na sociedade. Daí o perigo que representa para a ordem estabelecida, sempre preocupada em preservar a estrutura social tradicional.

No fim do século XV, isto é, no início da época moderna, foi criada na Espanha uma instituição, que se inspirou nos moldes das que haviam funcionado na Europa durante a época medieval: O Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. O caráter cruel e desumano de seu funcionamento talvez não tenha precedentes na história da civilização, até o surgimento do nazismo e do imperialismo no século XX. Há contudo um fato importante que deve ser cuidadosamente anotado para que possamos entender o complexo fenômeno da perseguição as heresias na Espanha e Portugal: a palavra "heresia" adquiriu com o tempo diversas conotações, e para os inquisidores portugueses tinha um sentido muito definido e específico, que estava registrado em seus regimentos. Diz textualmente o Regimento da Inquisição de 1640, no Livro III, p.151: "contra os hereges e apóstolos que, sendo cristãos batizadores, deixam de ter e confessar nossa fé católica". E também contra os indivíduos "que confessam nela" ( na Inquisição ) "as culpas de judaísmo, ou de qualquer outra heresia ou apostasia". E pois o português batizado, descendente de judeus convertidos ao catolicismo e praticante secreto do judaísmo, um herege perante a Igreja Católica em Portugal.

A Santa Inquisição

Tribunal da Igreja Católica instituído no século XIII para perseguir, julgar e punir os acusados de heresia. A Santa Inquisição foi fundada pelo Papa Gregório IX (1148-1241) em sua bula Excommunicamus, publicada em 1231. Heresias são doutrinas ou práticas contrárias ao que é definido como matéria de fé. Na época inicial da Igreja elas eram punidas com a excomunhão. Quando no século IV o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, os heréticos passam a ser perseguidos como inimigos do estado.

Na Europa , entre o século XI e XV, as heresias são geradas principalmente pelo desenvolvimento cultural, acompanhado de prosperidade econômica e crescimento urbano. As reflexões filosóficas e teológicas da época produzem conhecimento que contradizem a concepção de mundo defendida até então pelo poder eclesiástico. Além disso, surgem movimentos cristãos, como os cátaros em Albi, e os valdenses em Lyon, no sul da França, que pregam a volta do cristianismo às origens, defendendo a necessidade de a Igreja abandonar suas riquezas. Em resposta a essas heresias, milhares de albigenses são liquidados por exércitos papais, entre os anos de 1208 e 1229.

A Inquisição é criada dois anos depois. A responsabilidade pela ortodoxia da religião passa dos bispos aos inquisidores, sob a direta jurisdição do Papa, e são estabelecidas punições severas. As penas podem variar, desde a obrigação de fazer uma abjuração pública ou uma peregrinação a um santuário até o confisco dos bens e a prisão em cadeia. A pena mais severa é a prisão perpétua, mas as autoridades civis automaticamente a converte em execução pública na fogueira ou na forca. Os heréticos não podem recorrer ao direito de asilo, e em geral, duas testemunhas constituem suficiente prova de culpa.

Em 1252, o Papa Inocêncio IV sanciona o uso da tortura como método de obtenção da confissão de suspeitos. As condenações dos culpados são lidas numa cerimônia pública no fim dos processos. É o chamado auto-de-fé. Nos séculos XIV e XV, os tribunais da Inquisição diminuem sua atividade e são recriados sob a forma de uma Congregação da Inquisição contra os movimentos da Reforma Protestante e contra as "heresias" filosóficas e científicas saídas do Renascimento. Vítimas notórias da fogueira da Inquisição são a heroína francesa Joana D'Arc (1412-1431), executada por declarar-se mensageira de Deus e usar roupas masculinas, e o italiano Giordano Bruno (1548?-1600), considerado o pai da Filosofia moderna, condenado por concepções intelectuais consideradas contrárias às aceitas pela Igreja.

Uma forma ainda mais violenta da Inquisição surge em 1478, na Espanha, a pedido dos reis católicos Fernando e Isabel, contra os judeus e muçulmanos, que são convertidos pela força ao catolicismo.

As Perseguições

Embora a Inquisição tenha alcançado seu apogeu no século XIII, suas origens remontam ao século IV:

· no século X muitos casos de execuções de hereges, na fogueira ou por estrangulamento;

· em 1198 o Papa Inocêncio III liderou uma cruzada contra os "ALBIGENSES" (hereges do sul da França), com execuções em massa;

· em 1229, no Concílio de Tolouse, foi oficialmente criada a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício, sob a liderança do Papa Gregório IX;

· em 1252, o Papa Inocêncio IV publicou o documento intitulado "AD EXSTIRPANDA", em que vociferou: "os hereges devem ser esmagados como serpentes venenosas". Este documento foi fundamental na execução do diabólico plano de exterminar os hereges. As autoridades civis, sob a ameaça de excomunhão no caso de recusa, eram ordenadas a queimar os hereges. O "AD EXSTIRPANDA" foi renovado ou reforçado por vários papas, nos anos seguintes: Alexandre IV (1254-1261); Clemente IV (1265-1268), Nicolau IV (1288-1292); Bonifácio VIII (1294-1303) e outros. Inocêncio IV autorizou o uso da tortura.

