user f.k.a. Cabeção escreveu:o anatema escreveu:Não se trata de linchamento. Onde eu propus linchamento? Eu só acho um ótimo exemplo de como a herança não é nem um pouco meritocrática.
Enquanto isso, no mesmo país, se tem professores, enfermeiras, e até faxineiros que não ganham tão bem, apesar de terem muito mais mérito do que essa Paris Hilton e outros que simplesmente herdaram a fortuna dos pais. Não que a herança dessa aí especificamente fosse salvar a situação de todos que merecem mais do que ela por fazerem algo de realmente útil em vez de ficarem só querendo ser estrela do dia para a noite e sendo presa por dirigir alcoolizada.
É muito similar no ponto que é criticável com os "bolsa-famílias" da vida, no sentido de ser "dar o peixe" e não ensinar a pescar, e inúmeras vezes mais absurdo, porque não é uma sardinha por mês que se está dando para uma família que passa fome, mas uma tonelada de atum é dada a uma pessoa por toda a sua vida.
Nem tudo que se "ganha" e por merecimento.
Em principio, ninguem "merece" ser mais inteligente, mais bonito ou ter uma voz melhor que a de outras pessoas. Antes de nascer, ninguem fez por merecer esses dotes.
Sera que devemos desfigurar todas as pessoas bonitas e mesquinhas?
Isso me parece falácia naturalista. "A desigualdade de oportunidades é natural, porque todas pessoas não são clones que recebem uma criação massificada para garantir a homogeneidade total do desenvolvimento físico e intelectual. Se é natural, logo é justa, então não há nada demais com a e não devemos tentar fazer nada para evitá-la".
Há, ou poderia se pensar em, alternativas bem mais razoáveis (não-espantalhos) para garantir algum nível não-surreal, digno de ficção científica, de [proximidade de] igualdade de oportunidades.
É simplesmente algo que eu acho prioritário, tal como você (aparentemente) acha que a base de tudo deve ser a proteção à propriedade privada e/ou liberdades individuais, nenhum é uma "verdade".
Eu poderia dizer que são compatíveis as duas coisas, e que um proporcionamento artificial (mas dentro de algo razoável, não surreal) de maior igualdade de oportunidades confere mais liberdades do que algo mais restrito à proteção praticamente incondicional à propriedade privada, a despeito dos meios de obtenção (desde que não seja roubo).
Uma terceira pessoa poderia dizer que ambos estamos errados e que a liberdade individual deveria ser maior ainda, e que a proteção à propriedade privada e outras coisas diversas vão contra ela; que tal como na natureza, o predador mata a presa, é natural que existam vítimas dos mais poderosos ou dos sortudos oportunistas, e essas potenciais vítimas não devem ser protegidas senão por si mesmas, como puderem ou quem quiser voluntariamente protegê-las por qualquer razão que queira fazê-lo.
Eu acho que tal como a sua versão de liberdade que (provavelmente) limita à liberdade individual até onde interfere na liberdade dos outros é mais razoável que isso, sendo as leis, o estado, um comprometimento desejável das liberdades individuais em favor da liberdade de todos, também acho que sejam desejáveis alguns outros passos similares (até em intenção) interferindo nas liberdades individuais, mas proporcionando maior igualdade de oportunidades, e conseqüente maior liberdade para outros.
Não acho que ir um pouco mais além do que você acredita ser adequado seja um comprometimento significativo das liberdades individuais dos "desfigurados" pelo estado, sendo no entanto potencialmente proporcionalmente muito mais significativo para os diretamente favorecidos.
Meio como a restrição da liberdade total duma anarquia, de serem "legais" hordas de piratas e/ou assassinos é até uma restrição maior nas liberdades individuais desses indivíduos do que uma maior (ou alguma) taxação e controle sobre grandes heranças, e mesmo sem essa liberdade, ainda "sobra" muito mais liberdade do que é cerceada, e isso proporciona mais liberdade para todos (isso se as taxas, de modo geral, não referentes exclusivamente ao caso de heranças, forem bem pensadas e bem aplicadas, o que não é garantido).
O que voce propoe e o linchamento da menina, porque para os seus padroes de merito, ela nao deveria ter tudo aquilo que tem. Mas nao ocorre para voce que, dados esses padroes pessoais de merito, a unica coisa que voce pode e deve fazer com eles e utiliza-los no sentido de escolher as pessoas a quem voce quer se relacionar, que trabalhem com voce, ou a quem voce pretende ajudar a superar qualquer dificuldade.
Nada disso ocorre para voce. Ao contrario, voce pretende se valer do SEU padrao de merito para criar uma sociedade "perfeita" onde vadias ricas sejam esfoladas por nao viverem dentro daquilo que voce considera honesto.
Na verdade, apenas acho que as pessoas deveriam trabalhar para viver, e que por exemplo, professores, enfermeiras e até faxineiros mereceriam mais o dinheiro que essa mulher tem "naturalmente" sem ter que ter feito mais nada além de nascer. Acho injusto, apesar de "natural", e mais relevante e razoavelmente alterável do que por exemplo, a injustiça natural duma pessoa nascer mais bonita ou ter uma voz melhor que a maioria.
