BRUXAS ANÔNIMAS - Será correto isto?
Enviado: 16 Mai 2007, 16:30
Quarta-feira, 16 de maio de 2007, 15h58
Seguidores da bruxaria mantêm religião sob sigilo
fonte: http://www.terra.com.br/cgi-bin/index_f ... 5_2007.htm
New York Times Por sobre a lareira da mulher há uma foto de seu casamento, tirada em uma igreja luterana alguns anos atrás. Sob o retrato, na parte superior da lareira, vê-se um pequeno altar wicca: duas velas, um pequeno caldeirão, quatro pedras para representar os elementos da natureza e uma pequena ametista que representa o espírito da moradora.
O retrato de casamento não sai do lugar. Mas, sempre que aparecem visitas, a moradora remove o altar. Criada como batista à maneira do sul dos Estados Unidos, na Virgínia, e hoje dona de casa e mãe de dois filhos, moradora de um subúrbio de Washington, ela não contou a praticamente ninguém -nem a parentes, amigos ou às mães dos colegas de seus filhos- que pratica a religião wicca.
Entre as mais populares religiões a florescerem dos anos 60 em diante, o culto Wicca -uma forma de paganismo- continua a lutar por aceitação, dizem especialistas em religião e adeptos dessa doutrina. Em abril, os wicca conquistaram uma vitória importante quando o Departamento de Assuntos dos Veteranos de Guerra encerrou por acordo um processo judicial e aceitou incluir o pentagrama da wicca entre os símbolos religiosos que podem ser gravados nas lápides de veteranos de guerra norte-americanos.
Mas, no mundo civil, a religião wicca vive praticamente oculta. Os wicca temem perder seus amigos e empregos caso as pessoas descubram sobre sua fé. "Eu adoraria poder pedir às pessoas que nos aceitem como somos, mas isso não é possível, especialmente em função de meus filhos", disse a mãe, que concordou em conceder a entrevista sob a condição de que seu nome não fosse revelado.
"As crianças podem ser cruéis, e os pais delas ainda mais. Não quero que meus filhos sofram dificuldades na escola devido a uma opção da mãe deles". Ela se preocupa com o fato de que, porque as pessoas pouco sabem sobre a religião wicca, presumam que ela cultua Satanás. E também teme que a família e os amigos a abandonem, e que sofra ostracismo na comunidade em que vive devido à sua fé.
David Steinmetz, professor de História da Cristandade na Escola Duke de Teologia, disse que "os wicca enfrentam forte oposição, a começar do que a Bíblia diz sobre a prática da magia e passando pelos julgamentos de feiticeiras que fazem parte da História deste país. A imagem deles termina por parecer algo de muito contrário ao consenso sobre em que consiste uma religião genuína, que continua a dar forma à sociedade norte-americana".
Os wicca cultuam o que existe de divino na natureza. Alguns praticam sua fé de maneira privada, em casa, e outros são membros de grandes congregações. A maior parte dos adeptos da religião provém de antecedentes religiosos diferentes.
"É uma religião muito aberta", diz Helen Berger, professora de Sociologia na Universidade de West Chester, Pensilvânia. "Cada pessoa pode fazer o que deseja, e não precisa pertencer a um grupo. Eles se inspiram em diversas fontes diferentes, por exemplo as religiões orientais, ou as práticas dos celtas. Cada pessoa tem autoridade última sobre sua experiência religiosa".
Mas os símbolos e práticas de sua religião despertam suspeitam entre as pessoas não praticantes, dizem os wicca e estudiosos das religiões. Muitos dos adeptos do culto praticam alguma forma de magia ou feitiçaria, que segundo eles representa uma forma de influenciar o próprio destino. No entanto, as pessoas de fora do culto consideram esse tipo de prática como maligna.
O pentagrama dos wicca, uma estrela de cinco pontas inscrita no interior de um círculo, é muitas vezes percebida como símbolo de satanismo. (As cinco pontas da estrela representam os elementos da natureza -água, terra, ar e fogo-, e o espírito, aninhados no ciclo eterno da vida.) Não se sabe ao certo quantos praticantes da religião wicca e de outras formas de paganismo existem nos Estados Unidos.
A Pesquisa de Identificação Religiosa conduzida nos Estados Unidos pela Universidade Municipal de Nova York, em 2001, constatou que os wicca eram a seita religiosa de crescimento mais rápido no país, com 134 mil praticantes declarados, naquele ano, ante apenas oito mil em 1990. O número real de adeptos pode ser ainda maior, segundo Berger. Algumas pessoas podem ter hesitado em se identificar como praticantes do paganismo ou da religião wicca para a pesquisa. Outras combinam práticas pagãs e de outras religiões.
Hoje, os adeptos da religião wicca enfrentam menos reações adversas do que no passado. A Internet oferece informações sobre sua religião, e a popularidade dos livros da série Harry Potter fez com que a magia adquirisse uma imagem de força positiva, dizem estudiosos e praticantes da Wicca.
David e Jeanet Ewing, coordenadores de dois grupos de pagãos na região de Washington, estimam que pelo menos mil praticantes da religião wicca e de outras formas de paganismo vivam no norte da Virgínia, em Maryland e na capital norte-americana. Pelo menos metade deles ocultam ativamente suas preferências religiosas de seus parentes, segundo Ewing. Muitos também ocultam sua religião de seus empregadores, ele acrescentou.
Uma dessas pessoas é um ex-católico de 58 anos que, durante 30 anos, trabalhou como auditor no que ele define como "o mais careta dos departamentos em uma das mais sacrossantas agências" do governo federal.
"Eu fingia ser um cidadão comum, vestia meu terno; era como vivesse duas vidas separadas", conta. "As pessoas que teriam problemas quanto a minhas preferências constituíam uma minoria, mas ainda assim o problema seria sério. Elas presumiriam que faço coisas esquisitas, imorais, ilegais, o tempo todo. Não procurariam saber de verdade o que faço. Em lugar disso, se comportariam com base em seus pressupostos".
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME
Neela Banerjee
Do "New York Times", em Dumfries, Virgínia