A Tortura como instrumento de Fé

Usava-se, dentre outros, os seguintes processos de tortura: a manjedoura, para deslocar as juntas do corpo; arrancar unhas; ferro em brasa sob várias partes do corpo; rolar o corpo sobre lâminas afiadas; uso das "Botas Espanholas" para esmagar as pernas e os pés; a Virgem de Ferro: um pequeno compartimento em forma humana, aparelhado com facas, que, ao ser fechado, dilacerava o corpo da vítima; suspensão violenta do corpo, amarrado pelos pés, provocando deslocamento das juntas; chumbo derretido no ouvido e na boca; arrancar os olhos; açoites com crueldade; forçar os hereges a pular de abismos, para cima de paus pontiagudos; engolir pedaços do próprio corpo, excrementos e urina; a "roda do despedaçamento funcionou na Inglaterra, Holanda e Alemanha, e destinava-se a triturar os corpos dos hereges; o "balcão de estiramento" era usado para desmembrar o corpo das vítimas; o "esmaga cabeça" era a máquina usada para esmagar lentamente a cabeça do condenado, e outras formas de tortura.

Com a promessa de irem diretamente para o Céu, sem passagem pelo purgatório, muitos homens eram exortados pelos inquisidores para guerrearem contra os hereges.

Depois de acusados, os hereges tinham pouca chance de sobrevivência. Geralmente as vítimas não conheciam seus acusadores, que podiam ser homens, mulheres e até crianças. O processo era sumário. Ou seja: rápido, sem formalidades, sem direito de defesa.

A Igreja de Roma, sob o pretexto de que detinha as chaves dos céus e do inferno e poderes para livrar as almas do purgatório e perdoar pecados, pretendia ser UNIVERSAL, dominar as nações mediante pressão sob seus governantes e estabelecer seus domínios por todo o Planeta.

A Proibição da Leitura

A história dos massacres e perseguições perde-se no tempo. Quase impossível para os historiadores é levantar o número exato ou aproximado de vítimas da Inquisição. O banho de sangue começou na Europa, mais precisamente em França, e se estendeu por países vizinhos. Havia, por parte da Igreja de Roma, uma preocupação constante com a propagação do Evangelho, com o conhecimento da Palavra, com a tradução da Bíblia em outras línguas. Preocupação no sentido de proibir. Só pelo fato de um católico passar a ler as Escrituras estava sujeito a ser considerado um herege e, como tal, ser excomungado e levado à fogueira. A Bíblia era, assim, considerada um obstáculo às pretensões da Igreja de Roma, de colocar todos os povos sob seus domínios.

Muitos meios foram usados para que a Bíblia ficasse restrita ao pequeno círculo dos sacerdotes, dos padres, dos bispos e dos papas. Dentre as medidas para conter o avanço da leitura, destaco alguns a seguir :

1229 - o Concílio de Tolouse (França), o mesmo que criou a diabólica Inquisição, determinou: "Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento... Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será severamente punido." (Concil. Tolosanum, Papa Gregório IX, Anno Chr. 1229, Canons 14:2). Foi este mesmo Concílio que decretou a Cruzada contra os albigenses. Em "Acts of Inquisition, Philip Van Limborch, History of the Inquisition, cap. 08, temos a seguinte declaração conciliar: "Essa peste (a Bíblia) assumiu tal extensão, que algumas pessoas indicaram sacerdotes por si próprias, e mesmo alguns evangélicos que distorcem e destruíram a verdade do evangelho e fizeram um evangelho para seus próprios propósitos... (elas sabem que) a pregação e explanação da Bíblia é absolutamente proibida aos membros leigos".

1866 - O Papa Pio IX, em sua encíclica "Quanta cura", em 8 de dezembro de 1866, emitiu uma lista de oito erros sob dez diferentes títulos. Sob o título IV ele diz: "Socialismo, comunismo, sociedades clandestinas, sociedades bíblicas... pestes estas devem ser destruídas através de todos os meios possíveis".

Conclusões
A simples análise da História da Idade Média até os dias de hoje, nos mostra o quanto perniciosa e cruel tem sido as crendices em geral para a civilização Humana. Em especial, a Igreja clássica, que através do terror, da dominação política e econômica, impôs as trevas ao mundo ocidental. A selvageria cometida em nome de um Deus e um Diabo criados a partir do conhecimento dos medos mais profundos das pessoas daquela época, nos releva um passado recente cruel e irracional. A verdadeira antítese da vida, da liberdade e do pensamento.

A demência que a Igreja semeou ao longo do mundo ocidental, através da exportação de câmaras de torturas e bárbaros inquisidores, a procura de pessoas que se atreviam a pensar, representou um atraso tecnológico e cultural de pelo menos mil anos na idade cronológica do Homem.

E tudo isto podendo ser resumido a uma simples questão : ou tema a Deus ou tema a nós. E o Diabo, afinal para que foi criado ? Para que criar mais seres demoníacos etéreos além dos já existentes na Terra ?

Quando estudamos através de pesquisa séria dentro do contexto histórico, verificamos que o segundo atraso imposto, além do atraso da própria crendice e dos falsos dogmas criados, foi a proibição da leitura, conforme amplamente divulgado nas encíclicas papais.

A conseqüência direta da proibição da leitura da bíblia que a própria Igreja a escreveu, foi catastrófica em termos culturais, pois sabemos em condições de baixo desenvolvimento econômico e social, por mais incrível e paradoxal que possa parecer - sob a ótica do intelecto e da razão - somente havia esta opção de leitura. Durante as Reformas que romperam estes paradigmas, as pessoas seguindo a necessidade de enquadrar nas religiões por força de ações sociais ou simplesmente por ignorância, forçosamente apreenderam a ler em função da necessidade de participar dos cultos religiosos.

