user f.k.a. Cabeção escreveu:
Perceba que eu nunca atribui a utilidade a exclusividade do merito na formacao de um preco. E alias essa a fonte da confusao do "paradoxo" do valor: porque diamentes, menos uteis do que agua, sao tao caros?
A ideia nao e relacionada diretamente com o custo de producao. Um diamente encontrado aleatoriamente no chao tera o mesmo preco de mercado (guardadas constantes outras variaveis) de um diamente extraido a duras penas de uma mina ou fabricado por processos industriais complexos.
A questao basica e a escassez. Diamantes sao relativamente mais escassos que agua. Agua existe em abundancia. Nao beberemos 50 litros de agua por dia com a mesma avidez com que beberiamos 1 litro e meio. Os outros 48 litros e meio nos empregamos em fins menos urgentes, como banho, limpeza de utensilios e imoveis, recreacao, etc. Nessa escala de prioridades, um litro adicional de agua por dia, ou um litro a menos de agua, afetaria as coisas mais banais, se e que afetaria alguma coisa. 45 litros a menos de agua por dia produziriam um incomodo bastante maior do que "45 vezes o incomodo" de um litro a menos. Pelos primeiros cinco litros de agua nos aceitariamos pagar muito mais, mas ocorre que no mercado nos so vendemos e compramos o estoque marginal, com base no valor marginal que nos damos para ele.
O problema da sua analise de custos e que ela parece esquecer que as pessoas so aceitam incorrer em altos custos para seus estoques cujo o valor do item marginal e alto o suficiente para tanto. Ou seja, o fato dos custos se igualarem ao valor de troca e uma simples consequencia do fato de que a racionalidade humana impede as pessoas de incorrerem em custos excessivos para coisas que nao lhes interessam tanto. O custo nao "adiciona" valor, ele simplesmente e grande quando a percepcao do valor do bem a ser produzido mediante esse custo tambem o e. Essa e a origem da correlacao.
Se o custo diminui (mediante progresso tecnologico), o valor de troca diminui, mas por uma simples questao de abundancia. Com menores custos, atinge-se um nivel maior de abundancia do bem de maneira mais facil, de modo que o valor marginal de uma unidade adicional do determinado bem passa a ser menor.
Voce pode dizer que hoje um computador (ou um aparelho com suficiente tecnologia de informatica embarcada) faz um bocado de coisas e e "extremamente util", mais util ate do que os extremamente caros aparelhos do passado. Mas essa nao e a visao correta de utilidade, e apenas uma confusao boba. A questao que voce se pergunta e sempre o que um novo aparelho acrescentara a minha vida e o que eu aceitaria sacrificar para obte-lo, e nao o quanto os aparelhos existentes sao uteis para mim de uma forma filosoficamente vaga e geral. Os baixos custos por sua vez permitem a empresas operar lucrativamente produzindo mesmo para as pessoas que aceitariam sacrificar muito pouco para comprar aquele artigo. Assim, o preco de um Macintosh nao e o que o designer aceitaria pagar, mas o que o consumidor marginal da Apple aceitaria pagar.
Tanto o e, que quando e possivel fazer discriminacao de precos, ela se passa com relativo sucesso. Um medico particular pode cobrar tarifas adaptadas a renda do seu paciente, pois o bem que vende e intransferivel. Ele acredita que a utilidade marginal dos servicos de medicina para alguem suficientemente rico justifica um dispendio financeiro maior do que para alguem mais pobre, mesmo que ambos recebam o mesmo servico com os mesmos custos. E claro que o medico nunca aceitara trabalhar para um pobre submarginal que nao admitiria pagar nem mesmo os custos que o profissional incorre ao realizar a consulta. Mas isso nao muda a forma como os precos se constituem.
Eu não disse que custo determinava valor. Eu disse que o custo determinava a magnitude da oferta. Tanto o custo, como a utilidade tem um papel a desempenhar. O primeiro na explicação da oferta e, a segunda, na explicação da demanda. Se eu dissesse que custo determina valor seria o mesmo que dizer que a lâmina superior da tesoura determina o corte de sua lâmina inferior. E outro que diz um absurdo comparável a isto é o indivíduo que postula que utilidade determina custo.
É verdade que nós não podemos dizer quando uma mercadoria tem mais utilidade que outra sem saber nada sobre sua escassez. Entretanto, um consumidor representativo tem em mente uma função utilidade da mercadoria que vai consumir. Logo, podemos dizer quando uma mercadoria A é mais valiosa que a mercadoria B, dado o mesmo grau de escassez. Isto ocorre quando a função utilidade de bem A está acima e a direita da função utilidade do bem B:
No caso acima, dada a mesma curva de oferta (determinada pelo custo), duas mercadorias podem ter preços diferentes. Entretanto, dado a mesma curva de demanda (determinada pela utilidade), duas mercadorias TAMBÉM podem ter preços diferentes:
Além disso, uma mercadoria A pode ser mais barata que mercadoria B mesmo que a função utilidade da primeira esteja abaixo e a esquerda da função utilidade da mercadoria B. Porque estas coisas podem acontecer? Vejamos um detalhe. O custo médio de produção não é um barro perfeitamente maleável que se adapta a qualquer capricho do consumidor. As condições técnicas da produção os afetam também. Existem graus de limitações técnicas que variam de setor para setor. Em alguns setores, o progresso técnico e a velocidade das inovações tecnológicas é tanta que deter o maior número de patentes não chega a ser uma vantagem competitiva muito relevante para uma firma. Em outros, a velocidade de progresso técnico é bem menor, como no caso de vários setores de serviços.
