Stress
Enviado: 15 Abr 2007, 20:41
Stress
Já todos ouvimos falar nele.
É um dos grandes papões do novo milénio. É também um bode expiatório poderoso para muitos males, desleixos, incompetências.
E contudo, ele pode ser real.
Este ano eu conheci o stress.
Não que tivesse pedido para lhe ser apresentada. Não que o tivesse convidado a entrar em minha casa, na minha vida ou no meu mundo.
Na verdade, comecei por nem me aperceber da sua presença.
Afinal, todos andámos mais cansados, por vezes. Temos dias em que andamos mais irritadiços! Nós mulheres temos inclusivamente, uma vez por mês, uma excelente desculpa para o mau humor.
De repente, esses dias deixaram de ser uma excepção e passaram a ser a norma. Cansaço, fragilidade, irritação, fragilidade física, tédio, incapacidade de concentração…
Todas as sociedades têm os seus ritos de passagem, julgo que, em muitas “micro-sociedades”, o estágio é sem dúvida um rito de passagem, uma longa prova de resistência, em que a nossa personalidade e força de vontade são postos à prova.
São vários os ingredientes explosivos desta solução: trabalhar sem receber, trabalhar 16h por dia, 7 dias por semana, pagar para trabalhar que nem um mouro, estar a ser avaliado, constantemente, todos os dias, todas as coisas…
Depois existem ainda o grupo de estágio. Os colegas. Alguns são sem dúvida pilares de força e portos-de-abrigo, outros são contudo parte da provação. Não é incomum ser este o ano em que, pela primeira vez na nossa vida, nos deparamos com aquilo a que se chama um “filho da puta”.
Cabe agora aqui uma pequena definição.
Um filho da puta é uma pessoa que nos tenta foder a vida, de preferência pela calada, recorrendo a todo o tipo de estratégias tortuosas. Grande parte dos filhos da puta têm também muito bem desenvolvidas as competências de parasitismo, essencialmente por serem demasiado cobardes para serem predadores.
Um filho da puta típico é aquele que não trabalha e se apropria do trabalho alheio e, pelo caminho, ainda difama o trabalhador.
Assim, o primeiro contacto com filhos da puta é também, muitas vezes, efectuado no ano de estágio.
Todos estes ingredientes são uma excelente forma de se lidar com o verdadeiro Stress. Não o stresszinho, os nervos, o cansaço, mas o Stress.
Subitamente, cada pequena constipação são três dias certos na cama. Cada pequena discussão é o fim do mundo, cada pequena desilusão é uma perda insubstituível.
Felizmente a sociedade compreende.
Vamos ao médico e dizemos – eu estou no ano de estágio – e eles recostam-se para trás nos seus caros cadeirões e exclamam com o rosto compreensivo – ah bom… está tudo explicado.
Pois é.
Falta ainda falar n’outro motivo de stress. Aquele que na verdade mais me preocupa.
Ao lidar pela primeira vez com filhos da puta, animais a quem estendemos a mão para ajudar, e quando damos por ela estão-nos a morder até ao osso, a pior natureza duma pessoa vem ao de cima.
De repente pensamentos e maquinações de vingança desenham-se no nosso espírito, e já não é possível ler uma página de Camus sem voltar duas ou três vezes atrás.
É infindável a imaginação humana, quando o seu combustível é a vingança que muitas vezes nada é mais do que a sede de justiça.
Mas quem, neste mundo de cobardes, está disposto a arranjar problemas, ou stress.., para fazer um pouco de justiça num grupo de estagiários?
Ninguém.
E a imaginação escapa-se para vírus informáticos, requisições em nomes alheios, conversas gravadas ou encontros mal marcados. Por vezes a imaginação esbate-se, e fica apenas uma raiva ululante, uma enorme vontade de espancar esses filhos da puta. Afinal, só nos podemos livrar das pulgas se as esmagarmos com as unhas ou, se apanhando-as com uma pinça dourada, as queimarmos suavemente com o isqueiro, a chama ligeiramente afastada para que possa espernear um pouco…
E isto, meus companheiros, é O grande motivo de stress, o assombroso dilema entre o QUERER e não poder renunciar ao nosso nível moral. Odeio filhos da puta principalmente por terem acordado em mim o desejo de ser também filha da puta. Por terem despertado em mim a vontade, o desejo de fazer mal, de magoar.
E contudo, juro pela minha honra, que não vacilarei perante as sombras da putrefacção, e não descerei de nível, não me tornarei um deles, ainda que isso me custe a carreira, benefícios, ou uma vida sem stress.