Finalmente, o terceiro atraso imposto foi a perseguição sistemática e de inventores e pesquisadores que ousavam blasfemar contra seu Deus. Quantas invenções e descobertas científicas poderiam ter sido realizadas, se não fosse a brutal repressão da Igreja ? Quantas doenças já poderíamos curar, quantas fontes de energia limpa para o meio ambiente poderíamos estar usufruindo ?

Sem contar o papel das Igrejas no mundo atual, a propagar fé e crenças, auxiliando as classes dominantes a manter as populações controladas e submissas ao poder do capital e do neoliberalismo.

Fonte: http://paginas.terra.com.br/arte/sarmentocampos/

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Fabi
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Fabi »

E os católicos daqui fugiram. :emoticon18:
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Fernando Silva
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Fernando Silva »

Eles costumam dizer que não foi bem assim, que houve alguns excessos localizados, que eram as autoridades civis que perseguiam os hereges etc.
O forista Trajano justificou a morte de Giordano Bruno dizendo que ele "azucrinava" a ICAR e que a Inquisição espanhola foi criada por leigos, não pela ICAR.

Detalhe: a Inquisição espanhola matou seu último herege em 1820 (um professor que morreu enforcado por alterar a letra de um hino).
A Inquisição romana ainda estava ativa em 1870 e foi usada como ameaça para forçar os bispos a aprovarem a "infalibilidade" do papa no Concílio Vaticano I. Ela acabou quando Garibaldi confinou o papa ao território do Vaticano e lhe retirou a autoridade temporal.

Para quem nega a Inquisição, uma prova irrefutável é o livro "Martelo das Feiticeiras", um manual de tortura para inquisidores escrito por dois dominicanos a pedido do papa. Que eu saiba, ainda não foi revogado e ainda é publicado.

O livro só pode ter sido escrito por mentes completamente doentias, de tão escroto.

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Fernando Silva
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Fernando Silva »

-Galileu foi considerado um herege. Disse o Cardeal Bellarmino em 1615, durante seu
julgamento: "Afirmar que a Terra gira em torno do Sol é tão errado quanto dizer que Jesus
não nasceu de uma virgem". Aos olhos dos seus contemporâneos ele estava condenado
ao inferno por divulgar tais absurdos. Hoje em dia qualquer criança sabe que ele estava certo.

-O papa Leão XII, em 1829, proibiu o uso da vacina contra a varíola: "Quem quer
que recorra à vacina deixa de ser um filho de Deus. Não se pode mexer no
equilíbrio do corpo humano". A proibição ainda está de pé? Posso me considerar
um filho de Deus?

-Em 1077, o doge de Veneza, Domenico Selvo, casou-se com uma princesa grega, Teodora,
filha do imperador Constantino Ducas, de Bizâncio, que trouxe com ela o uso do garfo. Isto
causou escândalo em Veneza pois, na época, em toda a Europa, comia-se com a mão. Os
membros da Igreja a condenaram por esta exibição exagerada de refinamento (além de tomar
banhos diários) e invocaram para ela a ira de Deus. Pouco depois ela caiu vítima de uma
doença repulsiva e São Boaventura afirmou que era um castigo divino. Se ele foi canonizado,
é sinal de que a Igreja concordava com a sua mesquinharia (e creio que deveríamos reavaliar
as canonizações do passado, aproveitando esta fase de "mea culpa" da Igreja. Mas acho que
vai ser difícil, considerando-se a quantidade inédita de beatificações e canonizações
apressadas concedidas por João Paulo II, com critérios políticos).

-O papa Alexandre VI manipulou seus eleitores através de suborno. Além disso,
estabeleceu novos recordes no que tange à geração de filhos, acumulação de ouro
e nepotismo. O frade Girolamo Savonarola o condenou por isso e declarou sua
eleição como inválida. O papa o convocou à sua presença e, como ele não obedecesse,
o excomungou, em 1497, e depois fez com que fosse julgado por heresia e queimado.

-No ano de 415 DC, Hipatia, filha de Têon, uma cientista que dirigia a famosa biblioteca
de Alexandria, foi esfolada até a morte com cacos de cerâmica, por monges cristãos, pelo
crime de ser pagã. Antes disto, chacinaram os judeus da região. O superior deles, Cirilo,
foi canonizado como santo.

-Com o crescimento do poder temporal da Igreja, suas pompas, seu envolvimento
em assuntos políticos, sua riqueza e a corrupção generalizada resultante, surgiam
com frequência movimentos que pregavam, como São Francisco, a volta à vida simples
e santa, baseada no Sermão da Montanha. Formavam comunidades à parte que tendiam
a rejeitar a autoridade da Igreja. Naturalmente eram considerados hereges e, após
tentativas frustadas dos inquisidores de trazê-los de volta ao rebanho, acabavam
na fogueira. Como suas idéias poderiam parecer insuficientes para justificar tal
punição, difundiam-se boatos sobre como estariam envolvidos em rituais satânicos e
sacrílegos (também tinham, em alguns casos, interpretações próprias para alguns
pontos do Evangelho, o que não era exatamente uma heresia, já que a doutrina ainda
estava em fase de discussão; na verdade, a fé foi definida ao longo dos séculos
justamente por causa desses questionamentos sobre pontos obscuros).
Por volta de 1258, o inquisidor Pietro di Verona, particularmente abominado por
seus métodos, foi assassinado. Logo depois foi canonizado, ficando conhecido
como Pedro o Mártir...

