Uma boa definição para o natural, sobrenatural e paranormal
Enviado: 01 Mai 2007, 19:46
As definições tradicionais para "natural" e "sobrenatural" são incoerentes.
Por exemplo, um princípio tirado da apologética cristã: um processo ou entidade sobrenatural afeta a Natureza mas não é afetada por ela. A causalidade segue um só sentido.
Como exemplo, um pastor da IURD que exorciza um encosto está usando o poder de Deus (processo sobrenatural) para afetar um demônio (ser sobrenatural). Mas muitos exemplos refutam esse epifenomenalismo ingênuo.
Na teologia cristã tradicional, a sentiência humana é sobrenatural, atributo do espírito. Isso inclui, por exemplo, a experiência subjetiva de medo. Mas pessoas podem ficar assustadas se grandes rochedos caírem em sua frente. Pedras então afetam o espírito. Pedras são sobrenaturais? Caímos em um idealismo e a distinção de "natural" e "sobrenatural" perde o sentido.
Vou usar um exemplo diametralmente oposto, concedido por naturalistas. Fisicalismo é proposto popularmente como uma definição para o naturalismo metafísico; tudo o que existe é natural e possui propriedades físicas. Carl Hempel apontou uma incoerência nessa definição. No Século XVII não tínhamos conceito de carga elétrica e no Século XIX não tínhamos conceito de spin e nem por isso trovões e partículas subatômicas eram considerados sobrenaturais para as pessoas esclarecidas nas respectivas épocas, apesar de mal compreendidos. Se você rebate e diz que fisicalismo comporta toda a ontologia da Física no futuro distante, você não está fazendo sentido porque a ontologia da Física no futuro distante é desconhecida e em princípio poderia explicar fenômenos hipotéticos que chamamos de sobrenaturais.
Por conta desses problemas terminológicos, Richard Carrier propôs uma definição que ao mesmo tempo satisfaz a maior parte das definições populares do que é "sobrenatural" e que mantém coerência aos dois termos, natural e sobrenatural, os mesmos ficam metafisicamente distintos. Segue-se:
Um processo ou entidade sobrenatural possui propriedades mentais que não são ontologicamente dependentes de propriedades não-mentais. Naturalismo é a negação da existência de tais processos ou entidades; o Universo é fundamentalmente sem mente. Mentes são efeitos do Universo e todas as mentes possuem antecedentes não-mentais; consciência e subjetividade são supervenientes em processos inconscientes e sem experiência subjetiva.
Como exemplo, o Deus da apologética cristã tradicional é definido como uma entidade de "puro espírito" que transcende o espaço-tempo, matéria e energia. Mas é consciente, com estados mentais demonstrando intencionalidade e responsabilidade moral (vamos ignorar o problema de como algo pode ter cognição e estar além do tempo). Esse Deus é sobrenatural porque suas propriedades mentais não possuem antecedentes não-mentais: elas são porque são.
Vou agora dar um exemplo de um artefato sobrenatural: a caixinha de vibrações dos centros espíritas. A devota Deise G. escreve em um papelzinho que gostaria que sua vizinha sorrisse mais, pois anda muito deprimida e o bota na caixinha. Se a caixinha funcionasse, isso significaria que algum dos processos que a faz funcionar compreende atitudes proposicionais e psicologia popular, podendo adotar a postura intencional. Ela já tem então propriedades mentais. Ela aparenta ser uma caixinha inofensiva e mundana, mas seu poder é oriundo do fluido universal que afeta todos os seres sentientes e o fluido universal é porque é, na cosmologia espírita impera a primazia da mente.
Uma explicação naturalística para a caixinha de vibrações espírita só funcionaria se a mesma não fosse uma caixinha mundana mas sim estivesse conectada a alguma máquina com inteligência artificial para aplicar a postura intencional sobre o conteúdo dos papeizinhos, teria que ser algo robustamente complicado.
E o paranormal? Paranormal segundo Carrier é uma distinção epistemológica e não ontológica. Um fenômeno paranormal é um fenômeno completamente anômalo para o empreendimento científico em determinada época e o mesmo pode ser tanto natural quanto sobrenatural. A existência de uma comunidade de glofinhos no Lago Ness seria paranormal dada a evidência negativa que acumulamos que sugere uma enorme implausibilidade ecológica. Mas se fosse o caso, seria um exemplo de fenômeno paranormal natural. Vários adeptos da parapsicologia possuem uma cosmovisão onde impera a primazia da mente e os poderes psíquicos abusariam do fato do Universo ser fundamentalmente mental. Nesse caso, seriam fenômenos paranormais sobrenaturais.
A adoção dessa definição de Carrier possui algumas consequências importantes; o naturalismo metodológico estrito é falso, podemos sim angariar evidência contra e a favor da existência de processos e entidades sobrenaturais, e já realizamos alguns testes nesse sentido. Um exemplo são os experimentos duplo-cego realizados sobre a eficácia da cura por preces e que concluíram após mais de 2 milhões de dólares que não havia diferença significativa entre os dois grupos controlados. As explicações teológicas para contornar isso são meros ad hocs.
