ECONOMIA DAS RELIGIÕES NO BRASIL - Retrato Recente
Enviado: 04 Mai 2007, 17:04
O que vai a seguir é apenas um resumo da Matéria Jornalística levada ao ar quarta-feira passada, dia 02.05.07, pelo Jornal Nacional, da Globo.
A pesquisa foi bastante abrangente, incluindo Dízimos por religião, Oferta de padres, pastores, Evolução Religiosa por Grupos Etários, Revolução Feminina e Transformação Religiosa, Fecundidade e Religião, Crenças religiosas na Cidade e no Campo, Migração, Percepção de Violência, Estado Ausente - Igrejas Emergentes, Acesso e qualidade percebida de serviços públicos, etc.
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1. Introdução
A análise da evolução do conjunto de variáveis sócio-econômicas dos últimos Censos Demográficos, aí incluindo casamentos, fertilidade, ocupação, renda, acesso a bens, entre muitas outras, revelam que poucas mudaram tanto durante a década de 90 quanto as que se referem à composição religiosa da população brasileira. A taxa de participação dos católicos no país, que já vinha caindo desde os primeiros registros censitários brasileiros de 1872, passa a cair a taxas aceleradas nos anos 90 - atingindo mais de 1 ponto percentual por ano – reduzindo-se de 83,3% em 1991 para 73,89% em 2000. O trabalho atual demonstra, a partir do processamento de microdados de alta qualidade estatística produzidos pelo IBGE, que pela primeira vez em mais de um século a proporção de católicos no Brasil parou de cair, mantendo-se surpreendentemente estável no primeiro quarto de década, com 73,79% em 2003. Analistas apontam duas fortes razões para a estabilização do número de católicos no Brasil. A primeira é a renovação da Igreja, que se aproximou mais dos fiéis e a segunda é a grande comoção provocada pela morte do Papa João Paulo II.
Os evangélicos, aí incluindo-se tanto os ramos tradicionais quanto pentecostais, seguem a sua trajetória de crescimento, passando de 16,2% para 17,9% nos primeiros anos desta década, mas agora angariando seu público entre os sem religião, cuja participação cai de 7,4% para 5,1%. Ou seja, a religiosidade está em alta no Brasil na alvorada do novo milênio. Os evangélicos tradicionais, embora em menor número que os pentecostais desde 1980, seguem crescendo a taxas mais aceleradas que os últimos, sendo esta outra novidade a ser ressaltada.
2. Economia das Religiões
Pesquisa anterior do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/IBRE/FGV) intitulada “Retratos de Religião no Brasil”, lançada em abril de 2005, mapeou a evolução da composição das crenças religiosas até o Censo 2000, confirmando movimentos apontados por outros autores. A presente pesquisa, além de revelar em primeira mão a surpreendente inflexão das tendências da composição dos credos da população brasileira a partir da virada do milênio, tenta aprofundar algumas de suas possíveis causas. Ao mergulhar na “Economia das Religiões”, dá continuidade às analises aplicadas ao contexto brasileiro recente, inspiradas nos pontos apontados no livro seminal “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Max Weber.
O paralelo é que, enquanto para Weber o protestantismo tradicional liberou o cidadão comum cristão da culpa católica de acumulação privada de capital, segundo a abordagem a ser testada as novas seitas pentecostais liberaram a acumulação privada de capital através da igreja. A maior ligação entre o espírito empresarial e a organização religiosa seria uma marca dos ramos religiosos emergentes hoje no Brasil - e na América Latina. O contexto de estagnação econômica das chamadas décadas perdidas de 80 e 90 do século passado teria propiciado, tanto por elementos de demanda como de oferta, a busca de novas modalidades de inserção produtiva para lidar com as dificuldades materiais percebidas e de ocupação em meio a crescentes taxas de desemprego e de precarização do trabalho.
A abordagem consiste em relacionar a demanda por novas opções religiosas - aumento dos pentecostais e dos sem religião - a choques econômicos e sociais adversos, como as chamadas crises metropolitanas e de desemprego, violência, favelização, informalização, entre outras. Neste caso identificamos com clareza a emergência de grupos pentecostais e dos sem religião entre os grupos perdedores da crise econômica e, em particular, no que tange ao aspecto metropolitano da mesma. Os dados demonstram claramente que a velha pobreza brasileira (e.g. áreas rurais do nordeste mais assistida por programas sociais) continua católica, enquanto a nova pobreza (e.g. periferia das grandes cidades mais desassistida) estaria migrando para as novas igrejas pentecostais e para os chamados segmentos sem religião.

