Papa come cada coisa.....
Enviado: 12 Mai 2007, 10:53
As comidas dos papas
Sábado, 12 de maio de 2007, 08h44
Lectícia Cavalcanti
Chef Luiz Cintra/Redação Terra
Bolinhos de carne, prato preferido do Papa João Paulo II
Os hábitos alimentares dos papas nem sempre foram austeros. E tiveram, muitíssimas vezes, a marca do exagero. Clemente V (1305 - 1314), por exemplo, morreu comendo esmeraldas em pó - para tentar curar seus tormentos estomacais. Clemente VI (1342 - 1352) esbanjou dinheiro em palácios, roupas e jóias; mas, também, na mesa - com louças requintadas, talheres de ouro e prata, muita comida e muita bebida. Para o banquete de sua coroação foram convocados cozinheiros de todos os cardeais, para colaborar com os 14 que já trabalhavam no palácio papal. Do cardápio pontifício constaram 1.023 carneiros, 914 cabritos, 118 bois, 101 vitelos e 60 porcos. Considerando ser ainda pouca, tanta comida, providenciaram também 7.048 frangos, 3.043 galinhas, 1.146 gansos, 1.500 capões, 300 lúcios e 15 enormes esturjões. Mais 15.000 tortas de frutas, que consumiram 3.250 ovos, 36.100 maçãs e muitos quilos de amêndoas. Vai ver que, para ele, o caminho do céu passava pela boca.
Depois veio a Idade Média. Para a Igreja, tempo de jejum e abstinência. Só que essa abstinência não era, sempre, tão severa assim. Nas mesas não havia carne, é certo. Mas, em compensação, sobravam favas cozidas em leite de vaca, lampreia com molho verde e sobremesas variadas - arroz doce, cerejas frescas, tortas, pastéis doces ou salgados. Os pratos preferidos de Inocêncio IV eram assados, caldos gordurosos, mingaus de cereais, cozidos de legumes e carnes, arenques grelhados, aves, porco salgado, embutidos. Mas sua preferência era mesmo baleia assada.
No Renascimento, o Vaticano continuou a ser bem servido na mesa. Por mais de trinta anos cozinhou, para seis pontífices, o maior chef de seu tempo (e um dos melhores que o mundo já teve), Bartolomeo Scappi. Acabou conhecido como "cozinheiro dos papas". O primeiro papa a quem serviu foi Paulo III (1534 - 1549) - famoso por comer e beber com refinamento. Adorava grandes assados (temperados com canela, cravo da Índia, noz moscada, pimenta-do-reino e gengibre), capões recheados, caças de pena, aves domésticas, massas recheadas (tortelletti, ravioli) e strozzapreti ("estrangula padre", em referência à gula dos sacerdotes). Tudo acompanhado de molhos leves, à base de plantas ou frutas aromáticas (laranja, limão). Na sobremesa, pêra com vinho. Paulo III, bem a propósito, ficou conhecido como o "papa do vinho". O último pontífice a quem serviu Scappi foi Pio V (1566 - 1572). Diferente dos seus antecessores, levava uma vida austera. Fazia demorados jejuns e abstinências. Apreciava comida simples, sem complicação - caldo ralo de carne e sopa de urtiga. Acabou santo (provavelmente, não por isso) - São Pio V.
Dos papas recentes, mais popular foi João XXIII, eleito em 28 de outubro de 1958. Seu pontificado durou menos que cinco anos. Na memória do povo, ficou sua figura muito generosa, de hábitos simples. Para os fiéis passou a ser o "papa da bondade". Na mesa cultivava hábitos que aprendera em sua casa camponesa. Tudo muito italiano. No café da manhã, café, leite, brioche e queijo. No almoço, cordeiro, peixe (sardinha, peixe-espada) e vitelo, sempre acompanhados de batatas e massas. Como tempero preferia ervas frescas - alcaparras, alecrim, alho, alho-poró, erva-doce, manjericão, pimentão, salsinha, sálvia, tomilho. Também tomate, em (quase) todas as receitas. Tudo regado com azeite de oliva. No jantar risoto e sobretudo sopas, das quais a preferida era a de legumes crus. João Paulo II foi o "Peregrino da Esperança" - assim o definiu Pe. Theodoro Peters. Com ele não foi diferente. Conservou os hábitos de seu povo. Mas, aos poucos, rendeu-se à culinária italiana. Acabou limitando as receitas polonesas, sua pátria de origem, a ocasiões muito especiais - como aniversário e Natal. Trocou vodca pelo vinho tinto, da Toscana. Passou a comer massa todos os dias. Compartilhava essa massa ecumenicamente, em mesa circular, com budistas, hinduístas, judeus, muçulmanos, protestantes. E católicos também, claro. No paraíso, está agora à mesa do Pai. Mas esse cardápio, literalmente Divino, infelizmente não é fornecido pelo Dono da Casa. Que descanse em paz.
fonte: ttp://terramagazine.terra.com.br/intern ... 14,00.html