Dizem alguns, em defesa da Igreja, que a Inquisição era praticada pelo poder temporal.
Veja-se entretanto este trecho:
"Se, pois, os falsificadores de moedas e outros malfeitores são, a bom direito, condenados
à morte pelos príncipes seculares, com muito mais razão os hereges, desde que sejam
comprovados tais, podem não somente ser excomungados, mas também em toda justiça
ser condenados à morte" (Tomás de Aquino, Suma Teológica li/li 1 1,3c)."
Em que ponto do Novo Testamento se afirma que a Igreja pode se impor pela força?

Quem deu aos eclesiásticos direito de vida ou morte sobre quem pensa com a própria
cabeça? O que foi feito de:
"Não julgueis para não serdes julgados"?
"Ama a teu próximo como a ti mesmo"?
"Não matarás"?

Afirmavam os hereges donatistas que o homem é livre para acreditar ou não e que
Jesus jamais empregou a violência. Contra eles afirmou Santo Agostinho:
"Não faz parte da tarefa de um pastor, quando as ovelhas se afastam do rebanho [...]
trazê-las de volta ao rebanho de seu dono quando este as tiver encontrado, pelo
medo ou até mesmo pela dor do açoite, se elas derem sinais de resistência?". Ou
ainda: "Claro que é melhor (e isso ninguém nega) que os homens deveriam ser levados
a adorar Deus através do ensinamento do que por medo de punição ou da dor. Mas
isto não implica , porque o primeiro método produz os melhores homens, em que os
que não se submetem a ele devam ser negligenciados. Pois muitos viram vantagem
(como nós já provamos e provamos diariamente pela experiência) em ser primeiro
compelidos pelo medo ou pela dor de modo que mais tarde possam ser influenciados
pelo ensinamento e transformem em atos o que aprenderam por palavras" ("Tratado
sobre a correção dos Donatistas" (417), p.214).

O sínodo de Verona, em 1184, e o quarto concílio de Latrão, em 1215, oficializaram
a perseguição aos hereges, que se tornaram culpados de "traição ao imperador" e
passíveis de execução. Durante os séculos que se seguiram milhares de pessoas foram
torturadas e mortas na Europa e nas Américas (inclusive no Brasil) por suas idéias.

Frei Nicolau Eymerich, um dominicano espanhol, escreveu em 1376 seu "Manual dos
inquisidores" (Directorium Inquisitorum), revisado em 1578 por outro dominicano,
Francisco de la Peña, para incluir as "novidades". Dizia, entre outras barbaridades:
-"A finalidade mais importante do processo e da condenação à morte não é
salvar a alma do condenado, mas buscar o bem comum e intimidar o povo".
-"A suspeita é razão suficiente para punição, a denúncia é prova eloqüente, mesmo que
venha de testemunhas sórdidas e indignas".

Quando os hereges escassearam, por volta de 1375 (principalmente os ricos, cujos bens
eram expropriados e distribuídos entre os envolvidos), a máquina da Inquisição romana, para
não ser desmontada, e por ordem do papa João XXII, acabou voltando-se contra as bruxas
(a Inquisição espanhola era relativamente independente da Inquisição papal e nunca sofreu
por falta de hereges).

Em 1484, o papa Inocêncio VIII declarou que a bruxaria era uma heresia e encomendou a
dois misóginos radicais, Heinrich Kramer, reitor da universidade de Colônia, e Jakob
Sprenger, monge dominicano e inquisidor-geral da Alemanha, um manual de caça às bruxas,
o "Malleus maleficarum" ("Martelo das bruxas"), publicado em 1486 e usado durante 250 anos,
inclusive pelos protestantes.

Este manual repetia e ampliava antigos preconceitos contra as mulheres, como os de São Tomás
de Aquino. Penetrou profundamente no imaginário popular e sua influência nunca cessou de
todo. Ainda no início do século XX (e até recentemente na Suíça), as mulheres eram
proibidas de votar "porque poderiam cismar de votar diferente do marido".

O livro afirmava (afirma; não foi revogado, que eu saiba...), entre outras coisas, que:

-"Quando uma mulher pensa sozinha, ela pensa maldades".
-"Elas são mais fracas de espírito e corpo...As mulheres são, intelectualmente, como
crianças...As mulheres têm memória mais fraca e é um vício natural nelas não serem
disciplinadas mas obedecerem a seus próprios impulsos sem noção do que é apropriado".
-"A mulher é uma mentirosa por natureza...Ela é uma inimiga insidiosa e secreta".
-"Se uma mulher se atreve a curar sem ter estudado, ela é uma bruxa e deve morrer".
(quando um homem curava, era pelo poder de Deus ou dos santos; quando uma mulher
curava, era obra do diabo).
-"Ninguém causa maior dano à fé católica do que as parteiras" (porque conheciam métodos
de parto sem dor, o que contrariava o mandamento de Deus de que as mulheres deveriam
dar à luz com dor; se não doesse, o diabo estava agindo).
-"E convém observar que houve uma falha na formação da primeira mulher, por ter sido
ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela do peito, cuja
curvatura é, por assim dizer, contrária à retidão do homem. E como, em virtude dessa
falha, a mulher é animal imperfeito, sempre decepciona e mente."