Justamente porque o custo de produção não é um barro perfeitamente maleável é que muitas pessoas ainda não fizeram turismo na Lua, ainda que existam várias pessoas multimilionárias dispostas a pagar muito por isso. E viajar ao espaço continua muito caro.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
A falacia e evidente quando nos deparamos com a questao do arcondicionado para o esquimo. Custos altos e utilidades nulas o tornam um objeto sem valor de troca. Ate o presente momento voce nao apresentou qualquer justificativa, fora dubias citacoes de famosos economistas, que refutassem essa afirmacao.
Eu já respondi a este paradoxo. Você é que não entendeu devidamente a minha explicação. Já que foi isto que ressucitou este tópico, lá vai:
O ar-condicionado não tem valor de troca no Pólo Norte? Errado. Ele só não tem valor de uso. Suponha que um engraçadinho dê um ar-condicionado de presente a um esquimó canadense. O que impede de ele ir ao Mercado Livre de lá, e vendê-lo a uma pessoa que mora no sul do Canadá? Como o ar-condicionado pode não ter valor de troca?
Por outro lado, se você disser que pode existir uma mercadoria com alto custo de produção que não pode ser vendido em qualquer lugar do planeta, aí já não estamos falando de mercadoria. Mercadoria, POR DEFINIÇÃO, é um bem que satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. Se as propriedades de um objeto não satisfazem necessidades humanas, então não há mercadoria em discussão.user f.k.a. Cabeção escreveu:
Seus exemplos costumam ser inspirados nas complexas relacoes comerciais do mundo atual. Essas relacoes sao desnecessariamente complicadas para compreender o que se passa de fato na economia empresarial, sendo muito pouco uteis para esclarecer e muito adequadas para confundir. Procure pensar de forma mais simples, numa economia que consista de duas pessoas. Todos os elementos necessarios para a existencia de um mercado estao presentes: mais de um individuo, divisao do trabalho e propriedade privada. Uma apenas caca animais para consumo da carne, outra procura proporcionar abrigo contra o frio e perigos diversos. Se ao final de suas atividades, aquela que cacou obtem um excedente de carne capaz de trocar por parte do abrigo daquela que construiu, e vice-versa, ambas tiveram lucro. Uma delas tinha carne em excesso e abrigo em escassez, de modo que a utilidade atribuida a sua unidade marginal de carne era inferior a utilidade que uma unidade de abrigo adicional lhe aportaria. A reciproca sendo valida para a outra, atraves do mercado elas decidem uma troca mutuamente valida de propriedades. Ambas tiveram lucro de suas atividades (no sentido de aumento da utilidade de seus recursos), em seguida consumindo e poupando alguma parte dele. Sairam de um estado menos satisfatorio para um estado mais satisfatorio.
Analogia totalmente sem sentido. Isto que você descreveu não é lucro capitalista. Lucro no capitalismo implica em criação de valor de troca novo para o possuidor do capital. Isto que você descreveu é criação de valor de uso novo. Se isto fosse lucro capitalista, então poderíamos dizer que duas crianças que trocam figurinhas de álbuns são capitalistas. Como estas duas crianças poderiam acumular capital apenas gerando valor de uso novo?
O pior foi você ter feito uma comparação da economia capitalista com uma economia de escambo. Na última, diferentemente do que ocorre na primeira, uma decisão de ofertar certa quantidade de produtos necessariamente implica também uma decisão de aceitar como pagamento, e portanto de demandar, uma quantidade de produtos do mesmo valor de troca. Neste caso, nunca há discrepância entre o valor real da oferta agregada e o da demanda agregada, não importa quão diferentes a oferta e a demanda por bens particulares possam ser uma da outra. Numa economia monetária que usa moeda o ato de vender e comprar podem ser logicamente separados como duas transações distintas. Se tratarmos de uma economia capitalista que usa moeda, temos que postular que os empresários adquirem um determinado volume de mercadorias, de dois tipos (meios de produção e força de trabalho) e realizam valor de troca superior ao destas mercadorias no ato da venda.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
O fato da massa monetaria aumentar e o lucro nominal ser positivo como regra e que e uma contingencia de politicas inflacionarias. Mas lucro em si nao tem nada a ver com quantidade de moeda, mas sim com aumento da utilidade total dos recursos disponiveis.
Não coloque palavras na minha boca. Em nenhum momento, eu falei em lucro nominal. Eu disse que é uma regra entre as empresas que o lucro REAL contábil das mesmas seja positivo. Se não fosse assim, a maioria das empresas teria lucro econômico bastante negativo (já que, usualmente, lucro econômico = lucro contábil- custo de oportunidade em uma aplicação financeira), o que forçaria a conclusão nada razoável que as empresas nascem para ter prejuízos.
Baseado na teoria do valor-utilidade de Menger, você até agora só disse como o capitalismo pode criar valor de uso novo, o que não é o mesmo que demonstrar como novos valores de troca são criados para o capitalista.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes