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Revista Galilei
Enviado: 21 Abr 2007, 01:54
por Wanessa
Num dos últimos números da revista Galilei há uma reportagem sobre o motivo da morte de Jesus.
Para os foristas, existiu um Jesus histórico? Temos evidências de que foi real? Teria mesmo, comprovadamente, ele morrido na cruz? Se tudo isso for um engodo, como pode ter ficado como marca na história por tanto tempo e ainda ser uma crença tão forte?
Re.: Revista Galilei
Enviado: 21 Abr 2007, 01:58
por r u i
Enviado: 21 Abr 2007, 02:00
por Acauan
Acauan escreveu:O consenso dos historiadores é que não há mais motivos para se duvidar da existência de Jesus de Nazaré do que haveria para se duvidar da existência de Sócrates, com a diferença de que a Sócrates não se atribuíram dotes sobrenaturais.
Mas agregados mitológicos são esperados em figuras históricas de grande vulto, o que, por si só, não é suficiente para por em dúvida a existência do personagem em questão.Há evidências suficientes de que a mitologia montada em torno da pessoa de Jesus de Nazaré foi toda constituída após sua morte, o que motivou uma revisão em sua biografia para adequa-la àquela que seria esperado do messias judaico.
Só que os cristãos primitivos foram muito além da proposta inicial de apontar Cristo como Messias e terminaram por deificá-lo.
Dificilmente este complexo processo se daria sobre um personagem fictício.
São justamente as imperfeições nas narrativas biográficas, decorrentes da possível tentativa de conciliar fatos autênticos com agregados mitológicos, que conferem alguma veracidade histórica à Jesus de Nazaré, uma vez que uma biografia totalmente inventada não precisaria dos retoques que a denunciam como maquiada.
Além do que, a dinâmica histórica dos movimentos religiosos na palestina da época apontam para um momento crucial em que movimentos reformistas judaicos sem grande projeção terminam por gerar uma nova e poderosa religião, cujos seguidores foram capazes de entranhá-la em todo o mundo romano, terminando por conquistá-lo.
Tais dinâmicas dificilmente se iniciam sem um filósofo fundador e líder agregador, que catalize as potencialidades do momento histórico e disparem as forças reformistas ou mesmo revolucionárias.
Seria como, daqui a alguns séculos, cogitar que Marx e Lenin não existiram e que a revolução soviética se deu apenas por convergência espontânea das vontades populares.
E otras cositas más associadas às técnicas de exegese histórica que levam os historiadores a ver mais probabilidades na existência de Jesus do que na sua invenção.
Jesus e Papai Noel
Há uma diferença clara entre as biografias de Papai Noel e Jesus de Nazaré.
Não há uma biografia do Papai Noel. Mesmo que São Nicolau tenha inspirado o personagem, a certo momento a ficção ganha identidade própria e se desprende completamente da pessoa real que a motivou.
Isto não acontece com Jesus de Nazaré, onde temos uma biografia reinterpretada e, muito possivelmente, enxertada para dar sustentação à mitologia da divindade, mas ainda assim, temos uma biografia.
Os elementos principais da vida do Cristo são contraditórios demais com os arquétipos de emissários divinos para terem sido inventados com fim de enquadrá-lo como tal.
A história de um homem de origem pobre, que vive entre os populares, prega a eles e, por conta disto, é julgado e condenado a uma morte desonrosa não é lá muito espetacular.
Afinal, os romanos estavam sempre crucificando alguém por algum motivo. Um a mais ou a menos tanto faria como tanto fazia.
O ponto é este.
Os seguidores de Jesus precisam criar uma mitologia que se sustente APESAR de sua biografia e não por causa dela.
É diferente de um Ulisses, de Homero, por exemplo, em tudo e por tudo a perfeita encarnação do herói.
Por que alguém que se submeteu ao poder romano e foi crucificado sem resistência, com seus discípulos fugindo como coelhos assustados seria um modelo inspirador?
Se fosse para inventar tudo, seria muito mais conveniente contar a história de um messias que foi resgatado da cruz por anjos portando espadas flamejantes entre trovões e raios.
Só que ninguém acreditaria nisto na época, porque, possivelmente, havia uma história real, conhecida por todos, que contava exatamente o contrário.
Já a narrativa que conta uma ressurreição milagrosa, mas testemunhada em privado por meia dúzia de gatos pingados, todos partidários do dito cujo, já era mais difícil de ser desmentida.