O livro trazia instruções detalhadas sobre métodos de tortura para se obterem confissões,
terminando as vítimas totalmente estraçalhadas (mas com o devido cuidado para que
sobrevivessem para serem queimadas na fogueira, com a língua cortada para que não
blasfemassem diante do povo).

Entre hereges e "bruxas", foram mortas milhares, talvez milhões de pessoas. Houve casos de cidades que ficaram com apenas uma mulher). Provas cabais não eram
necessárias, bastando denúncias ou suspeitas.

Até então, as bruxas tinhas sido toleradas ou até mesmo aceitas pela Igreja. Sinais
eram vistos em todos os acontecimentos e videntes eram chamadas a interpretá-los.
São Jerônimo disse que um amuleto de safira "consegue os favores dos príncipes,
pacifica os inimigos e obtém a liberdade do cativeiro". Até hoje temos o Agnus Dei,
escapulários, a água benta, santinhos, relíquias e as medalhinhas "milagrosas",
que não passam de amuletos.

Note-se que a perseguição era basicamente às mulheres. O concílio de Trento, em 1310,
condenou diversas práticas que eram especialidade das mulheres. Outras, que podemos
perfeitamente denominar feitiçaria, continuaram em uso, inclusive com livros publicados
sob os auspícios da Igreja, com aprovação eclesiástica, porque eram praticadas por
homens, como o abade João Trithemius.

----x----x----
Podemos deduzir que os "condenados" de hoje talvez sejam os grandes pensadores
do futuro. E que a ciência teve que avançar lutando contra a Igreja, como se
cada descoberta diminuísse a importância de Deus e da Igreja (ou seu poder de
punição contra nós) ou contrariasse um artigo de fé (o que não deixa de ser
verdade...).

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Acauan
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Mensagem por Acauan »

Um livro particularmente esclarecedor para quem quer entender a Inquisição é "O queijo e os vermes", de Carlo Ginzburg, que reconstitui a vida de uma pessoa comum da Idade Média, um moleiro, que acusado pela Inquisição de heresia por criar sua própria teoria das origens (a vida surgiu na Terra como os vermes surgem do queijo) sofre um longo processo, ao longo de anos, que termina com sua execução.

É interessante pois reconstitui não apenas o processo, mas o ambiente histórico medieval, corrigindo uma série de visões incorretas e mistificadas que são comumente aceitas como verdadeiras sobre aquele período e seus eventos.

Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Zheus
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Mensagem por Zheus »

Saudações

Muita estória para pouco efeito, todavia, poderiam por gentileza apontar algum sistema absolutista cujo utilizou o romantismo e versos poéticos para lidar com indignações de opositores?
Zheus nada é. Zheus manifesta-se. Como saber o que Zheus é se Zheus pode ser o Zheus quiser ser?

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francioalmeida
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por francioalmeida »

Eu gosto dos fiéis da igreja católica e suas desculpas para as atrocidades cometida por seus líderes e a igreja em sí.

Fabí, você vai ser ex-comungada e não vai mais ganhar lanchinho durante a missa :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Zheus escreveu:Saudações

Muita estória para pouco efeito, todavia, poderiam por gentileza apontar algum sistema absolutista cujo utilizou o romantismo e versos poéticos para lidar com indignações de opositores?

Um sistema cujo líder é diretamente inspirado pelo Espírito Santo e cuja igreja foi fundada por um deus que habitou entre nós deveria ser bem diferente de simples ditaduras humanas.

Entretanto, exceto pelas afirmações sem prova de seus líderes, não se diferenciam em nada.

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Gilghamesh
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Mensagem por Gilghamesh »

Zheus escreveu:Saudações

Muita estória para pouco efeito, todavia, poderiam por gentileza apontar algum sistema absolutista cujo utilizou o romantismo e versos poéticos para lidar com indignações de opositores?


"Bunitinho" isso: "eu faço, mas os outros também fizeram" , ou "se os outros também fazem, por que nós não podemos fazer?" :emoticon12:
Eu Sou Gilghamesh!
Versão: 5.1 última versão!!!! :emoticon81:
.
:emoticon81: :emoticon81: :emoticon81: :emoticon81: :emoticon81: :emoticon81:
O Mundo só será feliz à partir do dia em que enforcarmos o último político, usando como corda, as tripas do último lider religioso e cremarmos seus corpos utilizando como combustível, seus podres livros sagrados!
.
:emoticon81: :emoticon81: :emoticon81:

Apocaliptica

Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Apocaliptica »

Um bom filme para se ver é " O nome da Rosa" de Humberto Eco.

Todos deveriam assistir. Ah...e leiam o livro, leitura obrigatória.

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Storydor
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Storydor »

Engraçado... ontem tive uma aula exatamente sobre isso, a contra reforma [restauração do tribunal da Santa Inquisição].
E, por sinal, a professora usou no slide dela essa mesma imagem!

Eu tento ficar calmo toda vez que estudo esses assuntos que envolvem a igreja, só de ver as filhasdaputisse que fizeram, me dá uma raiva enorme, além de me fazer questionar por que aindas há católicos no mundo.
"E quem era inocente, hoje já virou bandido, só para comer um pedaço de pão fudido" Chico Science
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Apocaliptica

Re: Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Apocaliptica »

Storydor escreveu:Engraçado... ontem tive uma aula exatamente sobre isso, a contra reforma [restauração do tribunal da Santa Inquisição].
E, por sinal, a professora usou no slide dela essa mesma imagem!