P.O.F - Pesquisa de Orçamentos Familiares
4. Prisões
Outra proxy de violência tratada em outras pesquisas do CPS ( Centro de Políticas Sociais ) é a proporção de pessoas de diferentes credos vivendo em presídios, captada a partir do Censo 2000. Nos presídios brasileiros a presença dos sem religião é 16,19% mais do dobro daquela de 7,35% encontrada para o conjunto da população brasileira. A presença de crenças religiosas alternativas é também substantiva nos presídios 18,3% contra 2,35% de sua participação no conjunto da população. Um dos problemas desta estatística gerada a partir do Censo é que não captamos o processo de convergência religiosa dentro das prisões. A presença de católicos é bem reduzida nas prisões (51.93%), se comparada a sua presença na população (73.89%), enquanto a dos pentecostais (10,28%) é praticamente a mesma (11%). Marcelo Neri, um dos coordenadores do estudo (2006), aponta para diferenças na composição religiosa entre estados. No Estado do Rio de Janeiro a população evangélica é bastante super-representada e em São Paulo predomina mais o Catolicismo e outras crenças alternativas.
5. Faixa Etária
A participação dos sem religião entre quem tinha entre 20 a 29 anos que era no Censo 2000 era de 9% passa para 6,12% em 2003. Já para aqueles com mais de 60 anos, a taxa que era de 3,8% cai para 2,29%. É interessante notar que a queda do ateísmo levou as taxas de participação dos sem religião de todo o espectro de idades para níveis mais próximos dos de 1991 do que dos de 2000, especialmente para as pessoas acima de 30 anos.
No caso dos evangélicos, o crescimento relativo de adeptos se dá também em todas as faixas etárias, embora de maneira mais pronunciada entre os mais jovens. Por exemplo, a taxa de evangélicos entre aqueles entre 20 e 29 anos de idade sobe de 15.57% para 17.66% entre 2000 e 2003, atingindo aproximadamente duas vezes o nível de 1991 (8.87%).
6. Condições de Moradia
Quando controlamos pelas suas características, ou seja, comparamos pessoas iguais em tudo, exceto a religião, as maiores chances de encontrarmos boas condições, estão entre os Espíritas (2,77 vezes maior que os sem religião) e as menores entre afro-brasileira e evangélicos pentecostais (apenas 17% e 28% maiores que os sem religião). No exercício não controlado essas distâncias eram ainda maiores, com chances 10 vezes maior para os Espíritas em relação aos sem-religião.
7.Renda Familiar
A seguir apresentamos um quadro da renda familiar por diferentes religiões. Os adeptos a religiões menos representativas na população brasileira são os que possuem os maiores níveis. Orientais são os líderes com R$ 5447 mensais, seguidos de Espíritas (4220) e afro-brasileira (R$ 3205). Católicos com R$ 2023 só possuem níveis superiores aos Evangélicos pentecostais (R$ 1496).

8.Consumo e Religião
O crescimento da população dos segmentos religiosos na última década aponta para um maior ganho relativo dos evangélicos pentecostais com 84%, seguido dos sem religião com 55%, e dos Espíritas que cresceram 20%. Agora quando analisamos a renda apropriada por cada um desses grupos religiosos o ranking do crescimento relativo se inverte com 156% de ganho dos Espíritas, contra 41% dos sem religião e 35% dos pentecostais. A explicação está no fato nas faixas da população onde os pentecostais mais cresceram foram aqueles que sofreram as maiores reduções de renda como nas periferias metropolitanas.

9. Renda e Escolaridade
Entre os grandes grupos religiosos no Brasil, os evangélicos pentecostais são os que têm menor renda e escolaridade, enquanto os Espíritas apresentam a maior renda e mais anos de estudo.
Em média, os 17,6 milhões de brasileiros que se declararam pentecostais têm 5,6 anos de estudo completos e apresentam uma renda mediana das pessoas ocupadas de R$ 260. Entre os 2,3 milhões de Espíritas, a escolaridade média é de dez anos e a renda mediana, de R$ 700.
A renda mediana determina o valor que divide determinado grupo em dois, ou seja, uma renda mediana de R$ 700 significa que metade das pessoas desse grupo ganha abaixo desse valor, enquanto a outra metade tem rendimento acima dessa quantia.
Os católicos, 74% da população brasileira (125 milhões de pessoas), têm indicadores bem próximos aos da média do total da população: renda mediana de R$ 300 e média de 6,1 anos de estudo.
A análise de renda e escolaridade mostra uma diferença entre os evangélicos de origem mais tradicional (batistas, anglicanos, luteranos ou metodistas, entre outras) e os evangélicos pentecostais (Assembléia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus etc).
A renda mediana das pessoas de igrejas evangélicas históricas é de R$ 320 e a média de anos de estudo é de 7,3. Esse grupo representa 6,9 milhões de brasileiros.
Para a antropóloga Regina Novaes, do Iser (Instituto Superior de Estudos da Religião), os baixos índices dos pentecostais se relacionam com a distribuição deles nos estratos mais pobres.
"Não é que eles só existam nessas áreas, mas é lá que se encontram mais adeptos, nos lugares onde a fragilidade social é maior."
O IBGE também analisou grupos com menos de 1 milhão de praticantes. Entre os 525 mil brasileiros que declararam praticar a umbanda ou o candomblé, a renda mediana, de R$ 380, e a escolaridade, de 7,4 anos de estudo, foram inferiores apenas aos valores encontrados entre os Espíritas.
Uma curiosidade no caso dessas religiões é que, apesar de as duas serem identificadas com a cultura afro-brasileira, a maioria dos que declararam professá-las é de brancos (50,4%), como o professor de Teatro da Universidade Federal da Bahia, Carlos Petrovich, 67, que frequenta os rituais do candomblé na Bahia há 25 anos.
Outra religião que se destaca das demais nas análises é o judaísmo. Representando apenas 0,05% da população, os 87 mil judeus brasileiros apresentaram a maior proporção de pessoas com nível superior completo: 49,7%. Em todo o país, a mesma taxa é de 4,9%.
Os judeus têm a maior proporção de pessoas com rendimento mensal superior a 20 salários mínimos: 35,4%. Na população brasileira, a taxa é de 2,7%. A maior porcentagem de brancos declarados também é dos judeus: 96,4%.