O fato de vários elementos biográficos na vida de Jesus precisarem ser remodelados e reinterpretados para que ele pudesse ser apresentado como Deus, pelos critérios da exegese histórica evidencia que estes elementos tem grandes chances de ser verdadeiros, pois contrariam os interesses ideológicos dos próprios narradores. Duas perguntas que os historiadores se fazem nestes casos são:
1. Retirados os elementos fictícios ou com grande probabilidade de serem fictícios, o que sobra?
2. Qual a relevância histórica do que sobrou?
Se retirarmos os elementos fictícios do Superman não sobra nada e, caso sobrasse, Clark Kent não teria relevância histórica que merecesse atenção.
Quando retiramos os elementos provavelmente fictícios da biografia de Jesus de Nazaré, sobra a história da vida do fundador do cristianismo, a base moral e filosófica da civilização do ocidente. As duas correntes filosóficas que formataram o Ocidente foram a grega clássica e a filosofia cristã medieval, principalmente a Escolástica. Com Santo Tomás de Aquino a filosofia cristã foi amalgamada à filosofia socrática aristotélica, criando uma concepção da realidade centrada no indivíduo, o que seria a base de todos os valores da civilização ocidental.
É só com a ascenção do Iluminismo e a instituição do estado laico que o ocidente se afastou filosoficamente do cristianismo, embora seus valores permanecessem influenciando o estado democrático capitalista.
Um líder religioso, com concepções reformistas quanto ao judaísmo, pregou na Palestina do século I, desagradou as autoridades religiosas locais e foi executado pelos romanos.
Como sua mensagem era ao mesmo tempo simples para ser entendida pelas massas e forte a ponto de converter homens cultos como Paulo, se disseminou e criou uma mitologia própria em torno da pessoa que a originou.
O que está em discussão é se existiu um Jesus que inventou o cristianismo ou se foi o cristianismo que inventou Jesus.
Ou seja, se um homem real e histórico criou as bases da doutrina e filosofia cristã ou se os adeptos da doutrina e filosofia cristã criaram um homem para ocupar o papel de seu fundador mítico-divino.
Historicamente, é mais provável que um homem tenha lançado as bases de um movimento religioso, do que um movimento religioso sem um líder real identificado tenha criado o mito fundador no qual se baseia.
Seria um fenômeno particularmente estranho de circularidade histórica.
O problema é que o cristianismo é o que se poderia chamar de uma doutrina biográfica.
Ela se fundamenta completamente na biografia de seu fundador.
Re: Revista Galilei
Enviado: 21 Abr 2007, 14:17
por Fernando Silva
Wanessa escreveu:Num dos últimos números da revista Galilei há uma reportagem sobre o motivo da morte de Jesus.
Para os foristas, existiu um Jesus histórico? Temos evidências de que foi real? Teria mesmo, comprovadamente, ele morrido na cruz? Se tudo isso for um engodo, como pode ter ficado como marca na história por tanto tempo e ainda ser uma crença tão forte?
Acho que o Acauan já disse tudo. Ainda assim, eu acrescentaria que Jesus não é um caso único.
Também se diz que Krishna nasceu de uma virgem, teve discípulos, se transfigurou diante deles e foi morto por soldados. E voltou ao céu, já que era a encarnação de um deus.
Se não fosse verdade, como teria permanecido uma crença tão forte por mais de 2500 anos, seguida ainda hoje por quase um bilhão de pessoas?
Se Maomé não tivesse realmente recebido as palavras do arcanjo Gabriel, como o islamismo teria se tornado tão forte?
Etc. etc.
Re: Revista Galilei
Enviado: 21 Abr 2007, 14:37
por Apocaliptica
Fernando Silva escreveu:Wanessa escreveu:Num dos últimos números da revista Galilei há uma reportagem sobre o motivo da morte de Jesus.
Para os foristas, existiu um Jesus histórico? Temos evidências de que foi real? Teria mesmo, comprovadamente, ele morrido na cruz? Se tudo isso for um engodo, como pode ter ficado como marca na história por tanto tempo e ainda ser uma crença tão forte?
Acho que o Acauan já disse tudo. Ainda assim, eu acrescentaria que Jesus não é um caso único.
Também se diz que Krishna nasceu de uma virgem, teve discípulos, se transfigurou diante deles e foi morto por soldados. E voltou ao céu, já que era a encarnação de um deus.
Se não fosse verdade, como teria permanecido uma crença tão forte por mais de 2500 anos, seguida ainda hoje por quase um bilhão de pessoas?
Se Maomé não tivesse realmente recebido as palavras do arcanjo Gabriel, como o islamismo teria se tornado tão forte?
Etc. etc.
Ou seja: deve ser tudo verdade!!! É muita evidência e muita gente acreditando!