Eu tento ficar calmo toda vez que estudo esses assuntos que envolvem a igreja, só de ver as filhasdaputisse que fizeram, me dá uma raiva enorme, além de me fazer questionar por que aindas há católicos no mundo.



Eles dizem que foi uma fase. E que hoje a Igreja é moderna. Também se defendem afirmando que não podem pagar pelos erros cometidos no passado, esquecendo-se que a Igreja só se "adapta" na marra e com muitas restrições, quando sente que vai perder alguma peça importante do jogo, como por exemplo, se envolver numa crise diplomática complicada.

Como sabem que as religiões que estão lhes tomando os fiéis também são fundamentalistas, ou que acabam usando armas de lavagem cerebral muito pior que as dela, a ICAR fica apenas observando, e funciona a hipocrisia mesclada com a tirania suportável pelos fiéis ainda no mundo. Mas volta e meia, as garras aparecem.

Zheus
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Mensagem por Zheus »

Fernando Silva escreveu:
Zheus escreveu:Saudações

Muita estória para pouco efeito, todavia, poderiam por gentileza apontar algum sistema absolutista cujo utilizou o romantismo e versos poéticos para lidar com indignações de opositores?

Um sistema cujo líder é diretamente inspirado pelo Espírito Santo e cuja igreja foi fundada por um deus que habitou entre nós deveria ser bem diferente de simples ditaduras humanas.

Entretanto, exceto pelas afirmações sem prova de seus líderes, não se diferenciam em nada.

Saudações Fernando

Deveria ser caso a ICAR, assim como as demais grandes religiões monoteístas, tivesse ausente do principal e omisso propósito cuja Religião sempre demonstrou ser por séculos de História; um modo deveras precário de governo e política. A ICAR se fez um Estado que regia Estados e instituiu uma teocracia balizada em interpretações próprias de toda teofania bíblica. Desconsiderar estas premissas tornará indignações sobre a Inquisição, algo irrelevante, dado motivo dela se desprender das razões que culminaram na sua implementação; a necessidade do clero sustentar e preservar o próprio domínio, tanto moral, político ou ético, por quase toda Europa.
Zheus nada é. Zheus manifesta-se. Como saber o que Zheus é se Zheus pode ser o Zheus quiser ser?

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Fernando Silva
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Re: Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Fernando Silva »

Apocaliptica escreveu:Eles dizem que foi uma fase. E que hoje a Igreja é moderna. Também se defendem afirmando que não podem pagar pelos erros cometidos no passado, esquecendo-se que a Igreja só se "adapta" na marra e com muitas restrições, quando sente que vai perder alguma peça importante do jogo, como por exemplo, se envolver numa crise diplomática complicada.

A Inquisição romana não acabou por iniciativa da ICAR e sim porque Garibaldi tirou os poderes do papa ao unificar a Itália (Mussolini os restaurou em parte, levando o papa a declarar que ele era "uma benção de Deus").

De certa forma, ela reviveu décadas mais tarde, em reação ao Movimento Modernista, resultando em dezenas ou centenas de excomunhões, milhares de livros incluídos no Index e no Juramento Antimodernista, só abolido por João XXIII na década de 60. Se não mataram ninguém é porque não tinham mais o poder.

Pensando bem, a Inquisição ainda existe. É a Congregação para a Doutrina da Fé e Bento XVI era seu prefeito. Fica no mesmo prédio e a única mudança foi transformarem as salas de tortura em arquivos.

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Ateu Tímido
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Mensagem por Ateu Tímido »

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Acho que já postei esses "modelitos" antes...
São os "sambenitos", trajes de algodão cru usados pelos condenados pela inquisição.
O primeiro, com o elegante "X" é o traje dos penitentes, que reconheciam e se arrependiam dos pecados e eram libertados mas obrigados, durante anos às vezes, a usar esse traje.
O segundo, com as chamas viradas para baixo era dos "relaxados arrependidos", que reconheciam os pecados depois de condenados, então, não se livravam da morte, mas recebiam absolvição de um padre para os seus pecados e eram "piedosamente" estrangulados antes de serem queimados.
Finalmente, o terceiro, jóia da coleção, com direito a chamas viradas para cima, demônios e retrato do condenado, era o dos "relaxados impenitentes" aqueles que não se arrependiam e, com a ajuda do demônio, mantinham-se firmes nas suas heresias. Obviamente, eram queimados vivos...
:emoticon131: :emoticon8:

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Dick
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Re: Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Dick »

Storydor escreveu:Engraçado... ontem tive uma aula exatamente sobre isso, a contra reforma [restauração do tribunal da Santa Inquisição].
E, por sinal, a professora usou no slide dela essa mesma imagem!

Eu tento ficar calmo toda vez que estudo esses assuntos que envolvem a igreja, só de ver as filhasdaputisse que fizeram, me dá uma raiva enorme, além de me fazer questionar por que aindas há católicos no mundo.


O neo-Nazismo é condenado em todo o mundo, pois sabemos das atrocidades cometidas por seus progenitores nacionalistas. Não é coerente o cristianismo ser respeitado com um passado destes, ainda que digam ser um passado que não reproduz suas atuais idiossincrasias. Sua origem e todo o milênio que se seguiu deveriam ser suficientes para serem combatidos, assim como o neo-nazismo. A igreja cristã é um chute no saco dos que aspiram por uma sociedade aberta e querem distância das atrocidades realizadas no passado. Podem ser mais comedidos agora. Mas são os mesmos. Assassinos opressores mantenedores do sistema feudal no que tange uma sociede intelectualmente livre. Só não somos queimados porque as leis, não eles, evoluíram.
docdeoz escreveu:
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"

CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?