Mas é apenas minha opinião, tal como é a sua de que é certo algumas pessoas ganharem fortunas sem ter que fazer nada enquanto professores ganham menos de 400 reais por mês (desde que isso não seja produto duma ação governamental direta, creio eu).
Pouco importa aqui o direito do pai dessa menina de cria-la com a fartura e o luxo que ele pode conseguir com seu trabalho. Pouco importa aqui a opcao dessa garota de viver sua vida como bem entender, mas claro que estando sujeita as mesmas leis que outras pessoas, e por isso ela esta presa.
Liberdade individual e um elemento superfluo. O que devemos ter uma rigida sociedade militarizada com padroes claros de meritocracia, que obviamente seriam definidos por uma casta superior de intelectuais, dentro da qual voce acredita se incluir.
Não acho que liberdades individuais sejam supérfluas, mas como disse antes, acho que tem que ser comprometidas em algum grau para a liberdade de todos, tal como importa menos um hipotético "direito" de matar ou pilhar a quem se puder quando se quisesse, com relação ao direito das pessoas de terem protegido o que ganharam por seu trabalho honesto. Só acho que não precisa acabar aí.
E acho que é supérfluo sim, para não dizer errado, uma pessoa ter de graça para a vida toda aquilo que seria suficiente para alimentar decentemente centenas de pessoas, quando pessoas que trabalham de verdade em funções que tem mais valor ganham absurdamente menos, sem falar nas pessoas que nem tem como trabalhar, e não ganham nada, ou se ganham são só as muito mal faladas (e não totalmente sem razão) bolsas-família da vida.
É engraçado que critiquem essas bolsas miseráveis por ganharem sem ter que fazer nada, apesar da falta de oportunidades de independência financeira, e isso seja criticado enquanto a "bolsa boa-vida" privada para descendentes de podres de ricos são vistas como legítimas. O imposto difere tanto assim do lucro?
Acho que a origem dos dois é sempre do bolso dos contribuintes/consumidores da mesma forma. Por que então essa diferença na exigência do que é feito com esse lucro, que se condena o político que ganha também LEGALMENTE sem trabalhar, mas não o herdeiro?
Reclama-se legitimamente de pagar impostos Suiços e receber serviços haitianos, mas pode ser chamado de esquerdista quem reclama do custo total dum produto ser uma fração mínima do seu preço final, "não existe preço alto demais".
E tem o agravante de que não se pode votar nos dirigentes duma empresa, e para participar do governo não é necessário ser acionista majoritário nem nada do tipo.
Acho que é meio como criticar cotas sociais para entrada nas faculdades ao mesmo tempo que o processo seletivo fosse ser filho de alunos anteriores da faculdade.
(lembrando que sou contra tanto a cotas sociais quanto as bolsas-pobreza tal como são)
Mercado e suas leis são bons, etc, só não acho que são uma maravilha irretocável, que prostitutas de luxo, dançarinas de topless, "lutadoras" nuas besuntadas em óleo, devessem mesmo ganhar mais que professoras que trabalham no ensino público (ou privado).
Pode ser o "MEU" conjunto de valores, não os valores ditados pelo mercado, são mesmo, admito, e acho uma pena.
Pode-se falar até da liberdade das pessoas ganharem o quanto puderem pelo que quer que façam que não esteja matando nem roubando alguém, etc, mas ainda acho que tem algo simplesmente "errado" nos resultados disso. E não por ser contra prostituição, casas de striptease e shows eróticos, porque não sou.
Na verdade não acho que necessariamente deveria se fazer algo para que prostitutas ganhassem menos que professoras, ou vice-versa, seria já bastante que a remuneração de professores fosse mais digna, ainda que mesmo que isso ocorresse, não deixaria de achar um tanto incômodo que as prostitutas fossem mais valorizadas que professores(as) ou médicos(as).
E nem acho que fazer uma coisa deva levar a outra, que são coisas causalmente relacionadas, só para esclarecimento. É só mais uma coisa para contrastar com essa vertente econômica da falácia naturalista.
Ja existiram sociedades assim. Onde o linchamento do "demerito" era uma pratica saudavel para a evolucao do homem. No seu exemplo mais, digamos, emblematico, um dos criterios oficiais de demerito era nao pertencer a raca ariana.
Como diria o velho indio, deu no que deu.
E Hitler também não fumava, logo fumar é bom, só para contribuir com o cumprimento físico da lei de Godwin.
Como eu disse, não proponho linchamentos, só acho que os valores de mercado, heranças, não são sempre exatamente as coisas mais justas, apesar de se poder dizerem ser "naturais".
Acho que seria possível uma sociedade mais justa (segundo meus conceitos, admitidamente), onde mais pessoas poderiam trabalhar para viver, sem que para isso houvessem linchamentos de qualquer tipo, apenas algum tipo de tributação que não seria exatamente um "nazismo" contra aqueles que ganham sem ter que trabalhar, e que possivelmente nem necessariamente teria que chegar ao ponto de forçar essas pessoas a "pegar no pesado", ainda que não achasse isso exatamente uma tragédia.