Já todos ouvimos falar nele.
É um dos grandes papões do novo milénio. É também um bode expiatório poderoso para muitos males, desleixos, incompetências.
E contudo, ele pode ser real.
Este ano eu conheci o stress.
Não que tivesse pedido para lhe ser apresentada. Não que o tivesse convidado a entrar em minha casa, na minha vida ou no meu mundo.
Na verdade, comecei por nem me aperceber da sua presença.
Afinal, todos andámos mais cansados, por vezes. Temos dias em que andamos mais irritadiços! Nós mulheres temos inclusivamente, uma vez por mês, uma excelente desculpa para o mau humor.
De repente, esses dias deixaram de ser uma excepção e passaram a ser a norma. Cansaço, fragilidade, irritação, fragilidade física, tédio, incapacidade de concentração…
Todas as sociedades têm os seus ritos de passagem, julgo que, em muitas “micro-sociedades”, o estágio é sem dúvida um rito de passagem, uma longa prova de resistência, em que a nossa personalidade e força de vontade são postos à prova.
São vários os ingredientes explosivos desta solução: trabalhar sem receber, trabalhar 16h por dia, 7 dias por semana, pagar para trabalhar que nem um mouro, estar a ser avaliado, constantemente, todos os dias, todas as coisas…
Depois existem ainda o grupo de estágio. Os colegas. Alguns são sem dúvida pilares de força e portos-de-abrigo, outros são contudo parte da provação. Não é incomum ser este o ano em que, pela primeira vez na nossa vida, nos deparamos com aquilo a que se chama um “filho da puta”.
Cabe agora aqui uma pequena definição.
Um filho da puta é uma pessoa que nos tenta foder a vida, de preferência pela calada, recorrendo a todo o tipo de estratégias tortuosas. Grande parte dos filhos da puta têm também muito bem desenvolvidas as competências de parasitismo, essencialmente por serem demasiado cobardes para serem predadores.
Um filho da puta típico é aquele que não trabalha e se apropria do trabalho alheio e, pelo caminho, ainda difama o trabalhador.
Assim, o primeiro contacto com filhos da puta é também, muitas vezes, efectuado no ano de estágio.
Todos estes ingredientes são uma excelente forma de se lidar com o verdadeiro Stress. Não o stresszinho, os nervos, o cansaço, mas o Stress.
Subitamente, cada pequena constipação são três dias certos na cama. Cada pequena discussão é o fim do mundo, cada pequena desilusão é uma perda insubstituível.
Felizmente a sociedade compreende.
Vamos ao médico e dizemos – eu estou no ano de estágio – e eles recostam-se para trás nos seus caros cadeirões e exclamam com o rosto compreensivo – ah bom… está tudo explicado.
Pois é.
Falta ainda falar n’outro motivo de stress. Aquele que na verdade mais me preocupa.
Ao lidar pela primeira vez com filhos da puta, animais a quem estendemos a mão para ajudar, e quando damos por ela estão-nos a morder até ao osso, a pior natureza duma pessoa vem ao de cima.
De repente pensamentos e maquinações de vingança desenham-se no nosso espírito, e já não é possível ler uma página de Camus sem voltar duas ou três vezes atrás.
É infindável a imaginação humana, quando o seu combustível é a vingança que muitas vezes nada é mais do que a sede de justiça.
Mas quem, neste mundo de cobardes, está disposto a arranjar problemas, ou stress.., para fazer um pouco de justiça num grupo de estagiários?
Ninguém.
E a imaginação escapa-se para vírus informáticos, requisições em nomes alheios, conversas gravadas ou encontros mal marcados. Por vezes a imaginação esbate-se, e fica apenas uma raiva ululante, uma enorme vontade de espancar esses filhos da puta. Afinal, só nos podemos livrar das pulgas se as esmagarmos com as unhas ou, se apanhando-as com uma pinça dourada, as queimarmos suavemente com o isqueiro, a chama ligeiramente afastada para que possa espernear um pouco…
E isto, meus companheiros, é O grande motivo de stress, o assombroso dilema entre o QUERER e não poder renunciar ao nosso nível moral. Odeio filhos da puta principalmente por terem acordado em mim o desejo de ser também filha da puta. Por terem despertado em mim a vontade, o desejo de fazer mal, de magoar.
E contudo, juro pela minha honra, que não vacilarei perante as sombras da putrefacção, e não descerei de nível, não me tornarei um deles, ainda que isso me custe a carreira, benefícios, ou uma vida sem stress.