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Fabi
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Fabi »

A Igreja Católica não tem como fugir do que fez na Idade Média.
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Apocaliptica

Re: Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Apocaliptica »

Fernando Silva escreveu:
Apocaliptica escreveu:Eles dizem que foi uma fase. E que hoje a Igreja é moderna. Também se defendem afirmando que não podem pagar pelos erros cometidos no passado, esquecendo-se que a Igreja só se "adapta" na marra e com muitas restrições, quando sente que vai perder alguma peça importante do jogo, como por exemplo, se envolver numa crise diplomática complicada.

A Inquisição romana não acabou por iniciativa da ICAR e sim porque Garibaldi tirou os poderes do papa ao unificar a Itália (Mussolini os restaurou em parte, levando o papa a declarar que ele era "uma benção de Deus").

De certa forma, ela reviveu décadas mais tarde, em reação ao Movimento Modernista, resultando em dezenas ou centenas de excomunhões, milhares de livros incluídos no Index e no Juramento Antimodernista, só abolido por João XXIII na década de 60. Se não mataram ninguém é porque não tinham mais o poder.

Pensando bem, a Inquisição ainda existe. É a Congregação para a Doutrina da Fé e Bento XVI era seu prefeito. Fica no mesmo prédio e a única mudança foi transformarem as salas de tortura em arquivos.


Nem todos os crentes estudam a história como ela foi. Os que estudam se fazem de rogados. Bento XVI deve se contorcer em cólicas por não ter nascido antes!

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Sorrelfa
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Sorrelfa »

A Icar de forma alguma é diferente ou mais moderna do que foi no periodo em que a inquisição reinou (queimou) absoluta !
Quem mudou foi o ocidente, é só termos um retrocesso cultural e tecnologico, e a igreja tratará de mostrar suas garras... :emoticon20:
Vendo a justificável insistência de todos, humildemente sou forçado à admitir que sou um cara incrível !

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Fabi
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Fabi »

Fernando Silva escreveu:Por volta de 1258, o inquisidor Pietro di Verona, particularmente abominado por seus métodos, foi assassinado. Logo depois foi canonizado, ficando conhecido como Pedro o Mártir...

Que cúmulo :emoticon18: tinha que ser a ICAR mesmo pra canonizar assassinos bárbaros (inquisitores). :emoticon18:
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betossantana
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Re: Re.: Santa Inquisição

Mensagem por betossantana »

Let me think for a while escreveu:Só não somos queimados porque as leis, não eles, evoluíram.


Issssssooooooooooo, é exatamente o problema dos Estados islâmicos, as leis contém normas religiosas e os agentes públicos muitas vezes são sacerdotes. Se dependesse da Igreja, nós até hoje estaríamos respondendo criminalmente por cometermos pecados.
É um problema espiritual, chupe pau!

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Fernando Silva
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Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Fernando Silva »

Início e fim do capítulo 11 do livro

"A INQUISIÇÃO" - Michael Baigent & Richard Leigh - Editora Imago

Capítulo 11
Infalibilidade

Escrevendo na década de 1950, um historiador e apologeta católico descreveu os Estados Papais do período pós-napoleônico imediato como uma “teocracia benévola”. Entre 1823 e 1846, cerca de 200 mil pessoas nessa “teocracia benévola” foram mandadas para as galés, banidas para o exílio, sentenciadas à prisão perpétua ou à morte. A tortura, pelos Inquisidores do Santo Ofício, era rotineiramente praticada. Toda comunidade, fosse ela uma pequena aldeia rural ou uma grande cidade, mantinha um patíbulo permanente na praça central.

A repressão corria solta e a vigilância era constante, com espiões papais à espreita em toda parte. Reuniões de mais de três pessoas eram oficialmente proibidas. As ferrovias foram proibidas, porque o Papa Gregório XVI acreditava que podiam “fazer mal à religião”. Também os jornais não podiam circular. Segundo um decreto do Papa Pio VIII, quem possuísse um livro de um autor herético seria também considerado herege.

Quem ouvisse críticas ao Santo Ofício e não as denunciasse às autoridades era considerado tão culpado quanto o crítico. Por ler um livro do Index ou comer carne na sexta-feira, podia-se ir para a prisão.

[...]

Contra a maré da história, porém, a recém-adquirida infalibilidade do Papa mostrou-se de pouca importância. No início de setembro, o exército francês se rendeu em Sédan, Napoleão III abdicou e o Segundo Império desmoronou. Numa desesperançada tentativa tardia de evitar a catástrofe, chamaram-se as tropas francesas que protegiam o Vaticano. A 20 de setembro, soldados italianos entraram marchando em triunfo em Roma.

As deliberações do Primeiro Concílio Vaticano foram paralisadas, e o próprio Concílio encerrou-se uma quinzena depois. Em julho de 1871, Roma tornou-se capital do recém-unificado e secularizado Reino da Itália. O monarca, Victor Emmanuel, instalou-se no ex-palácio papal do Quirinal.

Dois meses antes, em maio, o governo italiano instituíra uma Lei de Garantias. Segundo essa medida, garantia-se a segurança do Papa e dava-se a ele o status de soberano no Vaticano. A Cidade do Vaticano — um pedaço de terra totalizando cerca de 44 hectares, dentro das antigas muralhas do próprio Vaticano — foi declarada principado independente, não parte do solo italiano.