Re: Revista Galilei
Enviado: 21 Abr 2007, 19:30
por Wanessa
Fernando Silva escreveu:Wanessa escreveu:Num dos últimos números da revista Galilei há uma reportagem sobre o motivo da morte de Jesus.
Para os foristas, existiu um Jesus histórico? Temos evidências de que foi real? Teria mesmo, comprovadamente, ele morrido na cruz? Se tudo isso for um engodo, como pode ter ficado como marca na história por tanto tempo e ainda ser uma crença tão forte?
Acho que o Acauan já disse tudo. Ainda assim, eu acrescentaria que Jesus não é um caso único.
Também se diz que Krishna nasceu de uma virgem, teve discípulos, se transfigurou diante deles e foi morto por soldados. E voltou ao céu, já que era a encarnação de um deus.
Se não fosse verdade, como teria permanecido uma crença tão forte por mais de 2500 anos, seguida ainda hoje por quase um bilhão de pessoas?
Se Maomé não tivesse realmente recebido as palavras do arcanjo Gabriel, como o islamismo teria se tornado tão forte?
Etc. etc.
Bem, mas seu eu considerar tudo verdade, então temos vários deuses reais... em que acreditar então, ou não acreditar e por que?
Re.: Revista Galilei
Enviado: 22 Abr 2007, 11:06
por Fernando Silva
Wanessa escreveu:Bem, mas seu eu considerar tudo verdade, então temos vários deuses reais... em que acreditar então, ou não acreditar e por que?
Se há várias religiões e cada uma se diz a única verdadeira, o mais provável é que nenhuma delas seja verdadeira.
O mais sensato é ignorar o assunto até que surjam evidências.
Isto é, se os crentes proselitistas deixarem...
Talvez a nossa sociedade, que demoniza os ateus, tenha deixado você com a impressão de que é preciso acreditar em algum deus. Não, não é preciso. Não perca seu tempo procurando o "deus verdadeiro". Se ele existir e tiver alguma coisa a lhe dizer, vai lhe falar pessoalmente.
Re: Re.: Revista Galilei
Enviado: 22 Abr 2007, 20:20
por Wanessa
Fernando Silva escreveu:
Se ele existir e tiver alguma coisa a lhe dizer, vai lhe falar pessoalmente.
Concordo Fernando. Como experiência pessoal basta.
Mas se pensarmos num todo, muitas pessoas tiveram experiências pessoais, cada uma em nome de um deus diferente... então, no final, não haverá um deus verdadeiro... essas coisas são complicadas

Re: Re.: Revista Galilei
Enviado: 23 Abr 2007, 13:43
por Fernando Silva
Wanessa escreveu:Mas se pensarmos num todo, muitas pessoas tiveram experiências pessoais, cada uma em nome de um deus diferente... então, no final, não haverá um deus verdadeiro... essas coisas são complicadas

E se não houver, sua vida não mudará em nada.
Re.: Revista Galilei
Enviado: 23 Abr 2007, 16:17
por Lúcifer
Como diz a assinatura de um forista:
Deus é um mas com diferentes faces, uma para cada religião.

Re.: Revista Galilei
Enviado: 23 Abr 2007, 18:14
por Dick
Se devemos crer por crer, se devemos ter fé na fé, se devemos louvar porque devemos, se devemos seguir os dogmas porque eles dizem que devem ser seguidos, porque tudo isso é O caminho para o Pai, para sermos poupados quando os ímpios forem queimados e quando os mortos se levantarem, então que eu seja queimado!

Minha liberdade e minha honestidade intelectual preferem a chama eterna do que a subordinação, a subserviência que almeja uma recompensa por termos sido bonzinhos.