Creio não haver duas pessoas que consigam ver RACISMO em tudo.
Abdul Cadre
Tudo isto é Fado...
O racismo dos politicamente correctos dá coisas do tipo gato escondido com o rabo de fora. Não falo do racismo ingénuo das alminhas piedosas que dizem «tadinhos, eles não têm culpa de ter nascido assim». Falo do tipo espertalhão que sabe que parece mal ser o que se é. Falo do tipo de racismo que se esconde atrás de uma falsa tolerância, sendo que esta, por si só, esconde uma pesporrência de que já temos falado neste espaço.
Tudo isto cabe em qualquer discurso que envolva o caso recente de uma juiz alemã e cabe também em quanto se diga por cá dos que fingem gostar dum certo lixo suburbano (alcunhado de música) onde se enfiam à pressão palavras de sarjeta, coisa mal arremedada do pior que se faz nos states
Para quem não se deu conta da notícia, a referida juíza alemã indeferiu um pedido de divórcio de uma cidadã de origem marroquina, que invocava maus-tratos e violência doméstica por parte do marido, sentenciando de martelo em punho que, sendo a queixosa muçulmana, deveria saber da sua obrigação de total obediência ao marido e que este tinha todo o direito de lhe chegar a roupa ao pêlo, por ser isso que determina o Alcorão. Com toda a certeza, esta senhora tão falsamente tolerante e tão equivocadamente respeitadora dos costumes alheios nunca terá lido o Alcorão, pois que se o tivesse feito não debitava tal aleivosia. Mas, mesmo que fosse verdade o que alegava, o que é que lhe permitia tolerar o intolerável? Que faria tal senhora perante um caso de canibalismo?
Quando oiço invocar textos religiosos como lei geral para crentes e incréus fico arrepiado. Penso que eles só devem valer para tratar das relações do crente com o objecto da crença. E mais arrepiado fico quando se invoca o que se desconhece e se inventa o que ao momento convém. Muitas vezes fui confrontado com sublinhados de sentenças do género «é o que diz a Bíblia». Quem não foi confrontado com isto? É que os portugueses em geral, quanto mais ignorantes mais sentenciosos. Há até os que nos querem reduzir à maior das insignificâncias, falando que foi Deus quem disse isto ou aquilo que na ocasião lhes dá jeito. A esses eu costumo perguntar: estavas presente e ouviste bem ou disseram-te e logo acreditaste?
É duma enorme deselegância e falta de respeito ter Deus como desculpa para o que mais nos convém, usá-Lo como arma de arremesso, não respeitar os que não crêem (ou crêem de modo distinto).
Há também os que se vangloriam das conversas privadas tu-cá tu-lá que mantêm com Deus, como é o caso do genocida alcoólatra Bush. Sobre este, um jornalista do Washington Post referiu que alguém terá dito: «acredito piamente que Bush fala com Deus, mas o que eu lamento é que Deus lhe dê tão maus conselhos».