Inconformado, o Papa entrou num mau humor muitíssimo divulgado. Recusando-se a deixar o Vaticano, queixou-se de que era mantido prisioneiro. Dentro dos limites de seu próprio domínio miniaturizado, tentou continuar indiferente ao mundo externo; e há alguns indícios de que a infalibilidade àquela altura lhe havia subido à cabeça. Na versão de um comentarista da época:

O Papa recentemente teve vontade de experimentar sua infalibilidade. Quando dava um passeio, disse a um paralítico: “Levanta-te e anda.” O pobre diabo tentou e caiu, o que deixou deprimido o vice-regente de Deus... Eu realmente acredito que ele está louco.

Nos 58 anos seguintes, o Papado insistiu em recusar-se a reconhecer o estado italiano. Durante todo esse tempo, nenhum Papa visitou Roma nem se dignou pôr o pé em solo italiano. Finalmente, em fevereiro de 1929, concluiu-se o Tratado de Latrão. A Cidade do Vaticano foi oficialmente reconhecida e ratificada como estado soberano sob a lei internacional, e o catolicismo proclamado religião de estado do povo italiano. Em troca, o Papado reconhecia formalmente o governo italiano — o governo de Benito Mussolini.

Àquela altura, o Papa Pio IX havia muito estava morto. Morrera em 1878. Fora um dos mais influentes Papas modernos, mas também um dos mais impopulares. Em 1881, seu corpo foi transferido numa elaborada procissão fúnebre da Catedral de São Pedro para o outro lado do Tibre, atravessando Roma. Multidões se juntaram e berraram insultos: “Viva a Itália!”, “Morte ao Papa!”, “Joguem o porco no rio!”

Ao longo do percurso da procissão, jogaram-se pedras e seis indivíduos foram presos — aparentemente por tentarem tomar o caixão do pontífice morto e emborcá-lo no Tibre. Foram acusados de “perturbar uma função religiosa”, e o Papa reinante, Leão XLII, apresentou um protesto formal ao governo italiano pelo “ultraje” à dignidade do Papado.26 Apesar dessa hostilidade, porém, Pio IX deixara uma marca indelével na história:

Quando ele morreu, havia efetivamente criado o Papado moderno, privado... de seu domínio temporal, mas em compensação armado com uma autoridade espiritual imensamente aumentada.

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betossantana
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Re: Re.: Santa Inquisição

Mensagem por betossantana »

Fernando Silva escreveu:A Cidade do Vaticano foi oficialmente reconhecida e ratificada como estado soberano sob a lei internacional, e o catolicismo proclamado religião de estado do povo italiano.


Credo, a Itália até hoje é um Estado "católico" ou isso mudou??
É um problema espiritual, chupe pau!

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Shanaista
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Mensagem por Shanaista »

Zheus escreveu:
Fernando Silva escreveu:
Zheus escreveu:Saudações

Muita estória para pouco efeito, todavia, poderiam por gentileza apontar algum sistema absolutista cujo utilizou o romantismo e versos poéticos para lidar com indignações de opositores?

Um sistema cujo líder é diretamente inspirado pelo Espírito Santo e cuja igreja foi fundada por um deus que habitou entre nós deveria ser bem diferente de simples ditaduras humanas.

Entretanto, exceto pelas afirmações sem prova de seus líderes, não se diferenciam em nada.

Saudações Fernando

Deveria ser caso a ICAR, assim como as demais grandes religiões monoteístas, tivesse ausente do principal e omisso propósito cuja Religião sempre demonstrou ser por séculos de História; um modo deveras precário de governo e política. A ICAR se fez um Estado que regia Estados e instituiu uma teocracia balizada em interpretações próprias de toda teofania bíblica. Desconsiderar estas premissas tornará indignações sobre a Inquisição, algo irrelevante, dado motivo dela se desprender das razões que culminaram na sua implementação; a necessidade do clero sustentar e preservar o próprio domínio, tanto moral, político ou ético, por quase toda Europa.

Isso é tapar o sol com a peneira, viu? :emoticon4:

Sem contar que as explicações sobre isso são tão furadas... que beiram o ridículo!

BTW... :emoticon105: :emoticon105: :emoticon105:

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Shanaista
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Re: Re.: Santa Inquisição

Mensagem por Shanaista »

Fernando Silva escreveu:O Papa recentemente teve vontade de experimentar sua infalibilidade. Quando dava um passeio, disse a um paralítico: “Levanta-te e anda.” O pobre diabo tentou e caiu, o que deixou deprimido o vice-regente de Deus... Eu realmente acredito que ele está louco.

Misericordia! :emoticon1:

Dizem que o mesmo aconteceu numa sessão de descarrego na universal!

Não sei se é verdade... mas dizem que um pastor chamou um fanho e um paralítico, e disse à eles que os dias de sofrimento dos dois acabariam naquele dia! Disse que o fanho sairia dali falando direito e o paralítico voltaria a andar sem a ajuda das muletas!

Aí ele pediu para os dois irem detrás de um biombo que estava no altar... com o pastor e os fiéis fizendo aquele pampeiro!

Quando terminou, ele ordenou ao paralítico em nome de Jesus... jogar as muletas, e o paralítico jogou as muletas por cima do biombo!

Depois o pastor ordenou de novo em nome de Jesus, para o fanho falar alguma coisa... ele disse:

- A-a-anstor... am-am-am aralítico áium! :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:

Trancado