Por exemplo, um princípio tirado da apologética cristã: um processo ou entidade sobrenatural afeta a Natureza mas não é afetada por ela. A causalidade segue um só sentido.
Como exemplo, um pastor da IURD que exorciza um encosto está usando o poder de Deus (processo sobrenatural) para afetar um demônio (ser sobrenatural). Mas muitos exemplos refutam esse epifenomenalismo ingênuo.
Na teologia cristã tradicional, a sentiência humana é sobrenatural, atributo do espírito. Isso inclui, por exemplo, a experiência subjetiva de medo. Mas pessoas podem ficar assustadas se grandes rochedos caírem em sua frente. Pedras então afetam o espírito. Pedras são sobrenaturais? Caímos em um idealismo e a distinção de "natural" e "sobrenatural" perde o sentido.
Vou usar um exemplo diametralmente oposto, concedido por naturalistas. Fisicalismo é proposto popularmente como uma definição para o naturalismo metafísico; tudo o que existe é natural e possui propriedades físicas. Carl Hempel apontou uma incoerência nessa definição. No Século XVII não tínhamos conceito de carga elétrica e no Século XIX não tínhamos conceito de spin e nem por isso trovões e partículas subatômicas eram considerados sobrenaturais para as pessoas esclarecidas nas respectivas épocas, apesar de mal compreendidos. Se você rebate e diz que fisicalismo comporta toda a ontologia da Física no futuro distante, você não está fazendo sentido porque a ontologia da Física no futuro distante é desconhecida e em princípio poderia explicar fenômenos hipotéticos que chamamos de sobrenaturais.
Por conta desses problemas terminológicos, Richard Carrier propôs uma definição que ao mesmo tempo satisfaz a maior parte das definições populares do que é "sobrenatural" e que mantém coerência aos dois termos, natural e sobrenatural, os mesmos ficam metafisicamente distintos. Segue-se:
Um processo ou entidade sobrenatural possui propriedades mentais que não são ontologicamente dependentes de propriedades não-mentais. Naturalismo é a negação da existência de tais processos ou entidades; o Universo é fundamentalmente sem mente. Mentes são efeitos do Universo e todas as mentes possuem antecedentes não-mentais; consciência e subjetividade são supervenientes em processos inconscientes e sem experiência subjetiva.
Como exemplo, o Deus da apologética cristã tradicional é definido como uma entidade de "puro espírito" que transcende o espaço-tempo, matéria e energia. Mas é consciente, com estados mentais demonstrando intencionalidade e responsabilidade moral (vamos ignorar o problema de como algo pode ter cognição e estar além do tempo). Esse Deus é sobrenatural porque suas propriedades mentais não possuem antecedentes não-mentais: elas são porque são.
Vou agora dar um exemplo de um artefato sobrenatural: a caixinha de vibrações dos centros espíritas. A devota Deise G. escreve em um papelzinho que gostaria que sua vizinha sorrisse mais, pois anda muito deprimida e o bota na caixinha. Se a caixinha funcionasse, isso significaria que algum dos processos que a faz funcionar compreende atitudes proposicionais e psicologia popular, podendo adotar a postura intencional. Ela já tem então propriedades mentais. Ela aparenta ser uma caixinha inofensiva e mundana, mas seu poder é oriundo do fluido universal que afeta todos os seres sentientes e o fluido universal é porque é, na cosmologia espírita impera a primazia da mente.
Uma explicação naturalística para a caixinha de vibrações espírita só funcionaria se a mesma não fosse uma caixinha mundana mas sim estivesse conectada a alguma máquina com inteligência artificial para aplicar a postura intencional sobre o conteúdo dos papeizinhos, teria que ser algo robustamente complicado.
E o paranormal? Paranormal segundo Carrier é uma distinção epistemológica e não ontológica. Um fenômeno paranormal é um fenômeno completamente anômalo para o empreendimento científico em determinada época e o mesmo pode ser tanto natural quanto sobrenatural. A existência de uma comunidade de glofinhos no Lago Ness seria paranormal dada a evidência negativa que acumulamos que sugere uma enorme implausibilidade ecológica. Mas se fosse o caso, seria um exemplo de fenômeno paranormal natural. Vários adeptos da parapsicologia possuem uma cosmovisão onde impera a primazia da mente e os poderes psíquicos abusariam do fato do Universo ser fundamentalmente mental. Nesse caso, seriam fenômenos paranormais sobrenaturais.
A adoção dessa definição de Carrier possui algumas consequências importantes; o naturalismo metodológico estrito é falso, podemos sim angariar evidência contra e a favor da existência de processos e entidades sobrenaturais, e já realizamos alguns testes nesse sentido. Um exemplo são os experimentos duplo-cego realizados sobre a eficácia da cura por preces e que concluíram após mais de 2 milhões de dólares que não havia diferença significativa entre os dois grupos controlados. As explicações teológicas para contornar isso são meros ad hocs.